Foto: Fernando SouzaDepois de quarenta dias de intensa campanha eleitoral, debates e explicitação de profundas divergências sobre a vida universitária e a atuação sindical, os professores da UFRJ fizeram sua escolha. A Chapa 1, liderada pela professora Ligia Bahia (IESC), obteve 63% dos votos válidos e venceu em 15 das 22 urnas distribuídas em todos os campi. No IESC, unidade acadêmica de Ligia, o grupo obteve 100% dos votos e, mesmo com o modelo presencial, manteve o quórum da última eleição realizada de forma virtual.
“A democracia é isso, é a dignidade, é a expressão da maioria e o respeito à minoria”, celebrou a presidenta eleita. “Viva a luta dos cientistas, da gente que está comprometida com um projeto de Brasil mais igualitário e mais democrático”, festejou Ligia, durante seu discurso da vitória, em que a docente celebrou a derrota de Bolsonaro, ocorrida na véspera. “Finalmente um dia 11 de setembro que a gente tem notícia boa. 11 de setembro foi a data da morte do Allende, foi também num 11 de setembro a derrubada das Torres Gêmeas. Mas ontem, 11 de setembro, foi um dia maravilhoso para o Brasil”.
A vitória da chapa 1 expressa a consolidação de uma visão de sindicalismo hegemônica na AdUFRJ desde 2015 e que venceu as eleições pela sexta vez consecutiva. O grupo critica severamente os métodos políticos do Andes, as greves longas e esvaziadas do passado na UFRJ, e defende uma AdUFRJ conectada com os grandes debates nacionais e parcerias com sociedades científicas.
A Chapa 1 obteve 738 votos contra 430 (37%) destinados à Chapa 2, cuja candidata à presidência era a professora Renata Flores (CAp). Ao todo, compareceram às urnas 1.177 professores. Houve, ainda, 6 votos brancos e 3 nulos.
Apesar da redução do quórum – provocada pela obrigatoriedade do voto presencial – a proporção de votos entre os dois grupos se manteve dentro da histórica faixa 60%x40%, com ampliação para a situação.
VOTO EM PAPEL NUNCA MAIS
O anúncio da vitória da Chapa 1 ficou a cargo do presidente da Comissão Eleitoral, professor Luiz Eurico Nasciutti, decano do CCS. “Chegamos ao final da apuração e a Chapa 1 foi eleita pela maioria dos professores da UFRJ, que se comprometeram e compareceram aos locais de votação”, disse.
O professor agradeceu o engajamento dos docentes e ao enorme número de mesários necessários à realização do processo eleitoral. “A participação de todos foi fundamental para que tivéssemos sucesso na condução dessa eleição presencial”.
Para a professora Ligia Bahia, o voto em papel é um retrocesso que não deverá se repetir. “Esse processo de voto em urna, em dois dias, é uma coisa para que nunca mais aconteça. Porque ele impede a participação dos aposentados, impede a participação do professor que está viajando, que está na tese, que está de licença”, elencou.
O voto presencial foi uma imposição do Andes, que vetou eleições remotas para as diretorias nacional e das seções sindicais desde o congresso de janeiro deste ano. A última eleição presencial na AdUFRJ havia sido realizada em 2019. Naquele ano, 1.239 docentes foram às urnas e elegeram a chapa da professora Eleonora Ziller com 60,6% dos votos válidos.
MOMENTO HISTÓRICO
A apuração foi acompanhada por ex-presidentes da AdUFRJ, como o professor João Torres (2021-2023) e a professora Cristina Miranda (2007-2009), além do reitor Roberto Medronho e da coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura e ex-diretora da AdUFRJ, professora Christine Ruta.
Após o anúncio da chapa vitoriosa, a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, aproveitou a ocasião para reafirmar o momento histórico vivido pelo Brasil, com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares de alta patente pela tentativa de golpe. “O Brasil ontem encontrou a sua história e disse: ‘Nunca mais. Nunca mais intervenções externas vão vigorar contra a vontade da maior parte da população’”, destacou.
A eleição na AdUFRJ, segundo a cientista política, teve sentido similar à resposta que o país deu ao extremismo. “O Brasil mostrou ao mundo como enfrentar o radicalismo”, analisou Mayra. “O radicalismo se combate com o funcionamento das instituições, com o jogo democrático, com a mobilização popular”, afirmou. “Eu acho que o que vimos aqui na UFRJ nesses dois dias foi exatamente isso: pessoas com vontade de votar, de participar, expressando suas preferências e fazendo valer a posição da maioria”, avaliou a docente.
MANDATO DE DOIS ANOS
A nova diretoria assume no dia 15 de outubro, em cerimônia no Fórum de Ciência e Cultura. O mandato vai até 2027. Compõem a diretoria eleita:
Foto: Fernando Souza
Ligia Bahia (IESC)
presidenta
Maria Tereza Leopardi (IE)
1ª vice-presidenta
Michel Gherman (IFCS)
2º vice-presidente
Pedro Lagerblad (IBqM)
1º secretário
Andrea Parente
2ª secretária
Daniel Conceição
1º tesoureiro
Luisa Ketzer
2ª tesoureira