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As comunicações no Brasil, sobretudo a imprensa, pautariam a sociedade a partir de interesses ligados às elites nacionais

Silvana Sá

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Na continuidade do ciclo de debates “Guerra das narrativas: a cobertura jornalística do processo de impeachment”, organizado pela Escola de Comunicação da UFRJ e pela Adufrj, no dia 12, a mesa da noite tratou do tema “Redes sociais, robôs e coronelismo eletrônico”. Um dos diagnósticos apresentados pelo professor Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo, é o de que as grandes corporações de comunicação utilizam de forma crescente técnicas de marketing nas notícias. A cada matéria atualizada, robôs ligados ao perfil do veículo nas redes sociais disparam compartilhamentos, de forma a inflar a audiência. “Os robôs constroem tendências e, com isso, tendem também a pautar a sociedade”, disse.

A novidade neste processo são os chamados “bots”, robôs de redes sociais que passam a interagir com o público. Além da audiência artificial, eles geram interações igualmente artificiais. “Um exemplo clássico é quando você não gosta de uma matéria e faz um comentário de crítica e, pouco depois, começam a surgir comentários elogiando o texto, o assunto, a abordagem”.

O docente esclareceu que o uso desse tipo de ferramenta na comunicação não é contra a lei, mas suscita um debate em torno da “robotização da política”. A consequência direta deste processo, segundo Malini observou em suas pesquisas, é o que ele chama de “robotização dos humanos”. “Insistentes ‘memes’ políticos de apelo emocional fazem as pessoas replicarem os conteúdos quase que automaticamente”. O principal portal brasileiro a utilizar robôs para “viralizar” seus conteúdos é o G1, do Grupo Globo.

A narrativa

Esse novo fazer jornalístico cria, segundo o docente, uma nova forma de narrar acontecimentos. Isto, para Fábio Malini, é uma espécie de resposta às jornadas de junho de 2013. “Vídeos de dentro das manifestações aumentavam a audiência em torno dos acontecimentos e contestavam toda a narrativa montada pelos grandes veículos de comunicação. Houve uma verdadeira desmoralização da narrativa da imprensa”.

Em 2014, o movimento “Não Vai Ter Copa” foi o primeiro fora da mídia tradicional a utilizar robôs no compartilhamento de conteúdos. “Houve a apropriação dessas manifestações na rede por um conjunto de atores políticos que vão desaguar no ‘Vem Pra Rua’. Por outro lado, houve utilização de robôs também acusando aquele movimento de antipatriótico. Enfim, mais um erro da série de equívocos que o governo cometeu”.

Guerra do convencimento

Para Henrique Antoun, da ECO/UFRJ, a guerra das narrativas consiste em “convencer a todos de que algo, que não existe, realmente existe e deve ser encarado com muita seriedade”. “E, para isto, não faltam revistas, TVs, jornais, campanhas publicitárias e, inclusive, pessoas que repetem lentamente e iterativamente a mesma frase para convencer as pessoas de que aquilo é muito importante”. Como exemplo, ele citou as recorrentes vezes que âncoras dos telejornais, sobretudo da Rede Globo, repetiram a palavra “vândalo” e suas derivações, por ocasião das manifestações de junho de 2013.

No caso do processo do impeachment, a situação toma contornos mais graves, na visão de Antoun. “Estamos sendo assediados há mais de dois anos e ela gera mesmo revolta, ódio, doenças psíquicas. É uma campanha planejada e que tem roteiro. No caso do Brasil, este é um processo facílimo: quatro donos da mídia. Todos os quatro empregados dos oligarcas que mandam neste país. São 71 mil pessoas que têm como seus empregados os donos da mídia e os políticos do Congresso”.

Mentira e verdade. Democracia e paixões

Citando o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), o professor ilustrou o atual momento político, cercado de discussões acaloradas e impregnado de uma atmosfera de ódio que costuma permear discussões entre favoráveis e contrários ao impeachment. “A maior parte do tempo nós vivemos imersos em meias-verdades e em meias-mentiras. Como, no meio disso, eu posso falar para governar honestamente? Foucault vai mostrar que este processo não passa pelo convencimento racional, nem pela discussão. Só existe um modo de sair desse ciclo: é a explosão das paixões. Paixões que constituem, em última instância, um espaço aberto racional; que predispõem uma discussão, que permitem a democracia. A democracia aparece exatamente quando a mentira desaba e a verdade emerge pela luta das paixões”.

Coronelismo eletrônico

A professora Suzy dos Santos, também da ECO/UFRJ, trouxe para o debate o tema “E-Sucupira: o coronelismo eletrônico como herança do coronelismo nas comunicações brasileiras”. “Há uma negociação direta entre elite midiática e poder político. Vivemos, então, um sistema de coronelismo eletrônico desde 1985. É um sistema de troca de favores para as políticas de comunicação”, explicou a docente.

O modelo de comunicação no Brasil foi chamado pela professora de “convergência divergente”. “Fala-se que a televisão está ultrapassada. Por outro lado, o que a gente vê é que em 2015, dos mais de 5.500 municípios, 40% deles têm acesso à banda larga. O restante acessa por discador ou satélite. Enquanto isso, a TV aberta atinge mais de 98% dos municípios brasileiros”. São características deste modelo, ainda, a falta de transparência sobre a estrutura de propriedade dos veículos; marcos regulatórios que separam “velhas” e “novas” tecnologias de comunicação; interesses privados sobrepondo-se ao interesse público na regulação do setor; o atrelamento político às concessões de rádio e TV no Brasil.

A mídia perde o poder, perante o governo federal, somente durante os regimes autoritários. Nos períodos democráticos, a relação entre mídia e governo sempre teve caráter clientelista, de troca de favores, segundo a docente. “Entretanto, a partir de 1985 há uma mudança na tônica dessa relação. Será a primeira vez que um empresário de comunicações oficialmente recomenda um ministro, que é quando Roberto Marinho recomenda Antônio Carlos Magalhães como Ministro das Comunicações. De lá para cá, criou-se um consenso de que ninguém governa sem a Globo e de que ninguém enfrenta os meios de comunicação, para se manter no governo”.

Cultura e representação

A representação também é uma importante ferramenta deste sistema coronelista: “Para pensar a mídia no Brasil não basta analisar seu tamanho, dimensões, alcance. Isto também é importante, mas muito mais importante é verificar como se dão essas representações”. Isto torna-se importante sobretudo quando se trata de televisão, de acordo com Suzy dos Santos, pois é um veículo que chega a cobrir quase a totalidade do território nacional.

Museus por todo o país têm sido construídos por meio de parcerias com a Fundação Roberto Marinho. São exemplos, no Rio de Janeiro, o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã. Está em construção também o Museu da Imagem e do Som, em Copacabana, cujo acervo para visitação será determinado pela Fundação e o restante, encaminhado para um depósito no Estácio. “Todos os contratos da Prefeitura com a Fundação Roberto Marinho são realizados com dispensa de licitação dado que se trata de uma ‘fundação de reconhecida importância’ na criação de museus”.

O Globo Universidade é, segundo a docente, outro espaço de representação do mesmo grupo. “Financia boa parte das pesquisas sobre telenovela no Brasil. Que chance tem uma pesquisa financiada por uma empresa de comunicação ser crítica? Por outro lado, que atração tem uma pesquisa sem financiamento e sem acesso a acervo?”, questiona.

No caso das novelas, a professora destacou a figura dos coronéis. De 1977 a 1985, ainda havia alguns que eram vilões, que tinham escravos, maltratavam as mulheres, batiam nos filhos. Depois de 1985, a cada dois anos há a figura de um coronel em uma novela ou série brasileira “por acaso, sempre em ano eleitoral”. Foram 15 novelas e 17 séries, mas nenhum deles era vilão. “Eles são ultrapassados, fora do seu tempo, às vezes engraçados, mas não são maus. Existe um grande amor, uma história de incompreensão. E assim a gente vai naturalizando e replicando o mandonismo, o próprio clientelismo, o patriarcalismo. A gente naturaliza uma forma de política e uma forma de sociedade que é profundamente atrelada a elites que estão há muito tempo no poder. Não é à toa que o PMDB está no governo desde 1985”.

Discurso uníssono

Suzy dos Santos criticou, ainda, a falta de debate nos meios de comunicação sobre o papel da imprensa. “O discurso sobre o papel dos meios de comunicação no Brasil é historicamente único e dá voz a uma interpretação de meios de comunicação que não é de serviço público e muito menos a de direitos sociais. Há uma lógica no jornalismo profundamente ligada às elites”.

Nem fatos, nem objetividade

Consuelo Lins, docente da ECO/UFRJ, apresentou algumas gravações que ela mesma coletou do Jornal Nacional no período do vazamento dos grampos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Ela demonstrou a construção da notícia no telejornal. A série é de 12 a 19 de março. A primeira gravação, do dia 12, mostrou uma longa edição “sem se basear em fatos concretos”, apenas na delação de Delcídio do Amaral. “Por duas vezes, a gente tem a afirmação da objetividade jornalística, (conceito) que é questionado há muitos anos, já que inexiste essa objetividade”, afirmou a professora.

O Fantástico do domingo (13) começa explorando as manifestações pró-impeachment. Quando são divulgados os grampos, no dia 16, a docente observou que o único diálogo que vai ao ar é o de Lula e Dilma. Todo o restante do conteúdo é “lido e interpretado” pelos âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos. Nos dias seguintes, os mesmos diálogos lidos pelos âncoras são colocados diretamente no ar. “O tempo todo é repetida a ideia de que os grampos eram legais e que sua divulgação não infringia a lei. Isto remete ao que o Henrique (Antoun) nos falou sobre a necessidade de convencer que o que não existe é real”.

Ela falou ainda da diferença de abordagem entre os manifestantes que são contrários e os que são favoráveis ao impeachment. “Toda essa multiplicidade de estratos no Brasil é reduzida a uma luta entre personagens-tipo. É o tipo psicossocial. É o militante do PT, a favor da roubalheira e que vai para a rua defender o governo. E o indivíduo livre, de verde e amarelo, que vai para a rua defender a saída do governo”.


Veja a cobertura em vídeo aqui: http://adufrj.org.br/index.php/veja-todos-os-videos2/3259-guerra-das-narrativas-analisa-o-papel-da-m%C3%ADdia-no-cen%C3%A1rio-da-crise-brasileira.html



 


Palestra de Christian Laval, professor de sociologia da Universidade de Paris-Ouest Naterre-La Défense. Autor, com o filósofo Pierre Dardot, do livro “A nova razão do mundo: ensaios sobre a sociedade neoliberal” (Boitempo, 2016). Haverá tradução simultânea. 

O evento tem a Adufrj-SSind entre seus organizadores, junto do IFCS-UFRJ, do Colégio Brasileiro de Altos Estudos e da Rede Interdisciplinar de Pesquisadores da USP. 

A democracia liberal, no modelo que conhecemos, está em declínio. Christian Laval mostra que a razão neoliberal implica a dissolução de diversos princípios da democracia, o que talvez ajude a entender a crise política brasileira. 

Este é o último debate de um ciclo em que a Seção Sindical buscou abordar as diversas dimensões da crise política atual. As primeiras atividades foram plenárias sobre a conjuntura política, no IFCS. Em seguida foi a vez de serem tratados os aspectos jurídicos da crise, na Faculdade Nacional de Direito (FND). Em 6 de abril, ocorreu uma aula pública sobre política fiscal e as alegações do impeachment. E, no último dia 12, na Casa da

Ciência, foi avaliado o papel da mídia durante a cobertura do processo de impeachment.

O debate do próximo dia 19 será transmitido pelos seguintes links:

https://plus.google.com/events/cqt37m19o2f0sjrjec86rgcho6g


http://www.youtube.com/watch?v=pVhOnOOFHC8


Recursos de emendas parlamentares dão alívio às contas da UFRJ

Mas, dos R$ 150 milhões solicitados, universidade conseguiu apenas R$ 32 milhões

Elisa Monteiro
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A saúde financeira da UFRJ deu um (breve) suspiro de alívio com a liberação extraorçamentária de aproximadamente R$ 32 milhões, no último dia 7. Com origem em emendas parlamentares, cerca de R$ 23 milhões serão destinados ao Complexo Hospitalar e R$ 9 milhões a outras unidades da universidade. 

No Complexo Hospitalar, os principais beneficiados serão o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) com aporte de R$ 9.017.290,00 (R$ 6.487.390,00 de custeio e R$ 2.529.900,00 de investimento) e o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), R$ 12.658.226,00 (R$ 5.104.504,00 de custeio e R$ 7.553.722,00 de investimento).  Ao Hospital Escola São Francisco de Assis (Hesfa), coube R$ 528.438,00 para investimento, e R$ 821.200,00 de custeio. O Complexo Hospitalar da UFRJ obteve 44 emendas entre 29 deputados.  

Em relação às demais unidades da universidade, dos pouco mais de R$ 9 milhões, R$ 2.176.797,00 serão usados na manutenção das atividades e R$ 6.880.568,00 em obras, equipamentos e afins. 

Nadine Borges, coordenadora de relações externas da universidade, explica que a escolha do destino do recurso é prerrogativa do parlamentar. “Nós apresentamos toda a demanda da universidade, mas são eles que escolhem quanto e onde serão aplicados”. Segundo ela, a UFRJ solicitou, ao final de 2015, R$ 150 milhões em projetos. Contudo, os cortes, que atingiram também as emendas, fizeram a universidade encolher a conta: “As emendas tinham previsão inicial de R$ 15 milhões por congressista, mas o valor caiu para R$ 10 milhões”, relata. 

A universidade “perde” também, lembra Borges, em função da emenda constitucional do orçamento impositivo — promulgada em 2015 — pela qual metade das emendas parlamentares deve, obrigatoriamente, se dirigir à Saúde. O problema é que os HUs são considerados como parte apenas da área de Educação, ficando de fora do rateio de metade da verba. “Mesmo que algum deputado quisesse colocar todo o recurso de que dispõe na UFRJ, não poderia repassar mais que R$ 5 milhões”.

Emendas devem garantir bandejão da PV

Mesmo assim, segundo a assessora, a reitoria conseguirá manter suas prioridades de campanha: assistência estudantil e os HUs. Depois do Complexo Hospitalar, a política estudantil foi a mais contemplada, com R$ 3.699.219,00, para investimento. Dois parlamentares garantiram o aporte: Lindbergh Farias (PT) e Jandira Feghali (PCdoB). De acordo com Nadine Borges, o recurso garantirá o prometido e adiado bandejão da Praia Vermelha para o segundo semestre de 2016. 

Além do reforço orçamentário para Escola de Comunicação (ECO) e para o Fórum de Ciência e Cultura (FCC) de R$ 250 mil (R$ 175 mil para custeio e R$ 75 mil para investimento), o projeto de rádio UFRJ FM contará com R$ 1,2 milhão para começar. Enquanto isso, a Casa da Ciência terá mais R$ 1,5 milhão, meio a meio para gastos com custeio e investimento. Os setores foram cobertos por emendas do PSOL, dos deputados Chico Alencar e Jean Wyllys.

Na lista dos contemplados, estão também: o Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE), com R$ 532.827,00 para apoio às atividades cotidianas, e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) com cerca de R$ 730 mil, sendo  R$ 218.970,00 de custeio e R$ 510.930,00 de investimento, ambos atendidos por emendas de Miro Teixeira (Rede). A Faculdade de Odontologia terá R$ 200 mil para investimento, graças à emenda de Hugo Leal (PSB).

Houve recursos, ainda, para iniciativas de extensão, R$ 500.000 em custeio (Lindbergh), e para reestruturação e expansão, com aporte suplementar de R$ 400 mil, por emenda de Otávio Leite (PSDB). 

Embora os R$ 32 milhões estejam muito distantes dos R$150 milhões inicialmente pretendidos, Borges comemora o resultado do esforço da administração central junto ao Legislativo: “Esse é o único recurso suplementar que a universidade vai contar em 2016”. Segundo a assessora, a universidade bateu de porta em porta, em Brasília: “Menos na do (Eduardo) Cunha (PMDB)”, brincou.


Os benfeitores

Quatro deputados ofereceram emendas em favor dos hospitais e de outras unidades: Hugo Leal, Jandira Feghali, Jean Wyllys e Miro Teixeira. Em termos de valores, os principais benfeitores da UFRJ, com dotações acima de R$ 2 milhões, foram Lindbergh Farias (R$3.199.219,00), Ezequiel Teixeira (do PTN) (R$3.016.406,00), Miro Teixeira (R$ 2.357.577) e Jean Wyllys (R$ 2.145.419). 

 Confira um por um quem garantiu certo desafogo nas contas da universidade e de seus hospitais aqui

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