Durante a pandemia de covid-19, Amilcar Tanuri se tornou um dos principais nomes do país a desvendar os segredos do novo vírus. Seu laboratório passou a realizar testagens moleculares padrão ouro para hospitais de todo o Rio de Janeiro. Por pelo menos três meses, de março a junho, só a UFRJ era capaz de realizar esse tipo de teste no estado do Rio, graças à expertise do pesquisador.
“As universidades vêm mostrando a sua importância dentro desse tópico de doenças emergentes e reemergentes. Não foi só a covid-19. Teve a zika, em 2015, e a monkeypox, recentemente. Cada vez mais o mundo vai estar exposto a esse tipo de doenças, e ter uma universidade e cientistas que possam dar uma resposta rápida é fundamental”, declarou o pesquisador, em 2022, em uma das muitas entrevistas que gentilmente concedeu ao Jornal da AdUFRJ.
Além do laboratório que coordenava, Tanuri fundou o Departamento de Genética, na Biologia e, mais recentemente, com a professora Terezinha Castiñeiras, criou o Núcleo de Enfrentamento e Estudos de Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (Needier). Também foi importante articulador do processo de interiorização da UFRJ, ao criar o Laboratório de Doenças Emergentes e Negligenciadas (LIDEN) no NUPEM-Macaé. “Ele foi muito importante para muita gente. Mesmo assim, era tão simples. Estou devastado”, revelou o professor Rodrigo Nunes da Fonseca, da diretoria da AdUFRJ e grande colaborador de Tanuri.
Seus estudos permitiram mais segurança a doadores e receptores de sangue. “Sua contribuição foi essencial para a implementação do teste molecular para assegurar a proteção nas transfusões de sangue quanto à transmissão de vírus como HIV e hepatites B e C”, afirmou a ex-ministra da Saúde e pesquisadora da Fiocruz, Nísia Trindade. “Esse é um legado essencial para a segurança da hemorede”.
Amilcar Tanuri foi o primeiro servidor da UFRJ a receber a vacina da covid-19. “Mesmo correndo risco, sendo imunodeprimido e paciente oncológico, ele seguia na linha de frente durante a pandemia. Não deixava o laboratório. Por isso, foi escolhido como primeiro servidor a receber a vacina na UFRJ”, relembra a professora Denise Pires, reitora à época. “Ele era referência para todos nós, um exemplo”.
Em março deste ano, o docente lançou o livro “Pandemia de covid-19 no Brasil: A visão de um cientista”. O evento aconteceu no Fórum de Ciência e Cultura. Durante sua conferência, o docente afirmou que o vírus SARS-Cov2 sempre esteve um passo à frente da ciência. E fez uma provocação: “Será que na próxima pandemia isso vai se repetir?”. A pergunta infelizmente não será mais respondida por ele, mas pelos cientistas que seguirem seu legado.
O professor faleceu por complicações no coração. Deixou a esposa Andréa, os filhos Luiza e João e o neto Francisco. “Está sendo muito difícil lidar com a perda. Sinto um vazio absoluto. Meu doce companheiro e amigo... Tenho certeza que fará muita falta para todos que puderam conhecê-lo”, conclui Andréa.