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Foto: Renan FernandesRenan FernandesA jovem Ester de Oliveira não conseguiu esconder a euforia ao visitar a UFRJ pela primeira vez. “Adorei tudo aqui. É incrível”. A estudante de 17 anos da FAETEC foi uma entre os mais de 5 mil alunos de dezenas de escolas do estado que visitaram a universidade para participar da 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, entre os dias 21 e 24 de outubro. O evento aconteceu nos campi de Duque de Caxias, do Fundão e em Macaé.
Criada em 2004 pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, a SNCT é o maior evento de popularização da ciência do Brasil. Em 2025, o tema da edição foi “Planeta água: a cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”.
“Gosto muito dessa temática da sustentabilidade. Quando entrar na universidade, quero trabalhar com algo que dialogue com esse assunto”, afirmou Ester que, a poucos dias do Enem, ainda não decidiu entre Arquitetura ou Engenharia Civil.
A professora Cassia Turci, vice-reitora, ressaltou a relevância de discutir a preservação dos oceanos e a sustentabilidade às vésperas da COP30, que acontecerá em novembro. A docente percorreu os estandes impressionada com os projetos apresentados e com o impacto gerado nos visitantes. “É emocionante ver o brilho nos olhos das crianças”, pontuou. “A universidade precisa disso. E esse evento tem esse papel de atrair os olhares de forma lúdica para que eles se interessem no futuro em fazer um curso de graduação”.
Na Cidade Universitária, 2.623 estudantes do ensino básico passaram pelas 52 oficinas, dez visitas guiadas e cinco apresentações culturais. O hall de entrada do Centro de Tecnologia e do Auditório Horta Barbosa ficaram repletos de sonhos de estudantes. “A gente vê crianças e adolescentes que nos visitam e vislumbram a possibilidade de fazer um curso universitário”, afirmou a professora Ivana Bentes, pró-reitora de extensão.
A docente destacou o papel dos extensionistas, estudantes da UFRJ, que apresentam as oficinas e os experimentos na construção da ideia de pertencimento dos visitantes. “Eles conseguem olhar para esses jovens universitários um pouco mais velhos que eles, muitos vindos também de periferias, nesse lugar de produção de conhecimento”.
Outra estudante que esteve na SNCT aproveitou para ratificar a escolha de carreira. Giovanna Ferreira, aluna do Colégio Estadual Alfredo Neves, em Nova Iguaçu, ficou encantada com a visita ao laboratório de Farmácia. “Minha mãe é farmacêutica e também já assisti a uma palestra no último Conhecendo a UFRJ que me fez escolher a área. Hoje, quando botei os pés no laboratório e vi as pessoas fazendo pesquisas, vi realmente que é o que quero fazer”, disse a jovem de 18 anos com um indisfarçável sorriso de esperança.
INCENTIVO
Ao todo, 299 professores de colégios públicos e privados acompanharam os estudantes no Fundão. Daniel Martins, professor de Matemática do Colégio Pedro II, faz questão de sempre trazer seus alunos aos eventos. “É o primeiro despertar que os alunos têm de vislumbrar uma oportunidade de estudar numa instituição como a UFRJ, o que, para muitos, ainda é inatingível”, disse. “A SNCT é um incentivo imensurável para eles”, completou.
Patrícia Simões levou seus pequenos estudantes — entre sete e oito anos de idade — do terceiro ano do ensino fundamental para um primeiro contato com a produção científica. Professora da Escola Municipal Alice Tibiriçá, localizada no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, lamentou que, embora vivam tão próximos do Fundão, muitos estudantes não enxerguem a perspectiva de um dia se tornarem alunos da UFRJ e pontuou a importância do evento para mudar essa realidade. “Esse primeiro contato com o mundo acadêmico é muito importante. Eles podem começar a perceber que existe outra realidade e outras possibilidades fora da comunidade onde vivem”.
SUSTENTABILIDADE
Os projetos de extensão apresentados aos estudantes expuseram trabalhos vinculados ao tema de preservação de recursos hídricos. A professora Adriana dos Anjos, da Escola de Química, mostrou aos visitantes o conceito de Química Verde, que tem como princípio a substituição de matérias-primas de fontes fósseis por fontes renováveis. A produção de biodiesel a partir do cultivo de microalgas foi um dos destaques do estande, destacando que esses microrganismos também podem ser usados no tratamento de efluentes, transformando esgoto em água de reúso.
A docente e os extensionistas desenvolveram um jogo chamado “Trilha Ecológica” para interagir com os visitantes. “No jogo, a gente fala com eles sobre iniciativas de uso de materiais renováveis, reciclagem e coleta seletiva”, explicou Adriana. “É uma experiência importante para as crianças e adolescentes que aprendem de forma lúdica e para nossos graduandos que exercitam a capacidade de divulgar os conhecimentos que aprendem na universidade”.
A doutoranda do Laboratório de Imunobiotecnologia do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Naiara Manhães, apresentou a importância da preservação dos oceanos para o desenvolvimento de fármacos. “A Ziconotida é um analgésico para tratar dores crônicas e é sintetizada a partir do veneno de um caramujo. Da esponja do mar, foi desenvolvido o AZT, que impede a replicação de vírus, principalmente do HIV”, exemplificou.
Os pesquisadores e extensionistas montaram uma piscina de bolinhas em que os visitantes precisavam encontrar os microrganismos e depois montar um quebra-cabeça. “É uma forma de explicar de maneira lúdica e interessante para eles”, disse Manhães.
A professora Maria Luiza Campos, do Instituto de Computação, aproveitou o evento para conversar com os professores do ensino básico. O objetivo é mostrar para as escolas que é possível trabalhar a temática algorítmica e pensamento computacional sem precisar de um computador na sala de aula. “Desenvolvemos um jogo com as espécies em extinção no qual a criança navega usando conceitos da navegação desplugada, usando cartas e tabuleiros para construir um percurso simulando um programa”, explicou a docente.
Maria Luiza também divulgou a iniciativa Minervas Digitais, projeto que estimula a entrada de mulheres na área da computação. “Temos apenas 15% de alunas em nosso curso. Precisamos puxar as meninas desde muito cedo para essa área e um evento como a SNCT ajuda muito nesse trabalho”.
MACAÉ
Em Macaé, 1.944 estudantes de 17 escolas do Norte Fluminense visitaram o Centro Multidisciplinar. As 68 ações envolveram 174 alunos e 69 professores da UFRJ. Os números do Nupem não foram divulgados até o fechamento desta edição.
ACERVO PROJETO SER CIENTISTANo campus Duque de Caxias, 1.122 estudantes de 27 instituições de ensino participaram das atividades nos três dias da SNCT. A professora Luisa Ketzer, diretora da AdUFRJ, coordenou a oficina científica “Impacto das mudanças climáticas no ecossistema aquático”, na Escola Municipal Professora Dulce Trindade Braga.
“É um desafio muito interessante ir até a escola. Os alunos pensam as perguntas sobre mudanças climáticas e fazem os experimentos para tentar respondê-las. Eles se tornam protagonistas nesse processo de aprendizagem”, revelou Ketzer.
POLIQUETAS desempenham papel fundamental nos maresTrês mulheres com vidas dedicadas à emancipação feminina e à defesa da Educação e da Ciência emprestam agora seus nomes a três novas espécies de organismos marinhos que podem ser encontrados até 3 mil metros de profundidade no litoral sudeste e sul do Brasil. As novas espécies homenageiam a política Benedita da Silva e as cientistas Bertha Lutz (1894-1976) e Leslie Harris, e foram descritas em artigo de três pesquisadoras da UFRJ, publicado no último dia 17 de outubro no periódico suíço Diversity, especializado em biodiversidade.
Assinado pelas biólogas Roberta Freitas, Carolina Moraes e Christine Ruta, o artigo descreve quatro novas espécies de poliquetas, organismos fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos, e também registra a presença em águas brasileiras de uma outra espécie até então só encontrada no litoral da Argentina. Roberta é aluna de doutorado, e Carolina de mestrado, ambas orientadas por Christine Ruta no Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Nacional. Os estudos foram feitos no Laboratório Taxon, ligado ao Instituto de Biologia da UFRJ.
“Nesse artigo, a gente propõe uma reflexão. A UFRJ mudou muito, há mais inclusão, e isso nos inspira a refletir sobre as novas gerações de cientistas que estamos formando. Roberta e Carolina são duas alunas mulheres e pretas, é um grande orgulho tê-las aqui. Pensamos, a partir dessa reflexão, em homenagear três mulheres inspiradoras em suas trajetórias de vida. Benedita e sua luta pela inclusão, Bertha e sua contribuição não só à Ciência, mas à emancipação das mulheres, e Leslie, uma renomada cientista norte-americana, especialista em poliquetas e incentivadora de jovens cientistas”, conta Christine Ruta.
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA
O artigo das pesquisadoras da UFRJ descreve o primeiro estudo taxonômico do gênero Chaetozone (Cirratulidae) no Brasil. A pesquisa tomou como base a costa sudeste e sul do país, região de intensa exploração de petróleo nas Bacias de Campos e de Santos, entre os estados do Espírito Santo e de Santa Catarina, incluindo as camadas do pré-sal, em águas profundas.
AS AUTORAS: da esq. para a dir., Carolina Moraes, Christine Ruta e Roberta Freitas assinam o artigo
Quatro novas espécies de poliquetas são descritas no estudo: Chaetozone beneditae sp. nov., C. lesliae sp. nov., C. lutzae sp. nov. e C. bidentata sp. nov — as três primeiras homenageiam Benedita, Leslie e Bertha, respectivamente (saiba mais sobre as homenageadas abaixo). O estudo aumenta o número de espécies válidas de Chaetozone em todo o mundo de 81 para 85, e traz também o primeiro registro no Brasil de C. larae, espécie antes conhecida apenas na Argentina.
A pesquisa destaca que os poliquetas cirratulídeos são abundantes, ecologicamente relevantes e amplamente utilizados como bioindicadores. Chaetozone Malmgren, 1867, objeto do estudo, é o gênero mais diverso de cirratulídeos. “A descoberta de quatro novas espécies em uma área geográfica relativamente restrita sugere que a diversidade de Chaetozone no Brasil ainda é subestimada”, diz o estudo.
Os poliquetas desempenham importante papel no equilíbrio dos ecossistemas marinhos, seja na reciclagem de nutrientes ou como alimento para várias espécies de peixes, como diversos tipos de linguado. São considerados de importância ecológica, fundamentais para avaliar impactos das atividades humanas nos oceanos. Com o corpo em forma de aneis, os poliquetas podem ser microscópicos ou atingir de dois a três metros de comprimento. O nome poliqueta vem do grego e significa “muitas cerdas”, característica marcante do organismo marinho.
INFLUÊNCIAS
Benedita, Bertha e Leslie são referências de vida para Carolina, Roberta e Christine. Coordenadora da equipe de Biologia Integrativa de Organismos Marinhos do Laboratório Taxon, Christine lembra que a presença de mulheres no campo da Biologia Marinha é relativamente nova no país. “No Brasil, até os anos 1990, as mulheres não tinham autorização para participar de expedições à Antártica. Isso mesmo já havendo mulheres na Marinha. Quando eu comecei a fazer minhas primeiras embarcações, com a idade que hoje tem a Carolina, tive que me preparar psicologicamente para ficar isolada em um navio a milhas de distância da costa, em um ambiente eminentemente masculino”, lembra a docente.
Aos 24 anos, Carolina já vivencia outra conjuntura. Cotista na pós-graduação, ela é filha de mãe professora e de pai metalúrgico, ambos ligados ao movimento sindical, e desde cedo aprendeu a lutar pelo seu espaço. “É o meu primeiro artigo publicado, representa muita coisa. É uma alegria muito grande porque a gente vê nosso trabalho sendo reconhecido”, diz ela, que é de Barra do Piraí, no interior fluminense.
Roberta já assinou outros artigos, inclusive um em que foi identificada uma nova espécie de poliqueta no litoral norte fluminense, batizada como “jongo”, em homenagem à tradição cultural dos quilombolas do município de Quissamã, naquela região.
A doutoranda, de 33 anos, fez um estágio este ano no Museu de História Natural de Los Angeles e conheceu pessoalmente a cientista Leslie Harris. “Ela é uma pessoa fantástica. Conseguiu estabelecer um programa de bolsas para alunos de pós-graduação do mundo todo para conhecerem a coleção de poliquetas do museu, da qual ela é curadora. Eu passei no edital do programa este ano, e ela hospedou os alunos durante um mês em sua própria casa. Ela já fez isso com mais de 100 alunos de vários países. Ela incentiva jovens pesquisadores em anelídeos a visitar a coleção e utilizar aquele material em seus estudos”, conta Roberta.
AS HOMENAGEADAS
Benedita da Silva
Chaetozone beneditae sp. nov. homenageia Benedita da Silva, a primeira senadora negra do Brasil, eleita em 1994, e a primeira governadora negra do país, em 2002. Criada na comunidade do Chapéu Magueira, no Rio de Janeiro, Benedita fez de sua trajetória política um exemplo de luta contra a discriminação racial e de gênero e em defesa dos direitos humanos e da democracia, atuando como assistente social, professora e política. Tem 83 anos e é deputada federal (PT-RJ). Em junho passado, Benedita recebeu o título de Doutora Honoris Causa da UFRJ.
Bertha Lutz
Chaetozone lutzae sp. nov. homenageia Bertha Lutz (1894–1976), bióloga e feminista pioneira que atuou por mais de quatro décadas no Museu Nacional. Bertha teve papel decisivo na conquista do voto feminino no Brasil, instituído em 1932, e na inclusão do princípio da igualdade de gênero na Carta da ONU. Filha do médico e cientista brasileiro Adolfo Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler Lutz, Bertha foi a segunda mulher a ingressar no Serviço Público do Brasil, em 1919, mesmo ano em que fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher.
Leslie Harris
Chaetozone lesliae sp. nov. é dedicada a Leslie Harris, curadora da coleção de poliquetas do Museu de História Natural de Los Angeles. nos Estados Unidos. Estudiosa da flora e da fauna marinhas da Califórnia, Leslie é referência mundial em sistemática de poliquetas, sua área de estudos desde 1988, tem sido uma grande colaboradora de pesquisadores brasileiros e incentivadora de novas gerações de cientistas no campo da Biologia Marinha. É uma das fundadoras da Associação de Taxonomistas de Invertebrados Marinhos do Sul da Califórnia.
Fotos: Fernando SouzaO dia 15 de outubro de 2025, além da celebração pelo Dia do Mestre, também marcou os dez anos de atuação política do grupo que dirige a AdUFRJ desde 2015, inaugurada na gestão da professora Tatiana Roque. A nova diretoria foi festejada por integrantes de todas as cinco últimas gestões.
O ambiente de encontros e reencontros contou com ilustres presenças de reitores e ex-reitores, como a atual presidente da Capes, professora Denise Pires e os professores Carlos Levi da Conceição e Nelson Maculan (foto ao lado). Também marcaram presença diretores de unidades da UFRJ, integrantes de sociedades científicas, entidades representativas dos pós-graduandos e do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, professor e amigo pessoal de Ligia.
A festa, animada pelo grupo Alma de Sambista, aconteceu no Fórum de Ciência e Cultura. Confira alguns registros.








COM ORGULHO, NETO PRESTIGIOU POSSE DE LIGIA: “DISCURSO MUITO EFUSIVO”
Sentado na primeira fila do salão do Fórum de Ciência e Cultura, ao lado do avô Samuel Araújo, professor da
Escola de Música da UFRJ, o jovem Lucas Araújo Costa, de 18 anos, era um dos mais atentos ao discurso da nova presidenta da AdUFRJ.
Como se fosse um aluno calouro em seu primeiro dia de aula na faculdade, anotando cada palavra da professora veterana, Lucas tinha um indisfarçável olhar de orgulho por estar ali. Não diante de uma professora veterana, mas sim da avó que tomava posse como presidenta da AdUFRJ.
Aluno do primeiro período no curso de Bacharelado em Matemática Aplicada da UFRJ, Lucas era um dos poucos jovens presentes à posse da nova diretoria. Isso foi pontuado por Ligia Bahia em seu discurso, no qual disse ter orgulho em ter o neto na plateia. “O orgulho foi todo meu”, disse Lucas, tímido, ao Jornal da AdUFRJ, ao final da cerimônia.
Para ele, os jovens precisam estar mais presentes no combate aos problemas da UFRJ e do país. “Eu acho que falta um pouco de participação da juventude nessas questões de melhores condições para a UFRJ, e melhores condições para o Brasil. Acho que falta uma atitude de se posicionar politicamente”.
Se depender de Lucas, a juventude terá um papel importante para o país no ciclo eleitoral que se aproxima, com as eleições presidenciais de 2026, como também foi acentuado pela avó presidenta no discurso de posse: “O discurso dela foi muito efusivo, eu acredito que muitas coisas que ela falou eu concordo completamente. Eu acho importante eu estar participando aqui para prestigiar ela, e também para poder expressar um pouco do meu papel na sociedade”. (Alexandre Medeiros)
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, inundou o país de esperança. Anunciou em suas redes sociais que dará, com a Anvisa, “prioridade máxima” à liberação da fase de testes clínicos da polilaminina, substância com forte potencial de reversão de lesões medulares.
A pesquisa é da professora Tatiana Sampaio, chefe do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. “A expectativa é a melhor possível para que essa aprovação aconteça. Acredito que leve até um mês”, avalia a professora. Ela se reuniu com o ministro Padilha no início desta semana, em Brasília. “Foi um encontro muito rápido, do qual participaram também representantes da Anvisa”, contou.
No dia 15 de outubro, Tatiana Sampaio teve oportunidade de apresentar detalhes de sua pesquisa ao presidente da República, durante encontro de Lula com professores no Rio de Janeiro para a entrega da Carteira Nacional do Docente. O empenho do presidente Lula parece ter feito diferença. “Essa é uma declaração de intenção muito importante. A decisão de priorização dada pelo presidente e pelo ministro fazem diferença e a indicação do novo presidente da Anvisa corroboram esse processo”, avalia a pesquisadora. O novo presidente, Leandro Safatle, assumiu a agência em setembro.
A Anvisa tem em mãos todas as respostas solicitadas sobre a pesquisa e a respeito dos próximos passos do estudo. “Nós entregamos na sexta passada as últimas respostas solicitadas”, afirma Sampaio.
Após a liberação, haverá uma primeira fase de testes dividida em duas etapas e voltada apenas para pacientes voluntários com lesões agudas de até quatro dias. Primeiro, com cinco pacientes que receberão dose fixa, para avaliar a segurança da medicação. Depois, com outro pequeno grupo de pacientes que receberá doses diferenciadas do medicamento.
Passada essa etapa, outra fase deverá ser iniciada para um conjunto maior de pessoas. Ainda não estão planejados estudos com lesões crônicas. O uso combinado da substância polilaminina com outros medicamentos também não é o foco do estudo em humanos neste momento.
A pesquisa com a polilaminina é realizada há 25 anos. “O trabalho de uma vida segue. Ainda temos muitas perguntas", conclui a pesquisadora.
Segundo a Anvisa, a agência tem atuado com aconselhamento científico à empresa Crisália, parceira da pesquisadora Tatiana Sampaio, desde o final de 2022. "As informações apresentadas inicialmente foram geradas a partir de testes iniciais de bancada (laboratório), em modelos animais e em alguns poucos pacientes", informa a nota da agência. "Essas primeiras pesquisas não tinham o objetivo de apoiar o registro do produto para disponibilização do mercado brasileiro", justifica a Anvisa. "No último 10 de outubro a empresa encaminhou os resultados complementares dos testes pré-clínicos solicitados. Caso esses resultados demonstrem que o produto é seguro para o uso por pacientes, a Anvisa autorizará o início da primeira de três etapas do desenvolvimento clínico, necessárias para respaldar um futuro registro do medicamento".
Paulo Baía
Sociólogo, cientista político, ensaísta e professor
da UFRJ
Sou professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1977. Vi o país sair de um tempo sombrio para se reinventar nas lutas democráticas. Fui da primeira turma de professores que se filiou à AdUFRJ, quando ela nasceu em 26 de abril de 1979, ainda sob os ecos da repressão e o perfume da esperança. Aquele tempo, que hoje parece distante, foi o de uma geração que acreditava que a universidade pública era mais do que um espaço de ensino, era o coração de um país que desejava ser livre. E foi com esse sentimento de pertença e gratidão que assisti, com emoção sincera, à posse da nova diretoria da AdUFRJ, realizada na noite de 15 de outubro de 2025, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
A data não poderia ser mais simbólica. Era o Dia dos Professores. E a festa, com roda de samba, coquetel e abraços de reencontro, era uma celebração da docência e da resistência. A construção de uma nova sede para o sindicato foi o ponto alto da cerimônia. A assinatura do termo de intenção para a instalação da sede, em local já definido na Cidade Universitária, foi um gesto histórico e de futuro. O documento foi assinado pela nova presidenta, professora Ligia Bahia, pelo reitor Roberto Medronho e pelo pró-reitor Fernando Peregrino. Foi um ato simbólico, mas também profundamente político: o de renovar o espaço físico e o espírito de uma entidade que há quase meio século abriga o pensamento crítico e a defesa intransigente da universidade pública.
Em seu discurso, Ligia Bahia falou com a lucidez que a caracteriza. Disse que a nova sede se enquadra na concepção de um sindicato como lugar de encontro e reflexão. E então pronunciou uma metáfora luminosa: “A AdUFRJ será como uma caixa de descompressão entre dois mundos. De um lado, a nossa produção acadêmica, nosso trabalho cotidiano na universidade. De outro, um mundo de desigualdades que temos que enfrentar.” Naquelas palavras havia não apenas a visão de uma líder sindical, mas de uma intelectual que pensa o país com ternura e radicalidade, que reconhece as contradições entre o saber e a vida, entre o conhecimento e a fome, entre o ensino e a exclusão.
A professora Mayra Goulart, ao passar o bastão após dois mandatos, foi recebida com carinho e respeito por todos. Sua fala foi emocionada e serena. Lembrou dos desafios de manter a autonomia da AdUFRJ em momentos delicados, como a greve docente de 2024, quando a universidade ficou aberta e os alunos permaneceram ao lado dos professores. A lembrança de Mayra foi um tributo à coragem política e à serenidade intelectual que sempre marcaram sua gestão. Senti orgulho e ternura ao vê-la se despedir, ela que representa a nova geração de docentes da UFRJ, mulheres fortes e jovens que fazem da universidade um espaço de afeto, ciência e luta.
E foi impossível conter a emoção ao ouvir as palavras firmes e generosas de Ligia Bahia. Conheço Ligia desde 1976, quando participamos de uma campanha eleitoral para vereador do professor Antônio Carlos de Carvalho. Dois anos depois, estivemos juntos na campanha de Raimundo de Oliveira, professor da UFRJ que, em 1978, se elegeu deputado estadual. Ligia já era então uma militante lúcida, inquieta e criativa. Ao longo dessas décadas, sua trajetória se confundiu com a história da redemocratização brasileira. Participou das mobilizações pela anistia, esteve presente nas manifestações pelas Diretas Já, foi ativa durante a Assembleia Nacional Constituinte, sempre com a clareza de que a saúde pública, a ciência e a universidade são pilares de uma nação livre.
Ligia Bahia é uma militante raiz, uma mulher de coragem e ousadias cívicas. Escreve sobre saúde pública na imprensa brasileira com a mesma energia com que participa da vida sindical e universitária. É uma figura que atravessa as fronteiras da academia e chega ao campo político, não para ocupar cargos, mas para defender ideias, princípios, valores. Ao vê-la assumir a presidência da AdUFRJ, percebi a continuidade de uma história que começou lá atrás, em 1979, quando um punhado de professores acreditou que um sindicato de docentes poderia ser uma força civilizatória dentro e fora da universidade.
A cerimônia foi uma celebração das gerações que constroem a UFRJ. Estavam presentes o reitor Roberto Medronho, os ex-reitores Carlos Frederico Leão Rocha, Denise Pires, Carlos Levi da Conceição e o sempre lúcido e cordial Nelson Maculan, o decano dos ex-reitores. A presença de Maculan foi particularmente simbólica. Ele representa uma era de compromisso institucional e sensibilidade humanista, e sua serenidade deu à noite um tom de sabedoria e memória. Vi nos rostos dos colegas a emoção de quem reconhece na história da UFRJ uma linha contínua de luta, pesquisa e amor pela universidade pública.
Havia ali professores e professoras de todas as gerações. Desde os que começaram sua docência nos anos 1970, como eu, até os jovens docentes que ingressaram entre 2020 e 2025, cheios de entusiasmo e ideias novas. Era uma festa intergeracional, uma passagem simbólica de bastões invisíveis. Uma aliança entre quem pavimentou o caminho e quem o percorrerá com novas forças. Todos unidos pela convicção de que a universidade é um bem comum, um patrimônio social, uma trincheira da democracia e do conhecimento.
O ambiente era de alegria e de reencontros. A roda de samba dava o tom carioca da celebração. O coquetel unia conversas sobre pesquisa e afetos. Mas, acima de tudo, havia um sentimento coletivo de pertencimento e de propósito. Estávamos ali como docentes, como pessoas que acreditam na universidade pública, gratuita, de qualidade, inclusiva, cidadã. Acreditamos que a docência é um ato político e amoroso, e que ser professor é resistir, é ensinar e aprender ao mesmo tempo, é defender o conhecimento como instrumento de libertação.
Enquanto ouvia os discursos, pensei em todos os que não estavam fisicamente presentes, mas que, de alguma maneira, estavam ali conosco. Os que fundaram a AdUFRJ em 1979, enfrentando o autoritarismo. Os que lideraram greves, redigiram manifestos, participaram de assembleias intermináveis. Os que defenderam a universidade quando a política a ameaçava, os que ensinaram em condições precárias, os que morreram acreditando que o Brasil merecia ser melhor. Eles também estavam naquela noite, na energia dos abraços, no brilho dos olhos, na firmeza das palavras.
A posse da nova diretoria da AdUFRJ foi mais do que um ato formal. Foi um rito de continuidade. Um pacto geracional entre o passado de lutas, o presente de desafios e o futuro de esperança. Foi a reafirmação de que a universidade pública é o maior projeto civilizatório do Brasil.
Saí do Fórum de Ciência e Cultura com o coração cheio. Pensei em Ligia, em Mayra, nos colegas de todas as idades, nos reitores e ex-reitores, nos estudantes, nos técnicos, em todos que fazem da UFRJ uma instituição viva, crítica e solidária. A roda de samba ecoava no pátio, as conversas continuavam nos corredores, e eu me senti de novo jovem, como em 1979, quando assinamos a ficha de filiação à AdUFRJ acreditando que a história podia ser transformada pela palavra, pela ciência e pela coragem.
Naquela noite luminosa de 15 de outubro de 2025, compreendi que a AdUFRJ continua sendo o coração pulsante da UFRJ. E que, sob a presidência de Ligia Bahia, ela seguirá sendo uma caixa de descompressão entre o conhecimento e a vida, entre a universidade e o povo, entre o sonho e a realidade. Um espaço de encontro e de esperança, onde a luta pela educação se confunde com a própria luta pela democracia.