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WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.23.21Foto: João LaetEnquanto governos municipais e estaduais liberavam a população do uso de máscaras, a UFRJ manteve a obrigatoriedade do item para quem frequenta as suas instalações. Medida básica de proteção contra a disseminação da covid-19, usar máscaras por um dia inteiro, porém, pode ser incômodo e cansativo. O Jornal da AdUFRJ percorreu algumas unidades da UFRJ para observar como está sendo o cumprimento da decisão da reitoria no dia a dia da universidade.
A discussão sobre esse tema reacendeu na universidade esta semana, depois de um apelo da reitoria para que a comunidade reforce o uso de máscaras, diante de um cenário de aumento do número de casos na UFRJ. “Fazemos um apelo para que todo o corpo social leia as recomendações e evite se aglomerar sem máscaras, o que acontece principalmente em eventos festivos. É lastimável que estejamos vendo um aumento no número de casos de positividade após eventos de aglomeração, mesmo em ambiente aberto sem o uso de máscara. Por favor, se cuidem e cuidem dos outros”, pediu a reitora, Denise Pires de Carvalho, em nota publicada pela UFRJ.
Segundo o Centro de Triagem Diagnóstica do Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (CTD/Needier/UFRJ), o número de casos positivos de covid-19 registrados pelo Centro subiu de 5%, em meados de abril, para 20% na semana passada.
É notório que a maior parte das pessoas na UFRJ está usando máscaras, mas ainda é possível ver alguns casos onde o item é deixado de lado. O quadro é mais grave em lugares com circulação de ar mais restrita, como os corredores do Centro de Tecnologia (CT), mas outras unidades também apresentam o problema. No edifício Jorge Machado Moreira, onde funcionam os cursos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e da Escola de Belas Artes (EBA), na Faculdade de Letras, no CCMN e nos prédios da Praia Vermelha há pessoas circulando pelos corredores sem máscaras. Sempre em menor número. A exceção foi o Centro de Ciências da Saúde (CCS): o uso de máscaras na unidade é rigoroso em todos os lugares. Talvez esse rigor seja explicado por se tratar de um centro de saúde.
Foi no CCS, inclusive, que a reportagem testemunhou o único caso de reprimenda por falta do uso de máscaras. Uma técnica alertou uma estudante, que não usava o item, sobre a obrigatoriedade do equipamento.
Máscaras são parte de um acordo coletivo de proteção mútua, e isso talvez explique porque elas são menos utilizadas em salas com um número menor de pessoas, como centros acadêmicos e até salas das administrações dos cursos. Foi muito comum encontrar pessoas sem máscaras nessas salas. Mas, por menor que seja o número de pessoas em uma sala, se a maioria dos presentes estiver sem máscara, cria-se um ambiente para que os demais também abram mão do item.

DIFICULDADES DOS
PROFESSORES
Um professor, que preferiu não se identificar, falou sobre as dificuldades de dar aulas de máscara. “A voz fica abafada, e os alunos têm mais dificuldade de entender o que estamos falando”, relatou. “Temos que falar mais alto, é mais cansativo”, acrescentou. O professor disse que cogita, em uma das suas turmas de pós-graduação, fazer um acordo com os alunos. “A turma tem seis alunos. Estou pensando em propor que eles se afastem um pouco mais, e eu possa dar aulas sem máscara. Mas vai depender do acordo com eles”.
Percorrendo os campi, são muitos os casos de professores dando aulas sem máscaras, em turmas com todos os estudantes devidamente de máscara. “Está acontecendo com as máscaras o mesmo que aconteceu com o comprovante de vacinação. É obrigatório, mas não há controle. No caso das máscaras, isso dá liberdade para que as partes façam acordos como esses”, comentou o professor.
Uma professora que dá aulas na Praia Vermelha, que também pediu para se manter anônima, confirmou que fez um acordo com uma de suas turmas. “São 23 alunos em uma sala para 40 estudantes. Todos nós estamos vacinados, então o risco é menor”, contou a professora. “Eu tive muita dificuldade de conseguir dar aulas de máscara. Não tinha fôlego para falar no tom de voz que eles pudessem me ouvir”, desabafou.
No dia 28 de abril, o Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 (GT Coronavírus) publicou uma nota recomendando que a UFRJ mantenha a obrigatoriedade do uso das máscaras nas instalações da universidade. Para o coordenador do grupo, Roberto Medronho, ainda não é o momento para abolir essa obrigatoriedade. “Essa decisão depende da redução do número de casos, de forma sustentável, em números bem menores do que continuam ocorrendo aqui no nosso município, e da cobertura vacinal completa, que ainda não atingiu nem a metade da população da cidade”, disse Medronho. O professor lembrou também que a cidade vê, nas últimas semanas, um aumento no número de casos de infecção e da média móvel de mortes pela doença.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Nesta edição, o Jornal da AdUFRJ traz o terceiro e último capítulo da série de reportagens sobre as más condições de trabalho no retorno às aulas presenciais, com foco nos problemas do edifício Jorge Machado Moreira, onde funcionam a reitoria, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e a Escola de Belas Artes (EBA). Patrimônio tombado pela Prefeitura do Rio em 2016, o JMM, como é carinhosamente chamado no campus do Fundão, é um sobrevivente. Resistiu a dois incêndios de grandes proporções nos últimos seis anos e, literalmente, vem ressurgindo das cinzas. As obras que timidamente vêm saindo do papel no JMM, como mostramos nas páginas 4 e 5, são um sopro de esperança para que a UFRJ consiga, aos poucos, recuperar sua infraestrutura, ainda mais combalida após dois anos de pandemia.
Diretora da EBA, a professora Madalena Grimaldi é otimista. “A palavra do momento é esperança”, sintetiza ela, diante dos esboços de recuperação que se espalham do 5º ao 8º andares do edifício, atingidos pelo incêndio de 2016. Alguns melhoramentos, como o reforço nos pilares de sustentação do prédio e a impermeabilização das lajes, são imperceptíveis aos olhos de quem trabalha ou estuda no JMM, mas representam um início de reconstrução. “Ainda há muito que fazer”, admite o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha. Ele informou que estão sendo gastos R$ 12 milhões nas obras do JMM, volume bem aquém dos R$ 50 milhões necessários para a conclusão dos trabalhos.
A escassez de recursos para tocar o dia a dia da UFRJ, exposta pela própria reitora Denise Pires de Carvalho no Consuni do dia 12 de maio, que debateu as más condições de infraestrutura da universidade, é evidenciada por um estudo inédito do Observatório do Conhecimento, tema de nossa matéria da página 3. De 2014 para cá, e a partir de 2016 de forma mais acentuada, os orçamentos destinados à educação superior e à Ciência sofreram cortes da ordem de R$ 84 bilhões. Só a UFRJ deixou de receber, nos últimos sete anos, quase R$ 700 milhões.

Divulgado no dia 16, o estudo do Observatório do Conhecimento inclui uma rica e necessária ferramenta de monitoramento da evolução das verbas para o conhecimento no país — o Monitor do Orçamento do Conhecimento — que será, em breve, disponibilizada de forma virtual para toda a sociedade. O trabalho mostra como a falta de investimentos emperra o desenvolvimento e a modernização do país. “Sem investimento, a gente aborta vários futuros possíveis”, constata a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ e coordenadora do Observatório do Conhecimento. Segundo ela, um dos reflexos desses cortes é a evasão de alunos dos cursos de pós-graduação. “Eles estão saindo porque não têm bolsas, não têm financiamento para suas pesquisas, e estão dentro de uma universidade degradada no seu espaço físico”, observa.
Diante desse cenário nada promissor, os caminhos possíveis para as universidades e para os docentes são temas de duas iniciativas que também abordamos nesta edição. Uma delas é a Cátedra Aloísio Teixeira — Universidade do Futuro, do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE), que teve seu primeiro seminário na quinta-feira (19). Mediado por Maria Fernanda Elbert, professora do Instituto de Matemática da UFRJ e coordenadora da cátedra, o primeiro dos 15 debates que o projeto pretende realizar ao longo de 12 meses reuniu o sociólogo André Botelho, o físico José Abdalla Helayël-Neto e o antropólogo Rodrigo Rosistolato sobre o tema “A consolidação da universidade como espaço de legitimação de conhecimento no mundo”. Confira na matéria abaixo.
A outra iniciativa parte da AdUFRJ e aborda os desafios da carreira docente, tão atacada pelo desgoverno Bolsonaro. O mote são os dez anos de implantação da Lei 12.772, de 2012, que estruturou o plano de carreira e cargos do Magistério Federal. De lá para cá, a carreira docente sofreu retrocessos os mais diversos, que serão debatidos em duas mesas no próximo dia 27, no campus da Praia Vermelha. Mediadas pelas professoras Mayra Goulart e Ana Lúcia Fernandes, diretoras da AdUFRJ, as mesas contarão com a participação de diretores e ex-diretores de associações de docentes de vários estados. Veja a programação completa na página 8 e participe!


WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.15.13A AdUFRJ e a APG convidam para o debate “Ciência e Tecnologia para a reconstrução do Rio de Janeiro”, a ser realizado na próxima segunda-feira (23), a partir das 12h, no auditório do bloco A do Centro de Tecnologia do campus do Fundão. Participam do encontro o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, o presidente da Alerj, deputado estadual André Ceciliano (PT-RJ), pré-candidato ao Senado, e a professora Tatiana Roque, do Instituto de Matemática, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. O debate é o primeiro de uma série com professores e políticos sobre a conjuntura nacional e estadual. O próximo será no dia 6 junho, com o professor Eduardo Serra, da Escola Politécnica, pré-candidato do PCB ao governo do Rio.
Boa leitura!

Ana Beatriz Magno e Silvana Sá

Quem frequenta os corredores movimentados do Centro de Tecnologia não imagina o que se passa bem debaixo dos seus pés. Entulho, fios expostos,WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.56.00 equipamentos descartados, obras abandonadas, água, lama, insetos, ratos estão a um tropeço das saídas de emergência de laboratórios de ponta da Coppe.

O local, um estacionamento nunca concluído, com trechos em terra batida, percorre toda a extensão do Bloco I e tem ramificações até as escadas dos fundos dos blocos C ao G do CT. “Trabalho aqui há 16 anos e sempre foi assim. Na realidade, melhorou um pouco. Antes não era possível caminhar por aqui”, conta um trabalhador da manutenção que pediu para não ser identificado.

“Quando a Boate Kiss pegou fogo, um professor da Coppe foi entrevistado pela Globo, para falar de segurança. Pensei: será que ele não conhece o subsolo de onde ele trabalha?”, lembra.

Quando chove, a água alaga os corredores. Bombas ficam encarregadas de drenar todo o volume acumulado para fora do prédio. Canos com descarte de água de diferentes naturezas são direcionados para uma “vala”. Alguns aparentam ser descarte clandestino de esgoto.

O Setor de Segurança do Trabalho do CT faz vistorias recorrentes. “Sempre documento tudo, fotografo tudo, peço providências”, relata a gerente do setor, a engenheira de segurança Rosane Detommazo. “A diretoria da Coppe tem conhecimento, a decania do CT também. É um ambiente insalubre tanto pelo risco à saúde quanto pelo risco de incêndio”, conta a engenheira. “Ali existem laboratórios que não deveriam estar no subsolo, mas as coisas vão se expandindo sem planejamento”.

“A gestão desse espaço é do Centro de Tecnologia”, defende-se o professor Ericksson de Almendra, diretor de Planejamento, Administração e Desenvolvimento Institucional da Coppe. “É claro que existem queixas, mas o subsolo do Bloco I é uma das situações que mais melhoraram nos últimos dez anos”, afirma. Ele fez uma visita guiada com a reportagem. “Classifico o subsolo do Bloco I em cinco níveis, desde o nível A, que é o laboratório de primeira linha, até o nível E, que é o pântano”, reconhece. “Nossos laboratórios têm saída de emergência, têm circulação de ar forçada”.

A Coppe entregou à decania do CT um novo projeto para ocupação de mais uma parte do subsolo. O “pântano” existente entre os blocos E e F será transformado em depósito. A obra, segundo Ericksson, deve ficar pronta em três meses.

“A política do CT é não ocupar o subsolo”, rebate o decano do centro, professor Walter Suemitsu. “Não é o local apropriado para ter atividades”, reforça. “Manter um laboratório no subsolo é muito caro. Exige impermeabilização potente, ventição mecânica, reformas bastante caras. Consome muitos recursos”.

Um dos problemas observados pela reportagem, o entulho que se acumula nas galerias do subsolo, é problema antigo, segundo o decano. “Já tiramos vários caminhões de entulho lá de baixo, mas o problema volta. Pedimos apoio aos coordenadores de curso e diretores das unidades para que não haja descarte naquele local”, diz.

Em relação às subestações de energia, que ficam em áreas alagadiças, o decano afirmou que o projeto é retirá-las do subsolo, mas faltam recursos. “É um trabalho que demora bastante e exige orçamento.”

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WhatsApp Image 2022 05 20 at 20.03.23

WhatsApp Image 2022 05 13 at 18.49.26Alexandre Medeiros e Beatriz Coutinho

Acenderam a luz no quarto escuro e encontram uma infestação de mosquitos. É assim que se sentem pesquisadores brasileiros frente ao aumento de casos de dengue no país, no início deste ano. O último boletim do Ministério da Saúde, publicado em 6 de maio, aponta 654.800 casos prováveis de dengue até o dia 30 de abril, com taxa de incidência de 307 casos por 100 mil habitantes. Em comparação com o mesmo período de 2021, o aumento foi de 135,1%.
O Centro-Oeste é a região que mais acumula casos, com taxa de 1.054,6 casos por 100 mil habitantes, seguida pelo Sul, com 539,5 por 100 mil habitantes. Alguns governos estaduais, como o do Paraná, e municipais, como os de Natal, Itabuna (BA), Araraquara (SP) e Blumenau (SC), já decretaram formalmente a epidemia de dengue. A Prefeitura de Goiânia, capital com maior número de casos no país, decretou estado de emergência na saúde pública.
No estado do Rio de Janeiro, segundo levantamento da Coordenação de Vigilância Epidemiológica, foram registrados 2.839 casos até 30 de abril, um aumento de 115,6% em relação ao mesmo período de 2021. “Diante do cenário epidemiológico da dengue, ficou caracterizado um aumento expressivo de casos registrados em alguns municípios do estado, sinalizando para uma possível situação de alta transmissão”, alertou, em nota, o secretário de Estado de Saúde, Alexandre Chieppe.
Para Ademir Martins, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, há três hipóteses que podem justificar o aumento dos casos. A primeira é a subnotificação. Em dois anos de pandemia, os sistemas de vigilância de doenças, não só da dengue, ficaram muito prejudicados. Ou seja, houve uma falha nesses diagnósticos, ao mesmo tempo em que muitas pessoas não buscaram assistência médica. Agora, as pessoas têm procurado os postos de saúde por outras questões além do coronavírus. “Essa é uma hipótese, de que esses números de hoje sejam reais, porém o aumento não seja real”, aponta Martins.
A segunda hipótese é que haveria, sim, um aumento real. Nessa ideia, o diagnóstico teria acontecido corretamente durante a pandemia. Como as pessoas estavam mais tempo em casa, elas também conseguiram se atentar mais a possíveis criadouros de mosquitos, como vasos de planta e caixas d’água. O contato das pessoas com o mosquito teria, então, caído, assim como o número de casos da doença.
A terceira hipótese é relacionada ao clima. Martins aponta que a influência do fenômeno La Niña — que, na América Latina, acarreta em seca em alguns países e maior volume de chuva em outros — fez com que o ciclo de desenvolvimento de larva até o mosquito adulto tenha sido encurtado nos períodos mais quentes, o que favorece a proliferação desses vetores. “Se você tem mais mosquito, há possivelmente mais transmissão do vírus. Então, pode ser uma mistura desses três fatores e outros”, analisa o pesquisador.

NOVA CEPA
Em 5 de maio, o Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, em parceira com o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO), detectou um novo genótipo (linhagem ou cepa) do vírus da dengue. A linhagem cosmopolita, a que mais circula pelo mundo, foi diagnosticada em um morador de Aparecida de Goiânia (GO). O cosmopolita é um dos seis genótipos da dengue 2. A doença é dividida em quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4. Esses sorotipos podem apresentar diferentes linhagens. No Brasil, já circula uma cepa do tipo 2, denominada asiático-americana. Nessa nova onda de dengue, concentram-se os sorotipos 1 e 2 pelo país.
Pesquisadores apontam que, apesar da nova cepa poder apresentar potencial de maior transmissibilidade, a sua detecção foi precoce. Motivo de vigilância, mas não ainda de preocupação. Para Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ, o foco no momento é entender qual a nossa resposta imunológica ao vírus. Apesar da premissa de que quem contraiu um sorotipo da dengue fica imune para o resto da vida, Medronho é cuidadoso: “Ainda não temos certeza se nossos anticorpos são suficientemente robustos para neutralizar a infecção pelo dengue 2 deste genótipo cosmopolitano”. Para o professor, é fundamental que haja vigilância epidemiológica e genômica, a fim de identificar se o cosmopolitano está ou não se espalhando pelo Brasil. “O Rio de Janeiro, por ser um polo de turismo, favorece a entrada de novos sorotipos”, observa o epidemiologista.
A novidade não deve gerar pânico. Ademir Martins acredita até que, em certa dose, a preocupação pode virar proteção: “Com a covid-19, a gente evitava a doença usando máscara. Agora, estamos na época das arboviroses (doenças transmitidas pelos arbovírus, como dengue, zika, chikungunya e febre amarela) e nós as evitamos não deixando o mosquito se proliferar dentro das nossas casas”. Medronho segue a mesma linha preventiva. Para ele, a forma de se combater o vírus é concreta, como evitar água parada dentro de casas, borracharias e ferros-velhos.

Vacina nacional é esperança no horizonte

Na semana passada, foi dado mais um pequeno passo na longa caminhada em busca da vacina contra a dengue no Brasil. Começaram a ser recrutados, nas cidades gaúchas de Porto Alegre e Pelotas, 700 voluntários que vão participar de um novo subestudo da vacina da dengue do Instituto Butantan. No momento em que os casos da doença explodem no país, esse subestudo se propõe a avaliar a resposta imune de três diferentes lotes de produção da vacina em desenvolvimento no Butantan. A pesquisa começará no mês que vem, será randomizada e faz parte do ensaio clínico de fase 3, que é o estudo principal do imunizante e que está em andamento desde 2016.
Os voluntários serão homens e mulheres sadios ou com doença clinicamente controlada, com idades entre 18 e 59 anos. Em Porto Alegre, o trabalho será feito em parceria com o Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e em Pelotas, com o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os participantes receberão uma dose do imunizante de um dos três lotes, ou de placebo, e serão acompanhados por até 52 semanas.
A vacina em desenvolvimento no Instituto Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID) e a farmacêutica Merck, é a mais promissora frente de imunização em curso no país. Ela utiliza vírus enfraquecidos que induzem a produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas. Será tetravalente e vai proteger contra os quatro tipos de dengue. Estudo publicado no dia 15 de março na revista científica Human Vaccines & Immunotherapeutics mostra que a vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus. Os estudos foram iniciados em 2009 e o acordo do Butantan com o NIAID prevê que o instituto produza e distribua o imunizante em território brasileiro. A previsão é que a pesquisa seja concluída até 2024.
De acordo com a pesquisadora Simone da Costa, da Fiocruz, há diversos grupos no Brasil que estudam vacinas contra a dengue, usando várias estratégias e em diferentes estágios de evolução. Esses grupos estão em unidades da Fiocruz em vários estados, em universidades federais e estaduais. Ela lembra que desde 2015 há uma vacina licenciada contra a dengue, mas para um público restrito. “Ela é direcionada a indivíduos entre 9 e 45 anos. Foi aprovada em cerca de 20 países, incluindo o Brasil. É recomendada para pessoas que já tiveram dengue ou contato com o vírus”, diz Simone, mestre em Genética pela UFRJ e doutora em Biologia Celular e Molecular pela Fiocruz.
Para Simone, o longo caminho até a vacina contra a dengue se explica porque ela tem que induzir altos níveis de proteção por longo período contra os quatro sorotipos virais. “Se ela não é eficiente contra um dos sorotipos, você aumenta a chance de a pessoa vacinada, ao ser infectada pelo vírus, desenvolver um quadro mais grave da doença, em vez de estar protegida”, sustenta.
A mesma opinião é compartilhada pelo epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ: “Sabemos que uma vacina contra a dengue, para ser eficaz, deve ter proteção contra os quatro sorotipos da doença. E que seja uma proteção robusta. Porque se ela só protege contra um ou outro sorotipo, e proteger menos contra outros, podemos ter até um agravamento de casos, pela teoria da infecção sequencial, já há muitos anos consagrada. Então, uma vacina, para ser realmente segura e eficaz, precisa proteger contra os quatro sorotipos”.

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