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Às vésperas da maior festa popular do mundo, o Museu Nacional recebeu um reforço na recomposição de seu acervo. A escola de samba Grande Rio, campeã do carnaval carioca do ano passado, doou ao Laboratório de Antropologia do Lúdico e do Sagrado (Ludens) sete fantasias e um adereço de mão pertencentes ao desfile de 2022. As peças serão utilizadas em futuras exposições.
Coordenadora do Ludens, a professora Renata de Castro Menezes conta que o laboratório realiza pesquisas desde 2016 nas escolas de samba. A Mangueira foi a primeira agremiação a doar peças à instituição, mas os itens foram destruídos pelo incêndio de 2018. “É graças à sensibilidade das pessoas do mundo do samba, que entendem a importância cultural do Carnaval e do Museu Nacional, que estamos reconstruindo esse acervo”, festeja Renata Menezes.
A docente explica que o Ludens produz conhecimento sobre a sociedade contemporânea por meio das festas populares, daí a importância de ter um acervo que conte essa história. “Pode-se dizer que as fantasias materializam ‘temas culturais e sociais’. Porém, elas também são o resultado de saberes e técnicas que transformam materiais diversos em peças de grande impacto sensorial”.
Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, destaca o apoio da sociedade civil na reconstrução da instituição. “Esta é uma doação que nos deixa muito honrados. A sociedade compreendeu que o museu é de todos nós”, afirma. O docente conta que ainda no primeiro semestre deste ano será lançado o Centro de Visitação da instituição, na área doada pelo goveno federal em outubro 2018. “Para que escolas e crianças sintam o gostinho de ter o Museu Nacional de volta”, antecipa Kellner.
Quem quiser ajudar com doações de peças para o acervo pode acessar o site https://recompoe.mn.ufrj.br/acervo.
Bem-te-vi: foto de Daniel MelloIgor VieiraNo Observatório do Valongo, não é necessário olhar pela lente de um poderoso telescópio para enxergar beleza no céu. Desde 2016, a professora Silvia Lorenz-Martins e o técnico Daniel Mello, adeptos da observação de pássaros, já registraram mais de 40 espécies no bucólico jardim da unidade.
A atividade culminou no Catálogo de Aves do Valongo, divulgado em dezembro, com 39 delas — uma parte desenhada por estudantes da Escola de Belas Artes. A publicação é fruto do projeto de extensão Voos, coordenado pela decana do CCMN, Cassia Turci, e ligado ao Laboratório de Representação Científica (LaRC). Com participação de professores e alunos do CCMN, do CCS e do CLA, a iniciativa busca conectar arte e ciência.
A professora Silvia explicou a motivação para o projeto com brilho nos olhos. “A gente naturalmente se interessa pela natureza. Em 2019, eu e Daniel tínhamos o catálogo pré-pronto. Na pandemia, os alunos da EBA, com base em nosso acervo, assistiram a palestras e aulas online sobre aves e desenho científico”. O catálogo também conta com informações sobre as espécies.
O Voos é ambicioso e está abrindo as asas. Os próximos passos são um catálogo das aves do Fundão, uma exposição na Semana de Integração Acadêmica (SIAC), a impressão de uma asa articulada em 3D para estudo, livros infantis para colorir, e até mesmo um site com a imagem e o canto dos pássaros. O céu é o limite.
gavião-carijó - ilustração de Suellen Rodrigues Martins
“Para se ter uma ideia, são 180 espécies de aves no Jardim Botânico, e mais de 200 no Fundão. Queremos que as pessoas saibam da nossa riqueza em biodiversidade, e mostrar o que cerca quem está na UFRJ, a beleza das aves e onde observá-las”, diz a professora. “Com isso, você valoriza a natureza, o meio ambiente, a vida”, completa.
O astrônomo Daniel se orgulha do Valongo. “O Observatório é promotor da astronomia e da ciência. Agora, com o catálogo, ele é colocado como uma área verde urbana de suma importância, a única do Morro da Conceição e uma das poucas do centro do Rio”, afirma, no jardim que foi cultivado de forma voluntária e coletiva pela comunidade do observatório, ao longo dos anos.
“O catálogo serve como guia deste hobby. Quem se interessar vem aqui e já sabe onde procurar, quais os hábitos dos pássaros, o que comem e em que estação”, explica o astrônomo. Daniel lembra que o Brasil é o segundo país com maior biodiversidade de aves — só fica atrás da Colômbia. “A observação se popularizou há ‘apenas’ dez anos no Brasil. O catálogo então se soma aos materiais em português”.
Teque-teque - ilustração por Flavia FontesCriada durante os tempos difíceis da pandemia, a publicação também serviu para animar os participantes. A extensionista Flávia Fontes, da EBA, que fez o desenho do Teque-Teque e da Cambacica, relatou sua experiência. “Eu ia para faculdade no período integral. De repente veio o confinamento, tudo parou, a vida estava vazia. O projeto me ajudou porque foi constante, desde 2020, com palestras, produção, e interação. A partir delas e das fotografias, fizemos os desenhos”.
Flavia valoriza o conhecimento aprendido com fotógrafos, biólogos, taxidermistas e ornitólogos, além de apaixonados pelas aves em geral. “Muita gente sabe de aves sem ser necessariamente dessa área. É bom saber que as pessoas se interessam”.
CIÊNCIA CIDADÃ
Com o trabalho, a professora Silvia também ajuda a promover a chamada “ciência cidadã”. Em fóruns de discussão online, os aficionados postam fotos das aves e áudios dos cantos, de forma organizada, com etiquetas e marcadores. A informação, gerada de forma voluntária, ajuda pesquisadores e cientistas. “As pessoas registram a foto com informações como e onde a foto foi tirada, data, idade e sexo. Isso é ciência cidadã, é importante”, afirma.
Silvia brinca ao ser indagada se a sua formação como astrônoma ajuda na observação de aves. “Estou aco
Guaracava - foto de Silvia Lorenz-Martinsstumada a olhar para cima (risos). Mas não tem muito a ver, exceto que a câmera que uso para tirar foto do céu, também tiro dos pássaros”, conclui.
Fotos: Fernando SouzaIgor Vieira"Sem anistia! Sem anistia!”. O grito de indignação ecoou na Cinelândia lotada, repetidas vezes, um dia após os ataques terroristas bolsonaristas na Praça dos Três Poderes. Mas não só. Brasil afora, milhares de manifestantes cobraram a responsabilização de todos aqueles que, sem aceitar as regras da democracia, destruíram símbolos nacionais em busca de um golpe de Estado.
“O ato, com muita gente, é importante, assim como a presença de entidades como o Sintufrj, o DCE Mário Prata e outras organizações e movimentos sociais, para mostrar a capacidade de resposta e de organização da sociedade civil diante de acontecimentos como os de domingo”, disse a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ. “Me preocupa muito que ainda existam, na sociedade, grupos favoráveis à intervenção militar. Hoje, passamos a mensagem da importância do jogo democrático e da alternância de poderes”.
O professor Ricardo Medronho, também diretor da AdUFRJ, reforçou: “Estão ocorrendo manifestações a favor da democracia no Brasil inteiro e em mais de 10 países. As ruas estão cheias, como aqui no Rio, mesmo com chuva”. Medronho defendeu a prisão dos envolvidos, “junto com quem os financiou e com os responsáveis por não proteger Brasília”.
“Sofremos uma violência, que foi uma tentativa de golpe, feita por vândalos bolsonaristas radicais. Foi um ato terrorista planejado, organizado e financiado”, afirmou a professora Maria Paula Araújo, do Instituto de História da UFRJ. “É importante a UFRJ estar aqui, até porque nossa reitora vai estar no Ministério da Educação. Com a instituição aqui, os alunos e professores, damos sustentação a um governo esclarecido”.
O professor João Paulo Sinnecker, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), também refletiu sobre o papel do educador. “Temos um papel de destaque na promoção da democracia. Temos que passar os valores democráticos para os mais jovens. Somos formadores de opinião e de futuros profissionais”.
O deputado federal Reimont (PT-RJ) avaliou o ato de forma positiva. “A cidade do Rio de Janeiro, lotando a Cinelândia, dá uma resposta à invasão do domingo. Já temos uma resposta contundente do governo, do Congresso, do STF e das forças de segurança nacionais.”
Entre os cidadãos que transformaram a Cinelândia em um mar de guarda-chuvas, Michel Martins, professor de Geografia de escolas particulares, expressou sua indignação com os episódios do fim de semana. “Estamos aqui para defender a democracia contra a força desagregadora fascista. A invasão do domingo foi o último ato, até agora, de algo que estava sendo plantado desde as ocupações dos quartéis”.
REPÚDIO
Diversas entidades, movimentos sociais e universidades, como a própria UFRJ, repudiaram os atos em declarações e manifestos na mídia e nas redes. Entre elas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE), e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “A tentativa do candidato vencido nas eleições de outubro e de parte de seus apoiadores de desqualificar a voz do eleitorado brasileiro deve ser repudiada por todos nós. Apelamos a todos para que se manifestem em defesa da democracia, nas ruas, se possível, sem aceitar qualquer provocação dos inimigos do Estado de Direito”, diz a carta de repúdio da SBPC, em conjunto com mais de 80 entidades.
A ARTE SE MANIFESTA
Vestindo a camisa do Brasil e com um crânio de gado na cabeça, o artista visual João Maturo fazia uma performance ao se colocar atrás das grades que carregava a tiracolo. “É uma manifestação de indignação com tudo que aconteceu nesses quatro anos de barbárie e infelizmente, continua acontecendo. Eu sou apaixonado pelo meu país, e é um absurdo ver esses falsos patriotas se apropriando dos nossos símbolos nacionais, tão bonitos, para destruir o Brasil de verdade”.
Na quinta-feira (12), assim que Chico Buarque começou a dedilhar no violão os primeiros acordes de “Que tal um samba?” em seu show no Vivo Rio, a plateia que lotava a casa de espetáculos iniciou um coro que se incorporou à canção: “Sem anistia! Sem anistia!”. O mesmo grito foi a marca de um ato na Cinelândia na segunda-feira (9), mesmo dia em que se espalharam pelo país manifestações de protesto contra os ataques de bolsonaristas golpistas ao Palácio do Planalto, ao STF e ao Congresso Nacional em 8 de janeiro, em Brasília. A reação da sociedade civil à tentativa frustrada de golpe e a firme resposta dos Três Poderes contra os ataques à democracia são o principal tema desta edição.
Mostramos, na página 3, que o ato da Cinelândia reuniu várias organizações do campo democrático em repúdio aos ataques de Brasília. A AdUFRJ esteve presente, ao lado de outras entidades representativas da UFRJ, como o Sintufrj e o DCE Mário Prata. Nas páginas 4 e 5, cinco analistas avaliam as causas e as consequências do levante golpista. Para a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, é preciso extrair ensinamentos dos episódios de 8 de janeiro: “Para que não aconteçam outras tentativas golpistas no Brasil, é preciso que o sistema jurídico responsabilize com maior rigor os financiadores, organizadores e autoridades coniventes. Em paralelo, é preciso atuar junto à sociedade civil em processos pedagógicos que expliquem o que é democracia, o que é liberalismo, a importância das instituições e dos valores republicanos”.
O país parece ter emergido ainda mais forte depois dos ataques, como observa o cientista político Josué Medeiros, professor do IFCS. “Em 1º de janeiro, tivemos a foto histórica da sociedade passando a faixa para o presidente Lula. No dia 9, há a segunda foto histórica do mandato, com o presidente caminhando até o STF. É uma foto que mostra a unidade nacional que isolou o bolsonarismo”, diz Josué. Essa foto de Lula descendo a rampa do Planalto em direção ao STF é a que estampa a capa desta edição.
Se de um lado o governo Lula se empenha em investigar os responsáveis pelos ataques à democracia, por outro avança na composição de suas equipes. E nomes da UFRJ vêm se destacando nas indicações. Na página 6 temos uma entrevista exclusiva com a professora Denise Pires de Carvalho, que está deixando a reitoria da UFRJ para assumir a Secretaria de Ensino Superior do MEC. Ela fala de seus planos na nova função, entre os quais o de reforçar a autonomia universitária, com o fim da lista tríplice. E trazemos também uma entrevista com o professor Carlos Frederico Leão Rocha, que assume a reitoria no lugar de Denise.
Recompor o orçamento das universidades é um dos desafios que a nova secretária de Ensino Superior do MEC vai enfrentar. Não será tarefa fácil. Nossa matéria da página 7 mostra que, na UFRJ, os recursos recebidos neste início de 2023 não foram suficientes para quitar o passivo de quase R$ 90 milhões deixado pelo governo Bolsonaro. “Só avançamos para as despesas de 2023 quando quitarmos 2022”, explica o pró-reitor de Finanças em exercício, George Pereira.
Fecha esta edição, na página 8, uma bela homenagem aos professores e técnico-administrativos que completaram 50 anos de Serviço Público Federal, realizada no Salão Dourado do campus da Praia Vermelha, na quarta-feira (11). Quando eles ingressaram na universidade, o país vivia a ditadura militar. Tempos que, lutaremos todos, não voltarão jamais.
Boa leitura!
A ida da professora Denise Pires de Carvalho para o MEC fez do professor Carlos Frederico Leão Rocha o novo reitor da UFRJ. Quem deve assumir a vice-reitoria é a atual pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, professora Denise Freire. Leão Rocha também confirmou à reportagem que é candidato ao cargo máximo da UFRJ nas eleições deste ano. “Estou numa posição para ser o candidato. Passei quatro anos aqui, tive oportunidade de conhecer profundamente a UFRJ”.
Jornal da AdUFRJ – Como soube que seria reitor em definitivo, e não mais em exercício, da universidade?
Carlos Frederico Leão Rocha – Denise me consultou, fui a primeira pessoa a saber do convite. Estávamos na entrada de uma reunião sobre a eleição deste ano. Nós, internamente, estávamos decididos que repetiríamos a chapa: Denise, como reitora para o segundo mandato, e eu, como vice-reitor. Então Denise me diz que havia acabado de receber a ligação de Brasília. Decidimos que aceitar o convite seria o melhor para a UFRJ. É fruto de um sucesso da universidade, mais do que da nossa gestão, e eu fico muito feliz por isso.
O senhor assume o final do mandato, que vai até julho. Quais as prioridades?
Temos uma agenda com dois importantes pontos: o Programa de Gestão e o Plano Diretor. Queremos discutir esses dois temas a partir de agora. A mudança orçamentária é um terceiro importante ponto. Estamos na expectativa de uma recomposição, em termos reais, referente ao orçamento de 2019, a partir do que foi destinado ao MEC. Entrando esse dinheiro, a assistência estudantil será um foco.
A UFRJ sai fortalecida com essa mudança?
Esse governo é muito mais simpático à UFRJ e agora temos a Denise na coordenação geral das universidades. Teremos como retomar nossa relação com o governo federal. Agora ficamos numa posição muito mais confortável.
O que muda para o senhor ao assumir a reitoria em definitivo?
A responsabilidade cresce. Também tenho um sentimento melancólico, em certa medida, porque perdi a minha principal parceira na equipe. A responsabilidade é muito grande, mas também tenho muita vontade de trabalhar. Quero deixar uma marca na gestão.
Quem atuará na vice-reitoria?
Deve ser a Denise Freire, da PR-2. O regimento diz que devo escolher um entre os pró-reitores. A ordem é o mais antigo. Mas, além dessa questão regimental, eu tenho plena confiança nela e não teria motivo para indicar outro nome.
O senhor é candidato a reitor neste ano?
Estou numa posição para ser o candidato. Passei quatro anos aqui, conheço bem a reitoria, tive oportunidade de conhecer profundamente a UFRJ. Mas ainda há muitas conversas a serem feitas. Esta não é uma universidade simples. Já fui diretor de unidade, já integrei o Plano Diretor, fui vice-presidente da AdUFRJ, mas quando cheguei à reitoria me dei conta do quanto eu ainda não conhecia a universidade.
Já há o nome de quem lhe acompanhará como vice na chapa?
Eu me coloco à disposição para ser o candidato a reitor, mas ainda é muito cedo para ter uma chapa. É preciso muitas conversas para que esta disposição se efetive.
Que plataforma o senhor defenderá, caso se confirme como candidato?
Meu objetivo é unificar mais a universidade. Não só em relação às forças políticas que compõem o nosso grupo, mas também com nossa oposição. A movimentação de domingo, em Brasília, nos dá um alerta: a união da esquerda é muito importante. Vivemos um momento político que nos abre uma janela de oportunidade. Precisamos afinar as conversas nos três segmentos para termos um direcionamento mais claro diante do governo.