Memória, Verdade e Justiça. A tríade tão reivindicada por movimentos sociais e pesquisadores que estudam o período da ditadura militar brasileira foi tema de debate no Instituto de História na última sexta-feira (12). A professora Maria Paula Araújo e a fundadora do coletivo Memória, Verdade e Justiça, Ana Bursztyn-Miranda, discutiram o tratamento dado pelo Estado brasileiro a esta parte da história nacional. Maria Paula, que também é diretora da Adufrj, esclareceu que todo país que transita de um movimento ditatorial para a democracia precisa tomar medidas políticas e judiciais para reparar as violações de direitos humanos cometidas. Esse conjunto de ações se chama Justiça Transicional. “Não existe um único modelo para essa justiça transicional. Depende da configuração política de cada país. O grau de profundidade da democratização de cada um desses Estados vai ser influenciado pelos elementos de justiça transicional”. No Brasil, a docente argumenta que não houve a reparação suficiente dos crimes cometidos por agentes do Estado. “Nunca se mergulhou profundamente nas violações de direitos humanos no Brasil. As Forças Armadas nunca reconheceram a tortura. Justamente por isso esses elementos permanecem até os dias de hoje, “sobretudo contra os mais pobres, negros, jovens moradores de periferias”. Para Ana Miranda, que foi presa política nos anos 1970, o apagamento da memória, verdade e justiça tem relação direta com a Lei de Anistia, aprovada no final de 1979. “Nós perdemos. Não houve uma anistia ampla, geral e irrestrita. Não foi isso que aconteceu. Basicamente o que houve foi que os exilados puderam voltar ao Brasil”. A consequência da lei aprovada, com características diferentes das defendidas por movimentos sociais, foi a anulação dos crimes cometidos pelos militares. “Houve um silenciamento profundo a respeito das graves violações de direitos humanos daquele período. O resultado disso é que o coronel Brilhante Ustra é um herói, o delegado Sérgio Fleury é um herói”. Maria Paula complementou: “A anistia foi uma bandeira do movimento social. Houve povo na rua pedindo a anistia. Mas a proposta da sociedade civil perdeu no Congresso. As elites políticas negociaram aquilo que lhes interessavam”, afirmou. Associado ao silenciamento dos crimes cometidos nesse período, o Brasil vivencia agora um novo momento: o de negação da história. O movimento, promovido por setores ligados ao atual governo, preocupa. “O negacionismo existe justamente porque há estudos que se debruçam sobre o que aconteceu. A historiografia alemã também passou por isso”, disse Maria Paula. A jornalista Cristina Chacel mediou o debate. Estudiosa do tema e autora do livro “Seu amigo esteve aqui” – história do desaparecido político Carlos Alberto Soares de Freitas – ela afirmou que há um “esforço de apagamento da história recente do país, especialmente da ditadura militar e do terrorismo de Estado”. A atividade realizada pelo Instituto de História compôs o “Circuito pela Democracia”, que ao longo de todo o mês de abril promove debates e atividades culturais para marcar os 55 anos do Golpe de 1964. No dia 1º, os palestrantes foram dois professores do Instituto de História: Carlos Fico, especialista em ditadura militar, e Paulo Fontes, especializado em movimentos sociais e sindicalismo. O mediador do debate foi Chico Otávio, jornalista de O Globo. Na terça (16)), foi a vez do debate sobre “Militares ontem e hoje na política”. A mesa contou com os professores Eduardo Heleno (UFF) e Adriana Barreto (UFRRJ). A mediação foi da jornalista Claudia Santiago (Núcleo Piratininga de Comunicação). Na quarta (17), na sala 308, será projetado o filme “O Dia que durou 21 anos”, seguido de debate com o diretor Camilo Tavares. Confira a programação em: https://www.ppghis.historia.ufrj.br/novidades/circuito-pela-democracia-55-anos-do-golpe-de-1964/
Plataforma inédita de mobilização e monitoramento de dados e políticas públicas relacionados às universidades é uma iniciativa da Adufrj e outras associações docentes. Atividade será transmitida ao vivo pela página do Observatório Será lançada hoje uma plataforma inédita de mobilização e monitoramento de dados e políticas públicas relacionados às universidades. O Observatório do Conhecimento é uma iniciativa da AdUFRJ que já reúne onze associações docentes de diferentes estados brasileiros. A atividade está marcada para 18h30, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Confira no perfil da Adufrj no Facebook a transmissão ao vivo: https://www.facebook.com/adufrj.ssind/ O foco é monitorar com precisão todas as ações do governo e no Legislativo sobre temas que envolvem o ensino superior, tanto no campo da Ciência como no da Educação. A proposta é usar esses dados para enfrentar os cortes de investimentos que acontecem desde 2014 e asfixiam a produção acadêmica do país. “O Observatório é totalmente aberto para associações, movimentos sociais e organizações da sociedade civil”, explica a professora Tatiana Rappoport, do Instituto de Física, uma das idealizadoras do projeto. “Queremos aproximar a sociedade da universidade”. Rappoport explica que o projeto tem três vertentes de atuação: uma plataforma digital com informações importantes sobre as universidades, uma ação de Advocacy para monitorar e influenciar parlamentares e gestores e ações de mobilização nas universidades. A equipe do Observatório acompanhará de forma permanente as bancadas parlamentares, Comissões do Senado e da Câmara, Ministérios e Secretarias envolvidos diretamente na formulação das políticas de educação superior no país. QUALIFICAR O DEBATE “A gente pretende combater a manipulação, qualificar o debate público e aumentar o controle social sobre decisões estratégicas para as universidades e demais instituições de produção de conhecimento”, explica o professor Felipe Rosa, diretor da Adufrj. “O país atravessa um momento difícil pela surpreendente difusão de informações falsas desde o ano passado. É muito significativo contar com dados precisos e verdadeiros. Só a partir deles é que poderemos encontrar as respostas adequadas para cada situação”, completa. Para o docente, o momento de “muitas incertezas no Ministério da Educação” reforça a importância da iniciativa. “O Executivo tem muito poder, mas diversas decisões cabem ao Congresso”, pondera Felipe.
Após três meses de imobilismo e muitas trocas de cargos, o Ministério da Educação tem uma nova equipe mais alinhada ao Ministério da Economia, afastada dos militares e sem relação direta com a área Após três meses de imobilismo e muitas trocas de cargos, o Ministério da Educação tem uma nova equipe mais alinhada ao Ministério da Economia, afastada dos militares e sem relação direta com a área. Abraham Weintraub, antes secretário-executivo da Casa Civil, substituiu Ricardo Vélez no comando da pasta. Próximo ao presidente Jair Bolsonaro, seguidor do escritor de extrema direita Olavo de Carvalho, Weintraub tem pouca experiência em gestão pública e em educação. Economista com mestrado em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas, é professor licenciado de Ciências Contábeis na Unifesp, onde ingressou em 2014. Com carreira no setor financeiro - trabalhou por 18 anos no Banco Votorantim e depois foi sócio de uma empresa de investimentos -, cuidava da reforma da Previdência na equipe de transição de Bolsonaro. Weintraub trocou quase todo o secretariado com nomes da Casa Civil e do Ministério da Economia, formado em sua maioria por economistas ou especialistas em finanças. Dos escolhidos, apenas um tem experiência na área educacional, mas ligada a instituições particulares do ensino superior. Ficaram nos cargos os atuais secretários de Alfabetização e de Modalidades Especializadas. Durante sua posse, o ministro ameaçou quem não estiver afinado com as diretrizes do governo. “A gente vai pacificar o MEC. Como funciona a paz? A paz a gente está decretando agora que o MEC tem um rumo, uma direção, e quem não estiver satisfeito com ela, por favor avise, que vai ser tirado.” Há duas semanas, quando o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira foi nomeado para a Secretaria-executiva, presumia-se que a ala militar ganharia força no MEC contra os olavistas. O militar, porém, durou dez dias na função. Antes de sair, concluiu decreto que retirou a orientação de adotar o método fônico de alfabetização, defendido por olavistas. Na avaliação do professor emérito da Unicamp Dermeval Saviani, a mudança no MEC equivale a “trocar seis por meia dúzia”. “Ele é tão ou mais reacionário que o anterior”, afirmou, ao citar um vídeo no qual o novo ministro aparece ao lado do irmão Arthur e defende que se deve responder com xingamentos quando se falar em comunismo ou em socialismo. Os dois faziam uma palestra sobre como “vencer o marxismo cultural nas universidades” na Cúpula Conservadora das Américas, em dezembro. “Estamos em uma situação de retrocesso, com orientação ultraneoliberal. Já antevemos que a educação vai sofrer privatizações, terceirizações e redução dos recursos públicos”, disse Dermeval. O Professor Titular da Faculdade de Educação da UFRJ Luiz Antônio Cunha, analisa as mudanças como “uma tentativa de substituir um ministro marcado pela inação por alguém que vai mostrar muita atividade sobre aquilo que ele mais entende, as finanças”. Na sua avaliação, Weintraub tem uma característica financista que deve “convergir com a orientação máxima do ministro da Economia, Paulo Guedes: a desvinculação do orçamento, especialmente da Educação”.
Especialistas em finanças na educação
ANTONIO PAULO VOGEL DE MEDEIROS Novo secretário-executivo do MEC. Era adjunto de Weintraub na Casa Civil. Atua em finanças públicas há 20 anos e foi secretário de Fernando Haddad na Prefeitura de SP. JANIO CARLOS ENDO MACEDO Novo Secretário de Educação Básica. Aposentado do Banco do Brasil, estava na pasta da Economia, onde foi adjunto da Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal. ARNALDO BARBOSA DE LIMA JUNIOR Novo Secretário de Educação Superior, Economista e servidor, era diretor da Funpresp. Atuou nas pastas da Fazenda e do Planejamento nos governos Lula e Dilma.
O Boletim da Adufrj apresenta um perfil da primeira reitora eleita da história da UFRJ. Nele, a professora Denise Pires de Carvalho compara o resultado da eleição deste ano com o da disputa de 2015 Esqueçam o estereótipo da cientista enfurnada no laboratório e da candidata que só fala de política. Denise Pires de Carvalho, além de apresentar uma trajetória acadêmica consolidada, é muito mais. Uma das facetas da reitora eleita, para deleite dos amigos e familiares, é transformar-se em chef amadora nas horas vagas. Um panelão de estrogonofe já foi prometido aos apoiadores da campanha: “Quando estou muito estressada, começo a cozinhar. Aí eu desestresso”. Denise adora inventar em cima de receitas que pega na internet. O marido, professor Álvaro Leitão, aposentado do Instituto de Biofísica, é tiete acadêmico, político e gastronômico. “Ela faz um carneiro maravilhoso e todos os tipos de frutos do mar. Às vezes, chamamos amigos e almoçam uns 40 lá em casa”. A casa fica no Jardim Guanabara, na Ilha do Governador. A proximidade com a Cidade Universitária favorece a qualidade de vida: “Sem trânsito, chegamos aqui em dez minutos”, diz Álvaro. A residência também deixa a família perto de outra paixão: o samba. São frequentes as visitas à quadra da União da Ilha. E também às boas casas do ramo, na Lapa ou na zona portuária. O coração da reitora eleita é verde-e-rosa. “O samba da Mangueira deste ano foi história pura! Eu saí do desfile das campeãs já rouca e não consegui me recuperar até agora”. Mas o gosto musical é eclético. “Fui a todos os Rock in Rio. Adorava o Queen. Gosto do Iron Maiden e do Metallica”. Mesmo com uma agenda apertada, a professora não deixa de acompanhar a trajetória das duas filhas, uma de cada casamento. Na madrugada de sábado, enquanto era entrevistada para o Boletim da Adufrj, Denise pediu licença para atender a uma ligação da mais velha, Daniela, que trabalha na Austrália. Já Isabela, que está terminando Medicina na UFRJ, vive a expectativa de ter o diploma assinado pela mãe: “Quando chego em casa, quero conversar com ela sobre tudo que aconteceu na faculdade. Ela sempre me apoiou”. E completa: “Estou para me formar. Se ela assinar meu diploma, vai ser maneiro!”. A vocação para a liderança vem desde a juventude. “Fora da universidade, sempre fui representante de turma”, diz. “Sempre fui politizada”. E a derrota no pleito de 2015 à reitoria não a abalou. Denise venceu entre os docentes, mas não entre os técnicos e estudantes: “Saí daquela eleição muito tranquila. Não queria ser reitora só dos professores. Hoje, ganhamos entre professores e técnicos por ampla maioria e perdemos entre os estudantes por uma margem pequena”. A reitora eleita espera mudar a opinião dos alunos ao longo do mandato: “Queremos investir na graduação, melhorar as políticas estudantis. Podemos construir ao longo dos quatro anos uma relação sólida com os estudantes”.
Pela primeira vez, a maior universidade federal do país será comandada por uma mulher, a professora titular Denise Pires de Carvalho, do Instituto de Biofísica. O professor titular Carlos Frederico Leão Rocha, do Instituto de Economia, será o vice-reitor Pela primeira vez, a maior universidade federal do país será comandada por uma mulher. A professora titular Denise Pires de Carvalho (Instituto de Biofísica), 54 anos, foi eleita em primeiro turno com votos de professores, técnicos e alunos da universidade. A apuração entrou pela madrugada. Denise agradeceu o apoio de todos e disse que pretende levar à frente o trabalho na administração central dialogando com todos e em busca de união da comunidade universitária." A UFRJ vai ser muito diferente", disse. A chapa vencedora, Chapa 10, A UFRJ vai ser diferente, conta com o professor titular Carlos Frederico Leão Rocha, 54 anos, (Instituto de Economia) para o cargo de vice-reitor, que já foi vice-presidente da Adufrj. Os candidatos da chapa 40 reconheceram a vitória em primeiro turno da chapa adversária. "Denise, fica tranquila porque nós não vamos apresentar nossos nomes na lista tríplice", afirmou o professor Oscar Rosa Mattos, em referência à votação no Colégio Eleitoral, dia 30.