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WhatsApp Image 2022 07 18 at 00.13.28 1João Torres: "Ciência vive um cenário de pós-guerra de país vencido”“Nossa ciência está vivendo um cenário de pós-guerra de um país vencido”. A afirmação do presidente da AdUFRJ, professor João Torres, resume uma audiência na Assembleia Legislativa sobre o orçamento das universidades e institutos federais sediados no Rio, dia 11.
O professor citou o “orçamento do conhecimento”, estudo conduzido pelo Observatório do Conhecimento. De acordo com o levantamento, o sistema federal de universidades e de ciência e tecnologia do país perdeu quase R$ 100 bilhões, desde 2014. “A falta de financiamento tem um impacto direto sobre as condições de trabalho dos docentes”, explicou João aos parlamentares presentes. “Um exemplo claro é que, depois da pandemia, os prédios que ficaram mais de um ano praticamente sem uso se degradaram. E, sem verbas para manutenção, eles propiciam condições sanitárias inadequadas para os professores, alunos e técnicos”.
Estava todo mundo lá: UFRJ, UFF, UniRio, Rural, Instituto Federal Fluminense, IFRJ, Cefet e Pedro II. Diante dos sucessivos cortes nas receitas, gestores de todas as instituições compareceram à Alerj para apresentar um pedido de socorro coletivo. Em comum, existe a preocupação de assegurar o funcionamento até o final de ano, com garantia de assistência aos alunos mais vulneráveis e preservação dos empregos de funcionários terceirizados.
A situação é reflexo de uma queda brusca do financiamento das universidades. O orçamento discricionário — ou seja, a parte que exclui as despesas com pessoal — despencou à metade em apenas sete anos. “Desde 2016, o orçamento das universidades federais vem sofrendo expressivas perdas. Até 2019, eram perdas inflacionárias. A partir de 2020, além das perdas inflacionárias, o orçamento discricionário vem caindo, ano a ano, em valores nominais. Isso fez com que em 2022 o orçamento discricionário seja da ordem de 50% do que era em 2015”, disse o presidente da associação de reitores (Andifes), professor Marcus David, que participou do evento por videoconferência. O dirigente enfatizou que a perda repercute de forma significativa na economia de um estado como o Rio, que possui muitas instituições federais de ensino.
Entre elas, a maior e mais antiga universidade do país sofre uma crise do seu tamanho. “O nosso orçamento cai em termos reais e nominais e nossas despesas têm crescimento alto, que independem de nós”, disse o pró-reitor de Planejamento e Finanças da UFRJ, professor Eduardo Raupp. “É possível que tenhamos de tomar medidas drásticas de interromper semestre, decretar férias coletivas. É o único mecanismo pelo qual eu poderei reduzir abruptamente os contratos”.
Além dos prejuízos ao ensino, pesquisa e extensão, a decisão teria um efeito imediato na vida de milhares de pessoas: “Temos uma força de trabalho de quase três mil servidores terceirizados. São os primeiros a pagar esta conta, quando somos obrigados a suspender ou finalizar contratos. São os primeiros a perder seus empregos”. Os nove hospitais da UFRJ, embora contem com outras fontes de receita, também depende do orçamento da universidade.
O problema não se limita a 2022. O projeto de lei orçamentária para 2023 do governo Bolsonaro aponta um corte nas verbas das universidades. “Basicamente, nos deixa com o mesmo orçamento de quando estávamos com atividades remotas. Mas nosso custo de energia elétrica, que estava em R$ 2 milhões/mês, agora está em R$ 5 milhões/mês”, exemplificou.
Um a um, os demais gestores apresentaram a situação de cada instituiçao. Jefferson Manhães, reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF), disse que seu orçamento caiu 31% desde 2015 (R$ 62,1 milhões para R$ 43,2 milhões) —sem considerar a inflação do período. No total, a rede de institutos federais sofreu ainda um cancelamento de R$ 183 milhões em 2022.
A falta de dinheiro também impede o cumprimento do Plano Nacional de Educação (PNE), previsto para encerrar em 2024, Natália Trindade, da APG UFRJ e da Associação Nacional dos Pós-graduandos, citou que a meta 14 do PNE — titular 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano — não poderá ser mais alcançada em tão pouco tempo. “As pessoas estão desistindo da vida acadêmica. Defender o pós-graduando no orçamento é defender a ciência e tecnologia. O Brasil que a gente quer precisa alcançar estas metas”, disse.

AVALIAÇÃO DA ADUFRJ
Vice-presidente da AdUFRJ, a professora Mayra Goulart saudou a iniciativa da Alerj de reunir representantes de todas as instituições federais de educação do estado. A professora acredita que o evento — e sua possível reprodução nas demais assembleias legislativas e câmaras municipais do Brasil — cria uma pressão sobre deputados federais e senadores e pode ajudar a melhorar os números da Educação e da Ciência junto ao Congresso Nacional. “Quanto mais participação da sociedade civil, melhor”, disse.

GOVERNO “MASCARA” CORTE NA UFRJ PARA 2023

O governo modificou a previsão orçamentária da UFRJ para 2023: em vez do corte de 12,6%, anunciado na edição anterior do Jornal da AdUFRJ, o índice será de 2,53% (ou R$ 8,3 milhões). “Cai de R$ 329,2 milhões para 320,9 milhões. Mas esta queda está ‘mascarada’ por alguns movimentos feitos na proposta orçamentária do governo”, informou o pró-reitor de Finanças, professor Eduardo Raupp, durante o Consuni do dia 14.
A principal manobra do governo consistiu em cortar nas rubricas financiadas pelo Tesouro e, paralelamente, elevar o orçamento da receita própria da UFRJ — resultante basicamente de aluguéis de terrenos —, sem consultar a reitoria. “Ou seja, para que o impacto final fosse menor no global do orçamento, o governo está trocando fonte que vem dele por fonte que nós arrecadamos. Nós tínhamos uma previsão de aumento da arrecadação no ano que vem, mas o governo a colocou para cima, sem que houvesse qualquer tipo de ajuste conosco”,explicou Raupp. A perda na rubrica de funcionamento da universidade ficou em 14% (R$ 18,5 milhões). Já o aumento da receita própria chegou a 31% (R$ 14 milhões). Se as receitas próprias fossem excluídas da conta, o corte geral seria de 8%. Em uma avaliação preliminar, esta manobra já foi detectada em outras universidades, segundo o pró-reitor.
Nem o Museu Nacional foi poupado da tesourada. A rubrica de reconstrução da unidade cai para menos da metade (R$ 3,4 milhões para R$ 1,5 milhão). A proposta do governo preserva a verba de assistência estudantil, porém, sem reajuste. “É uma situação muito delicada, pois temos os riscos de carregar para o ano que vem os problemas de 2022”. O pró-reitor lembrou que a já insuficiente dotação orçamentária deste ano, de R$ 329 milhões, sofreu cortes. “Está em R$ 309 milhões, a mesma do ano passado, quando estávamos remotos”.

CONGRESSO NACIONAL REJEITA BLOQUEIO DO FNDCT

Em um único dia, duas vitórias para a ciência brasileira. Na terça-feira (12), o Congresso retirou de um projeto de lei o trecho que permitiria ao governo bloquear — e transferir para outras áreas — os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Além disso, os parlamentares aprovaram na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023 um aumento da parte do FNDCT para os chamados recursos não reembolsáveis, destinados a projetos de universidades e institutos de pesquisa.
Com o projeto de lei, o governo tentava formalizar o bloqueio de R$ 2,5 bilhões aplicado ao FNDCT em junho. Uma medida que já contrariava legislação aprovada pelo próprio Congresso no ano passado, a Lei Complementar 177, de acabar com a reserva de contingência e de impedir qualquer tipo de corte do fundo. Seguindo um destaque apresentado pela bancada do PT, os deputados rejeitaram o dispositivo (197 votos contra 187), que nem precisou ser votado no Senado. A decisão, segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), não reverte automaticamente, mas torna ainda mais frágil o bloqueio operado pelo governo.
Em seguida, em uma sessão conjunta, os parlamentares aprovaram uma mudança na LDO que reduz de 50% para 15% o percentual de recursos do FNDCT que pode ser emprestado para empresas investirem em pesquisa. O dinheiro não é usado e acaba retornando, ao final do exercício fiscal, para os cofres do governo. Pela nova regra, 85% do fundo irão para os recursos não reembolsáveis. “Isso pode significar um aporte para o ano que vem da ordem de R$ 3 bilhões. Não é pouco. Pode fazer a diferença para muitas ações”, afirma o presidente de honra da SBPC e professor do Instituto de Física da UFRJ, Ildeu Moreira.
A nova divisão do FNDCT ainda pode ser vetada pelo presidente Jair Bolsonaro, que terá um prazo de 15 dias úteis a partir do recebimento do texto para a sanção. “Foi uma vitória importante da comunidade científica. Não está consolidada. Na LDO, o presidente pode vetar e vamos brigar no Congresso para manter”, disse Ildeu.

WhatsApp Image 2022 07 18 at 00.13.28Diretoria da AdUFRJ

Em pouco mais de uma semana, e a menos de três meses das eleições, uma tensa escalada de ataques colocou a violência política no centro da campanha eleitoral. O ápice dessa onda de ódio foi o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), no último domingo (10). Ele foi morto a tiros pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que invadiu a festa de 50 anos de Arruda — cujo tema era o PT e o ex-presidente Lula — aos gritos de “Aqui é Bolsonaro!”. Nesta sexta-feira (15), a Polícia Civil do Paraná indiciou o bolsonarista por homicídio, mas descartou motivação política para o crime.
O Jornal da AdUFRJ ouviu especialistas para avaliar o impacto do assassinato na campanha eleitoral e seus desdobramentos para o período posterior ao pleito, e mesmo após a posse do futuro presidente. “Acho que a violência vai ser a tônica dessa campanha”, acredita a professora Mayra Goulart, cientista política e vice-presidente da AdUFRJ. Para ela, essa será uma herança nefasta: “Essa violência será um legado do governo Bolsonaro, ela vai se manter no horizonte político por algum tempo”.
Os historiadores Paulo Fontes e Michel Gherman, ambos professores da UFRJ, têm visões semelhantes à de Mayra. “Essa cultura da violência se estruturou politicamente de tal forma que não será superada em quatro anos, é um processo de mais longo prazo”, prevê Fontes. “Esse discurso pode acionar o que há de pior outra vez, e vamos conviver com isso pelos próximos anos. Lula e a esquerda vão ter que saber lidar com isso e construir uma repactuação civilizatória”, acentua Gherman. As avaliações dos especialistas sobre essa escalada de violência política — incluindo uma suposta “polarização” amplificada, sobretudo, pela mídia tradicional — estão AQUI.
Violência rima com destruição, outra especialidade do governo Bolsonaro. Em seu projeto de desestruturar as áreas de Educação, Ciência e Tecnologia, o Planalto fez modificações na previsão orçamentária da UFRJ para 2023. Desta vez, a facada veio em forma de manobra: cortar rubricas financiadas para o Tesouro e elevar o orçamento da receita própria da universidade. Isso sem qualquer consulta à UFRJ. Nem o combalido Museu Nacional escapou. A verba para a reconstrução do museu caiu de R$ 3,4 milhões para R$ 1,5 milhão — menos da metade.
Mas a mobilização contra os cortes vem ganhando força. Por conta dela, esta semana o Congresso impediu o bloqueio de verbas do FNDCT. E a Assembleia Legislativa foi palco de uma audiência pública que reuniu universidades e instituições federais sediadas no Rio contra as tesouradas no orçamento. “A falta de financiamento tem um impacto direto sobre as condições de trabalho dos docentes. Um exemplo claro é que, depois da pandemia, os prédios que ficaram mais de um ano praticamente sem uso se degradaram. E, sem verbas para manutenção, eles propiciam condições sanitárias inadequadas para os professores, alunos e técnicos”, descreveu aos parlamentares o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. “Nossa Ciência está vivendo um cenário de pós-guerra de um país vencido”, pontuou. Confira o mais recente panorama dos cortes e das mobilizações em defesa da Ciência AQUI.
A ampliação do leque de convênios da AdUFRJ para seus associados é o tema de nossa matéria 8. Completam a edição uma reportagem, na página 6, sobre os recentes ataques de cães nas imediações do Centro de Tecnologia (CT) — foram 13 em três meses — e a cobertura do 65º Conad do Andes, AQUI.
Boa leitura!

WhatsApp Image 2022 07 11 at 08.45.25Foto: Isadora CamargoExcelente professor, cientista de prestígio internacional e liderança acadêmica. Não faltaram elogios na solenidade de entrega do título de emérito da UFRJ a Luiz Davidovich, docente titular do Instituto de Física. O Salão Nobre do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza ficou lotado para acompanhar a cerimônia realizada durante uma sessão solene do Conselho Universitário, na terça-feira, dia 5.
Presidente da Academia Brasileira de Ciências até o início deste ano, Davidovich não abandonou o tom político em seu discurso de agradecimento. “Estou certo de que o sonho de todos nós é de um país com igualdade de oportunidades para todas as suas crianças, independente do berço em que nasceram, Que incorpore sua população em uma sociedade ilustrada e inclusiva, democrática e produtiva. Esta é a visão que permeia nossas mentes e norteia nossos passos. A emerência é um rito de passagem, não é o final do caminho. Estamos juntos nessa luta”, afirmou.
Para este sonho vingar, Davidovich enfatizou a necessidade do investimento em educação e ciência, nos dias atuais. “É urgente mudar a agenda econômica e social deste país. Uma política econômica não se resume a um planilha de receitas e gastos. Ela deve estar articulada com uma agenda nacional de desenvolvimento sustentável e inclusivo, baseada em educação de qualidade, ciência, tecnologia e inovação”, afirmou.
O professor destacou ainda a importância de preservação da democracia. O emérito falou do alto da experiência de ter sido perseguido pela ditadura quando ainda era estudante. Por força do decreto 477, conhecido como o AI-5 das universidades, não completou seus estudos na PUC, em 1969. “Não consegui terminar o semestre. Fui expulso da universidade em junho do mesmo ano”.
Davidovich saudou os professores da universidade na figura do presidente da AdUFRJ e colega do Instituto de Física, João Torres, presente ao evento. “Essa associação cresceu nos últimos anos e se tornou representativa do melhor que existe nesta universidade. Cumprimento também a Tatiana Roque, que teve um papel importante na renovação da associação de docentes”, disse, em referência à ex-presidente do sindicato, de 2015 a 2017.

HOMENAGENS
Encarregado das homenagens iniciais, o professor titular Paulo Maia lembrou que o físico francês Serge Haroche, Prêmio Nobel de 2012, saudou Davidovich em seu discurso de premiação. E acrescentou: “Em conferências de que participo mundo afora, ouço frequentemente comentários de grande admiração por parte de colegas de diferentes países em relação ao nosso homenageado”.
O diretor do Instituto de Física, professor Nelson Braga, ressaltou a qualidade do homenageado na arte de lecionar e formar novos pesquisadores: “Sempre foi um professor excelente em todos os sentidos, desde os aspectos didáticos, mas principalmente por motivar nos alunos a curiosidade, a vontade de aprender e desvendar novos desafios”.
“É um momento de muito júbilo para nossa universidade porque ganhamos mais um professor emérito”, afirmou a reitora Denise Pires de Carvalho. “Todas as administrações centrais dependem muito, em alguns momentos, do posicionamento dos professores eméritos. Os senhores são a nossa esperança de que os ataques não serão bem-sucedidos. Farão isso em nome dos jovens professores, dos nossos estudantes e do futuro do nosso país”, concluiu.

WhatsApp Image 2022 07 11 at 08.45.25 1Foto: Fernando SouzaExistem pessoas cuja trajetória é tão grandiosa que pode ser observada por perspectivas distintas, e assim melhor compreendida. É o caso do professor Luiz Pinguelli Rosa, que faleceu em março deste ano. Para homenagear o mestre, a AdUFRJ organizou uma homenagem, tendo como ponto de partida sua autobiografia “Memórias — de Vargas a Lula: a resistência à ditadura e ao neoliberalismo”. Na mesa do evento, os professores Ildeu Moreira, Romildo Toledo Filho e Tatiana Roque enalteceram aspectos da trajetória de Pinguelli, sob a mediação do professor João Torres, presidente da AdUFRJ.
Todos na mesa, e parte da plateia que conviveu com Pinguelli, concordaram sobre como o professor era fiel às suas convicções, um interlocutor receptivo, uma pessoa generosa, entusiasta de boas ideias e um valente defensor do bem público. O professor Ildeu Moreira, presidente de honra da SBPC e um dos fundadores da AdUFRJ, falou um pouco sobre a trajetória política de Pinguelli. “Essa é uma homenagem, mas também um balanço da trajetória do Pinguelli. É poder olhar para a história da AdUFRJ e do Andes, e também pensar no futuro dessas entidades”, disse Ildeu.
O professor lembrou a criação da AdUFRJ, nos final dos anos 1970. A administração central da UFRJ formara uma comissão para discutir uma reforma da universidade e, em paralelo, os docentes começavam a se organizar para formar sua associação. No Instituto de Física, havia um movimento pela anistia dos professores que foram cassados pela ditadura. “O Pinguelli foi para a associação docente, e ela encampou o movimento. Aquilo se espalhou por algumas instituições do Rio, que começaram a se movimentar. Foi um grande ponto de partida”, contou Ildeu.
A trajetória de Pinguelli no movimento sindical é notável. Foi o primeiro presidente da AdUFRJ, entre 1979 e 1981, segundo presidente do Andes, de 1982 a 1984, e figura importante na greve de 1979, em plena ditadura militar. “Aquela greve foi muito importante porque ajudou a construir o movimento para uma greve posterior, que permitiu a construção da carreira docente. E o Pinguelli foi decisivo em todos esses momentos”, contou Ildeu. “Ele tinha uma energia e disposição imensas”, pontuou.
Pinguelli também foi presidente da Eletrobras entre 2002 e 2003. Sua saída do governo aconteceu por divergências na política econômica conduzida pelo então ministro da Fazenda Antônio Palocci. Para Ildeu, a trajetória que Pinguelli narra no livro serve de lição para Lula e a esquerda. “Eu acho que nós vamos ganhar essa eleição. Mas o Lula deveria ler o livro antes de assumir o governo, porque aqui há pontos em que ele chama atenção de erros que foram cometidos em 2002”, disse Ildeu.
Cinco vezes diretor da Coppe, Pinguelli já se destacava, desde muito jovem, na área de pesquisa nuclear. Quem lembrou esse aspecto da carreira do mestre foi Romildo Toledo Filho, diretor da Coppe. “Ele colocava a academia, nos colocava, no centro da discussão. Sempre trazia especialistas para as discussões. Ele sempre buscou estar cercado pelos melhores”, contou Romildo, que se dedicou a elogiar a inteligência de Pinguelli. “Ele sempre nos provocava a ver qualquer coisa diferente, estava sendo buscando uma visão nova. E fez isso por todas as áreas onde passou: na política, na luta pela universidade pública e na questão social”, contou o diretor.
Pinguelli colocava a universidade a serviço da sociedade. “Não havia nenhum assunto que ele achasse que a sociedade precisasse de esclarecimento, que ele não se posicionasse, e convocando os melhores especialistas para falar sobre o assunto”, lembrou Romildo, que ressaltou o trabalho de Pinguelli para o fortalecimento dos programas de Engenharia Nuclear, de Planejamento Energético e de Engenharia de Nanotecnologia. “Uma pessoa como essa tem uma enorme importância para todos nós”, disse Romildo, que terminou sua fala com uma frase curta, mas que mostra a importância da preservação da memória do professor: “Pinguelli vive”.
“Eu passei por caminhos abertos pelo Pinguelli em muitas frentes. Na minha trajetória como pesquisadora, na AdUFRJ e no Fórum de Ciência e Cultura. Mas acho importante falar de quem ele formou, desses caminhos que só existiram por causa de ações nas quais ele foi essencial”, ressaltou a professora Tatiana Roque, ex-presidente da AdUFRJ e ex-coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura. Ela contou que, nos anos 1990, houve um grande debate mundial sobre o papel da Ciência. “O que estava em questão era o lugar da Física-Matemática, toda a discussão da visão que se tinha sobre ela. Esse lugar de um pensamento determinista da Ciência estava sendo colocado em xeque”, explicou. E na UFRJ, esses debates eram organizados por Pinguelli no Fórum de Ciência e Cultura. “Nos grandes debates sempre havia a mão do Pinguelli. E a partir desses debates foram criados alguns programas de pós-graduação”, lembrou.

FSOU8680Foto: Fernando SouzaNo Salão Nobre do histórico prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco, Centro do Rio, foi lançado oficialmente nesta quarta-feira (6) o Comitê de Luta da UFRJ. Nada mais simbólico. O imponente prédio que abrigou a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil serviu de palco ao nascimento de um movimento de defesa da Educação, da Ciência e da democracia no país — pilares atacados sem trégua pelo governo de destruição de Jair Bolsonaro. Esses ataques foram o tema do debate “Democracia e Universidade — Cortes e Financiamento da Educação”, que marcou o lançamento do comitê.
“Leva-se muito tempo para construir um sistema de Educação, Ciência e Tecnologia como o nosso. E o projeto do atual governo é destruir. Por isso, a missão desse comitê é tentar aglutinar as forças progressistas da UFRJ para que o Lula seja eleito no primeiro turno. E, se tiver um segundo turno, que outras forças políticas venham se juntar a nós”, defendeu o professor João Torres, presidente da AdUFRJ.
Segundo João, o protagonismo do sindicato no comitê é uma decorrência natural do que a atual direção vem defendendo desde a campanha eleitoral que a elegeu para comandar a AdUFRJ no biênio 2021-2023. “Na nossa campanha para as eleições na AdUFRJ, nós reafirmamos repetidas vezes que gostaríamos de encampar, uma vez empossados, a candidatura do campo democrático à Presidência da República que tivesse mais chances de vitória. Nesse momento, essa candidatura é a de Lula. Essa foi uma promessa de campanha. Precisamos de um governo de salvação nacional, como o que aconteceu em vários países depois de uma guerra, uma devastação. Temos que reunir todas as forças democráticas para isso”, disse João.

UNIÃO DE FORÇAS
Mediado por Neuza Luzia Pinto, técnica da Faculdade de Medicina da UFRJ, o debate contou com a participação dos professores Átila Freire, da Coppe, e Eduardo Raupp, pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ. Os cortes no orçamento do MEC, e em especial na UFRJ, foram o pano de fundo para falas em defesa da Educação, da Ciência e da democracia.
“Hoje (quarta-feira), nós fomos impactados pela notícia de que o projeto orçamentário do ano que vem virá com uma redução de 12,6% no nosso orçamento. Isso significa que a UFRJ terá certamente o menor orçamento de sua história. Estamos diante de um descompromisso estratégico do governo, um projeto de destruição lenta e gradual. A estratégia é fazer com que a gente continue funcionando precariamente, e que com isso tenha dificuldades de entregar aquilo que a gente tem que entregar, que a nossa missão não seja plena e que a gente vá sendo desacreditado. Até que soluções fantasiosas possam ser oferecidas em nosso lugar. Nada mais sórdido e mais eficiente para destruir a universidade pública”, descreveu professor Eduardo Raupp, para quem a situação da UFRJ é “dramática”.
Para o professor Átila Freire, um dos aspectos mais perversos dos cortes é a retração da pós-graduação. “A pós-graduação da UFRJ, que é emblemática no Brasil e é referência no mundo, foi dramaticamente destruída nos últimos anos. Foi um processo de construção de 50 anos, mas para destruir é muito rápido. Nós temos que reverter isso indo à luta, cada um de nós. Temos que mobilizar as pessoas. E esse comitê é um passo para isso”, convocou o docente.
A técnica Neuza Luzia Pinto observou que o movimento deve ganhar adesões ao longo dos próximos meses e se articular com outros grupos que defendem a democracia. “Acho que a defesa da democracia é o elo que une a todos nós que estamos aqui nesse comitê. Nossa perspectiva estratégica é nos somarmos a milhares e milhares de outros militantes em todo o país para mudar essa história. Temos que trazer para cá as pessoas que não estão aqui — ou porque estão acomodadas ou porque não conseguem enxergar que é possível lutarmos juntos —, os estudantes, os técnicos, os terceirizados, os professores. É um comitê aberto, suprapartidário. O que nos une aqui é a coragem de tentar trazer de novo o Brasil para o rumo da democracia. Temos que ser multiplicadores dessa ideia”, ponderou Neuza.
Emérito da Escola de Química da UFRJ e vice-presidente da AdUFRJ, o professor Ricardo Medronho alertou para a importância do comitê no processo eleitoral para a Presidência da República: “Não é possível a gente imaginar o que possa vir a ser o Brasil se esse governo for reeleito. O país já é pária internacional, o nosso presidente é motivo de chacota. Mais quatro anos desse governo é a destruição total do país. Por isso, é muito importante a criação desse comitê. Nós precisamos trazer outras pessoas para fazer com esse seja um movimento crescente”.

LULA FAZ LOTAR A CINELÂNDIA

WhatsApp Image 2022 07 11 at 08.46.47 1Sob forte esquema de segurança — tapumes de 2,5m cercaram o perímetro do palco e houve revista com detectores de metal —, o pré-candidato do PT à Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez seu primeiro grande comício de campanha no Rio, no tradicional palco democrático da Cinelândia. Ao lado de seu candidato a vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), Lula reafirmou seu apoio ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB), pré-candidato ao governo do Rio. O deputado estadual André Ceciliano (PT), pré-candidato ao Senado, sentou na primeira fila do palco de Lula, reforçando sua posição na disputa com o deputado federal Alessandro Molon (PSB) pela indicação na chapa do ex-presidente.
Em seu discurso, Lula falou do desemprego e da fome que assolam o país, comparou esse cenário com o período de seus dois governos, e fez duras críticas a Bolsonaro. “Perguntem quanto que esse genocida que está governando o país investiu no Rio de Janeiro? Qual foi a grande obra que ele fez? Qual foi a escola técnica que ele fez? Qual a universidade que ele fez? Qual o dinheiro para a Medicina que ele colocou? Nada! Nada! Só tirar!”, disse Lula, sob aplausos de milhares de pessoas. A Polícia Militar registrou um único incidente durante o comício. Um homem arremessou um artefato explosivo com fezes para o interior da área cercada do palco. Ele foi preso.

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