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WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.15.12 2As receitas previstas para universidades e institutos federais, Capes e CNPq, além de institutos de educação inclusiva, seguem insuficientes para o próximo ano. O chamado “Orçamento do Conhecimento”, calculado em R$ 17,29 bilhões, é 0,12% superior à proposta orçamentária (PLOA) deste ano, mas corresponde quase à metade do que era em 2014: R$ 32,51 bilhões, em valores corrigidos pela inflação.
As informações são do relatório produzido pelo Observatório do Conhecimento — rede de associações docentes coordenada pela AdUFRJ. O documento, cuja íntegra pode ser lida AQUI, foi divulgado dia 24, em audiência na Câmara dos Deputados (veja matéria ao lado).
“O governo Lula tem feito uma recomposição, mas em valores muito aquém dos necessários para recuperar o sistema federal de educação superior e de Ciência, Tecnologia e Inovação”, afirma a presidenta da AdUFRJ e coordenadora do Observatório, professora Mayra Goulart.
Contribui para este preocupante cenário o crescente peso atribuído às emendas parlamentares. Somente este ano, considerando apenas as universidades, elas totalizaram aproximadamente R$ 571 milhões. Em 2014, não passavam de
R$ 148 milhões, também em valores corrigidos pela inflação.
“Políticas públicas deveriam contar com custeio sólido entre os exercícios fiscais. No entanto, conforme já estamos destacando há algum tempo no Observatório, elas estão cada vez mais dependentes de recursos incertos”, diz Mayra.

UNIVERSIDADES
Para 2026, o governo planejou R$ 7,85 bilhões para o orçamento discricionário das universidades federais. Este valor equivale a 45,3% do que foi destinado há uma década.
Deste total, R$ 7,51 bilhões são para as despesas correntes. Ou seja, para o funcionamento do ensino, pesquisa e extensão, assistência estudantil e fomento das ações de graduação e pós-graduação. O número representa 65,87% das despesas correntes em 2014.
Já a parcela destinada a investimentos nas universidades praticamente desapareceu do orçamento do conhecimento, na última década. Em 2026, o valor previsto é de R$ 335,9 milhões, equivalente a apenas 5,67% dos investimentos em 2014 (ou R$ 5,92 bilhões). Números que se refletem na infraestrutura precária nas instituições, realidade bem conhecida da comunidade da UFRJ.WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.22.08
A única rubrica que parece ter se salvado dos cortes, ao longo dos últimos anos, é a de assistência ao estudante do ensino superior. Houve uma redução média de apenas R$ 15,5 milhões entre 2014 e 2026. Se comparada à proposta orçamentária deste ano, a ação receberá até 2,94% a mais e ficará em
R$ 1,38 bilhão. Mas são números que enganam.
“No período, a universidade se expandiu e inseriu parcelas da sociedade que não tinham acesso à educação superior. O orçamento da assistência estudantil deveria aumentar, em vez de permanecer estagnado”, explica Letícia Inácio, economista responsável pelos estudos do Observatório do Conhecimento.
Em 2026, Capes e CNPq receberão, respectivamente, R$ 4,93 bilhões e R$ 1,57 bilhão, se não houver mudança na proposta do governo. A Capes até ganha um pouco a mais que o valor reservado na PLOA deste ano, de R$ 4,9 bilhões. Mas o CNPq sofre ligeira perda, pois a PLOA deste ano era de R$ 1,63 bilhão. Mas ambas agências ganharão bem menos que os R$ 10,83 bilhões e R$ 3,43 bilhões previstos em 2014.
Já os Institutos Federais têm vivido o mesmo processo de redução orçamentária das universidades, com uma recomposição lenta ao longo dos anos mais recentes. A PLOA do próximo ano reserva R$ 2,85 bilhões para o funcionamento destas instituições contra R$ 5,92 bilhões de 2014.

REGRAS RESTRITIVAS
As regras fiscais de execução orçamentária, restritivas desde o governo Temer, são outro obstáculo. Há pisos constitucionais de repasses para Educação e Saúde, mas não existem mecanismos legais para proteger os recursos específicos da educação superior, por exemplo. “Temos feito algumas pesquisas que vão na direção de estabelecer um mínimo de repasse com base em um percentual da arrecadação, como acontece nas estaduais paulistas. É um debate muito difícil porque a posição dos parlamentares e até do governo, no geral, é contrária à indexação das despesas da educação à arrecadação”, lamenta Letícia.
Enquanto não há uma mudança estrutural do orçamento do conhecimento, a comunidade volta suas preocupações para a votação do orçamento 2026, o que deve ocorrer até 22 de dezembro. “Até lá, o Observatório continuará pressionando o parlamento em defesa das universidades e da pesquisa nacionais”, afirma Mayra.

CAPES RESPONDE
Presidenta da Capes, a professora Denise Pires de Carvalho atribui a queda do orçamento da agência à extinção do “Ciência sem Fronteiras”, considerando o início da série estudada pelo Observatório. De acordo com os dados enviados à reportagem, o programa de incentivo à internacionalização chegou a representar R$ 1,8 bilhão da dotação da Capes em 2014 e
R$ 3,2 bilhões em 2015.
A professora destaca o trabalho de recomposição orçamentária da agência pelo atual governo, iniciada com a negociação da Emenda Constitucional da Transição. A legislação viabilizou recursos novos para a agência logo no primeiro ano da gestão Lula. “Em 2023, o orçamento teria sido muito menor”, disse.
Desde então, a dotação da Capes tem superado os
R$ 5 bilhões, contra R$ 3,5 bilhões do último ano do governo Bolsonaro.
Já em relação às universidades, Denise esclarece que a redução se dá após a conclusão do programa de reestruturação e expansão das universidades (Reuni). “No caso das universidades, até 2017 havia verba que terminou, obviamente, após as inaugurações”, completa.
O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação não respondeu ao questionamento da reportagem até o fechamento desta matéria.

WhatsApp Image 2025 10 01 at 18.14.57 3Foto: Erik SeixasAs restrições orçamentárias das universidades federais e das instituições nacionais de pesquisa foram o principal tema de uma audiência pública realizada no último dia 24 na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em Brasília. Proposto pela deputada federal Ana Pimentel (PT-MG), a partir de uma sugestão do Observatório do Conhecimento (OC), e conduzido pela deputada federal Lenir de Assis (PT-PR), o debate evidenciou a situação financeira crítica das instituições. No mesmo dia, o OC lançou Balanço Anual do Orçamento do Conhecimento, com base nos dados do Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2026 (veja mais informações sobre o documento na página 6).
A presidenta da AdUFRJ e coordenadora do OC, professora Mayra Goulart, participou do debate e destacou o papel fundamental que as universidades federais desempenham na produção de conhecimento e na defesa da democracia. “Entendemos que a docência e a pesquisa não são atividades missionárias, mas esforços que demandam recursos e devidas condições de trabalho. Nos últimos tempos, as universidades têm sido um espaço de resistência ao autoritarismo político e cultural. Nelas, o pluralismo e a diversidade de pensamento não são apenas princípios abstratos, mas condições estruturantes para a produção de conhecimento e para a formação cidadã. São redutos de liberdade e de pensamento crítico”, observou Mayra em sua fala inicial.
A necessidade de mecanismos estáveis de sustentação financeira das federais foi também pontuada pela professora: “O conhecimento é a alavanca que transforma desafios em soluções. E isso só se sustenta com investimento contínuo e estratégico. Parece óbvio, mas as universidades sofreram ataques com os discursos negacionistas e com sufocamentos financeiros. Durante os governos Temer e Bolsonaro houve reduções drásticas em nossos orçamentos, e isso foi fortemente denunciado pelo Observatório do Conhecimento”
Na audiência pública, a professora Fernanda Sobral, emérita da UnB e conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), pontuou que, para exercer o papel destacado pela coordenadora do OC, as universidades precisam ter fontes sustentáveis de financiamento. “É urgente a adoção de políticas públicas sólidas e de longo prazo para o financiamento da educação superior no Brasil. Não basta ter apenas suplementações pontuais”, defendeu a professora.
Segundo Fernanda, a SBPC vem monitorando as reduções orçamentárias do Ministério da Educação (MEC) desde 2016. “As 69 universidades federais brasileiras, que atendem a aproximadamente 1,3 milhão de estudantes, enfrentam dificuldades com a redução orçamentária. O MEC atribui a situação à redução de verbas dos anos anteriores e observa que, na gestão atual, os recursos destinados às instituições tiveram um aumento de 22%. Mas a descida é galopante e permanece a necessidade de ampliação do orçamento”, disse a conselheira da SBPC.
Representante da Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), Gabryelle Cardoso chamou a atenção para a defasagem nos valores das bolsas de pós-graduação no país como um fator de desestímulo à continuação dos estudos dos graduandos. “As bolsas de mestrado e doutorado estão num quadro de defasagem, com só um reajuste, em 2023, nos últimos 13 anos. Isso contribui diretamente para a evasão e a queda na procura pela pós-graduação stricto sensu”, disse ela. De acordo com a ANPG, há hoje 1,7 milhão de pós-graduandos no país, mas apenas 325 mil no stricto sensu (mestrado e doutorado). Os outros (1,3 milhão) estão na modalidade lato sensu (especializações e MBAs).
Já o representante da Andifes, Evandro Rodrigues de Faria, centrou sua fala na queda gradativa do orçamento das universidades federais nos últimos 15 anos, com exceção de 2021 e 2022. “Isso se reflete, por exemplo, na defasagem tecnológica das federais, o que torna nossos cursos pouco atrativos para muitos estudantes e causa evasão. Às vezes, nossos alunos têm que ter aulas com equipamentos das décadas de 1980 ou 1990, em contraponto a equipamentos de última geração de faculdades privadas”, disse Faria.
Presente ao debate, a professora Márcia Abrahão, ex-presidente da Andifes e ex-reitora da UnB, defendeu uma legislação que garanta financiamento permanente às universidades e institutos federais. “Algo semelhante ao que há nas universidades estaduais paulistas, que têm uma previsibilidade orçamentária anual. Todos os anos nós ficamos nessa situação de ter um orçamento que oscila de acordo com o governo da ocasião. No governo Bolsonaro, por exemplo, nós vivemos a pior situação, e não podemos esquecer para que não se repita. Neste governo Lula, nós temos espaço para construir uma proposta de financiamento permanente ao Congresso”, destacou Márcia.
O debate contou também com representantes do Andes-SN (Diego Marques), do Proifes-Federação (Raquel Nery) e da UNE (Bianca Borges). “Fico feliz de ver aqui o movimento sindical representado aqui pelo Proifes e pelo Andes. É muito importante atuar juntos e superar qualquer divergência interna, mostrando que o que nos aproxima é muito maior do que o que nos afasta”, saudou Mayra Goulart.
Em sua fala final, a presidenta da AdUFRJ falou do contexto político: “A universidade é um projeto social e de mundo. E isso incomoda. Porque é um projeto onde mulheres falam, em que LGBTQIA+ falam, em que classes populares falam, e ganham na universidade mobilidade social e recursos para contestar as opressões. O jovem sai da universidade empoderado. Temos que aproveitar esse momento. A gente derrubou a PEC da Blindagem, fizemos manifestações em todo o país. É importante continuar, as ruas são nossas. O Brasil está ensinando ao mundo que não se combate autoritarismo com mais autoritarismo, mas sim com inclusão, com democracia, com felicidade”.

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.56 5Fotos: Fernando SouzaO orgulho estampado no rosto da professora aposentada Ana Maria Rambauske foi a melhor tradução da cerimônia em comemoração aos 80 anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e aos 200 anos do ensino de Arquitetura no Brasil, na manhã do último dia 17, no histórico edifício Jorge Machado Moreira (JMM), na Cidade Universitária. “Fui da segunda turma da faculdade aqui no Fundão, em 1963. Éramos a única unidade na ilha então, vi a UFRJ crescer ao redor e passei minha vida aqui até me aposentar há 20 anos”, disse ela, emocionada, ao lado da neta Juliana, aluna do terceiro período da FAU. “É uma dinastia que segue, isso me dá muita alegria”.
Ana Maria lembrou que a paixão pela Arquitetura e pela UFRJ a levaram direto da graduação, em 1967, para a carreira docente, depois de fazer o mestrado e o doutorado na Coppe. “Atuei também como arquiteta do ETU, planejando a ocupação da Ilha do Fundão. A Arquitetura ocupava os oito andares do JMM, sendo que no oitavo ficava o curso de Urbanismo. Voltar aqui para comemorar os 80 anos da FAU me traz muitas recordações, não só daqui, mas de todo aquele clima da universidade nos anos 1960, a ebulição cultural, o lançamento da Bossa Nova no Teatro de Arena no Palácio Universitário. É uma ligação muito forte, a gente leva para a vida inteira”, lembrou ela, representando gerações de mestres.WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.56 7ALEGRIA Ana Maria com a neta Juliana
Elos do passado e do futuro se juntaram nas comemorações. Diante de um auditório lotado, o reitor Roberto Medronho, que presidiu a sessão solene da Congregação da FAU em homenagem à data, anunciou um “presente” carregado de simbolismo: a reforma do painel artístico em concreto armado da fachada do JMM, criado pelo paisagista Roberto Burle Marx, um antigo sonho da comunidade da FAU. “A Arquitetura tem uma imensa contribuição na vida brasileira, inclusive na área de Saúde. Os arquitetos foram importantes nas ações saneadoras que se seguiram à gripe pelo vírus influenza, inadequadamente chamada de gripe espanhola, no início do século passado”, lembrou Medronho.
O anúncio da recuperação do painel (foto maior, no alto) de Burle Marx — que também projetou a ocupação das áreas livres da FAU, com seu jardins geométricos e seus espelhos d’água — emocionou a todos. A vice-reitora Cássia Turci resumiu esse sentimento: “Eu vejo esse auditório lotado de um amor incomensurável. Esse prédio me emocionou muito quando cheguei à UFRJ, há muitos e muitos anos, e continua me emocionando. Vida longa à FAU!”.

CAMINHOS DA HISTÓRIA
O diretor da FAU, professor Guilherme Lassance, destacou que os 80 anos têm como marco a criação da antiga Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA), em 1945. “A faculdade passou a funcionar neste edifício a partir de 1961, um projeto de Jorge Machado Moreira e da equipe do então ETUB entre 1949 e 1961”, pontuou Lassance, que fez questão de usar na solenidade a bela medalha dos diretores da FAU, cunhada nos tempos da FNA.
A história da faculdade — e do ensino da Arquitetura no país — é contada em detalhes na exposição FAU Continuidade e no livro FAU 80—200, lançados no dia 17 como parte das comemorações. “O ensino oficial da Arquitetura no Brasil tem origem na criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em 1816, embrião da futura Academia Imperial de Belas Artes, que efetivamente começou a funcionar de forma regular em 1826. Durante os primeiros anos, os professores davam aulas de forma irregular, muitas vezes em suas próprias residências, ao mesmo tempo em que realizavam projetos e obras para a Corte, enquanto se aguardava a conclusão da sede projetada pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny. Tudo o que restou dessa sede, demolida em 1938, foi um pórtico que hoje está no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”, destacou o diretor da FAU.
A segunda sede da já então Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), sucessora da Academia Imperial, foi projetada por Adolpho Morales de Los Rios, também professor da escola, e inaugurada em 1908. É o prédio da Avenida Rio Branco que hoje abriga o Museu Nacional de Belas Artes. O curso de Arquitetura da ENBA deu origem à a Escola Nacional de Arquitetura em 1937, que em 1945 se tornou a FNA. Depois de um período provisório da Praia Vermelha, a faculdade chegou até a sede da Ilha do Fundão. “Esse patrimômio onde estamos, como outros da UFRJ, foram forjados por profissionais arquitetos formados por esta instituição octogenária e também bicentenária. É muita história”, disse Lassance.
WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.56 6TECNOLOGIA Gonçalo e Medronho com escultura feita com uso de robôs no LAIDE a história da FAU continua, cada vez mais atrelada a avanços tecnológicos. Após a sessão solene da Congregação, o reitor Roberto Medronho e a vice-reitora Cássia Turci inauguraram o Laboratório Aberto de Inovação e Design (LAID), onde se destaca uma unidade robótica de última geração. “É um laboratório aberto, fruto de uma parceria entre a FAU, a EBA e a Coppe. Temos aqui um robô industrial e outro colaborativo capazes de construir protótipos em escala real”, explicou o professor Gonçalo Castro Henriques, um dos coordenadores do laboratório, que é multiusuário e integra as áreas de Design, Arquitetura, Urbanismo e Engenharia de Materiais. É a FAU desenhando seus novos passos para o futuro.

17 09 2025 Lançamento da terceira edição de educadores no Brasil 4Fotos: Alessandro Costa‘O que tornou sua trajetória admirável foi a persistência na defesa da democracia e da educação para a democracia, que constituiu o motivo central de devotamento da sua vida, apesar das rupturas que lhe foram impostas pelas conjunturas políticas de 1935 e 1964. Essa defesa não foi apenas apaixonada: foi polida por uma filosofia da educação e uma compreensão aguda da história da sociedade brasileira; foi iluminada pela sua imaginação pedagógica”.
Esse é um trecho do verbete dedicado ao educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971), escrito pela pesquisadora Clarice Nunes, um dos 186 perfis abordados na 3ª edição do “Dicionário de Educadores no Brasil — da Colônia aos dias atuais”, lançado no último dia 17 pela Editora UFRJ. Em tempos de ataque à soberania nacional, a obra de 1.236 páginas é um mosaico da construção do pensamento brasileiro no campo da Educação e de seu papel na consolidação da democracia.
“Nesse momento em que a gente tem que reivindicar a soberania do nosso país, ter a história do pensamento educacional brasileiro sistematizada a partir da Faculdade de Educação é um grande marco. Há vários educadores brasileiros perfilados nessa obra que muitos de nossos próprios estudantes não conhecem. É uma fonte de pesquisa riquíssima sobre a evolução das ideias pedagógicas no Brasil. São autores que viveram aqui e pensaram a nossa realidade”, atesta a professora Ana Paula Moura, diretora da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ.WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 7LANÇAMENTo do livro: Libânia Xavier, Osmar e Maria de Lourdes Fávero em 17 de setembro

PESQUISA DENSA
Organizado por Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero, Jader de Medeiros Britto (1931-2024) e Osmar Fávero, o dicionário é fruto de um longo trabalho de pesquisa. A primeira edição, com 74 verbetes e 496 páginas, foi publicada pela Editora UFRJ em convênio com o MEC/Inep, em 1999. Em 2002, a segunda edição já contava com 144 verbetes e 1.088 páginas. Mais de duas décadas se passaram até a consolidação dessa 3ª edição, que é dedicada ao professor Jader de Medeiros Britto, falecido em 2024, e que agora teve seu nome incluído entre um dos biografados — todos já falecidos. Britto foi assistente de pesquisa do professor Anísio Teixeira.
“Foi um trabalho desafiador, começamos em 2023 a organizar a 3ª edição, e tenho que registrar o apoio inestimável da pesquisadora Helena Ibiapina, sem o qual não teríamos conseguido avançar. Acompanhei as três edições do dicionário e posso dizer que o compromisso dos organizadores com essa pesquisa é algo que emociona toda a equipe da Editora UFRJ. Infelizmente, no meio do caminho perdemos um dos organizadores, o professor Jader Britto, que sempre esteve presente”, lembra Fernanda Ribeiro, diretora adjunta da Editora UFRJ. O reitor Roberto Medronho e a vice-reitora Cássia Turci participaram do lançamento.
Além dos três organizadores , o livro conta com a participação de outros 175 autores de verbetes, num gigantesco processo colaborativo. Uma das autoras é a professora Libânia Nacif Xavier, titular da FE e especialista em História da Educação. “É um trabalho de referência para o desenvolvimento da pesquisa educacional. Há biografias de vários educadores De José de Anchieta a Paulo Freire, de Rui Barbosa a Darcy Ribeiro, passando por nomes como Amaro Cavalcanti, Benjamin Constant, Bertha Lutz, o padre Antonio Vieira, Florestan Fernandes, dom Hélder Câmara e Maria Yedda Linhares, o dicionário cobre desde os tempos do Brasil Colônia aos dias atuais, mas se debruça mais fortemente sobre o período entre a década de 1920 e os vinte primeiros anos do século XXI. Cada verbete traz dados da história pessoal, formação acadêmica, atividades profissionais, matrizes de pensamento, produção científica e propostas apresentadas pelos educadores para enfrentar situações desafiadoras da realidade brasileira.
Várias fontes históricas para o estudo da Educação utilizadas pelos autores estão armazenadas no Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (Proedes), da FE/UFRJ, criado por Maria de Lourdes Fávero, que dá nome à principal sala de arquivos. “Essa obra foi praticamente concebida aqui no Proedes, temos a guarda da documentação proveniente da produção do dicionário. Fui bolsista de iniciação científica da professora Maria de Lourdes, que chamamos de Lurdinha, ela foi também minha orientadora de mestrado. Esse dicionário se deve muito ao árduo trabalho dela em pesquisa histórica, inclusive como criadora do Proedes”, enaltece a professora Ana Lúcia Fernandes, coordenadora do programa.

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 1Foto: Kelvin MeloRenan Fernandes

Ensino, pesquisa e extensão de braços dados para todo mundo ver, em uma grande festa do conhecimento. Até sexta-feira (26), a Semana de Integração Acadêmica vai mobilizar 15.125 participantes em todos os campi da UFRJ. Serão 3.374 professores, 8.340 alunos de graduação, 2.184 de pós-graduação, 92 de ensino médio e 456 técnicos-administrativos, além de 679 inscritos de fora da universidade (veja na página ao lado os números da edição 2025). Todos envolvidos com mais de 6 mil trabalhos de todas as áreas do conhecimento construídos com rigor científico, muitos deles interdisciplinares.
As apresentações são o alicerce da proposta de integração entre ensino, pesquisa e extensão proposto pela SIAC. A professora Christine Ruta, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, se emocionou ao falar sobre a importância do evento para a UFRJ.
“Para mim, a herança mais bela que a Semana de Integração Acadêmica é que quando unimos nossos esforços, quando nos integramos, conseguimos fazer algo belo, duradouro, que a sociedade aplaude de pé”, disse com a voz embargada desejando vida longa à SIAC. “Esse espírito de integração está presente e se repete em diversos eventos da nossa universidade”.
A pró-reitora de Graduação, professora Maria Fernanda Quintela, não poupou elogios à atividade.“É mostrar o que nós fazemos, é conhecer o que o colega do lado faz”, disse.
A docente lembrou de sua chegada à UFRJ e comparou com o momento atual. “Conheci a universidade com semanas incipientes de pesquisa, ensino e extensão. Hoje, vejo como essa atividade tomou uma abrangência muito maior”, celebrou.
“Queremos que os estudantes de graduação cheguem cada vez mais longe com o apoio da universidade, de todos os professores, técnicos-administrativos e pós-graduandos envolvidos nos laboratórios”, completou Quintela.
A professora Cássia Turci, vice-reitora, apontou a Semana como um dos eventos mais importantes na universidade. “São esses trabalhos da SIAC que vão dar margem depois a especializações, dissertações e teses”.

DIVERSIDADE
As iniciativas podem ter as mais variadas matérias como objeto de estudo. Podem ser ações educativas dentro de um hospital universitário, o olhar sociológico para um quarto de serviço, o mapeamento de um manguezal na Cidade Universitária, a análise de pinturas brasileiras ou uma forma de ensinar árabe de forma mais agradável.
Em toda esta diversidade, apenas um consenso: a SIAC é um evento fundamental para fomentar a formação dos jovens e para dar ampla visibilidade ao que se faz na UFRJ.
O Jornal da AdUFRJ percorreu as sessões da SIAC e conversou com pesquisadores e orientadores de diferentes campos do conhecimento.
Veja a seguir alguns trabalhos apresentados.

EDUCAÇÃO PARA ALIMENTAÇÃO MAIS SAUDÁVEL

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 2Foto: Kelvin MeloEducar para uma alimentação mais saudável é o objetivo de um projeto de extensão que atua na sala de espera do Programa de Obesidade e Cirurgia Bariátrica (PROCIBA) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. “Nós sempre aconselhamos a reeducação alimentar. Muitas pessoas pensam que fazer cirurgia bariátrica vai resolver todos os seus problemas e não é assim. Tudo é um processo”, diz a estudante Priscilla dos Santos, do 5º período de Nutrição.
Ela e colega Hozana Cristina, também do 5º período, comparecem ao HU às quartas-feiras para conversar com os pacientes. “Eles falam como é a alimentação deles. Perguntam sobre algum alimento. E nós apresentamos nosso caderninho de receitas com baixo valor calórico. É muito enriquecedor para a gente”.
A orientadora Eliane Rosado reforça: “Uma coisa é a teoria; outra coisa é quando o aluno convive com o indivíduo que tem aquela enfermidade. Aqui elas consideram a questão técnica da nutrição, as questões socioeconômicas dos pacientes, as emoções e vontades”, afirma.
A docente elogia a visibilidade aos projetos oferecida na SIAC. “Dá essa oportunidade de os alunos mostrarem para o público o que estamos fazendo e ninguém vê, numa sala de espera de hospital”, completa.

MANGUEZAL MONITORADO POR DRONE

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 3Foto: Kelvin MeloTecnologia a serviço da preservação da natureza. Estudante do 10º período do curso de Engenharia Eletrônica e Computação da Escola Politécnica, Arthur Beserra é um dos autores do trabalho que utiliza um drone para monitorar o manguezal da Enseada de Bom Jesus, próximo ao Parque Tecnológico. A ideia da pesquisa é aprimorar técnicas para o mapeamento mais preciso do terreno e da vegetação, identificando pontos de degradação. “Os resultados que apresentamos são mais recentes. No futuro, poderemos compreender a situação de degradação ou regeneração do ecossistema”, disse Arthur.
Em sua primeira SIAC, o estudante não escondeu o nervosismo, mas avaliou a experiência de forma positiva. “É bem divertido estar aqui, apresentar e ter o ponto de vista de outras pessoas que não acompanharam o projeto”.
Um dos orientadores, o professor Marcos Gallo, da Coppe, considera a SIAC fundamental para a formação dos estudantes. “É muito importante para o crescimento deles. Tentamos apoiar o máximo para que participarem da SIAC. Temos até alunos sem bolsa participando”, disse. “o que a gente fala é que tentem explicar da forma mais simples possível pois os avaliadores ou colegas podem não entender nada daquele assunto”.

OLHAR SOCIOLÓGICO NO QUARTO DE SERVIÇO

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.55 4Foto: Renan FernandesO quarto de serviço para trabalhadoras domésticas, localizado nos fundos das casas e apartamentos da classe média, é o objeto da pesquisa “Quarto reversível, desigualdade e trabalho doméstico”, apresentada por João Victor Evangelista, estudante do oitavo período do curso de Ciências Sociais.
Seja como espaço de descanso de trabalhadores, seja convertido em um escritório ou despensa da residência, João Victor considera impossível um morador não ser afetado pelo ambiente. “O quarto de serviço condensa muitas perspectivas”, disse.
“Pensamos nesse quarto de forma mais ampla, como o lugar que reúne narrativas sobre ele, como a ideia de uma moradia digna para a classe média e para quem vive no quarto”, explicou o estudante.
A pesquisa é um projeto da FAU com o IFCS, realizada no Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero (Neseg). O professor Jonas Delecave de Amorim, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, é o orientador de João Victor no trabalho e comentou a importância do diálogo entre as áreas do conhecimento.
“Através de uma, pensamos na outra. Podemos pensar o impacto da Arquitetura no mundo e em como a elaboração de espaços e projetos arquitetônicos marcam relações sociais”, afirmou.

A PAISAGEM COMO IDENTIDADE NACIONAL

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.56Foto: Renan FernandesDurante uma aula do curso de História da Arte, um grupo de amigos teve a ideia de pesquisar projetos de construção da identidade nacional a partir das pinturas de paisagens e suas repercussões em diferentes movimentos artísticos e contextos políticos. Foi o ponto de partida para a pesquisa “A natureza como expressão da identidade nacional no Brasil: estudos de caso em pintura de paisagem no século XIX”.
“Nessa época, se falava muito sobre a paisagem e o surgimento da nacionalidade brasileira. A Academia Imperial de Belas Artes estava buscando essa aura brasileira”, explicou Darine Ferreira, aluna do oitavo período. “É mais fácil as pessoas prestarem atenção nessa criação de identidade através de imagens”, pontuou.
A estudante apresentou um estudo de caso sobre a gravura “Colheita de café na Tijuca”, de Johann Moritz Rugendas.“Ele registrou a vida dos escravizados, onde moravam, o que comiam, o tipo de trabalho. A paisagem mostra essa complexidade que a pesquisa revela”.
A professora Ana Maria Cavalcanti, da EBA, destacou a atitude dos estudantes em começar espontaneamente o trabalho de pesquisa. “Geralmente, nós professores abrimos chamadas para nossos grupos de pesquisa. No caso deles, foi o contrário, eles vieram me pedir para orientá-los”, elogiou.

UM JEITO LÚDICO E ATUAL DE APRENDER ÁRABE

WhatsApp Image 2025 09 24 at 20.16.56 1Foto: Renan FernandesGisele Silva se deparou com um problema quando começou a trabalhar como monitora de árabe no CLAC, o curso de línguas oferecido pela Faculdade de Letras. “O material que tínhamos disponível partia do inglês para o árabe, o que dificulta para o aluno falante de português”, afirmou. A dificuldade motivou o trabalho de conclusão de curso de Letras Português-Árabe, com o título “Entre Vygotsky e Freire: caminhos para uma prática significativa para o ensino de árabe”.
A estudante procurou a professora Paula Caffaro em busca de orientação. “Para desenvolvermos uma pesquisa que conjugasse sua experiência como monitora do CLAC Árabe e a abordagem sociointeracionista aplicada ao ensino de línguas estrangeiras”, lembrou. “Há uma carência grande destes materiais específicos produzidos e pensados para o público brasileiro”, completou.
Gisele iniciou a pesquisa para tornar o processo de aprendizagem mais agradável. “Em conversas com amigos e falantes nativos de árabe, encontrei músicas e materiais de influenciadores, youtubers e podcasters para trazer assuntos da atualidade para a sala de aula”. A ideia vai ao encontro da visão de Lev Vygotsky, que destaca a interação social como elemento central da aprendizagem e do conceito de educação dialógica de Paulo Freire.

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