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CARTA PÚBLICA DE ENTIDADES REPRESENTATIVAS EM REPÚDIO À IMPOSIÇÃO JUDICIAL DE RETORNO PRESENCIAL IMEDIATO DE ATIVIDADES DE ENSINO


256293860 3294133510711114 8439470463298568186 nDurante toda a Pandemia da Covid-19, as comunidades de instituições públicas de educação básica, técnica e superior enfrentam o desafio de conciliar suas funções sociais e o respeito às normas de segurança sanitária necessárias para poupar vidas. Servidoras, servidores e estudantes vêm superando as adversidades e reinventando seu funcionamento de forma remota: as pesquisas continuaram e incluíram a própria pandemia como objeto; atividades de ensino continuam; além das atividades de extensão, incluindo desde a produção de álcool em gel e inúmeros cursos livres ofertados até o acolhimento de questões psíquicas ocasionadas pelo isolamento social e pelas mortes provocadas pela covid. Toda essa experiência trouxe a certeza de que o ensino remoto tem sido uma inevitabilidade indesejável e de que nenhuma virtualidade substitui a qualidade da educação pública presencial.

Como defensores da ciência, batalhamos pelo processo de vacinação para toda a população e acompanhamos a melhoria progressiva nas condições sanitárias, e estamos já retornando de forma gradativa nossas atividades presenciais, planejando a ampliação do retorno a todos de forma responsável e segura. Planos de contingência ao retorno presencial gradual e seguro estão em desenvolvimento e é preciso que o Governo Federal cumpra sua responsabilidade: é fundamental o investimento público para a recuperação infra-estrutural e compra de EPIs pelas instituições, além do debate sobre protocolos de segurança e passaporte de vacinação.

Recentemente, um agravo de instrumento a partir de decisão monocrática no âmbito do TRF-2, contrário à decisão da primeira instância, determinou o retorno das atividades de ensino presenciais no exíguo prazo de 15 dias a partir da intimação. Essa decisão, acompanhada da ameaça de sanções cíveis, administrativas e penais, configura-se como um ataque à autonomia das instituições e ameaça às vidas humanas. Em que consistiria precisamente o ensino híbrido sugerido pela decisão judicial? Como operacionalizar esse retorno em apenas duas semanas face às dificuldades objetivas enfrentadas pelas instituições de educação pública, no que diz respeito à diversidade de calendários acadêmicos, cortes orçamentários, problemas de infraestrutura física e à reconfiguração das condições de vida das comunidades universitárias e escolares, em especial no que tange a estudantes?

Em contraste com os pesados cortes de financiamento para a educação pública, é preciso adaptar as instalações de ensino, garantindo a ventilação das salas de aula. Contratos de terceirização foram rompidos por determinação do governo federal, gerando carência de mão de obra para garantir medidas de higiene básicas. Diante disso, tampouco há garantia de alimentação de crianças e adolescentes em idade escolar ou funcionamento dos refeitórios universitários. A política de assistência estudantil como um todo está debilitada: é incerta a possibilidade de acomodação total dos alojamentos estudantis; a secretaria de transporte do Rio de Janeiro acena com até 8 meses de demora em retomar o bilhete único universitário; diversos discentes encontram-se fora do Estado do Rio de Janeiro vivendo com suas famílias, sem condições de retornar de forma imediata à universidade, ainda mais sem os auxílios estudantis que foram suspensos e ainda não restabelecidos. Por fim, a política do cuidado precisa ser considerada, pois muitos hoje cuidam de parentes doentes e precisam de tempo para reorganizar suas vidas.

Todos desejamos fortemente a volta às nossas salas de aula, corredores e secretarias. Mas não será num passe de mágica por meio de decisão judicial que as dificuldades serão superadas. Pelo contrário, a ameaça de sanções penais num prazo extremamente restrito apenas poderá causar um retorno prematuro e mal planejado, atropelando o respeito às especificidades de cada instituição e mesmo ameaçando o acesso isonômico ao direito à educação. Por isso, reivindicamos que a decisão judicial em vigor seja suspensa, permitindo que o debate sobre as condições de retorno ao ensino presencial de forma responsável e autônoma seja reestabelecido nas escolas e universidades.

Assinam esta carta:

ANDES-SN/RJ

ADCEFET/RJ-Ssind

ADUFRJ-Ssind

ADUNIRIO-Ssind

ADUR-Ssind

SINDSCOPE

DCE/UFRJ

FENET

WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.22.12Fotos: Fernando SouzaO silêncio e o vazio que predominaram ao longo da pandemia nos corredores da UFRJ, aos poucos, vão dando lugar à vida. Sem pressa, respeitando o compasso do retorno seguro e atenta aos protocolos sanitários, a universidade volta gradativamente à sua rotina de trabalho.
A reportagem da AdUFRJ circulou por unidades do Fundão na quarta-feira, 3, primeiro dia marcado para a volta presencial dos servidores, constatou que os locais estão sinalizados, mas registrou também problemas e insegurança dos docentes e técnicos.
“Os nossos profissionais já estão sendo convocados para esse retorno presencial, mas de forma escalonada”, esclarece o diretor do Instituto de Geociências, professor Edson Farias Mello. As chefias imediatas estão encarregadas de verificar se os profissionais estão imunizados contra a covid-19, mas o diretor adianta que a adesão à vacinação em sua unidade foi total. “Isso já está sendo verificado e não temos problemas. Nosso maior desafio será quando os alunos retornarem”, avalia o diretor.
O monitoramento de acesso às dependências do IGEO vinha ocorrendo individualmente, sobretudo para quem precisasse acessar os laboratórios durante a pandemia. “O professor responsável assinava uma autorização que era trazida impressa e verificada pela vigilância. Isto era importante porque, em caso positivo da doença, nós teríamos como mapear os contatos da pessoa infectada. Mas a partir de agora essa prática não faz mais sentido, pelo aumento da circulação”, avalia.WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.33.45Diretor da Geociências, Edson Mello se preocupa com viagens a campo
Uma preocupação do professor Edson Mello é com relação aos trabalhos de campo. “As aulas práticas retornarão dia 16, mas a maior parte delas depende de trabalhos de campo. A universidade não estipulou critérios para essas viagens de campo, nem indicou os protocolos para quando casos positivos acontecerem durante as viagens. As saídas a campo duram 15, 20 dias. Tempo suficiente para uma pessoa eventualmente adoecer”, preocupa-se o diretor. “Um terço do curso que forma um geólogo é desenvolvido no campo. Essa particularidade também acompanha a Geografia e a Biologia”, exemplifica o professor.
SEGURANÇA
O retorno presencial geral dos docentes e técnicos foi autorizado pela administração central desde o dia 3 de novembro. A resolução foi aprovada no último Conselho Universitário (dia 28 de outubro). O texto sublinhava que a volta aos locais de trabalho estaria condicionada à situação da pandemia, deveria acontecer de forma gradual e seguindo as orientações de biossegurança estipuladas pelos cientistas da própria universidade.
Segundo a professora Fátima Bruno, superintendente de Planejamento Institucional da PR-3, mil espaços já foram mapeados pelo site “Espaço Seguro UFRJ”, formulado para a classificação de risco dos ambientes. Pelo endereço https://espacoseguro.ufrj.br/ é possível preencher um formulário  com dados como dimensão, existência de janelas e demais espaços para ventilação, número de pessoas que trabalham no ambiente, entre outras informações.
WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.33.451Professora Rosana Ferreira, da Microbiologia, prepara ambientes. Quem volta ao presencial também se preocupa com a segurança para chegar e sair do campus. A professora Joalice Mendonça, vice-coordenadora do Laboratório de Palinofácies e Fácies Orgânica (Lafo), passou a atuar no campus desde agosto do ano passado e lamenta a sensação de insegurança. “A gente trabalha com as salas sempre fechadas na grade e no cadeado. Sempre que saio, um vigia me acompanha até eu entrar no Uber”, descreve.
Ela também reclama da falta de ônibus. Algumas linhas deixaram de circular na Cidade Universitária ou reduziram drasticamente a frota. “Tenho gasto, em média, R$ 950 por mês em Uber, porque não tem ônibus. Esse dinheiro não é ressarcido por ninguém, sai do meu bolso”, reclama a docente. Seu laboratório ainda não voltou à rotina normal. “Ainda não estabelecemos o retorno total, mas estamos nos organizando para isso”.
Algumas unidades ainda estão sem condições estruturais de receber professores, técnicos e alunos. O problema é vivido pelas professoras Maria Elizabeth Zucolotto, do Museu Nacional, e Diana Paula Andrade, do Observatório do Valongo. Ambas estão abrigadas provisoriamente no Laboratório de Microssonda Eletrônica, da Geologia, e no Instituto de Física.
Elizabeth é chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu e conta que após o incêndio seu departamento foi abrigado no Horto, mas, sem orçamento para manutenção, e com as chuvas constantes, uma infiltração fez o forro da sala ceder. “Estou indo agora para uma reunião com a equipe para avaliarmos como voltamos, porque, efetivamente, não temos lugar físico para todo mundo”, diz.
Diana, parceira de pesquisas de Elizabeth – ambas são caçadoras de meteoritos –, também não pode voltar ao Valongo. “Não temos orçamento e por isso não temos banheiro funcionando, o que inviabiliza o retorno presencial para o Observatório”, pondera. “Então, tenho me revezado entre o Labsonda e a Física, onde gentilmente me cederam uma sala para trabalhar”.

REITORIA AVISA UNIDADES SOBRE IMPOSIÇÃO DA JUSTIÇA

WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.33.452Setores da administração trabalham por escalaNo mesmo dia 3, o gabinete da reitoria enviou às decanias e unidades um ofício comunicando a obrigatoriedade do retorno das aulas a partir do dia 16. O documento cita o Parecer de Força Executória expedido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF 2) na semana passada, que determinava a volta das aulas nas instituições federais de ensino do Rio de Janeiro, dentre elas a UFRJ. De acordo com o documento enviado pela administração central, “as atividades de ensino na UFRJ devem voltar a ser presenciais em todas as unidades acadêmicas, mesmo que parcialmente”.
A administração central da universidade prepara defesa. “O recurso à decisão deve ser feito pela Procuradoria Regional Federal da 2ª Região, que representa não só a UFRJ, mas todo o conjunto de instituições federais de ensino localizadas na cidade do Rio de Janeiro, área que estava sob a jurisdição dos procuradores do Ministério Público Federal que ingressaram com a ação”, esclarece o vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha. O procedimento de juntar documentação de todas as instituições, na avaliação do vice-reitor, cria obstáculos à celeridade da defesa. “Estimamos que ingressaremos com o recurso na semana que vem”.
A universidade pretende argumentar que já possui um plano de retorno gradual previsto para o dia 16, com a volta presencial das aulas experimentais. E que segue as recomendações sanitárias e decisões de seus colegiados internos. Tais disciplinas estariam condicionadas ao mapeamento dos espaços de risco. Até o momento, 21 unidades que possuem atividades práticas validaram seus espaços para essas aulas. “Apesar dos sobressaltos causados pelo Judiciário, é importante reafirmar que a UFRJ já tinha um planejamento baseado em critérios científicos”, destaca o presidente da AdUFRJ, professor João Torres.

CEG ALTERA CALENDÁRIO DE 2022

O Conselho de Ensino de Graduação modificou o calendário para 2022. Agora, o recesso entre períodos, que tinha sido aprovado com duração de 29 dias, terá apenas 22 dias. Outra mudança é a data do final do período, que passou para 7 de janeiro de 2023. A pró-reitora de Graduação, professora Gisele Pires, explicou, durante a sessão, que o calendário aprovado na semana passada pelo colegiado tinha menos de 190 dias. Ao consultar o MEC, foi esclarecida que a excepcionalidade que permitia reduzir os dias letivos para normalizar o calendário atrasado pela pandemia não seria mantida para 2022. O que fez a PR-1 revisar as datas e propor o ajuste.
A professora Margaret Lica Chokyu, representante do CLA, sublinhou a necessidade de a universidade observar a legalidade de seus atos, sobretudo neste momento de ataques por parte do governo e do Ministério Público Federal. “É importante que a gente não crie nenhuma casca de banana para nós mesmos no futuro”. Sobre o encurtamento do recesso, ela afirmou ser frustrante, por conta do cansaço acumulado ao longo da pandemia, mas que seria a saída para se ajustar à norma.
O professor João Torres concorda que o cansaço e o ritmo de trabalho na pandemia são muito intensos e que reduzir o recesso é desgastante sobretudo para professores e estudantes. O principal problema, no entanto, em sua visão, é o descompasso entre os calendários da graduação e da pós-graduação. “Muitos docentes atuam nos dois níveis. Os calendários estarem fora de fase penaliza e sobrecarrega ainda mais esses professores”, argumenta. “Outro complicador é para os docentes que, além de atuarem na pós e na graduação, têm filhos em idade escolar. São três calendários para compatibilizar”, afirma o docente.

WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.40.17Nelson Freire partiu para encantar plateias celestiais na véspera de finados, uma segunda-feira chuvosa no Rio de Janeiro, cidade em que o mineiro escolheu viver.  O que nem todos sabem é que, junto, o artista levou um pedacinho da UFRJ. Em 15 de setembro de 2011, o pianista subiu ao imponente palco da Escola de Música não para se apresentar, como fez tantas vezes ao longo da carreira, mas para receber o título de Doutor Honoris Causa da universidade. “O reconhecimento da maior instituição acadêmica de música do meu país, nesta cidade que escolhi viver, me enche de alegria e profunda emoção”, disse Nelson, na ocasião.
O pianista era retraído com as palavras. Algo que não escondeu no curto discurso que proferiu. Assim como o amor pelo Rio de Janeiro, onde residiu até os momentos finais.  “Com a música, é possível expressar sentimentos sem dizer uma palavra. Hoje sinto uma emoção que dificilmente conseguirei traduzir em palavras”, afirmou, segundo notícia na página da Escola. “Há anos, ando pelo mundo. Mas é para cá que volto. A praia, o ar, as nuvens e os sabores desta cidade me alimentam como nenhuma outra”, completou.
Diretor em 2011, André Cardoso relembra que a Escola de Música abraçou a homenagem sem hesitação. “Um artista consagrado no mundo inteiro. O maior pianista brasileiro da geração dele. Tocou com as principais orquestras”, afirmou. Superpremiado ao longo da carreira, Nelson receberia da UFRJ seu primeiro título acadêmico. “Era o reconhecimento da mais antiga instituição de ensino musical do país, que é a Escola de Música da UFRJ, em função da carreira dele, levando o Brasil pelos palcos do mundo. Depois, ele recebeu da UFMG e de outras instituições”.
O então vice-reitor da UFRJ, professor Antônio Ledo, recorda com carinho de uma curiosidade que cercou os preparativos daquela  sessão solene. O professor Aloísio Teixeira, que era o reitor da UFRJ até julho daquele ano — e que viria a falecer no ano seguinte —, entusiasta de música clássica e fã de Nelson Freire, queria assistir a uma apresentação musical do pianista. “Isso foi pensado. Mas acabou não ocorrendo”, disse Ledo. Ao final, Aloísio cobrou: “Você não fez ele tocar?”, recorda o ex-dirigente, divertido.WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.37.40EM 2011, o diretor da Escola de Música, André Cardoso; a decana do Centro de Letras e Artes, Flora de Paoli; o vice-reitor Antônio Ledo; e o homenageado, Nelson Freire, durante a sessão solene de outorga do título de Doutor Honoris Causa - Foto: Ana Liao
O professor Giulio Draghi representou o Departamento de Instrumentos de Teclado e Percussão, de onde partiu a ideia da homenagem, no evento de 2011. “Lembro que ele chegou uma hora antes e ficou ensaiando com a página de papel que leu. Foi muito bonito”, relatou. Outra beleza da noite foi a gentileza característica de Freire, que ainda ficaria um bom tempo do pós-cerimônia conversando e tirando fotos com todos que pediram.

O GÊNIO
Giulio teve a oportunidade de visitar a casa do artista uma vez, ao lado de alguns amigos, quando ainda era estudante, no início dos anos 80. E lembra de uma passagem marcante, ao encontrar algumas partituras pela casa. Pensava que veria anotações ou marcações nos papéis, algo que poderia guiar seus estudos depois. “Os músicos escrevem nas partituras. Mas não tinha uma marca. Nada! Aí eu me dei conta que ele tinha uma leitura fabulosa, que não precisava marcar nada”, afirmou.
Sempre que possível, Giulio não perdia nenhuma apresentação de Nelson Freire no Rio. “Ele nunca parava de progredir. Era inacreditável. Há pessoas que sofrem uma crise, depois se reencontram”. Nelson Freire não oscilava para baixo. “Mesmo que fosse uma peça que eu já tivesse visto, nunca era igual. Era sempre melhor”, descreve.
O docente ainda não se conformou com a morte do pianista. Separou os LPs e CDs, olhou as capas, buscou lembranças, mas ainda não conseguiu ouvir nenhum deles. “Foi uma tragédia não anunciada. Isso me impede agora de ouvi-lo imediatamente. Ainda vou esperar mais um pouco”.

Um único concerto com a
Orquestra Sinfônica da UFRJ
Seis anos após receber o título de Doutor Honoris Causa, Nelson Freire fortaleceu o vínculo com a universidade. Em julho de 2017, realizou sua única apresentação com a Orquestra Sinfônica da UFRJ, no palco do Theatro Municipal. “Eu era diretor artístico do Theatro e fiz essa programação em homenagem aos 130 anos do maestro Villa-Lobos (1887-1959)”, conta o professor André Cardoso. Os ensaios eram realizados na Escola de Música, para deleite do corpo discente. “Evidentemente, os alunos iam falar com ele”, completa o ex-diretor. O espetáculo pode ser conferido no Youtube, no canal da Academia Brasileira de Música.

WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.27.24Uma intensa articulação de agentes públicos e entidades privadas em apoio a medidas pautadas pela Ciência tornou Macaé a cidade do estado do Rio mais eficiente no combate à pandemia, em 2020. É o que aponta um estudo do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ) publicado em outubro na britânica Nature, uma das revistas científicas mais renomadas do mundo. Nos seis primeiros meses da pandemia, a cidade do Norte Fluminense registrou 1,8% de letalidade com a covid-19. Uma taxa bastante inferior à da capital, de 10,6%, no mesmo período.
O Nupem montou um laboratório que realizou mais de 15 mil testes PCR para detecção do coronavírus, entre abril de 2020 e janeiro deste ano. Todo paciente que procurava a rede pública de saúde em Macaé era testado pela universidade. A iniciativa contou com o apoio da prefeitura local, do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Trabalho, além de entidades privadas, que atuaram na compra de insumos. Todo o trabalho, que mobilizou professores, pós-graduandos e técnicos do instituto, recebeu a orientação do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, coordenado pelos pesquisadores Amilcar Tanuri e Orlando Ferreira.
O artigo mostra que o monitoramento da pandemia, com testagem, acompanhamento permanente de casos e cruzamento de dados entre os resultados e o perfil dos infectados, somado à correlação com a sua localidade, foram medidas determinantes para diminuir o contágio e a letalidade na cidade. Quem explica é a professora Cintia Monteiro de Barros, uma das pesquisadoras que assina o artigo. “Macaé foi uma das cidades do Rio com o menor número de mortes relacionadas à covid-19, e isso é fruto do que fizemos aqui, a testagem com padrão ouro”.
E já que o novo coronavírus representa uma fronteira para a produção de conhecimento, os cientistas do Nupem não vão parar com a publicação na Nature. A partir de todos os dados coletados até aqui, prossegue a investigação dos efeitos da pandemia na população. Uma das frentes de trabalho trata da circulação das variantes na região e a relação delas com o quadro de infecção dos pacientes. “Nós conseguimos observar que determinados tipos de mutações levavam as pessoas à morte. Este artigo está em fase final de redação”, conta a professora. “Vamos analisar as mutações específicas das variantes para avaliar se algumas delas levaram a casos mais graves”.WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.42.47
Durante seis meses, 350 pacientes testados pelo grupo também foram chamados, como voluntários, para acompanhamento da imunidade. “As pessoas foram infectadas pela doença e, antes da vacina, nós acompanhamos, mês a mês, a imunidade das pessoas, quais tipos de anticorpos elas produziam e por quanto tempo”, relata Cintia.
A eficácia da vacinação é outro foco de atenção. “Coletamos o sangue das pessoas antes da vacina, e depois fizemos coletas mensais para ver a produção de anticorpos. Já estávamos monitorando a eficácia da primeira e segunda doses, e agora ganhamos um edital da Faperj para fazer o mesmo com pacientes que tomaram a terceira dose”, detalha.
O Nupem se guiou pela multidisciplinaridade. Cintia é biomédica e não atuava na área de virologia, a exemplo de outros colegas envolvidos na pesquisa. Estudava imunologia de invertebrados marinhos. Ela foi uma das voluntárias recrutadas pelo professor Rodrigo Fonseca, coordenador dos testes. Mas adaptar seu trabalho não foi tão complicado. “Todo cientista tem o método científico dentro de si. Sem o apoio que tivemos de especialistas na área, não teríamos todo esse êxito. Foi um conjunto de pessoas com vontade de trabalhar e pessoas com boas ideias relacionadas à Ciência”, diz Cintia. A professora faz questão de ressaltar o apoio dos pesquisadores Amilcar Tanuri, Orlando Ferreira e Leda Castilho, da Coppe. “Eles foram muito gentis com a gente”.
Jornada parecida teve a professora Ana Petry, especialista em ecologia de peixes de lagoas e ambientes costeiros. “Quando soube que os professores estavam começando a se mobilizar para começar os primeiros testes, eu me ofereci. Como entendia de planilhas de Excel, comecei ajudando a organizar o estoque e a calcular a demanda por insumos”, conta a professora, que também trabalhou na higienização dos laboratórios. Em seguida, Ana ajudou na análise dos dados coletados. “Na ecologia, temos formas de analisar os dados que se mostraram muito adequadas para analisar os dados dos infectados. Ficou um trabalho muito multidisciplinar”, explica.
Ana destaca a importância dos resultados alcançados em uma cidade com as características de Macaé, onde o mercado de petróleo gera um fluxo permanente de pessoas chegando e saindo o tempo todo. “Aí está a importância da universidade pública, que foi capaz de fornecer respostas rapidamente para o gestor público”, avalia. A localização dos casos era compartilhada o tempo inteiro com a prefeitura, que tomava as decisões de combate à pandemia. Um esforço que rende frutos até agora: Macaé possui a menor taxa atual de letalidade (2,1) entre os municípios com mais de 500 mil habitantes do estado fluminense.
 “O investimento em testagens fez muita diferença para uma cidade que, possivelmente, estaria fadada a ter números piores de casos e mortes. Essa história poderia servir de exemplo para muitos outros lugares”, conclui Ana.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Uma decisão da justiça determinou que a UFRJ e outras instituições federais de ensino do Rio de Janeiro devem retomar as aulas presenciais em até 15 dias. O desembargador Marcelo Pereira da Silva, do Tribunal Regional Federal, deferiu liminar do Ministério Público Federal que exigia a volta do ensino presencial.  Anteriormente, uma juíza da primeira instância havia rejeitado o pedido, alegando que as instituições têm autonomia para definir seu calendário.  
A UFRJ vinha debatendo internamente o retorno presencial e já havia apresentado ao Ministério Público um plano de retorno, no qual as aulas práticas seriam retomadas em novembro. A universidade vai recorrer e alegará que o desembargador violou a autonomia universitária e que a falta de tempo e de orçamento impedem o cumprimento da sentença, como discutido na página 5 desta edição do Jornal da AdUFRJ.   
A autonomia universitária é um princípio constitucional, que resguarda uma série de liberdades de alunos, professores e gestores de qualquer intervenção por razões ulteriores aos propósitos de ensino e pesquisa que orientam a instituição. No artigo 207, a Carta de 1988 estabelece: “As  universidades gozam de autonomia  didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial” e “obedecerão  ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Salvaguardar esse princípio é lutar pelo Estado de Direito e pelas demais garantias estabelecidas pelo nosso arcabouço constitucional.
No atual contexto, a Constituição sofre graves ameaças por parte de atores políticos e sociais inconformados com seu caráter progressista. A autonomia universitária protege a liberdade de cátedra, a atividade estudantil e, sobretudo, a pesquisa e a Ciência de quaisquer interferências políticas e econômicas. Esses são espaços de contestação e diversidade que, sem essas proteções, ficam vulneráveis a silenciamentos e opressões.
É importante lembrar que a UFRJ não parou de trabalhar em nenhum momento ao longo da pandemia. Mesmo imediatamente após a decisão de interromper as aulas  nos campi, especialmente a área de Saúde manteve intensa atividade no combate à pandemia, de atendimento à população, de pesquisa e de solidariedade com os mais necessitados. A retomada das atividades didáticas remotas em caráter emergencial foi debatida e decidida nos colegiados.
Ao longo de todos esses meses, a vida acadêmica tem acontecido com muitas dificuldades e restrições que todos nós, professores, estudantes e técnicos, temos enfrentado. O resultado foi que o ano letivo de 2020 teve três períodos na graduação, com poucos dias de intervalo entre eles. O descompasso entre os períodos letivos da graduação e da pós-graduação aumentou a carga de trabalho e a impossibilidade de descanso para uma parcela considerável de professores que lecionam tanto na graduação quanto na pós-graduação.  
O nosso entendimento é que o ensino híbrido (algumas disciplinas no modo online e outras no modo presencial), previsto na própria sentença do desembargador, já foi regulamentado no último CEG. Temos disciplinas práticas em curso em várias unidades e elas vão aumentar a partir do dia 16 de novembro. Defendemos que a universidade se mantenha trabalhando desta forma até o final de 2021.2, mesmo que o recurso da UFRJ não seja acatado pela Justiça.
Mas claro que para a volta completa ao ensino presencial precisamos da recomposição do orçamento da UFRJ. O orçamento para 2021 é 38% do orçamento de 2012 em valores corrigidos pela inflação. Tal  recomposição é fundamental para o retorno presencial. Salas de aulas necessitam ser ventiladas, prédios sem uso há um ano e meio necessitam de manutenção.
A volta ao ensino presencial sem o devido planejamento pode ter consequências danosas para os alunos, tanto de graduação quanto de pós-graduação. A pandemia não instaura apenas uma crise sanitária, mas também econômica, social e psicológica. Em virtude disso, muitos dos nossos alunos precisaram retornar às cidades de origem. Voltar à universidade para esses estudantes não é um processo trivial. Será necessário apoio e recursos para o acolhimento.
O Consuni desta quinta-feira aprovou uma resolução que reorganiza o retorno ao trabalho presencial. Essa resolução foi construída numa comissão presidida pelo professor Fernando Rochinha, da qual a AdUFRJ participou. Foram aprovadas as diretrizes para a volta ao trabalho presencial com o devido cuidado com o corpo social da UFRJ. A partir do dia 3 de novembro, os professores, estudantes e técnicos completamente vacinados poderão frequentar a universidade, observando-se todos os cuidados sanitários estabelecidos pelos dois GTs da UFRJ (Multidisciplinar e Pós-Pandemia) que tratam da covid-19.
A administração vai exigir o certificado de vacinação, e nisso sempre teve o apoio da AdUFRJ e do SINTUFRJ. Especialistas ouvidos pela reportagem do Jornal da AdUFRJ argumentam que: 1) as universidades têm autonomia para definir seus critérios de combate à pandemia e normas internas para segurança de seu corpo social; e 2) o entendimento do STF indica que o Estado não pode forçar que o cidadão se vacine, mas pode determinar sanções como, por exemplo, impedir a circulação em órgãos públicos.
Outra questão é que a norma brasileira prevê que crianças em idade escolar não podem ser matriculadas em instituições de ensino públicas (ou privadas) se não estiverem com o calendário de vacinação em dia, pois arriscam a saúde de toda a comunidade escolar. E pais que não vacinam seus filhos podem ser denunciados às autoridades competentes. Esses são pontos que poderiam ser lidos como “jurisprudência” favorável à obrigatoriedade da vacinação para frequentar espaços públicos, como as universidades. Em outros países, o Estado tem agido de forma a obrigar a vacinação e as ações contrárias partem dos movimentos antivax, enquanto no Brasil o Estado faz o papel do antivacina ao dificultar sanções a pessoas que recusem a vacinação. Sobre esse tema, contamos com um artigo da nossa colega Ligia Bahia, professora do IESC, na página 4.
E por falar em contribuição valiosa, o professor Ennio Candotti, ex-colega do Instituto de Física, presidente de honra da SBPC e uma voz sempre lúcida, comenta  na página 6 o ataque ao conhecimento científico que caracteriza os nossos tempos, e como ele  atende a um projeto político e econômico antidemocrático.
Outra reportagem interessante, na página 8, é sobre o estudo de cientistas brasileiros, entre os quais pesquisadores da UFRJ, que identifica registros de incêndios florestais na Antártica há milhões de anos, e alerta para o risco das mudanças climáticas.
E, finalmente, nesta edição, os sindicalizados poderão conferir na coluna ao lado, uma lista parcial de convênios que a AdUFRJ está promovendo com empresas no setor de serviços. Estamos trabalhando para expandi-la.  
Uma boa leitura e um bom fim de semana!

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