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WhatsApp Image 2022 07 11 at 08.45.25 1Foto: Fernando SouzaExistem pessoas cuja trajetória é tão grandiosa que pode ser observada por perspectivas distintas, e assim melhor compreendida. É o caso do professor Luiz Pinguelli Rosa, que faleceu em março deste ano. Para homenagear o mestre, a AdUFRJ organizou uma homenagem, tendo como ponto de partida sua autobiografia “Memórias — de Vargas a Lula: a resistência à ditadura e ao neoliberalismo”. Na mesa do evento, os professores Ildeu Moreira, Romildo Toledo Filho e Tatiana Roque enalteceram aspectos da trajetória de Pinguelli, sob a mediação do professor João Torres, presidente da AdUFRJ.
Todos na mesa, e parte da plateia que conviveu com Pinguelli, concordaram sobre como o professor era fiel às suas convicções, um interlocutor receptivo, uma pessoa generosa, entusiasta de boas ideias e um valente defensor do bem público. O professor Ildeu Moreira, presidente de honra da SBPC e um dos fundadores da AdUFRJ, falou um pouco sobre a trajetória política de Pinguelli. “Essa é uma homenagem, mas também um balanço da trajetória do Pinguelli. É poder olhar para a história da AdUFRJ e do Andes, e também pensar no futuro dessas entidades”, disse Ildeu.
O professor lembrou a criação da AdUFRJ, nos final dos anos 1970. A administração central da UFRJ formara uma comissão para discutir uma reforma da universidade e, em paralelo, os docentes começavam a se organizar para formar sua associação. No Instituto de Física, havia um movimento pela anistia dos professores que foram cassados pela ditadura. “O Pinguelli foi para a associação docente, e ela encampou o movimento. Aquilo se espalhou por algumas instituições do Rio, que começaram a se movimentar. Foi um grande ponto de partida”, contou Ildeu.
A trajetória de Pinguelli no movimento sindical é notável. Foi o primeiro presidente da AdUFRJ, entre 1979 e 1981, segundo presidente do Andes, de 1982 a 1984, e figura importante na greve de 1979, em plena ditadura militar. “Aquela greve foi muito importante porque ajudou a construir o movimento para uma greve posterior, que permitiu a construção da carreira docente. E o Pinguelli foi decisivo em todos esses momentos”, contou Ildeu. “Ele tinha uma energia e disposição imensas”, pontuou.
Pinguelli também foi presidente da Eletrobras entre 2002 e 2003. Sua saída do governo aconteceu por divergências na política econômica conduzida pelo então ministro da Fazenda Antônio Palocci. Para Ildeu, a trajetória que Pinguelli narra no livro serve de lição para Lula e a esquerda. “Eu acho que nós vamos ganhar essa eleição. Mas o Lula deveria ler o livro antes de assumir o governo, porque aqui há pontos em que ele chama atenção de erros que foram cometidos em 2002”, disse Ildeu.
Cinco vezes diretor da Coppe, Pinguelli já se destacava, desde muito jovem, na área de pesquisa nuclear. Quem lembrou esse aspecto da carreira do mestre foi Romildo Toledo Filho, diretor da Coppe. “Ele colocava a academia, nos colocava, no centro da discussão. Sempre trazia especialistas para as discussões. Ele sempre buscou estar cercado pelos melhores”, contou Romildo, que se dedicou a elogiar a inteligência de Pinguelli. “Ele sempre nos provocava a ver qualquer coisa diferente, estava sendo buscando uma visão nova. E fez isso por todas as áreas onde passou: na política, na luta pela universidade pública e na questão social”, contou o diretor.
Pinguelli colocava a universidade a serviço da sociedade. “Não havia nenhum assunto que ele achasse que a sociedade precisasse de esclarecimento, que ele não se posicionasse, e convocando os melhores especialistas para falar sobre o assunto”, lembrou Romildo, que ressaltou o trabalho de Pinguelli para o fortalecimento dos programas de Engenharia Nuclear, de Planejamento Energético e de Engenharia de Nanotecnologia. “Uma pessoa como essa tem uma enorme importância para todos nós”, disse Romildo, que terminou sua fala com uma frase curta, mas que mostra a importância da preservação da memória do professor: “Pinguelli vive”.
“Eu passei por caminhos abertos pelo Pinguelli em muitas frentes. Na minha trajetória como pesquisadora, na AdUFRJ e no Fórum de Ciência e Cultura. Mas acho importante falar de quem ele formou, desses caminhos que só existiram por causa de ações nas quais ele foi essencial”, ressaltou a professora Tatiana Roque, ex-presidente da AdUFRJ e ex-coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura. Ela contou que, nos anos 1990, houve um grande debate mundial sobre o papel da Ciência. “O que estava em questão era o lugar da Física-Matemática, toda a discussão da visão que se tinha sobre ela. Esse lugar de um pensamento determinista da Ciência estava sendo colocado em xeque”, explicou. E na UFRJ, esses debates eram organizados por Pinguelli no Fórum de Ciência e Cultura. “Nos grandes debates sempre havia a mão do Pinguelli. E a partir desses debates foram criados alguns programas de pós-graduação”, lembrou.

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