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capesNão há incoerência na gestão Bolsonaro. Ele despreza a ciência no discurso político e na prática orçamentária. No dia 18 de março, a Capes publicou portaria com cortes gigantescos no sistema nacional de pesquisa. Só a UFRJ perdeu 338 bolsas de pós-graduação. A redução surpreendeu a comunidade acadêmica de todo o país, foi rechaçada pelos 49 coordenadores de área da própria Capes e mobilizou a sociedade civil num momento em que a população mundial reconhece a pesquisa científica como a melhor arma contra a pandemia do corona.
A tesourada acertou tanto os programas mais consolidados e com elevadas performances quanto os que se esforçam para melhorar seus indicadores. A UFRJ ficou sem 242 bolsas do programa de demanda Social e 96 do Proex - voltado para os Programas de Excelência.
“O conjunto dos 11 cursos da UFRJ que mais perderam bolsas é formado exclusivamente por cursos com notas 5, 6 e 7 e totalizam uma perda de 118 bolsas”, lamenta a pró-reitora de pesquisa, professora Denise Freire, resumindo em seguida o impacto da mudança. “No caso do Programa de Química, por exemplo, impedirá o ingresso de novos bolsistas no curso de mestrado e doutorado”.
A Química, curso com nota 6 na Capes, perdeu 15 bolsas de doutorado e 12 de mestrado. Na Ecologia, a redução foi de 13. E na História social de 10, segundo o levantamento realizado por Denise Freire e pelo superintendente acadêmico de pós-graduação, professor José Luís Lopes da Silveira.
Após o dimensionamento do impacto nos programas de pesquisa, a pró-reitora encaminhou uma carta indignada ao presidente da Capes, Benedito Aguiar, empossado em janeiro deste ano. “Permita-me dizer que foi com grande surpresa que essa Pró-reitoria tomou conhecimento da publicação da Portaria nº 34, de 18 de março de 2020, que alterou a distribuição dos pisos e tetos para a concessão de bolsas aos Programas de Pós-graduação”, escreveu Denise Freire.
O anúncio da Capes ocorreu quando os cursos já haviam concluído o processo seletivo para o ano de 2020 e selecionado os seus candidatos à bolsa, o que gerou indignação entre os pós-graduandos de todo o país.  “A medida prolongará o clima de pânico e desesperança que já existe entre os pós-graduandos e todos que integram o sistema nacional de pós-graduação brasileiro”, lamentou, em nota, a Associação Nacional de Pós-Graduandos
Para reduzir essa desesperança, a pró-reitoria de pesquisa da UFRJ sinalizou que só há um caminho – revogar a portaria que reduziu as bolsas. “A nova portaria criou um conjunto de dificuldades para as quais uma solução razoável e possível é a sua alteração ou revogação, como forma de reduzir os impactos negativos para os diversos Programas de Pós-graduação”

Leia abaixo, a integra da carta.

CARTA DA PR-2

Denise Maria Guimarães Freire
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Inicialmente, gostaria de cumprimentá-lo respeitosamente e parabenizá-lo pela nomeação ao honroso cargo de Presidente da CAPES, instituição tão cara a todos nós que atuamos na formação de recursos humanos para a pesquisa e para o ensino superior. Como Pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, acredito que comungamos do mesmo sentimento de que a CAPES é uma instituição valiosa e com importância inquestionável para o desenvolvimento dos recursos humanos, que o país tanto necessita, para enfrentar os desafios do presente e do futuro.
Permita-me dizer que foi com grande surpresa que essa Pró-reitoria tomou conhecimento da publicação da Portaria no 34, de 18 de março de 2020, que alterou a distribuição dos pisos e tetos para a concessão de bolsas aos Programas de Pós-graduação, definidos pelas Portarias no 20 e no 21, de fevereiro de 2020.
Infelizmente, tal medida, anunciada em 18 de março de 2020, menos de um mês após a divulgação da concessão das cotas de bolsas aos Programas de Pós-graduação, em 3 de março de 2020, alterou substancialmente o espírito das Portarias 20 e 21, especificamente no que tange ao limite de perdas no número de bolsas.
As referidas portarias, que foram construídas por meio do debate com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (FOPROP), previam que as perdas não poderiam ser superiores a 10%, o que permitiria uma adaptação mais adequada e equilibrada a nova política de distribuição de bolsas.
A Portaria 34, no entanto, ampliou de modo bastante drástico os pisos e tetos para a distribuição das bolsas, o que resultou em um aumento substancial da cota empréstimo na concessão de bolsas aos Programas, anunciada em 18 de março de 2020. Essa ampliação, resultou em um impacto extremamente negativo para alguns Programas bem avaliados, incluindo cursos de excelência, com notas 6 e 7.
A cota empréstimo, tal como decorre da aplicação das Portarias 20 e 21, posteriormente alterada pela Portaria 34, impõe uma perda progressiva na cota total de bolsas dos Programas de Pós- graduação. Materializando-se em um corte do número de bolsas que ocorre a curto, médio e longo prazo. Na UFRJ, as perdas chegarão a um total de 338 bolsas, das quais 242 bolsas de Programas atendidos pelo Programa de Demanda Social e 96 bolsas de Programas de Pós-graduação contemplados pelo PROEX, que é voltado para os Programas de Excelência. Esses números ultrapassam amplamente o limite de 10% inicialmente proposto pelas Portarias 20 e 21 e alcançam 20,8% para os Programas da Demanda Social.
A título de exemplo, o conjunto dos 11 cursos da UFRJ que mais perderam bolsas é formado exclusivamente por cursos com notas 5, 6 e 7 e totalizam uma perda de 118 bolsas, ao passo que com base nos critérios das Portarias 20 e 21 esses mesmos cursos sofreriam uma perda muito menor, de 36 bolsas. Ainda que soe estranho penalizar cursos com boa avaliação, compreende-se que a atual gestão da CAPES e do Ministério da Educação desejem implantar uma política para alocação de bolsas que considere mais adequada, entretanto o impacto abrupto imposto pela Portaria 34 trouxe um desequilíbrio para a gestão dos Programas. No caso do Programa de Química, por exemplo, impedirá o ingresso de novos bolsistas no curso de mestrado e doutorado. A tabela a seguir apresenta alguns números que nos levaram a essas conclusões, onde constam um curso com nota 7, quatro cursos com nota 6 e seis cursos com nota 5.

WEB tab1É preciso mencionar também, que a nova portaria foi apresentada tardiamente, quando os cursos já haviam concluído o processo seletivo para o ano de 2020 e selecionado os seus candidatos à bolsa. Após a divulgação da concessão, com base nas Portarias 20 e 21 em 3 de março, muitos Programas receosos que um atraso na implantação das bolsas trouxesse prejuízo aos alunos, e já de posse da informação quanto a cota de bolsas, informaram aos candidatos que seriam agraciados para que preparassem a documentação necessária e pudessem se organizar para o início do curso, indicação que em muitos casos não pode se concretizar em razão da Portaria 34. É natural o desconforto que essa situação trás aos alunos, principalmente para aqueles que tenham se desligado de compromissos assumidos para cursar a pós-graduação, bem como para os que não têm condição financeira para realizar o curso sem a bolsa. A Pró-reitoria teve relatos dramáticos de alunos em tal situação.
Um ponto positivo das Portarias 20 e 21 pode ser ressaltado pela análise da concessão de bolsas de doutorado à UFRJ. A tabela a seguir apresenta o número de bolsas de doutorado concedidas em função da nota na avaliação da CAPES. Na tabela não são considerados os cursos novos, com conceito A, e os cursos de doutorado com nota 3 estão incluídos apenas para completude. No final de 2019, cota total de bolsas de doutorado era de 1672 bolsas. A implantação da nova política de bolsas da CAPES, dada pelas Portarias 20 e 21 resultou em um aumento total de 82 novas bolsas, quando a cota total atingiu 1754 bolsas. Pode ser observado um aumento tímido no número de bolsas nos cursos com nota 4 e 5 (sete bolsas para cursos com nota 4 e quatro bolsas para cursos com nota 5), mas os cursos com nota 6 e 7 tiveram um aumento considerável de bolsas, 65 e 27, respectivamente. Por outro lado, a aplicação dos limites definidos pela Portaria 34 resultou em um aumento total de apenas 2 bolsas de doutorado, porém os cursos com notas 4 e 5 perderam 26 e 39 bolsas, respectivamente, enquanto os cursos com nota 6 ganharam 24 bolsas e os com nota 7 ganharam 43 bolsas. Fica claro que, na UFRJ, a Portaria 34 implicou em uma transferência das cotas de bolsas de doutorado dos cursos com nota 4 e 5 para os cursos com nota 6 e 7. Isso mostra, mais uma vez, o pouco comedimento da adoção da nova portaria.


WEB tab2Pelos pontos apresentados, se observa que a nova portaria criou um conjunto de dificuldades para as quais uma solução razoável e possível é a sua alteração ou revogação, como forma de reduzir os impactos negativos para os diversos Programas de Pós-graduação. Por essa razão, peço, respeitosamente, que a CAPES revise as decisões que nortearam a publicação da Portaria 34 e reverta seus efeitos, de forma a se ter uma aplicação paulatina dessas políticas como vinha sendo indicada pelas portarias anteriores.
Finalmente, gostaria de mencionar a interrupção da concessão de cotas para a Pró-reitoria. O retorno da referida cota poderia ser muito útil nesse momento, pois seria mais um recurso para corrigir as pontuais dificuldades que surgem da adoção da nova política de alocação de vagas e suavizar o período de transição, de modo a tentar evitar que Programas em recuperação ou cuja aplicação dos novos critérios tenha criado distorções sejam prejudicados em suas atuações.

WEB menor p.8 crQuarentena não significa apatia. Muito pelo contrário. Nas duas últimas semanas, a diretoria da AdUFRJ realizou uma série de atividades políticas, de solidariedade, de reflexão, de informação e de acolhimento e interação entre os sindicalizados. Uma das ações mais importantes foi a realização do Conselho de Representantes, com duas reuniões consecutivas por videoconferência, ambas com mais de 40 participantes. Nos encontros, realizados nos dias 26 e 30, as estratégias da UFRJ para enfrentar a pandemia do coronavírus e a defesa de direitos da comunidade acadêmica foram os temas principais.
Presidente do sindicato, a professora Eleonora Ziller apresentou as últimas atividades realizadas pela AdUFRJ, com destaque para as ações de defesa dos tercerizados e o apoio às iniciativas da UFRJ de combate ao coronavírus – a AdUFRJ pretende doar R$ 100 mil para o Grupo de Trabalho que, desde janeiro, define políticas e ações contra a Covid-19 nos campi  “Eles estão trabalhando de forma incansável para aparelhar da melhor forma possível os nossos hospitais e pesquisadores”, afirmou. Durante o CR, a diretoria da AdUFRJ também decidiu apoiar, com cestas básicas, as famílias de alunos mais pobres do Colégio de Aplicação.
Os encontros virtuais contaram com a presença do vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha, no dia 26; e da reitora Denise Pires de Carvalho, no dia 30.
Denise relatou as dificuldades enfrentadas por todos da instituição envolvidos no combate à pandemia. A dirigente acredita que o sistema do Rio de Janeiro sofrerá um déficit de milhares de vagas em breve, enquanto a UFRJ batalha para conseguir recursos e pessoal para disponibilizar apenas 100 leitos. “Precisamos diminuir o número de casos”, enfatizou. Mas Denise também demonstrou satisfação com o reconhecimento que a universidade passou a desfrutar em dias tão complicados. “Com muita solidariedade e muita ciência, nós vamos avançar. Quem sabe, definitivamente, com a sociedade ao nosso lado”, concluiu.
A administração central se equilibra entre o fortalecimento das unidades hospitalares e os demais desafios administrativos. Um exemplo é a preocupação com a paralisação das progressões, num cenário adverso com variadas propostas do governo para impedir qualquer despesa “extra” com o funcionalismo. “A CPPD vai se reunir na reitoria uma vez por semana”, informou o vice-reitor Carlos Frederico. A Comissão Permanente de Pessoal Docente é responsável pela análise dos processos que chegam das unidades e são encaminhados à Pró-reitoria de Pessoal. “Para manter a institucionalidade funcionando também são importantes os conselhos de Centro e as congregações”, disse o professor Fernando Rochinha (Coppe).
O vice-reitor observou que a administração central conversa com as empresas e também com as unidades para preservar o fluxo das notas que atestam os serviços, para evitar possíveis demissões dos terceirizados. Por conta do fechamento dos restaurantes universitários por determinação dos governos estadual e municipal, a reitoria distribui quentinhas aos alunos no alojamento.
Os conselheiros sugeriram à administração central, para além do grupo de trabalho do coronavírus, a criação de um GT ou Fórum da Cidadania. “Poderíamos incorporar outras áreas para fazer um diálogo amplo com a sociedade. Temos que juntar ciência e solidariedade”, disse a professora Selene Alves, do Instituto de Matemática.

PRÓXIMO CR
A presidente da AdUFRJ avaliou de forma positiva os encontros.  “A reunião com a Denise foi excelente, mas, ao mesmo tempo, muito difícil. Ela nos deu uma dimensão humana e ao mesmo tempo científica e política do que está ocorrendo”, resumiu. “Nos CRs, tivemos um bom quórum, e uma participação bastante diversificada”, disse.
A pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, é a convidada já confirmada no próximo Conselho de Representantes.  O objetivo é tirar dúvidas sobre ações extensionistas a distância, durante a pandemia. Docentes do Instituto de Economia também serão chamados para tratar das medidas apresentadas pelo governo. O  Conselho está agendado para segunda-feira, 6, às 14h30.

Sindicato disponibiliza Zoom para docentes

Boa notícia para os sindicalizados. Desde a semana passada, a AdUFRJ oferece uma conta no aplicativo Zoom para reuniões entre professores. Até 10h do dia 1º de abril, houve 73 pedidos de agendamento por 41 professores. Muitos já elogiaram a iniciativa.
O Zoom permite videoconferências com até 100 pessoas. A proposta é contribuir para que os docentes possam manter-se conectados, durante a pandemia. O aplicativo pode ser baixado em https://zoom.us. Os interessados devem preencher o formulário eletrônico disponível em http://bit.ly/agendamentozoom, com 48 horas de antecedência.
Com a conta, os professores ficam livres do limite de tempo de 40 minutos, imposto na versão gratuita do aplicativo.

vac economia 140120117a76395565Professores criticam política econômica do ministro Paulo Guedes - Foto: Valter Campanato/Agência BrasilUma colcha de retalhos pode ser uma boa imagem para ilustrar o que o governo Bolsonaro propõe em termos de política econômica diante da pandemia do coronavírus. Para docentes de diferentes matizes teóricas do Instituto de Economia, as medidas anunciadas ao longo dos últimos dias são tímidas, lentas e limitadas por princípios ideológicos. A nova realidade coloca em xeque a política ultraliberal que entronou o ministro Paulo Guedes. E o governo não tem um plano B.
O Professor Adjunto Carlos Pinkusfeld separa as iniciativas em três blocos heterogêneos: crédito, transferência de renda e recurso para produção emergencial para atender à saúde. O primeiro grupo não apresenta gastos propriamente ditos. Mas toca em pontos-chave para o momento. “É importantíssima a rolagem da dívida dos estados e municípios. Estes estarão na linha de frente do combate à pandemia e não faria sentido estar enviando parte da receita para o governo federal em vez de gastá-la com emergências médias, como pagamentos de salários”, argumenta o economista.
A ação do Banco Central, liberando um volume de R$ 200 bilhões de depósitos compulsórios para aumentar a liquidez do sistema financeiro e baratear o crédito, foi  considerada um ponto positivo pelos economistas. “É crucial manter as empresas do sistema financeiro, e não financeiro, com um mínimo de liquidez e possibilidade de sobrevivência, evitando-se o colapso total da economia”, destaca Pinkusfeld.
Contudo, apenas na sexta-feira (27) o governo confirmou a articulação da iniciativa com uma política de proteção de emprego, anunciando R$ 40 bilhões em crédito para amparo das pequenas e médias empresas que se comprometerem com a manutenção dos postos de trabalho. A professora Associada Marta Castilho avaliou a iniciativa, com validade programada para os dois próximos meses: “Não faria sentido a ajuda se as empresas embolsassem o dinheiro ou investissem em uma modernização tecnológica para demissão de funcionários”.
As sinalizações da equipe econômica do governo para o mundo do trabalho são criticadas pelo  economista Eduardo Crespo, professor de Economia Política  do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID). Ele e o colega Maurício Metri assinam duras críticas à Medida Provisória 927, que, entre outras medidas, possibilitava a interrupção de pagamentos de salários por quatro meses em função da calamidade pública. Publicada em 22 de março, a MP foi revogada após reação da opinião pública.
“Essa MP seria uma bomba já no curto prazo. O Brasil é um país muito violento. A convulsão social é uma questão grave”, opina Crespo. E reforça que “com o mundo se fechando às exportações, não é hora de reduzir salários ou postos de trabalho”. “Haverá uma queda brutal da demanda agregada. A combinação de uma eventual suspensão de contrato ou corte de salários com esse choque negativo seria um precipício”, justifica.
 A mesma lógica guia a opinião dos especialistas em relação ao funcionalismo. “A proposta de corte dos servidores é uma insensatez. Ninguém no mundo está propondo isso. É contraproducente”, diz Eduardo Figueiredo Bastian, professor Adjunto do IE.
Ainda sem desenho palpável, a ideia discutida por parlamentares e  executivo é desconstruída pelos economistas.  “Em termos de volume, seria insuficiente para as necessidades financeiras do combate ao coronavírus. Em termos econômicos, não agrega, pois não injeta dinheiro novo. E, em termos práticos para justiça social, a taxação de 0,1% das rendas mais altas do Brasil, teria um fôlego maior”, aponta Marta Castilho. “Aparentemente, o governo está aproveitando a crise para fazer passar medidas que não têm a ver com o esforço para aquecer a economia”.
Em um volume bem mais modesto, aparece o segundo grupo de medidas citado pelo economista Carlos Pinkusfeld, como aumento de gastos com as transferências de renda para as famílias mais pobres. Sob pressão do coronavírus, a Câmara dos Deputados aprovou, na noite da quinta-feira (26), uma renda emergencial no valor de R$ 600 por adulto de baixa renda enquanto durar a crise da Covid-19. Mães solteiras receberão R$ 1,2 mil. O Senado confirmou as medidas, no dia 30.
A economista Marta Castilho ressalta que proteger os mais vulneráveis, como informais, autônomos, desempregados e os que dependem do programa Bolsa Família “é uma questão de humanidade. Mas também faz parte do jogo para manter a economia rodando”.  
A terceira e última linha de ação destrinchada por Pinkusfeld é considerada “fundamental” e também “muito pouco explorada” pelo governo brasileiro.  Ela corresponde aos ajustes necessários para que o aumento das demandas relacionadas à saúde possa ser atendido pelo equipamento industrial.  Eduardo Crespo toca na mesma ferida com o recente exemplo estadunidense: “Donald Trump já colocou a General Motors na linha de produção de respiradores para atender à saúde”.
“Desenvolvidos ou subdesenvolvidos, de governos de direita ou de esquerda, em todos os países, o foco é evitar mortes. A projeção é de centenas de milhares de óbitos, se não chegarmos a um milhão. Nesse sentido, o que acontece no Brasil hoje é uma loucura”, completa o professor Crespo, do IRID.
 Para os economistas, existe um consenso crescente no mundo de que é hora de gastar. Mas o Brasil se move mais lentamente nessa direção. “O gasto público, no momento, tem virtude. Especialmente o gasto com saúde. O governo precisa colocar na conta o efeito devastador da pandemia sobre a mão de obra. Levar em consideração como esses trabalhadores retornarão para a produção depois da quarentena”, analisa Martha Castilho.

WEB menor p.6 1Lento nas medidas econômicas de proteção à população durante a crise do coronavírus, o governo foi ágil na mesquinharia contra os servidores públicos federais. No dia 25, o Ministério da Economia editou uma instrução normativa (nº 28) que orienta o corte dos benefícios de quem está executando as atividades de forma remota, em função da pandemia.
A norma veda a prestação dos serviços extraordinários e pagamento de auxílio transporte, adicional noturno e adicionais ocupacionais de insalubridade, periculosidade, irradiação ionizante, além de gratificação por atividades com Raios X ou substâncias radioativas. O pagamento do adicional noturno só será possível nestes casos, se o trabalho puder ser comprovado e autorizado pela chefia imediata.
Presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller informou que haverá uma ação coordenada com o Sintufrj e a reitoria sobre o tema. “A instrução normativa é mesquinha e desconhece o enorme esforço que as universidades estão fazendo para enfrentar esse período de epidemia”, disse. “E, como instrução normativa, não tem força de lei nem pode ser aplicada de forma generalizada. Por isso, necessitamos de uma ação responsável e coordenada, que produza respostas consistentes e juridicamente robustas, protegendo aqueles que estão em atividade, seja ela presencial ou remota”, completou.

NORMATIVA É POLÍTICA
O tema repercutiu nas reuniões virtuais do Conselho de Representantes da AdUFRJ, realizadas nos dias 27 e 30 de março (leia sobre os CRS na página 8). A reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, criticou a instrução normativa: “Estamos trabalhando muito mais agora (de casa). Acho que não precisava disso. Deviam deixar a gente trabalhar em paz”, afirmou.
Professor do Instituto de Química, Rodrigo Volcan usou o exemplo do adicional de insalubridade para defender que nenhum corte seja feito. O docente ressaltou que os prejuízos à saúde não cessam, mesmo se os pesquisadores ficarem um ou três meses longe dos laboratórios. “A normativa não é técnica; ela é política. Não podemos reduzir rendimentos dos trabalhadores”.
A instrução normativa também proíbe o cancelamento, a prorrogação ou a alteração dos períodos de férias já programadas para os servidores que exerçam suas atividades remotamente ou que estejam afastados de suas atividades presenciais por força de outra Instrução Normativa, como os professores que realizaram viagens internacionais e apresentaram sintomas associados à Covid-19.
Outra restrição é quanto à reversão de jornada reduzida, salvo para os servidores das áreas de segurança, saúde ou outras consideradas essenciais pelo órgão ou entidade. A Instrução Normativa vai vigorar durante o estado de emergência de saúde pública.

AVALIAÇÃO JURÍDICA
As advogadas da AdUFRJ analisaram o documento e encontraram uma série de falhas. A Instrução Normativa estaria criando restrições não previstas em lei e, portanto, violando a hierarquia do ordenamento jurídico. O caso poderia ser levado à Justiça, considerando a ausência de previsão específica na lei quanto à restrição no pagamento das verbas no caso de trabalho desempenhado à distância.  
Também pode ser motivo de ação judicial o fato de a normativa privar o direito às férias e retirar uma série de direitos, justamente num momento  de calamidade pública e pandemia mundial, “quando o direito à vida, à dignidade da pessoa humana e à saúde devem ser mais do que nunca preservados, conforme assegura nossa Constituição Federal”, conclui o parecer assinado pelas advogadas Ana Luísa Palmisciano e Maiara Leher. O documento foi distribuído aos integrantes do Conselho de Representantes da AdUFRJ na reunião virtual da última segunda-feira, 30.

bandeira adufrjConcluímos a primeira quinzena de quarentena produtiva. Aprendemos muito nesses dias, descobrimos novas formas de sociabilidade, assim como as dificuldades de uma vida limitada a um pequeno espaço físico e, ao mesmo tempo, em conexão permanente com o que acontece no mundo. Essa experiência prolongada de simultaneidade e isolamento certamente deixará marcas profundas em cada um de nós. O mundo que conhecemos sofrerá transformações bastante significativas, mas de alcance ainda imprevisível. É com essa convicção, a de que estamos vivendo um momento histórico de enorme significação para a humanidade, que estamos preparando os nossos jornais. Para que sejam um documento vivo de nossos esforços, que contenham ao menos um pouco do que estamos tentando construir.
Hoje deveríamos ter um único inimigo, a pandemia do coronavírus. Mas até o fechamento desta edição, permanecemos como um dos poucos países do mundo cujo chefe de Estado insiste em sua política de ódio e negacionismo, isolado de todas as grandes nações que já compreenderam o abismo que se formará caso o Estado não cumpra com firmeza o seu papel de preservação do bem estar da sociedade. Temos, portanto, dois adversários a enfrentar. E é sobre isso que trata toda a edição do jornal. Não há dicotomia entre preservar a economia e preservar a vida, e reafirmamos que essa conta não poderá ficar nas costas dos assalariados, sejam eles da iniciativa privada ou empregados públicos. E mais, cortar bolsas de pesquisa e salários, quando as universidades e centros de pesquisa, em todo o país, se mobilizam para dar respostas eficientes e justas para combater o coronavírus, é no mínimo uma política criminosa.
Somos o testemunho dessa intensa batalha travada nos meios de comunicação e nos espaços institucionais e de representação política. Ao lerem com atenção cada notícia, verão que se trata de reconduzir a generosidade e o compromisso com a sociedade para o centro das nossas atenções, valores que foram sendo descartados por uma cultura de hiper individualismo e do salve-se quem puder, mas que agora retornam como condição necessária e urgente para o enfrentamento da crise que vivemos. Destacamos aqui o nosso agradecimento a quem viabiliza e garante nossa atuação, porque agora, ainda mais do que antes, a ADUFRJ depende do esforço e do trabalho do seu corpo de funcionários, do entusiasmo e da dedicação com que cada um abraçou como sendo sua também a responsabilidade de fazer com que o sindicato se faça presente, e faça diferença na vida dos professores da UFRJ.
Nenhum de nós trará isoladamente a chave da salvação ou o remédio milagroso que nos curará de uma ferida que mal conseguimos vislumbrar. Mas temos a confiança de que encontraremos juntos as respostas possíveis e necessárias. Os primeiros sinais demonstram que estamos afastando e isolando o vírus do ódio e da ignorância. Estamos retomando lentamente o reconhecimento social sobre o valor da ciência, da informação qualificada e da pesquisa criteriosa para a defesa da vida. E na semana em que completamos 56 anos do golpe que instaurou a ditadura militar, redobramos a atenção, pois a democracia, ainda que frágil, conquistada com o esforço e sacrifício de várias gerações, precisa ser reafirmada e protegida a todo custo. Esse é o caminho que nos anima, esse será o caminho que trilharemos sempre. Custe o que custar.

Diretoria da AdUFRJ

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