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Kelvin Melo e Beatriz Coutinho

No Centro de Ciências da Saúde, a salubridade do ambiente acadêmico deveria ser um princípio básico. Mas a realidade é outra, como mostra esta segunda parte da série de reportagens do Jornal da AdUFRJ sobre os problemas de infraestrutura da universidade.
Risco de incêndio, biblioteca interditada por contaminação de fungos, infestação de cupins, salas sem ventilação adequada, goteiras e banheiros fechados desafiam o cotidiano da comunidade acadêmica. Ao indigesto cardápio de obstáculos, soma-se a insegurança nos estacionamentos em torno do prédio. Enquanto trabalhava na terça-feira, dia 10, um professor teve o carro arrombado. O estepe foi levado. A decania do CCS respondeu sobre os estacionamentos, mas não atendeu aos demais questionamentos da reportagem.

Estacionamento: furtos, buracos e escuro

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29Professor do Instituto de Biologia, Fábio Hepp é uma das vítimas mais recentes da conhecida insegurança dos estacionamentos do Centro. No dia 10 de maio, enquanto o docente trabalhava, seu carro da marca Kwid foi invadido e o estepe, furtado. “É horrível a sensação de alguém ter entrado no carro”, disse.
Como o estepe precisou ser desaparafusado e o interior do carro estava mexido, o docente acredita que o furto levou um certo tempo. A área, perto do Banco do Brasil, é mal iluminada. “A pessoa entrou no carro e conseguiu fazer tudo com calma, porque não havia iluminação adequada”, afirmou. “Estou muito frustrado. O estacionamento está uma bagunça. Está difícil de lidar com a quantidade de carros e as pessoas estacionando de forma irregular”, completou.
Michelle Melo, pós-doutoranda de Farmácia, concorda. “Dependendo do horário que você chega aqui, não tem vaga”. A estudante tem evitado se deslocar de carro para o Fundão. “Primeiro pela questão do custo. Mas também por que não é seguro. A iluminação em frente ao prédio novo da Farmácia é péssima, é muito escuro”.
“Nós estamos fazendo o recadastramento de usuários dos estacionamentos”, respondeu o decano do CCS, professor Luiz Eurico Nasciutti. “Como tivemos cortes importantes no número de vigilantes, não temos condições de deslocar ninguém para os acessos dos estacionamentos. Mas a reitoria está com um edital para ser lançado para contratação de porteiros”. Em conjunto com a Prefeitura Universitária, a decania está instalando refletores nos prédios.
Há ainda muitos buracos no estacionamento, que colocam em risco a segurança dos usuários. Uma técnica já se machucou no local. “Estamos contando com a ajuda da Prefeitura Universitária para a reposição de asfalto nos estacionamentos. Infelizmente, isto depende da Prefeitura Municipal e estamos aguardando”.

Brigadistas chamados 150 vezes em 9 anos

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 1Desde a criação, em 2013, a Brigada Voluntária do CCS já atuou em 110 incêndios ou princípios de incêndio e 40 acidentes químicos. Os números refletem um prédio degradado. “Desses 110 casos, 90% ocorreram por falha elétrica”, esclarece um dos coordenadores da brigada, Lucas Pinho. Só na semana passada, o grupo enfrentou dois princípios de incêndio e um vazamento de gás.
O último incidente, contido em 20 minutos, foi seguido de uma onda de desinformação. Tuítes nas redes sociais diziam que as aulas haviam sido suspensas e que o prédio estava sendo evacuado. Nada disso ocorreu. “Para resolver este problema, vamos lançar no segundo semestre o plano de emergência e evacuação do CCS. Ele já deveria estar pronto, mas a pandemia atrapalhou”, diz Lucas, que também ocupa a função de coordenador de biossegurança do Instituto de Biofísica.
Será um plano dentro das possibilidades orçamentárias da universidade. “Ainda vai faltar alarme, ainda vai faltar rede de água. Não temos rede de água aqui. São R$ 18 milhões para fazer esta adequação”, afirma Lucas. “Ilhas” com extintores podem ser vistas pelos corredores, mas a brigada dá preferência a um spray antichama, nas ações. No bloco N, mais novo, há rede de água, mas as mangueiras foram roubadas.
Para diminuir riscos, Lucas estima que o prédio deveria contar com mais de 500 brigadistas voluntários — hoje, são 150. Mas não se trata de um problema de adesão de pessoal. “Quando abrimos vagas, elas costumam lotar no primeiro dia. Mas oferecemos poucas vagas, porque nosso orçamento é zero, há quatro anos. Antes, a gente usava o dinheiro de edital de eventos, que não existe mais. Hoje, vivemos de doações e resto de orçamento da decania”. A última aula prática do curso custa R$ 9 mil por cada grupo de 30 alunos, em um centro credenciado. “Treinamos 30, mas temos capacidade para treinar até 360 brigadistas por ano”, lamenta Lucas.
Enquanto a brigada voluntária luta contra as chamas e contra a falta de dinheiro, a comunidade acadêmica não esconde o receio com um futuro incidente. Amada Andrade, estudante do 3º período de Farmácia, projeta as dificuldades que teria no caso de algum incêndio no subsolo do prédio, onde tem aulas. “São poucas saídas e as escadas são apertadas. É bem preocupante”, afirma.

Biblioteca interditada desde 2017

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 2Uma joia da UFRJ, a Biblioteca Central do CCS foi interditada em setembro de 2017 devido a uma contaminação por fungos. E até hoje não reabriu plenamente, à espera de higienizações e reformas que precisam ser feitas no local. Desde abril de 2018, apenas um espaço temporário funciona para retirada dos livros mais consultados pelos alunos.
“Todo o resto, como obras raras, teses e revistas, está interditado”, afirma a diretora da biblioteca, Celeste Torquato. “Volta e meia, recebo telefonema de um pesquisador de outro estado qualquer e não tenho a menor condição de atender”, diz, sobre o acervo mais antigo.
O saldo deste problema é uma geração inteira de alunos que não teve a oportunidade de conhecer os 6 mil m2 da biblioteca, como Patrick Medeiros, já no 7º período da Biomedicina. Ele, que tinha acabado de pegar um livro emprestado, iria estudar no prédio da Farmácia. “De vez em quando, vou para o CCMN ou CT, que têm bibliotecas”.
Do outro lado do corredor onde fica a biblioteca, improvisou-se uma pequena sala de estudos. Mas é pouco. “Os alunos foram muito prejudicados. A perda é muito grande”, lamenta Celeste. Para minimizar os prejuízos à formação dos estudantes, em abril começou uma obra para reabrir mais um trecho da biblioteca, ainda este ano. A reforma só ocorre graças a uma emenda parlamentar obtida no ano passado.

Goteiras em vários pontos

Goteiras e infiltrações no prédio interditam espaços e prejudicam as atividades acadêmicas. Um exemplo WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 5 é a sala do subsolo que estava sendo preparada para receber a coleção entomológica do Departamento de Zoologia. Está tomada por fungos. Durante a pandemia, não foi possível fazer a transferência e a sala ficou fechada. “Se tivéssemos feito essa transferência, teríamos perdido grande parte da coleção. Certamente, o crescimento desses fungos é consequência de uma infiltração que vem da parte externa do prédio”, afirma o professor Nelson Ferreira Júnior, do Instituto de Biologia.

Bichos indesejados

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 3Ambientes fechados durante a pandemia, com mobiliário de madeira, favoreceram a infestação de cupins. No laboratório didático do Instituto de Biologia, de seis armários, três foram bastante comprometidos pela ação dos insetos. “O meu armário já não tinha prateleiras. Tinham desmoronado. Como sou chefe de Departamento, levei o assunto à direção. A expectativa é desmontar esses armários e montar estantes de metal, no lugar, na próxima semana”, explica o professor Paulo de Paiva. “Vi que as estantes de metal já estão no corredor. Acredito que os armários serão trocados logo”.
Mas os cupins não são os únicos bichos indesejados no CCS. Alguns locais também recebem visitas de ratos. Duas funcionárias do serviço terceirizado de limpeza relataram à reportagem a presença dos roedores dentro das lixeiras do bloco A. Parte da tampa de uma delas estava carcomida.

 

Calor e falta de banheiros dificultam aulas

Salas sem ar-condicionado, especialmente no subsolo, e falta de banheiros em boas condições desgastam quem trabalha ou estuda no CCS. WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.44.29 4
Doutoranda em Anatomia Patológica, Joana Vicentini enfrenta interrupções da água no prédio, há três semanas. “Quando falta água no CCS, é muito complicado. Principalmente porque os banheiros ficam interditados. Isso traz também um problema sanitário muito grande para os alunos e para os professores que têm atividades práticas”, afirma.
A pedido dos próprios alunos, a professora Alice Simon, da Faculdade de Farmácia, conseguiu remanejar a turma de uma sala sem ar-condicionado, no dia 10. “Não tem nenhuma janela. Aqueles basculantes nem sei se abrem. É muito difícil trabalhar em dias de temperaturas altas. Na semana passada, meus colegas deram aulas na outra sala e saíram pingando de suor”.

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.55.57As condições de trabalho e ensino na UFRJ preocupam a comunidade acadêmica. Um mês após a volta das aulas presenciais da graduação, são muitas as queixas sobre a infraestrutura da universidade. Nesta semana, um professor titular do Instituto de Química ficou preso no elevador do Bloco A do Centro de Tecnologia com outras quatro pessoas (leia aqui). O incidente motivou uma carta de reivindicações, redigida por professores da unidade e assinada por mais de 400 pessoas. O documento foi parcialmente lido pela decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, professora Cássia Turci, no Conselho Universitário de 12 de maio e enviado à reitoria.

“Se providências não forem tomadas, nós seremos obrigados a suspender todas as atividades do Instituto de Química”, diz trecho da carta lida pela decana. “Nós temos quatro cursos de graduação, vários de pós-graduação. Além dos nossos cursos, atendemos outras dez unidades”, continuou Cássia, que também é professora titular do Instituto de Química. “Ou seja, nós temos 4.400 estudantes que circulam naquela área”, afirmou. “Como estamos no quarto, quinto, sexto e sétimo andares, sofremos mais com a questão dos elevadores”, concluiu a professora.

Representante dos associados do CCMN, o professor Carlos Riehl também criticou as condições precárias dos elevadores e reclamou da iluminação insuficiente no Fundão. “Ali na região atrás do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobrás) está sempre sem luz. Ficamos várias semanas sem luz alguma no estacionamento do CT”, destacou. “Isso coloca toda a comunidade em risco. Solicito que a reitoria melhore a iluminação. Quem tem que sair à noite está sempre sujeito a imprevistos”. O problema foi tema de reportagem do Jornal da AdUFRJ na semana passada, assim como os elevadores do CT. Esta semana, o jornal continua a série de reportagens sobre condições de trabalho.

Pró-reitor de Gestão e Governança, André Esteves deu alguns informes sobre o drama dos elevadores. “A PR-3 pediu aporte ao MEC para a correção desse problema, mas ainda não houve resposta. Há uma licitação geral em curso, para toda a UFRJ, que inclui esses elevadores”, disse André. “Há, também, um processo contra a empresa que faz a manutenção dos equipamentos”, acrescentou. “E há uma análise de preços em andamento para renovação e compra desses elevadores”.

O pró-reitor aproveitou o momento para falar sobre os bandejões que apresentaram, segundo ele, nos últimos dias, uma redução de filas com estabilização do atendimento em 25 minutos. “O CT2, antigo Burguesão, deve iniciar as operações, no máximo, até julho”.

“A reitoria está atenta”, declarou a reitora, professora Denise Pires de Carvalho. “É muito difícil a nossa situação, mas a gente vai continuar avançando”. Ela atribuiu os problemas de infraestrutura à crise orçamentária das universidades federais, promovida a partir de 2016 e aprofundada no governo Bolsonaro. “O financiamento insuficiente leva a esses problemas, mas quero fazer um apelo para que os gestores da universidade tragam à administração central as solicitações”, pediu. “As pró-reitorias estão tentando atender ao máximo possível as demandas, com solicitações de orçamento emergencial e pedidos de complementação ao MEC”, revelou.

MEDALHA DO MÉRITO
A professora Anita Leocádia Prestes, aposentada do Instituto de História da UFRJ, será agraciada com a Medalha Minerva do Mérito Acadêmico. A indicação do IH foi aprovada por aclamação pelo Consuni. A honraria é concedida a docentes que se destacam por sua produção acadêmica e relevância social. É dada a professores que não são titulares e, por isso, não podem se tornar eméritos da universidade. Anita se aposentou como associada.

Filha de Luís Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, sua vida se confunde com sua trajetória política e acadêmica. “É muito importante que a UFRJ homenageie hoje uma cientista, uma mulher, uma historiadora, uma comunista”, afirmou o professor Fábio Lessa, titular do Instituto de História.

A reitora, professora Denise Pires de Carvalho, se emocionou. “A honra é toda minha. Imagino que será uma cerimônia presencial muito bonita, uma festa da democracia, uma festa da justiça social”, declarou. “Vamos conseguir construir um futuro melhor para todos nós sem perdermos as referências do passado”.

Na mesma sessão, foi aprovada – também por aclamação – a emerência do professor titular Frederico Augusto Liberalli de Góes, aposentado da Faculdade de Letras. O docente é um dos expoentes da universidade e do país em sua área.

Já o pintor Oscar Araripe é o mais novo Doutor Honoris Causa da UFRJ. Egresso da Faculdade Nacional de Direito, o artista é uma personalidade reconhecida nas artes plásticas. Antes de se dedicar à pintura, foi escritor, tradutor e crítico de teatro.

A comunidade da UFRJ assistiu, no dia 27 de abril, ao filme “Ciência: Luta de Mulher”. “Nosso objetivo é mostrar diferentes origens, trajetórias e fazeres científicos, para ampliar o espectro de identificação de jovens mulheres, que poderão ver na Ciência um lugar também pra elas”, disse a professora Mayra Goulart, diretora da AdUFRJ, no evento realizado no Fórum de Ciência e Cultura.

Antes da exibição, uma mesa inteiramente feminina saudou a produção do Observatório do Conhecimento — rede de associações e sindicatos docentes da qual a AdUFRJ faz parte. Coordenadora do Fórum, a professora Tatiana Roque relatou como ocorreu a separação de gêneros no fazer científico, a partir do século XIX. A situação deu origem ao que a docente classificou como “machismo epistemológico”. “Aí eu entendi muita coisa sobre mulheres na Ciência, sobre como nos sentimos sempre deslocadas”.
A professora Tatiana Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas, apresentou uma perspectiva em sua área de atuação. “Na minha trajetória pessoal e profissional, eu nunca me senti oprimida, mas nós sabemos que existe uma cobrança maior sobre as mulheres”, contou.

Completaram a mesa as estudantes Julia Vilhena, represntante do DCE, e Natália Trindade, da Associação de Pós-graduandos, além da diretora do filme, Rithyele Dantas.

SURPRESA
O evento contou com uma aparição inesperada da pesquisadora e hacktivista Nina da Hora, uma das personagens retratadas no filme. Ela saudou a diversidade contida na produção. “Temos que acabar com essa ideia de que apenas as histórias extraordinárias, dentro de um padrão que a sociedade estabeleceu, são importantes. Todas as histórias são extraordinárias”, defendeu.

Após ser exibido pelas entidades que compõem o Observatório do Conhecimento, o documentário será disponibilizado ao público pelo Youtube.

A Lei de Cotas para o Ensino Superior completa dez anos em 2022, prazo previsto pela própria legislação para ser revista. E uma ação apoiada pelaWhatsApp Image 2022 05 13 at 18.55.56 AdUFRJ vai trazer a discussão em torno da defesa da manutenção do sistema de cotas para dentro da UFRJ. “Um passo pra dentro e muitos pro mundo” é uma campanha da Perifa Connection, da Coalizão Negra por Direitos e do Observatório do Conhecimento que vai promover o debate sobre as cotas na universidade, apresentando argumentos favoráveis à política para os integrantes da comunidade acadêmica.

A ação começa na segunda-feira (16). A primeira semana será dedicada à panfletagem e a conversas nos bandejões da universidade. Mas a campanha também prevê a montagem de bancas em pontos centrais dos campi, rodas de conversa e diálogos nas salas de aula. Para isso, a AdUFRJ convida os professores a participar da campanha, cedendo dez minutos das suas aulas para que os mobilizadores possam conversar com a turma. Os professores que tenham interesse em receber a campanha podem entrar em contato com os organizadores através do formulário disponível em bit.ly/dialogocotas.

Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório do Conhecimento, falou da importância da campanha. “Fica o convite aos professores, para podermos ampliar o espaço de reverberação e reflexão sobre a importância dessa política pública para os cotistas, para a universidade e para o país”, observou Mayra. A professora explicou que o Observatório e a AdUFRJ entraram na campanha pela importância da defesa da política de cotas. “Achamos importante oferecer para a sociedade civil e para a universidade insumos para atuar em defesa dessa que acreditamos ser uma das principais políticas públicas do século 21”, defendeu.

“As cotas devem ser mantidas porque vamos conseguir, para as próximas gerações, transformar o imaginário social das pessoas negras. Para que elas entendam que a universidade é um lugar para elas”, defendeu Vitor Matos, ativista, doutorando da UFRJ que pesquisa os efeitos da política de ação afirmativa. “O percentual pequeno de negros que consegue acessar as cotas raciais não é proporcional aos 56%, segundo a última pesquisa do IBGE, de negros na sociedade brasileira”, explicou ele, que é técnico da UFRJ e faz parte da Câmara de Políticas Raciais e da Comissão de Heteroidentificação da universidade.

Vitor, que participou da formação dos mobilizadores que vão atuar na campanha, acredita que a política de cotas deve ser mantida ou ampliada, não diminuída. Para o pesquisador, a política teve êxito, mas é importante que a comunidade universitária seja sensibilizada sobre o tema. “A AdUFRJ, como entidade de classe, acerta ao encampar essa discussão e trazer a conscientização para dentro dos campi”, disse.

Aluna da FND, Thuane Nascimento é coordenadora da Perifa Connection e será uma das mobilizadoras na ação na UFRJ. Para ela, a participação dos professores é essencial, pela importância da docência na vida universitária. “Eles que estão ali fomentando, introduzindo os diversos saberes, técnicos e da vida, a forma de pensar, de construir a epistemologia. Sem os professores, a mobilização perderia muito”, apontou Thuane.

Afeto, esperança e união contra os desmandos do governo. O 1º de Maio deste ano teve clima de reencontro após dois anos sofridos de pandemia. No Rio, a manifestaçãoWhatsApp Image 2022 05 06 at 20.43.533 foi convocada em conjunto pelas centrais sindicais nacionais e aconteceu no Aterro do Flamengo, com pouca participação de trabalhadores, mas com longos abraços e sorrisos dos manifestantes. A AdUFRJ montou uma barraquinha com bolo, sucos, lanches e ambiente acolhedor. Os professores da UFRJ atenderam ao chamado do sindicato e marcaram presença na atividade.

“Esse 1º de Maio tem um clima afetivo, festivo. Fomos presenteados com um belo dia de sol, num ato com várias centrais sindicais. É um momento muito importante de valorizarmos a democracia”, opinou a professora Maria Paula Araújo, do Instituto de História. A docente, que já foi diretora da AdUFRJ, acredita que o clima diferente não tem relação só com a pandemia. “Foram 3 anos de massacre absoluto de um governo que o tempo todo produz violência. Esse é um pequeno momento em que a gente tem oportunidade de se reencontrar para aglutinar forças”.

Presidente da AdUFRJ, o professor João Torres destacou a pluralidade do ato e a necessária unidade do campo progressista em torno das grandes questões nacionais. “Aqui havia representações de várias categorias: domésticas, ferroviários, petroleiros, metroviários, educação básica e superior, partidos políticos”, disse. “É importante que toda essa representatividade se converta em ações que coloquem no debate público os graves problemas pelos quais passa o país”, apontou o dirigente. “As famílias estão endividadas, a Educação vive seu pior momento, não há recursos para o desenvolvimento nacional e tudo por escolhas políticas do atual governo. É preciso que toda essa pauta impulsione o debate político de 2022 para que a gente derrote Bolsonaro”.

Cleusa Santos, professora aposentada da Escola de Serviço Social, também estava no ato e passou pela banquinha da AdUFRJ. “Esta data é um marco histórico. No pós-pandemia, estamos resgatando a disposição e possibilidade de estarmos nas ruas”, afirmou. A docente, que já foi diretora e presidente da AdUFRJ, comentou sobre a pouca adesão dos trabalhadores. “Retomar o processo democrático já tão destruído tem mostrado algumas dificuldades. Nem todos que são contra o atual governo voltaram para as ruas. Precisamos que este seja um momento de retomada dessa mobilização”.

A coordenadora-geral do Sintufrj, Neuza Luzia Pinto, destacou o caráter simbólico da data. “O ato de hoje nos indica que é na rua que os trabalhadores vão conseguir derrotar Bolsonaro”, disse. “Desejo que hoje seja um marco para que a gente atinja a consciência crítica dos trabalhadores. São necessários mais atos, muitas manifestações para organizar a classe”.

WhatsApp Image 2022 05 06 at 20.43.532Outras associações docentes do Rio de Janeiro participaram da manifestação. Uma delas foi a Adur-RJ, da Universidade Federal Rural. A presidente, professora Elisa Guaraná, chamou atenção para o processo eleitoral que se avizinha. “Bolsonaro não está derrotado. Essa unidade não pode ser só ‘fora, Bolsonaro’. É preciso indicar caminhos”, alertou a docente. “Precisamos mostrar que a gente defende um Brasil que combate as desigualdades. A gente precisa colocar os pobres na pauta. Uma massa da população brasileira enfrenta a fome! Isso é muito grave”, afirmou a professora. “Nossa luta é pela democracia e em defesa da sociedade brasileira”, concluiu.

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