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Diretoria da AdUFRJRacismo, covardia, xenofobia, preconceito, intolerância, aumento do poder das milícias, precarização do trabalho, omissão do poder público, intimidação, inércia policial, normalização da barbárie. O brutal assassinato do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, espancado até a morte no quiosque Tropicália, na orla da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na noite de 24 de janeiro, engloba várias facetas da sociedade brasileira nesses tempos de obscurantismo e retrocesso. Com mãos, pernas e pescoço amarrados, em imagem que remete aos tempos da escravidão de seus antepassados, Moïse foi morto por três homens com socos, chutes e golpes com pedaço de madeira e taco de beisebol por reivindicar o pagamento de duas diárias (R$ 200) em atraso no quiosque onde trabalhava.
As investigações ainda estão em curso, mas os três homens que agrediram Moïse foram presos e deverão responder por homicídio duplamente qualificado. Não se sabe se houve um mandante do crime. A polícia já ouviu um cabo da PM que administra um quiosque vizinho ao Tropicália, e onde Moïse também trabalhava por diárias. A AdUFRJ se solidariza com a família e os amigos de Moïse, exige a apuração completa desse crime bárbaro e convida a todos para um ato neste sábado, no quiosque onde o congolês foi assassinado, se somando a dezenas de entidades da sociedade civil que clamam por justiça e não aceitam a barbárie como algo corriqueiro em nosso cotidiano. Veja mais detalhes na página 8.
Resistir contra o retrocesso é preciso. Na coluna Plurais, na página 7, abrimos espaço para o tema da visibilidade trans, que teve seu dia comemorado no último sábado (29 de janeiro). A adoção da linguagem neutra e iniciativas para o acolhimento da população trans na universidade são alguns aspectos abordados na coluna. As mais recentes modificações no projeto Viva UFRJ e os preparativos para a volta integral das aulas presenciais, prevista para abril, são os assuntos de nossas matérias da página 6. Na página 5, veja a polêmica em torno dos testes para a implantação do ponto eletrônico na UFRJ.
Nossa matéria da página 4 mostra como foi a primeira reunião entre a UFRJ e o MEC para tratar do início das negociações — autorizadas pelo Consuni — em torno da contratação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O encontro em Brasília com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, na quinta-feira (3), contou com a participação da reitora Denise Pires de Carvalho, do pró-reitor de Planejamento e Finanças, professor Eduardo Raupp, e do diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, professor Marcos Freire. O próximo passo é a formação de uma comissão interna para fazer um levantamento de informações do Complexo Hospitalar da UFRJ que vai servir de base a uma proposta de contrato a ser apresentada pela Ebserh.
Por fim, o principal tema de nossa capa e da matéria da página 3 é a assembleia dos docentes da UFRJ do próximo dia 11. Se há consenso entre os professores das instituições federais de ensino superior quanto à necessidade de uma campanha por recomposição salarial, o mesmo não se pode dizer sobre qual a melhor estratégia a se adotar neste momento para mobilizar a categoria. Uma dessas estratégias é a construção de uma greve unificada dos servidores públicos federais, defendida pelo Andes e pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe). Sempre com o intuito de ampliar democraticamente o debate, o Jornal da AdUFRJ traz nesta edição a opinião de dois professores e ex-diretores do sindicato, com visões distintas a respeito da adoção da greve. Para o professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica, é questionável a efetividade de uma greve no atual cenário nacional. Já o professor Luis Acosta, da Escola de Serviço Social, vê a greve como um movimento em construção, fruto da vontade dos docentes.
O debate está aberto. Boa leitura!
ENTREVISTA I Edson Mello, diretor do Instituto de Geociências da UFRJ
No último dia 12, o governo publicou um decreto presidencial alterando as regras para construção em regiões de cavernas. O novo texto fragilizava a política de preservação das formações naturais e revogava a proibição de que as cavernas que tenham o grau de relevância máximo sofram impactos negativos irreversíveis. Esta semana, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu parte do decreto. Para entender os impactos que a decisão de Bolsonaro pode ter para a sociedade, o Jornal da AdUFRJ conversou com o professor Edson Mello, diretor do Instituto de Geociências da UFRJ.
Mello trabalhou no Ministério de Minas e Energia entre 2008 e 2016, nos cargos de coordenador-geral de Economia Mineral, até 2009, e diretor de Desenvolvimento Sustentável na Mineração, entre 2010 e 2016. Para ele, o decreto presidencial foi um retrocesso nas políticas de preservação das cavernas e na discussão sobre exploração sustentável dos espaços que elas ocupam. “Quando saí do ministério, essa discussão estava posta. Ela não progrediu e Bolsonaro jogou tudo fora”, disse.
Na conversa, o professor explicou a importância das cavernas, propôs um debate sobre o modelo de mineração que o país precisa — debate mais que oportuno depois do estado de insegurança criado em Minas Gerais com as chuvas em dezembro e janeiro, e na semana em que o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho completou três anos — e defendeu o papel da regulação na mineração.
Jornal da AdUFRJ — Qual é a importância da preservação de cavernas?
Edson Mello — Em um primeiro momento, você não tem como dizer se em uma cavidade existem artefatos. Mas se nessas cavidades tiverem inscrições rupestres ou utensílios, mostrando que elas podem ter sido habitadas, temporariamente habitadas ou não habitadas, mas que foram um local onde temporariamente os primitivos fizeram as suas inscrições, há um valor cultural ali. Esse é um ponto. Há uma outra questão que os biólogos advogam, e aí já não é mais a questão do fator cultural, mas sim o bioma relacionado às cavernas. Há animais e algumas espécies vegetais que vivem só nesse ambiente. Então, do ponto de vista biológico, há a necessidade de preservação dessa fauna e flora. Essa é uma polêmica que bate de frente com os interesses das mineradoras. Eu trabalhei nessa questão quando estive lá na no Ministério de Minas e Energia. Foi naquela ocasião, em 2013, que esse assunto estava em pauta.
Como essa questão conflita com os interesses das mineradoras?
Eu vou te responder com dados de uma apresentação feita pela própria Vale, em 2013. De um total de 16,032 milhões de toneladas em reservas minerais da empresa, 13,618 milhões estão restritas por cavidades ou bloqueios ambientais. Entendeu o tamanho da preocupação deles? Temos dois lados: um que vai dizer taxativamente que deve ser preservado: e o setor produtivo, que questiona se, face aos interesses econômicos, é relevante que se preserve isso ou aquilo. Quando falamos de cavidades em minério de ferro — porque o que impacta as mineradoras são as cavidades em minério de ferro —, elas podem não ser como aquelas cavernas clássicas que conhecemos, salões enormes com estalagmites e estalactites. As cavidades em minério de ferro são menores. Algumas são até razoavelmente grandes, mas é comum você encontrar pequenas cavidades. E mesmo essas menores estavam protegidas. E esse era o ponto que as mineradoras colocavam, que era preciso distinguir o que pode e o que não pode, o que deve ser preservado e que pode não ser preservado. Esse é o embate. E há uma defesa, que é legítima, sobre a importância das cavidades. O decreto que protege as cavernas é de 1990, era ele que estava em discussão naquela época.
E como a mineração pode ser sustentável?
Em tese, podemos dizer que a mineração, por definição, é insustentável. Entretanto, a sociedade não vive sem recurso mineral, ela necessita dele para tudo. A questão passa a ser como nós vamos fazer a extração e o uso do material. O que está posto na mesa é uma discussão que diz, de um lado, “esse modelo de desenvolvimento onde a financeirização está à frente de qualquer coisa, é assim que deve ser a mineração”; e, do outro, diz “temos que fazer a mineração, ou retirar aquilo que de fato nós precisamos?”. Nós estamos tirando ferro para atender o mercado externo. Existe uma lógica financeira do capitalismo que governa isso.
Então havia um debate sobre mineração sustentável dentro do governo?
Sim. E não era uma discussão fácil dentro do próprio governo. Especificamente na questão das cavidades, havia realmente um embate interno muito duro. Havia até propostas interessantes, uma rotina de critérios que foi estabelecida que pontuava o grau de relevância dessas cavidades. Havia o embate entre os ambientalistas e as mineradoras, e aí é que residia a nossa questão, ser o fiel da balança da sustentabilidade. Era uma questão de calibrar os critérios, é aí que estava a questão, essa calibragem. Eu saí no momento em que essa discussão estava posta e eu não vi o resultado. O que eu sei é que ela não progrediu, e estamos vendo agora o que Bolsonaro está fazendo. Ele simplesmente jogou tudo fora e falou “acabou, não tem conversa, vai ser assim, está tudo liberado”. Eu sou totalmente contrário à liberação. Isso que está posto aí é uma imoralidade.
Então o caminho é aprimorar a regulamentação e a fiscalização?
Sem dúvida. Nós não damos bola para alguns instrumentos que existem, como o projeto de fechamento de minas por exemplo. É um projeto que todo empreendimento mineiro deveria ter. Ele diz quando e como vai começar, o que vai acontecer durante as operações, como vai terminar e o que ele precisa fazer em todo esse processo em termos de impactos de diversas formas, ambientais e econômicos. E esse projeto necessariamente tem que ser construído com as partes interessadas. Agora mesmo, no norte de Minas Gerais, empresas chinesas estão se instalando aparentemente sem um projeto de fechamento de minas, em uma região de ferro de baixo teor. O que eles deveriam fazer é informar à comunidade o que pretendem fazer durante o processo, os impactos que serão gerados e que medidas são necessárias para minimizar riscos.
E o papel do governo seria fiscalizar e cobrar que essas empreses apresentassem projetos de fechamento?
Sim, sem dúvida. O Estado não pode ser omisso, ele tem um papel extremamente relevante. Ele tem que estar vigilante quanto ao bioma, ao ecossistema, aos impactos socioeconômicos e à questão da produção. Mas os governos tendem a se alinhar ao poder econômico.
Até os anos 1990, a mineração era um indutor da economia e controlada pelo Estado. Isso muda com as privatizações daquela década. Ficou mais difícil fazer a regulamentação da mineração com a entrada dos agentes privados? Seria mais fácil regular e fiscalizar se as empresas de mineração fossem controladas pelo governo?
Você vai encontrar defensores árduos dos dois lados dessa discussão. Há quem diga que se você tiver a grande mineração controlada pelo Estado, você, em tese, teria também como controlar o processo produtivo, já que a fiscalização ficaria dentro do governo. Mas se uma empresa estatal for conduzida como uma empresa privada, eu acho que não teremos essa garantia. Nós temos hoje órgãos de comando e controle que são do Estado. Ibama, ICMBio, Agência Nacional de Mineração, Agência Nacional de Águas, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Mas quem são os dirigentes que são postos lá? Eles entram de acordo com os matizes dos governos, respondem a um alinhamento com aquele governo. Hoje temos um governo como esse que está aí. Ele vai colocar em cada agência dessas um diretor que é alinhado com a sua visão. O que eu quero dizer é que você pode instrumentalizar essas agências de modo tal que elas estejam respondendo às orientações de um governo. Ora, as empresas estatais seriam diferentes? Não. Se a Vale hoje estivesse sob o comando do Bolsonaro, ele estaria com a faca, o queijo e tudo o mais na mão.
A UFRJ vai retomar na próxima segunda-feira (31) as atividades presenciais de 2021.2 que estavam em curso no começo de janeiro e foram interrompidas, ou transferidas para o remoto, em função do aumento de casos causado pela variante ômicron. A recomendaçao foi anunciada por meio de nota publicada pela reitoria, e confirmada pelo vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha, ao Jornal da AdUFRJ. O encerramento das atividades de 2021.2 está previsto para março.
“A reitoria vai recomendar o retorno e vai retomar a programação para a volta das aulas presenciais no próximo semestre letivo, em abril”, explicou o vice-reitor. A decisão parece controversa, em um momento em que a taxa de transmissão da covid-19 na cidade do Rio de Janeiro chega a 2,61, segundo dados do Covídimetro, instrumento elaborado pelo GT Coronavírus para monitorar os índices da pandemia e orientar as decisões da reitoria. “Na conversa que tivemos com o GT, eles nos mostraram que a taxa de letalidade da doença para pessoas entre 19 e 59 anos foi zero em dezembro e janeiro”, explicou o professor. Os servidores com mais de 60 anos estão liberados por uma resolução do Consuni para continuar em atividade remota.
Carlos Frederico defendeu a interrupção feita em janeiro, e afirmou que a universidade está caminhando no sentido de retomar todas as atividades presenciais, desde que não haja nenhuma mudança significativa no cenário epidemiológico. “O passo atrás dado em janeiro foi diante de um risco, e diante do risco nós sempre vamos poder recuar. Com a informação que tínhamos na época, tomamos a decisão de preservar a comunidade”, explicou o professor, que ainda reiterou que a comprovação do esquema vacinal completo continua sendo obrigatória para quem acessar a universidade.
Em entrevista ao Conexão UFRJ, o professor da Coppe Guilherme Horta Travassos, vice-coordenador do GT Coronavírus, explicou que é preciso observar outros índices além da taxa de transmissão, como a ocupação hospitalar, o número de casos por 100 mil habitantes e a cobertura vacinal. “Diferentes indicadores podem e devem ser utilizados para avaliar a evolução da pandemia e, com eles, apoiar uma tomada de decisão baseada em evidência”.
Esta semana, o Covidímetro foi objeto de polêmica. Com a divulgação da alta taxa de transmissão aferida pelo instrumento, a imprensa noticiou que a UFRJ recomendava a adoção de lockdown na cidade. O GT se manifestou por meio da assessoria da universidade, esclarecendo que não foi feita a recomendação de lockdown. “Não existe recomendação imediata de lockdown por parte da universidade. Há consenso, entretanto, de que, quando o “R” está muito alto (acima de 2 – atualmente o índice é 2,6), medidas são necessárias visando à redução da taxa de transmissão do coronavírus: usar máscaras, evitar aglomerações, higienizar as mãos e ter o esquema vacinal completo, por exemplo”, dizia um trecho da nota.
IDAS E VINDAS PREJUDICAM ESTUDANTES QUE MORAM EM OUTROS ESTADOS
No fim do ano passado, com a recomendação do retorno facultativo de algumas atividades presenciais na UFRJ, Ana Raquel Rodrigues, que é natural de Manaus e estudante do Bacharelado em Física Médica, tomou a decisão de aderir ao retorno e se inscreveu em um laboratório que seria ministrado presencialmente. “Eu moro no Amazonas e vir para o Rio é atravessar o Brasil inteiro, então é muito complicado. É um custo alto: teve viagem, teve o aluguel, tive que consertar a mala”, conta a estudante. No início deste mês, a reitoria recomendou a suspensão das atividades presenciais, e Ana Raquel está cursando a disciplina remotamente, mas agora instalada no Rio de Janeiro: “Eu voltei exclusivamente por causa dessa matéria, que eu pensei que seria presencial, mas acabou que voltaram atrás e suspenderam. Fiquei até um pouco chateada mesmo entendendo a situação, que a pandemia ainda não acabou e os casos começaram a crescer de novo. Enfim, todo esse agravamento me prejudicou”.
Ludmila Rancan é estudante de Jornalismo e veio de Guarulhos (SP) para o Rio no final do ano passado. Ela não chegou a se inscrever em atividades presenciais da universidade, mas voltou para se preparar caso as aulas retornem. “Eu acabei ficando desempregada no meio da pandemia e para eu voltar ao Rio para estudar, no semestre que vai começar em abril deste ano, eu necessariamente precisava de um estágio. E consegui”, conta ela. “Ainda estou me organizando aqui no Rio de Janeiro. Desde que eu voltei, estou na casa de um amigo”.
O pró-reitor de Políticas Estudantis (PR-7), Roberto Vieira, explica que há um programa de retorno ao Rio para os moradores da Residência Estudantil: “Bancamos as despesas de retorno para a casa deles em outras cidades e estados e, quando eles retornarem, se quiserem fazer uma disciplina presencialmente, vamos custear o retorno deles para a residência se eles aderirem ao programa”. Ele também conta que esse é um número menor de estudantes, já que a maioria optou por permanecer no Rio, na Residência Estudantil. “Certamente vamos ter estudantes com vulnerabilidade socioeconômica que não aderiram ao auxílio, alguns podem ter dificuldades de voltar. Se isso acontecer, pode ser que um ou outro entre com pedido de auxílio”, completa. (Estela Magalhães)
Um sorteio público marcado para a próxima sexta-feira (dia 4), no auditório do Centro de Tecnologia, vai entrar para a história dos concursos docentes da UFRJ. Pela primeira vez, a universidade vai aplicar as regras aprovadas no Consuni em 2020 para efetivar as cotas para negros (20%) e para pessoas com deficiência (mínimo de 5% e máximo de 20%).
No edital, com publicação prevista para março, serão oferecidas 49 vagas para diferentes unidades, para o Centro Multidisciplinar de Macaé e para o campus Caxias. Sobre este total, o sorteio vai definir as 13 que serão destinadas às políticas afirmativas — 10 para candidatos negros e três para candidatos com deficiência. “Preciso publicar o edital já informando quais são as vagas destinadas às cotas”, explica o pró-reitor de Pessoal, professor Alexandre Brasil.
Até agora, as cotas praticamente não eram aplicadas em concursos para professores da UFRJ. Criada em 2014, a lei que reserva vagas aos negros em concursos públicos prescreve que a ação afirmativa só existe onde há disputa por três vagas ou mais. No caso das pessoas com deficiência, a jurisprudência aponta a obrigatoriedade da cota em concursos com cinco vagas ou mais. Mas, na UFRJ, o cálculo era feito por cada local — e raramente uma unidade oferecia mais de três oportunidades por edital. A partir de agora, o cálculo passa a ser feito sobre o número total de vagas.
Na resolução que criou as novas regras, o Consuni também definiu que as unidades e departamentos que apresentarem a menor proporção destes grupos terão prioridade nas cotas. Mas o levantamento, sob responsabilidade da pró-reitoria de Pessoal, ainda não está pronto. A expectativa é concluir a tarefa ainda em 2022, informa Alexandre Brasil. Enquanto isso, será realizado o sorteio, alternativa também prevista pelo Conselho Universitário.
Em um cenário de restrição fiscal, o pró-reitor explica que o edital será de reposição, seguindo o chamado “banco de professores equivalentes”. O dispositivo permite às universidades federais certa autonomia para fazer concursos em caso de vacâncias — ou seja, quando há aposentadorias, exonerações e falecimentos. “O governo vedou vagas novas”, afirma Alexandre.
O Instituto de Matemática será o local com mais vagas no concurso (seis), seguido do Centro Multidisciplinar de Macaé, da Escola Politécnica e da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (cinco). Outras 14 unidades e o campus Caxias são contemplados (veja quadro). A maior parte da distribuição segue as diretrizes apontadas pela última Comissão Temporária de Alocação de Vagas (Cotav), de 2019, e aprovadas no Consuni. “Com este edital, a gente zera a Cotav de 2019”, completa o pró-reitor de Pessoal. Além de 36 vagas referentes à Cotav anterior, o edital contém oito vagas republicadas de concursos anteriores não concluídos, três redistribuições (quando um docente vai para outra universidade) e duas vagas da reserva técnica da reitoria.
INSTITUTO DE COMPUTAÇÃO RECEBE TRÊS VAGAS
Criado no final de 2020, o Instituto de Computação é contemplado com três vagas neste próximo concurso. Vice-diretora pro tempore, a professora Carla Delgado explica como cada uma delas é importante para a unidade. “É o momento que o instituto está se consolidando. Precisamos de gente”, diz. “E também é uma oportunidade para quem entrar em um local em construção e quer deixar sua marca”, completa.
Reitora da UFRJ, a professora Denise Pires de Carvalho também destaca as vagas destinadas ao instituto. “É fundamental fortalecermos e renovarmos o corpo docente deste importante instituto, que é responsável por curso pioneiro de graduação nesta área do conhecimento. Pretende-se que haja avanços também na área de extensão e pós-graduação”, observa.
Para se desenvolver, o instituto também vai precisar de mais técnicos-administrativos. Hoje, somente um está vinculado diretamente à unidade. A vice-diretora está na expectativa de receber novos funcionários no próximo concurso. “Atualmente, a gente ainda usa a secretaria acadêmica do Instituto de Matemática”, exemplifica. Além das 49 vagas docentes, a UFRJ vai oferecer 102 vagas de nível médio e 91 vagas de nível superior. Todas também vão passar pela primeira etapa, de sorteio público, para aplicação das cotas.
Diretoria da AdUFRJ“Não basta as pessoas entrarem no ensino superior. Elas têm que entrar e sair”. A avaliação é do professor Flávio Carvalhaes, do IFCS, coorientador de um estudo inédito sobre evasão estudantil na UFRJ, tema de nossa matéria de capa, na página 4. De acordo com o estudo, feito pela doutoranda em Educação pela UFRJ Melina Klitzke, de todos os estudantes que ingressaram na graduação da UFRJ no início de 2014, 32% abandonaram o curso até o quinto período. Feito com os dados mais recentes disponíveis — ainda não há dados consolidados do período da pandemia —, o estudo registra o problema e já há na UFRJ alguns debates importantes sobre o tema, como a adoção de um sistema de reconhecimento e valorização da atividade de ensinar nos cursos de graduação e a necessidade de revisão dos conteúdos curriculares.
Se quase um terço dos estudantes que entram na UFRJ abandonam a universidade sem completar seus cursos, há um robusto percentual que espera, ansioso, pelo retorno às atividades presenciais. Mesmo com o avanço exponencial da variante ômicron, a reitoria da UFRJ, com base em parecer do GT Coronavírus, recomendou esta semana a retomada presencial das atividades de 2021.2, que haviam sido suspensas. Estudantes de fora do estado do Rio de Janeiro, que retornaram às suas casas no ensino remoto, vivem a expectativa — e a incerteza — dessa retomada. Esse complexo contexto, que mobiliza toda a comunidade acadêmica, é o tema de nossa matéria da página 5.
E por falar em mobilização, os professores da UFRJ têm um encontro marcado no dia 11 de fevereiro, às 9h30: a primeira assembleia da AdUFRJ de 2022 (veja quadro abaixo). Ela dará o pontapé inicial nas discussões sobre a conjuntura nacional, com enfrentamentos que vão desde a luta contra a reforma administrativa e a mobilização por reajustes dos servidores públicos federais. A assembleia vai também eleger a delegação da AdUFRJ ao 40º Congresso do Andes, que terá como tema “A vida acima dos lucros: Andes-SN 40 anos de luta”, e será realizado entre os dias 27 de março e 1º de abril, em Porto Alegre, de forma presencial e cercado de todos os cuidados sanitários contra a covid-19. Certamente um dos temas da assembleia e do congresso será o orçamento 2022, sancionado por Bolsonaro — adivinhe? — com novos cortes nas áreas de Ciência e Educação. Veja mais informações em nossa matéria da página 3.
O projeto de destruição de Bolsonaro segue seu curso nefasto em todas as áreas. Em entrevista na página 8, o diretor do Instituto de Geociências da UFRJ, Edson Mello, mostra o que está por trás do decreto presidencial que alterou as regras para contruções em regiões de cavernas. Interesses de grandes mineradoras, riscos a santuários únicos de fauna e flora, desprezo ao valor cultural de registros de povos ancestrais, tudo isso está em jogo. Mesmo com a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, de derrubar parte do decreto, o perigo continua. Já na página 7, o professor Diego Malagueta, do Instituto Politécnico do Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé, mostra como é possível reduzir a conta de luz aderindo a uma das modalidades de geração de energia solar disponíveis no mercado.
Em termos de destruição, marca do (des)governo Bolsonaro, a Capes é uma das instituições federais mais atacadas. Após a recente renúncia de vários coordenadores de área, com críticas e pleitos não respondidos pela direção da entidade, o Conselho Superior da Capes aprovou na última semana os nomes de cinco novos coordenadores. Eles serão responsáveis pela Avaliação Quadrienal 2017-2020, com divulgação de resultados suspensa pela Justiça. A escolha, contudo, não encerra a crise em um dos órgãos mais nevrálgicos para o ensino universitário do país: não se sabe o que será da Avaliação Quadrienal, fundamental para a aferição de qualidade dos cursos de pós-graduação no país. Confira na matéria da página 6.
Também na página 6, uma boa notícia. No concurso que será aberto com 242 vagas — sendo 49 para docentes —, a UFRJ vai aplicar, pela primeira vez, as regras aprovadas no Consuni em 2020 para efetivar as cotas para negros (20%) e para pessoas com deficiência (mínimo de 5% e máximo de 20%). Os editais estão previstos para março. Com isso, as políticas afirmativas entram para valer como critérios de acesso de novos professores e servidores na UFRJ. Em meio a tanto retrocesso, é um avanço a ser comemorado.
Boa leitura!