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WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.01.01Divulgação EEFDMais uma vez a sorte evitou uma tragédia. Até quando? Essa é a pergunta que se faz a comunidade da UFRJ após o novo desabamento de marquises e paredes que aconteceu na noite de 1º de maio no prédio da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), no campus do Fundão. É a segunda queda em apenas oito meses — a primeira ocorreu em setembro do ano passado. As aulas no edifício estão suspensas por tempo indeterminado.
“O vigilante ouviu barulhos e resolveu fazer uma ronda no prédio. Quando chegou no corredor, ouviu um novo estalo, mais forte. Ele parou e a parede desabou à frente dele. Felizmente ele não se feriu”, contou ao Jornal da AdUFRJ o vice-diretor da EEFD, professor Alexandre Palma. A unidade está interditada até segunda ordem. “Não posso colocar pessoas dentro deste edifício. A UFRJ vem dando sorte de ninguém se machucar. Até quando teremos sorte?”.
Técnico da UFRJ há 36 anos e atual prefeito da Cidade Universitária, Marcos Maldonado se emocionou ao ver os escombros. “Estamos por um triz. Precisamos urgentemente de orçamento”, desabafou, antes de iniciar uma peregrinação em busca de material para isolar a área do acidente. “Nunca vi a universidade numa situação tão dramática”, lamenta.
“Nós temos várias edificações sob risco e a UFRJ precisa urgentemente dos recursos para manter as suas edificações seguras”, afirmou o reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho. “O Escritório Técnico ainda está calculando os custos dessa nova obra”, informou o reitor logo após visitar a área do acidente, na manhã de 2 de maio.
As imagens são impactantes e explicitam o tamanho da tragédia caso o acidente tivesse ocorrido em horário de aula. O corredor ficou tomado por grandes blocos de concreto. A diretora da unidade, professora Kátya Gualter, informou que a ala atingida é muito demandada por toda a comunidade acadêmica. “É o corredor do gabinete da Direção, Coordenação de Extensão, RH, Coordenação de Esportes, Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação Física e Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Dança”, elencou. Além disso, era o único acesso considerado seguro pelo Escritório Técnico da Universidade (responsável pelas vistorias de segurança dos prédios e pelos projetos de manutenção e reformas prediais). O outro acesso, em frente ao bandejão central, fecha às 18h. Um terceiro está interditado por conta do primeiro desabamento de marquise, ocorrido em setembro do ano passado.WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.01.02 2
A diretora contou, ainda, que está em diálogo com a reitoria e outras unidades para redistribuir as aulas para outras áreas. “Ainda não sabemos como se dará essa reorganização. Faremos uma reunião do Conselho Departamental para definir isso”. Por enquanto, não está cogitada a suspensão do período para os cursos atingidos.
A decania do Centro de Ciências da Saúde – ao qual a Educação Física é vinculada – também acompanha o caso. “Estamos muito mobilizados. Teremos uma reunião com a reitoria e a direção da Escola para discutir a situação e buscar soluções”, informou a vice-decana do CCS, professora Lina Zingalli. “Prestaremos todo apoio necessário à unidade, como fizemos na ocasião do primeiro desabamento”, adiantou a professora.
Por meio de nota, a reitoria informou que já foi definida uma empresa para realizar a manutenção corretiva para escorar o trecho danificado imediatamente. Além disso, solicitou ao Ministério da Educação recursos extras para a execução do serviço e para a prevenção de futuros desabamentos.
A reitoria ressaltou, ainda, que as aulas que acontecem fora do prédio e são de outras unidades estão mantidas. Seguem canceladas por tempo indeterminado apenas as aulas realizadas no prédio da Educação Física.

DRAMA SE REPETE
Este é o segundo desabamento ocorrido no prédio da Educação Física em oito meses. O primeiro aconteceu no início da tarde de 6 de setembro do ano passado. Havia aulas regulares. Por sorte, ninguém se feriu. “A dinâmica foi a mesma. Estalou primeiro e estourou para dentro do corredor depois”, explicou o vice-diretor Alexandre Palma.
As aulas do primeiro semestre para o curso de Dança — principal atingido pelo primeiro desabamento — foram iniciadas apenas no dia 24 de abril. “Não queríamos retomar antes que o segundo escoramento fosse realizado, para dar mais segurança à comunidade acadêmica”, relatou a diretora Kátya Gualter. “Mas esse desabamento nos mostra que realmente não estamos seguros”.

WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.01.02 4CALOR: ventiladores velhos não dão conta das amplas salas. No fim do ano passado, um deles se espatifou no chão, durante a aula - Fotos: Kelvin MeloInfiltrações constantes, rede elétrica antiga, ventilação inadequada nas salas, insegurança no entorno e falta de espaço para eventos. Criado em 2010, o Instituto de História padece das mesmas mazelas do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais com o qual divide o prédio no Largo de São Francisco, no Centro do Rio.
O mais recente episódio de crise da infraestrutura ocorreu no dia 1º de abril. A sala da diretoria adjunta de graduação amanheceu coberta de resíduos do teto, como resultado de uma das muitas infiltrações do edifício. Ninguém se machucou, mas os danos foram inevitáveis.
“Os arquivos que ficavam abaixo de onde houve o vazamento inicial ficaram parcialmente molhados. O tacos do piso abaixo estão levemente danificados. Um bebedouro também foi afetado”, informou o professor João Paulo Rodrigues, diretor adjunto de graduação.
Não foi um incidente isolado. A mesma sala já sofreu uma inundação em novembro passado e precisou ser interditada. A reportagem também constatou diversos pontos de umidade nos corredores do prédio. No banheiro feminino do segundo andar, ao lado do Salão Nobre, as infiltrações abriram uma “cratera” no teto.WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.01.02 7SUSTO resíduos caíram na sala da diretoria adjunta de graduação - Imagem: divulgação
Vice-diretora, a professora Marta Mega relatou que os problemas de infraestrutura se intensificaram após a pandemia. “Quando retornamos ao presencial, em 2022, encontramos um prédio em condições muito precárias e não havia verbas para cuidar das demandas. Durante a pandemia, ocorreram várias chuvas e uma delas inundou a sala 211A, que é uma sala de professores do laboratório de História Antiga”, disse. Quando aberta, havia mofo na parede e armários cheios de cupins. “Eu tive um ataque de choro”, lembra, emocionada.
Quando não é a chuva, o tempo quente do Rio também contribui para piorar as condições de trabalho no prédio. Não há aparelhos de ar-condicionado para todos os espaços. Entre os poucos existentes, parte está quebrada. Os ventiladores velhos não atendem às necessidades de professores, técnicos e alunos. “As salas, com pé direito altíssimo, são muito amplas. Eles não dão conta”, explica Marta.
Por falar em ventiladores, foi durante uma aula da professora que um deles despencou do teto, em outubro ano passado. O episódio repercutiu na grande imprensa. “De repente, vejo os alunos se afastando, abrindo um espaço na sala e ele caiu no chão. Se as pessoas não tivessem percebido...”, diz Marta.
Os riscos à integridade física de alunos, professores e funcionários não se limitam ao prédio. O entorno, especialmente após a pandemia, fica deserto à noite. “Trabalho há 27 anos na universidade e nunca tive problema para sair do prédio às 21h40. Agora, não tem mais isso. Às 20h, fica todo mundo agitado. Os colegas fazem caravana para sair todo mundo junto”, informa a vice-diretora. Não há nenhum levantamento oficial, mas os professores percebem uma grande evasão no curso noturno.
WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.02.02 1O professor Rodrigo Farias confirma a insegurança. “Alunos já me disseram que foram assaltados duas vezes seguidas no trajeto até a Praça XV”, afirmou. O docente também reclama da falta de equipamentos, do calor da sala e até mesmo do quadro.
“A maioria é quadro a giz ainda. Nos quadros brancos, você escreve e não consegue apagar porque a película foi embora há muito tempo”. Funcionários terceirizados da limpeza confirmaram à reportagem o uso de produtos mais fortes para apagar alguns quadros brancos entre uma aula e outra.
O receio de algum incêndio a partir da antiga rede elétrica do prédio também está presente. “Sempre penso que se algo acontecer aqui na linha do que ocorreu no Museu Nacional, eu não vou ficar surpreso”, critica Rodrigo.
Nem mesmo a realização de eventos acadêmicos é simples no instituto. O Salão Nobre, razoavelmente bem conservado, é dividido com o IFCS. Mas o ambiente não é refrigerado. “As demais salas estão precárias. Em geral, acabamos fazendo eventos conjuntos com outras instituições, como a PUC, ou em outras áreas da universidade, como no Fórum de Ciência e Cultura”, afirma o diretor Antonio Jucá.
O docente resume em uma frase as dificuldades da gestão. “Nós nos sentimos engessados por falta de recursos”. A burocracia da lei de licitações somada ao tombamento do prédio — qualquer grande obra precisa passar pelo crivo do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN) — complica tudo ainda mais.
A reforma elétrica da edificação é a prioridade zero. O projeto já passou pelo IPHAN, que o devolveu com a solicitação de pequenos ajustes, informa a direção do IFCS, responsável pela administração do prédio. “A empresa responsável pelo projeto executivo já está providenciando estes ajustes. Talvez ela peça prorrogação do prazo para realizá-los. O limite para tanto são 60 dias. É o tempo previsto para poder abrir a licitação”, informa o diretor Fernando Santoro.
“Esperamos que o empenho orçamentário venha antes disso e não haja atraso de nenhum dia para licitar e dar início a essa obra emergencial. Até as paredes largas do IFCS sabem da urgência desta obra”, encerra Santoro.

WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.08.21

WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.01.02 6A maioria das assembleias do país rejeitou a proposta de reajuste salarial apresentada pelo governo aos professores federais em mesa de carreira ocorrida no dia 19 de abril. A proposta mantinha a negativa de reajuste para 2024, apresentava índice de 9% em 2025 e de 3,5% em 2026. Além disso, o governo sinalizava para um reajuste de meio por cento nos steps — isto é, nos níveis de uma classe — entre as classes C e D, para o magistério superior, e D III e D IV, para EBTT. A sinalização não agradou à categoria. A principal crítica é a insistência no não reajuste dos salários neste ano.
Diante do quadro, o Comando Nacional de Greve do Andes sugeriu uma nova contraproposta. O caminho foi seguido pelo Proifes, federação que também representa docentes universitários federais. Uma novidade nas elaborações dos sindicatos foi a inclusão do tema Orçamento na contraproposta da mesa setorial, programada para segunda-feira, dia 6. A avaliação, agora, é que os problemas instalados nas universidades não serão solucionados com reajustes salariais e mudanças na carreira.
Diretor da AdUFRJ, o professor Rodrigo Fonseca acredita que os professores devem se municiar com o máximo de informações e participar das próximas atividades programadas pela AdUFRJ. No dia 7, a diretoria reúne o Conselho de Representantes para discutir a pauta da assembleia que ocorrerá no dia 10. Na assembleia, a greve será um dos temas, bem como a avaliação da mesa negocial do dia 6 de maio. “Os colegas precisam estar informados sobre todas as propostas que estão na mesa de negociação neste momento, tanto do Andes, quanto do Proifes. Não podemos negligenciar informação”, defende o dirigente. “É importante que os colegas saibam que, mesmo se somente uma das duas entidades assinar um termo de acordo, o aumento será efetuado em todos os contracheques, como já aconteceu em 2012 e em 2015”. Naqueles anos, o Andes protagonizou duas greves por tempo indeterminado, que duraram quase quatro meses. O sindicato nacional manteve a greve mesmo após encerradas as negociações, o que gerou grandes prejuízos para a comunidade acadêmica da UFRJ nos dois momentos.

Veja o que propõe o Andes

Carreira
O CNG entende que só a correção de steps em níveis intermediários da carreira aprofunda as distorções salariais já existentes. Por isso, sugere que o tema seja mais debatido por maior prazo. Em vez de haver mudança nos steps neste momento, a proposta é transferir o impacto orçamentário desse reajuste para a base da carreira, para minimizar distorções.

Salários
O Andes vai defender a manutenção do índice de 22,71% de recomposição salarial, com apresentação de primeira parcela ainda em 2024. Além disso, indica aceitar o índice apresentado para 2025, de 9% em janeiro. O sindicato também quer abrir negociação para recombinação dos percentuais, em 2024 e em 2026, de forma que ao final de 2026 sejam concedidos os 22,71%. A proposta original do Andes é de 7,06% nos três anos.

Orçamento
Luta com outros setores da Educação pela recomposição de investimentos para as universidades, institutos e Cefets para garantia de investimento em estrutura, permanência estudantil e bolsas de pesquisa e extensão. O parâmetro indicado pelo Comando Nacional de Greve (CNG) é o orçamento de 2016, com acréscimo da inflação do período.

Revogaço
O sindicato nacional defende a Revogação integral e pagamento de perdas retroativas para os afetados pela IN 66/2022 (progressões docentes). A proposta do Andes também inclui a revogação integral da Portaria nº 983/2020, do MEC (sobre trabalho EBTT).

 

Veja o que propõe o Proifes

Carreira
O Proifes propõe reestruturar a carreira com a substituição das classes A/DI e B/DII (do magistério superior e EBTT), por uma única classe de entrada. Os atuais docentes em estágio probatório seriam enquadrados nessa nova classe, com benefícios salariais. Após o estágio probatório, todos os docentes iriam para a Classe C, nível 1 (MS) / DIII, nível 1 (EBTT). Quer aumentar a proposta do governo, de 4,5% de reajuste nos steps, para 5% nas classes C e D e D III e D IV das duas carreiras. Além disso, pretende retirar a obrigatoriedade do doutorado para a promoção à classe de associado, como forma de garantir a isonomia entre as carreiras, mantendo apenas a avaliação de desempenho. Quer o fim do controle de frequência para docentes EBTT e sugere que os transferidos de instituição por concurso mantenham a posição na carreira que ocupavam na federal de origem.

Salários
O Proifes propõe reajuste de 3,5% a partir de setembro de 2024; de 9,5% em janeiro de 2025 e de 4% em janeiro de 2026. Além disso, exige o cumprimento do piso salarial nacional do magistério até 2026. Hoje, os docentes que acessam a carreira sem doutorado recebem menos que os professores da educação básica.

Benefícios
Faz parte da proposta a equiparação dos benefícios com os dos demais Poderes até 2026.

Orçamento
Recomposição do orçamento das instituições federais de ensino, ainda em 2024, com ampliação dos anos seguintes. A recomposição da assistência estudantil também está na proposta, com início ainda neste ano e ampliação dos recursos nos próximos anos.

Revogaço
O Proifes também exige a revogação total da Portaria MEC 983/2020 (sobre carreira EBTT) e o estabelecimento de um grupo de estudo para criar novo decreto ou portaria que garanta a equiparação plena dos professores de EBTT aos do Magistério Superior.

QUADRO ATUALIZADO DAS FEDERAIS EM GREVE

INSTITUIÇÕES
EM GREVE

Universidade Federal
do Rio Grande (FURG)

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB)

Universidade Federal
do Ceará (UFC)

Universidade Federal
do Cariri (UFCA)

Universidade de Brasília (UnB)

Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF)

Universidade Federal de
Ouro Preto (UFOP)

Universidade Federal
de Pelotas (UFPel)
Universidade Federal
de Viçosa (UFV)

Universidade Federal d
o Espírito Santo (UFES)

Universidade Federal
do Maranhão (UFMA)

Universidade Federal
do Pará (UFPA)

Universidade Federal
do Paraná (UFPR)

Universidade Federal
do Sul da Bahia (UFSB)

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa)

Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR)

Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG)

Universidade Federal
de Roraima (UFRR)

Universidade Federal de
São João del-Rei (UFSJ)

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Universidade Federal
de Catalão (UFCAT)

Universidade Federal
do Oeste da Bahia (UFOB)

Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM)

Universidade Federal
de Tocantins (UFT)

Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN)

Universidade Federal
Fluminense (UFF)

Universidade Federal
de Alagoas (UFAL)

Universidade Federal do
Agreste de Pernambuco (UFAPE)

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Universidade Federal de
São Paulo (UNIFESP)

Universidade Federal
da Bahia (UFBA)

Universidade Federal
do ABC (UFABC)

Universidade Federal
Rural da Amazônia (UFRA)

Universidade Federal de
Campina Grande – Campus Cajazeiras (UFCG-Cajazeiras)

Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM)

Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul (UFMS)

Universidade Federal do Acre (UFAC)

Universidade Federal
de Lavras (UFLA)

Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) – Campus Pouso Alegre, Campus Poços de Caldas e Campus Passos

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – campus Rio Grande

Instituto Federal do Piauí

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste-MG (IF Sudeste-MG) Campus Juiz de Fora, Campus Santos
Dumont e Campus Muriaé

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Sul-Riograndense (IFSul)
Campus Visconde da Graça

Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) - 7 Campi

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)

Centro Federal de
Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca (CEFET-RJ)

INSTITUIÇÕES COM DATA PREVISTA DA GREVE

5 de maio
Universidade
Federal do Sergipe (UFS)

6 de maio
Universidade Federal de
São Carlos (UFSCAR)

Universidade Federal de Goiás (UFG)

7 de maio
Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC)

20 de maio
Universidade Federal
de Uberlândia (UFU)

ENTREVISTA I JORGE RICARDO SANTOS GONÇALVES, PROFESSOR DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

WhatsApp Image 2024 05 03 at 20.01.02Foto: Alessandro CostaNa assembleia da AdUFRJ do último dia 26 de abril, um dos depoimentos mais contundentes foi o do professor Jorge Ricardo Santos Gonçalves, da Faculdade de Educação. A propósito dos 60 anos do golpe de 1964, Jorge Ricardo lembrou a luta contra a ditadura e defendeu que a data seja sempre lembrada pelos que defendem a democracia. “Não podemos esquecer 1964, para que nunca mais aconteça”. Poucas pessoas poderiam dizer isso com mais autoridade. Preso pelo temido DOI-CODI aos 21 anos, ainda estudante, Jorge Ricardo foi torturado nos porões da ditadura, enquadrado pela Lei de Segurança Nacional, e encarcerado em um presídio de Minas Gerais. Hoje, aos 72 anos e com quatro filhos, carrega sequelas das violências que sofreu, segue na luta pela democracia e diz que a ditadura lhe tirou alguns anos da juventude, mas lhe deu “de presente” o ofício de professor. Conheça um pouco da história desse bom e velho combatente.

Jornal da Adufrj - Como foi a sua vida antes de entrar na militância política?
Jorge Ricardo -
Nasci em Aracaju em 1952, e vim com 5 anos para o Rio de Janeiro com meus pais, que eram funcionários do Banco do Brasil, e minha irmã. Sempre estudei em escolas públicas municipais e estaduais do Rio. Entrei na PUC e, no segundo ano de faculdade, ingressei no movimento estudantil. Eu escolhi a PUC porque a UFRJ naquela época, em 1970, estava quase sem professores, muitos haviam sido cassados. E alguns desses cassados foram dar aulas na PUC, como o saudoso Manoel Maurício de Albuquerque, de quem fui aluno e amigo.

O que o levou a participar do movimento estudantil?
Inicialmente foi evitar que a Autoestrada Lagoa-Barra passasse por dentro da PUC, como previsto no projeto inicial. E o movimento foi vitorioso. A área da PUC foi preservada. Em seguida, veio a comemoração dos 50 anos da Semana de Arte de 1922 na PUC, com a participação de várias lideranças já então perseguidas pela polícia, como David Capistrano Filho.

Sua trajetória na militância começou na Ação Popular Marxista Leninista, a AP. Por que essa opção?
Fui vice-presidente do Centro Acadêmico Roquette-Pinto, da Sociologia e da Economia, e logo passei a militar na AP. Era uma organização de esquerda, contra a ditadura e a favor da libertação da população. Um dos participantes era o Betinho. No início de 1972, eu me vi numa situação muito séria. Meus companheiros de movimento ligados à Polop (Organização Revolucionária Marxista Política Operária) e ao PCdoB foram presos e eu me vi praticamente sozinho na PUC. Continuei fazendo panfletos rodados em mimeógrafo denunciando as prisões.

E como foi a sua prisão?
Fiquei muito exposto na PUC. E fui para a UFMG cursar Ciências Sociais e continuar a militância. Em meados de 1973, comecei a ser seguido, fugi para o Rio Grande do Sul, e depois para o Rio. Quando voltei a Belo Horizonte, fui preso em 21 de dezembro de 1973 por agentes do DOI-CODI.

Começou aí seu calvário...
Fui massacrado. Fiquei um mês no DOI-CODI de BH sendo torturado para entregar meus amigos. Chegaram a me levar para um terreno baldio, à noite, de olhos vendados, e simularam um fuzilamento. Depois me trouxeram para o DOI-CODI do Rio de Janeiro, ali no quartel da Polícia do Exército da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, onde fui torturado por mais um mês. Como não conseguiram que eu entregasse nenhum companheiro, me mandaram para São Paulo, fui parar nas mãos da temível Oban, do Brilhante Ustra e outros torturadores.

A que tipo de tortura o senhor foi submetido?
Na Oban foi o pior período, eu já estava muito debilitado, e eles me quebraram todo. Pau-de-arara era sempre, tenho até hoje um problema de circulação nas pernas por conta disso. Acelerou minha artrose, já fiz duas operações. Cobra dentro de barril, afogamentos, choques de várias maneiras. Injetaram substâncias no meu sangue, até hoje tenho problemas de fígado. Devia ser o tal soro da verdade. Comigo não funcionou. Acabei assinando um depoimento reconhecendo algumas ações, negando outras. Mas não entreguei ninguém. Fui enquadrado no artigo 43 da Lei de Segurança Nacional, peguei dois anos de cadeia, por organizar agrupamento de caráter subversivo. Fui da AP todo esse tempo e, mesmo depois de ser libertado, continuei na AP.

Como foi a convivência com outros presos na cadeia?

Havia presos de várias organizações, inclusive as ditas militaristas, como a ALN e a VAR-Palmares. Fazíamos rodízio de rádios e TVs, dividíamos até comida, era um socialismo forçado. Dizem que a esquerda só se une no câncer, mas na prisão também. Era a Penitenciária Regional de Juiz de Fora. Meus pais e minha irmã me visitavam toda a semana.

Na cadeia vocês sofriam violência?
O diretor de lá gostava de mandar a gente para a solitária. Era um oficial aposentado da Polícia do Exército, conhecido como Belial, um personagem maligno do Velho Testamento. Na solitária não tinha cobertor, a gente dormia no chão, mas não era tortura. A gente só podia ler a Bíblia na cela, o que rendeu o apelido do diretor.

E depois da libertação, como você se reintegrou ao movimento?
Saí em 31 de março de 1976, como na música do Caetano, sem lenço e sem documento. Fui para a casa dos meus pais. E retornei à militância na PUC e na AP. Fiz o discurso de formatura da minha turma de Sociologia, em 1978, época da luta pela Anistia. A plateia em coro gritava “Anistia, Anistia”. Foi de arrepiar.

Depois da Anistia, em 1979, qual foi seu caminho?
Participei das primeiras reuniões para a formação do PT, ainda antes da Anistia, e defendi o fim da AP para nosso ingresso como uma ala no partido. Fui petista radical durante alguns anos. Mudei para a Vila São Luiz, em Duque de Caxias, para fazer trabalho político da AP na Baixada.

Como se aproximou do PDT?
Em 1982 eu saí do PT, questionando o caráter eleitoreiro que o partido havia tomado. Brizola tinha sido eleito governador do Rio naquele ano, eu já era professor da rede pública estadual na Baixada. Fui um dos organizadores da formulação inicial dos Cieps, em 1985, com Darcy Ribeiro. Esse projeto foi muito criticado pelo PT e pela direita. Só defendiam o projeto, além do governo do PDT no Rio, os pais dos alunos da periferia que estudavam nos Cieps.

Recentemente, o presidente Lula pediu desculpas públicas à memória de Brizola e Darcy por ter criticado os Cieps no início dos anos 1980.
Muito tardio e inócuo. Precisávamos de apoio naquela época. Era um projeto de esquerda de seriedade. Poucos políticos de esquerda investiram prioritariamente em educação pública como Brizola e Darcy. Se tivéssemos apoio naquela época, teríamos hoje um país diferente.

Lula também defendeu que não se fale mais de 1964, que isso é olhar para trás. Em seu discurso na assembleia, o senhor defendeu o contrário.
Ditadura é inaceitável. Quase entramos em um novo ciclo autoritário com o governo Bolsonaro. O Brasil precisa enquadrar as Forças Armadas dentro de um sistema democrático. Não podemos esquecer 1964, para que nunca mais aconteça.

O senhor foi um dos beneficiados pela Comissão da Anistia, em 2009, que indenizou 19 pessoas que tiveram seus direitos políticos cassados durante a ditadura. Isso reparou tudo o que sofreu?
Recebi R$ 51 mil de indenização e um pedido de desculpas do Estado brasileiro. Foi só isso. Essa comissão acabou. Talvez tenha acabado dentro desse conceito de que temos que esquecer.

Sua militância política se mantém?
Sim. Eu saí do PDT no final da vida do Brizola e fiquei sem partido durante muitos anos. No ano passado, eu me filiei ao PSOL. Sou professor da UFRJ desde 1989, sempre atuei politicamente aqui. Dou aulas para licenciatura e isso me dá um grande prazer, convivo com alunos de 26 diferentes áreas, da Letras à Geografia, da História à Matemática.

Para quem foi professor desde sempre, deve dar uma satisfação muito grande formar novos professores...
E você sabe que minha escolha de ser professor aconteceu na prisão? O diretor Belial queria que os presos políticos se integrassem aos comuns. Éramos 15 presos políticos num universo de 300 detentos. Tínhamos as seguintes opções: varrer pátios enormes, lavar latrinas nas celas, limpar a fétida cozinha ou dar aulas de Mobral aos presos analfabetos. Eu escolhi dar aulas. Nunca tinha pensado em ser professor até aquele momento. Queria ser pesquisador. Eu dava aulas usando o material do Mobral e mesclando com o método Paulo Freire.

Método Paulo Freire numa prisão da ditadura? O senhor é mesmo corajoso.
Durante alguns meses eu consegui fazer isso, mas o Belial descobriu, proibiu e me mandou para a solitária de novo (risos). Mas ficou aquela semente. Eu saí da cadeia e fui ser professor. Sem querer, além de ter roubado alguns anos da minha juventude, a ditadura me deu de presente a profissão que eu abracei a vida toda.

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