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Dança para todos
Projeto de extensão congrega alunos e pacientes
Elisa Monteiro
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Fotos: Claudia Ferreira
“Leonídia: ela é doida?” não é um espetáculo qualquer. A atividade faz parte do Projeto ParaTodos, de extensão, que integra dança e saúde. “O ator principal tem 10% de visão. Mas quem assiste dificilmente percebe”, conta Marta Bonimond, diretora da peça e professora da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ.
“Terapia não é foco”, explica ela. Mas é uma consequência natural do trabalho, que mesclando teoria e prática, promove aumento da sociabilidade e condicionamento físico. O projeto conta com a participação de bolsistas de diferentes áreas da universidade, como Dança, Música, Psicologia, Pedagogia e Comunicação. E, totalmente aberto, atrai um público especial. Os princípios da luta antimanicomial permeiam a iniciativa.
“A localização da Praia Vermelha é estratégica”, avalia Marta. “É ponto de convergência de hospitais como o Pinel (Instituto Philippe), o Rocha Maia (Hospital Municipal), o IPUB (Instituto de Psiquiatria da UFRJ), o (Instituto de Neurologia) Deolindo Couto e o Instituto Benjamin Constant”. Pela concepção do projeto, contudo, não há distinção entre pacientes ou não. “Para nós, são todos alunos”, reforça.
De cara, a peça estreou 100% adaptada ao púbico cego. O Benjamin Constant foi palco da primeira encenação, em 2014. “Foi uma coisa incrível realmente. A atriz tocava nas pessoas”, conta Bonimond. “Um dos pontos altos foi a cena que discutia a questão dos remédios. Usamos aquelas balas Tic Tac (caixinha de balas barulhentas) para ajudar na sensibilização das pessoas”.
Professora Marta Bonimond
Sem alarde, o projeto encorpou, ainda em 2014, quando abandonou a sonorização via CDs para ganhar uma trilha sonora própria composta e executada ao vivo pelo bolsista Hector da Costa Coutinho, da Música. “Foi um salto grande”, avalia a diretora. Um segundo passo importante foi a participação no Festival Interuniversitário de Cultura, em 2015.
A conquista de um edital para converter o espetáculo em longa-metragem “de baixíssimo orçamento”, ressalta Marta, marca o momento atual. “Não queríamos simplesmente reproduzir a encenação. Apostamos em fazer mesmo um filme”. Parte da gravação foi filmada na própria EEFD; outra, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa. A expectativa é finalizar edição e montagem no início de 2017 a tempo de inscrever o trabalho em outros editais de cultura.
As parcerias internacionais atravessam essa história. Stina Stjern, do grupo norueguês Sund Folk College, assina a direção do novo roteiro adaptado para película, junto a Marta Bonimond. A nova obra é composta de improvisação dos alunos da Dança com os 18 músicos estrangeiros. “Eles têm uma visão muito próxima à nossa de que a dança não é só para movimentos e corpos perfeitos. Essa visão do corpo virtuoso do balé romântico é uma coisa muito antiga”, afirma Marta.
Como tudo começou
O projeto ganhou densidade a partir de 2014 quando um dos alunos, Marcelino José, paciente do IPUB, acrescentou à discussão do clássico “História da Loucura”, de Michel Foucault, a sugestão de leitura da biografia sobre Leonídia Fraga (1844-1927), de Myriam Fraga (o sobrenome é coincidência). “Leonídia, a Musa Infeliz do Poeta Castro Alves” fala sobre o drama da namorada de infância de Castro Alves, que tem um surto e é internada como louca depois da morte do poeta: ela se considerava noiva dele. Quando ela morre, a relação é comprovada pela descoberta de cartas e poemas trocados entre os dois.
Músicos noruegueses participam do projeto“Ela guardava tudo em uma trouxinha e baú, que levou para o hospital quando foi internada. O Hospício São João de Deus, em Salvador, ironicamente, funcionava em uma antiga casa de Castro Alves. Foi o segundo hospício do Brasil, o primeiro foi esse que hoje é da UFRJ (o Palácio Universitário)”, sublinha Marcelino José. Na peça, ele é o responsável pela narração da biografia adaptada.
Em busca de reconhecimento
O projeto ParaTodos ainda enfrenta as dificuldades para manter a logística mínima necessária. Desalojado das salas que ocupava na Praia Vermelha por causa da reforma do Palácio, o grupo passou a atuar no gramado do campo de futebol. Mas, desde a Olimpíada, até o espaço improvisado em torno de uma árvore ficou comprometido por interdições.
A assessoria de imprensa da reitoria informou que algumas áreas do campinho da Praia Vermelha continuam interditadas, mesmo após os Jogos, por conta da “transferência de módulos no interior do campus”. O objetivo é preparar as salas que serão utilizadas em 2017/1.

Prejuízo milionário
UFRGS teria perdido R$ 580 milhões se PEC do teto de gastos estivesse em vigor desde 2006
A reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul divulgou, na última sexta-feira (4), um estudo de impacto financeiro da Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos. O documento aponta que a PEC 241, aprovada na Câmara e em tramitação no Senado (como PEC 55), “tende a criar problemas substanciais de financiamento para custeio e capital”. De 2006 a 2015, se a PEC já estivesse em vigor, a UFRGS teria perdido R$ 580,3 milhões em relação ao orçamento executado, no período.
A reitoria argumenta que “fazer ajuste com uma medida rígida como a embutida na PEC 241” pode comprometer a “preservação das condições de excelência acadêmica já alcançadas pela universidade”.
O levantamento feito pela administração da UFRGS segue o exemplo de outras instituições. A Universidade Federal de Minas Gerais também realizou a simulação de impacto retroativo da PEC para o mesmo período, de 2006 a 2015. A instituição mineira teria perdido R$ 774,8 milhões.
Já na Universidade Federal Fluminense, o prejuízo seria de R$ 810 milhões.
CINELÂNDIA CONTRA A PEC
Exposição de trabalhos, oficinas, experimentos, aulas públicas e outras ações. Tudo isso acontecendo ao ar livre. Mostrar a importância do conhecimento produzido na universidade e, ao mesmo tempo, buscar apoio da população contra a medida que irá sufocar os investimentos em Educação são as motivações do “UFRJ na Praça” marcado para sexta, 25, na Cinelândia. Esta será a forma de adesão dos professores da universidade ao Dia de Paralisação com mobilização, aprovado na assembleia de 8 de novembro, contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55.
A ideia é reunir professores, estudantes e funcionários nas atividades. A Adufrj convida os docentes interessados em expor seus programas de pesquisa, oficinas e experiências a entrar em contato pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. apresentando sugestões e propostas para o dia 25.
A Adufrj vai providenciar a infraestrutura de apoio necessária ao evento.
Pressão nos senadores
Enviada pelo governo ao Congresso Nacional ainda no primeiro semestre, a PEC 55 (antiga PEC 241) já foi aprovada pela Câmara e pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Por se tratar de uma emenda à Constituição, para receber a sanção presidencial, a PEC precisa contar com o apoio de, pelo menos, três quintos dos senadores (49 dos 81) nas duas votações, previstas para 29 de novembro e 13 de dezembro.
Visite a página Brasil 2036, lançada pela Adufrj, e utilize as ferramentas virtuais para botar pressão nos senadores: http://brasil2036.org.br/
A esquerda no divã
Texto e foto: Jan Niklas Jenker
Estudante da ECO-UFRJ e estagiário da Adufrj
"É urgente repensar os paradigmas da esquerda", analisou a presidente da Adufrj, Tatiana Roque, sobre a atual conjuntura política do país, em debate realizado no Teatro Oi Casagrande, dia 16. Última etapa do ciclo "Novembro de 2016: impressões ao calor da hora", o evento contou ainda com a participação do rapper Flávio Renegado, do economista e professor da UFRJ João Sicsú e do ativista Pablo Capilé (Mídia Ninja). Diante da ascensão do conservadorismo, os palestrantes apresentaram leituras sobre o papel dos setores progressistas.
Presidente do Instituto Casa Grande, Saturnino Braga destacou a importância de espaços de diálogo como aquele: “Discussão política é essencial para qualquer democracia. Há poucos fóruns, lugares de debate político, no Brasil”.
Marcelo Barbosa, diretor-executivo do ICG e mediador do debate, reforçou: “Neste momento deprimente que estamos vivendo, devemos buscar caminhos no debate político”.
O conteúdo de todo o ciclo será organizado em livro, com previsão de lançamento para 2017.
Confira algumas frases dos debatedores:
- Flávio Renegado: “A esquerda virou uma militância de ar-condicionado e perdeu as ruas. A direita não dormiu, está mais racista, mais homofóbica e mais violenta. O primeiro passo para reconfigurar a esquerda é aprender com o que a molecada das ocupações está fazendo”.
- Tatiana Roque: “Mudaram relações de trabalho, da família, o que gerou uma reação do conservadorismo. É urgente repensar os paradigmas da esquerda. É um momento de renovação radical e criação de um projeto para se contrapor ao neoliberalismo”.
- João Sicsú: “A ideia disseminada de que o Estado está quebrado e agora precisamos nos sacrificar para corrigir erros anteriores é um equívoco. Para melhorar as contas, precisamos voltar a crescer, não cortar”.
- Pablo Capilé: “A esquerda brasileira é formada por duas leituras: a antiga ‘disputa de classe’ e a contemporânea ‘disputa de imaginário’. Ambas não se entendem. Cultura e comunicação devem estar no centro desse debate”.
FAU e EBA: retorno hesitante
Texto e fotos: Valentina Leite
Estudante da ECO-UFRJ e estagiária da Adufrj
Não funcionou bem o esquema provisório montado para o retorno às aulas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Escola de Belas Artes, no dia 16. Desde o incêndio ocorrido mês passado no prédio da reitoria, professores e alunos dos cursos afetados buscam soluções, junto à administração central, para a retomada das atividades acadêmicas. Mas a atual infraestrutura desafia o ensino.
Por decisão da reitoria, as aulas foram divididas: as da EBA seriam ministradas no térreo, enquanto a FAU ocuparia o segundo andar. Mas isso ocorreu de forma insalubre nesta quarta: mesas e cadeiras espalhadas pelo hall conviveram com goteiras e poças d’água. O terceiro pavimento, aberto na semana passada e o único com salas estruturadas, foi compartilhado pelas duas unidades. Os demais andares do edifício continuam interditados. Segundo entrevistados pela reportagem, poucos docentes tentaram retomar o semestre letivo nestas condições.
Angela Leite Lopes, professora da EBA, acredita que é preciso retornar, porém não à normalidade: “Não devemos voltar às aulas propriamente ditas, mas sim a atividades didáticas, aulas abertas, conversas. O que não podemos é deixar de estar aqui”, observou.
Para Alberto Fernandes, professor da FAU, ações são necessárias visando à melhoria das condições dos cursos. “Se não viermos para cá, a universidade se esvazia. Precisamos de visibilidade para a nossa real situação, que é precária”, afirmou.
Ethel Pinheiro Santana, integrante da direção da FAU, disse ser preciso avaliar a situação mais a fundo. “O prédio foi afetado, mas não apenas pelo incêndio. Há muitos anos, carece de verbas, remodelamento, reestruturação da rede elétrica. Acredito que o que estamos vivendo hoje é até algo positivo: estamos olhando para o problema real”, concluiu.
Atualização em 17/11, às 17h25: Ainda no dia 16, estudantes realizaram uma assembleia, com participação de docentes, para avaliar a situação. Os alunos decidiram reivindicar a suspensão do calendário acadêmico e paralisação das aulas, até que as condições de ensino se tornem mais favoráveis. Está sendo organizada uma manifestação para o próximo Conselho de Ensino de Graduação, dia 23, que se reúne no próprio edifício da reitoria.
Os estudantes enfatizam que não haverá o esvaziamento do prédio, que será ocupado com oficinas, workshops e aulas abertas, para estimular o debate e demonstrar resistência.
A assessoria de imprensa da reitoria não respondeu sobre as condições dos cursos até o fechamento desta matéria..
Assembleia estudantil com participação de professores da EBA e da FAU