Accessibility Tools
Paulo Baía
Sociólogo, cientista político, professor da UFRJ
Conheci Michel Misse em 1970, numa festa em Santa Teresa, na casa de Maria Lúcia, que então era casada com Dilson Motta. Eu vivia meu casamento com Helena Pires. Angela Tigela, Maria Lúcia e Helena formavam um trio inseparável. Entre conversas, risos e cumplicidade, Michel se tornou uma presença constante. Logo, fizemos militância juntos e dividimos salas de aula em cursos pré-vestibulares, enquanto eu ainda me dedicava à estatística na ENCE.
Em 1972, prestei vestibular para o IFCS/UFRJ, decisão para a qual Michel foi um dos maiores incentivadores. A confiança dele me atravessava como certeza de que eu poderia ir além. Nossa amizade era feita não só de encontros, mas de empurrões generosos na direção dos sonhos. Ele acreditava antes que eu mesmo acreditasse.
Em 1978, comecei a lecionar na UFRJ, na área de metodologia e técnicas de pesquisa, e também sociologia geral. Era um tempo em que minha militância crescia, com as eleições daquele ano e a campanha pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita para todas as vítimas da ditadura de 1964, do AI-5 e do 477. Tentava conciliar essa intensidade com a escrita de uma dissertação de mestrado em Ciências Sociais na PUC/SP e com as responsabilidades como professor. Não consegui. A vida exigia mais horas do que eu podia oferecer.
Em 1987, com o início dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, fui convidado para integrar a assessoria. Michel deu toda a força, ajudando inclusive no trâmite burocrático para que a UFRJ me colocasse à disposição. E assim fui para Brasília viver um dos momentos mais importantes da minha trajetória.
No início de 1991, mais uma vez Michel esteve ao meu lado, incentivando-me quando recebi o convite de Leonel Brizola e Cybilis Vianna para assumir uma das subsecretarias de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro. Em janeiro de 1995, retornei ao IFCS/UFRJ, mesmo tendo recebido propostas sedutoras, como a de Mário Covas para São Paulo, e o aceno de Artur da Távola para voltar ao Parlamento.
Eu estava pronto para pedir demissão da UFRJ. Meu perfil acadêmico parecia defasado, sem mestrado nem doutorado. Michel me contou que também não havia defendido sua tese de mestrado no IUPERJ, mas que o faria, e depois seguiria para o doutorado. Ele e Marco Antônio Melo me convenceram a continuar como docente, a mergulhar de vez na vida acadêmica. Com a ajuda deles, de Gisalio Cerqueira, Gizlene Neder, Charles Peçanha e Antônio Celso, segui esse caminho.
Fiz o mestrado em Ciência Política na UFF, com Michel e Gisalio na minha banca. Em seguida, ingressei no doutorado em Ciências Sociais no CPDA/UFRRJ. Mais tarde, voltei à UFF para um pós-doutorado em História Social, sob supervisão de Gizlene Neder. Voltei pleno ao IFCS/UFRJ para a segunda etapa da minha vida universitária.
Michel e Marco Antônio Melo me convidaram para fundar o NECVU. Éramos nós três e Heloísa. Essa foi mais uma construção compartilhada, mais uma semente que germinou da amizade e da confiança mútua.
Mas a amizade não se fez apenas nos espaços acadêmicos e políticos. Ela também dançava nos bailes da Estudantina, no Carnaval da Banda de Ipanema, no Simpatia é Quase Amor, no Bloco de Segunda e no fabuloso Maracangalha. Foram décadas de encontros, de risos, de projetos e de sonhos compartilhados.
Hoje, sinto tristeza pela partida de Michel, mas também alívio pelo fim de seu sofrimento. Sinto gratidão à vida por ter permitido que nossos caminhos se cruzassem e se mantivessem lado a lado. Ficam as memórias e o que construímos juntos. Fica a certeza de que amizade é um patrimônio que nem a morte dissolve. Michel Misse permanece em mim, nas histórias, nos gestos, nas marcas que deixou, no afeto que jamais se apaga.
Em 14 de agosto de 2025, em Cabo Frio (RJ).
Fotos: Fernando SouzaO impacto das narrativas falsas no combate às mudanças climáticas foi o centro dos debates e das oficinas do encontro “Vozes pelo Clima: mídia, ciência e educação no combate à desinformação”, organizado pelo Programa de Pós-graduação em Mídias Criativas da Escola de Comunicação da UFRJ, parte do projeto “Climate Talks”, do governo alemão. O evento reuniu especialistas das áreas de Comunicação e Mudanças Climáticas, no dia 11 de agosto, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no Flamengo, Zona Sul do Rio.
Diante de um auditório lotado, sobretudo por alunos do Ensino Médio, os debatedores analisaram como as narrativas falsas produzidas por agentes políticos e econômicos são prejudiciais à sustentabilidade do planeta. O encontro se alinhou à pauta da COP 30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, por tratar a desinformação climática como uma forte barreira para conscientizar a população sobre a importância de debater e propor soluções para a emergência climática. A COP 30 será realizada em Belém, em novembro.
“É uma honra para a UFRJ sediar um encontro dessa magnitude, que une as áreas de Ciências e de Comunicação. Como servidora pública, pesquisadora e professora da área de Biologia, fico muito feliz de ver aqui tantos jovens que podem ajudar a combater a desinformação que tanto prejudica a sociedade”, destacou em sua fala de abertura a diretora do FCC, professora Christine Ruta.
Para o cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro, Jan Freygang, os encontros da série “Climate Talks” trazem à luz diversas visões sobre as transformações climáticas e o combate à desinformação. “A desinformação se tornou uma ameaça para as nossas democracias e para o nosso planeta. O negacionismo climático pode tomar várias formas, os padrões estão mudando. Antes, era a negação da própria existência das mudanças climáticas. Hoje vemos inúmeras tentativas de minar a confiança nas soluções. Temos bases científicas sólidas para refutar essas alegações falsas. Temos que dar voz à Ciência”, disse Freygang.
Mediador dos dois painéis de debates do evento, o jornalista André Trigueiro fez uma provocação inicial para a plateia: “Precisamos acelerar o passo, não temos todo o tempo do mundo, a hora é já. Não tem mais essa de ‘salvem o planeta’. É salvem-se! Esse planeta é uma velha senhora de quase cinco bilhões de anos. Ela já passou por poucas e boas, várias glaciações, chuvas de meteoros. Nós não temos a resistência que o planeta possui. Salvem-se! E parem de falar ‘precisamos cuidar do planeta para os nossos filhos e netos’. Acorda, cara! Não transfira para as gerações futuras o que a gente precisa fazer agora, isso é covardia geracional. Quem tá vivo tem que fazer agora”.
INDÚSTRIA RENTÁVELNo primeiro painel — “Narrativas climáticas e desinformação: agendas em disputa” —, a professora Marie Santini (foto à esq.), fundadora e diretora do NetLab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais) da ECO, destacou a necessidade de regulação das bich techs: “O problema da informação não é residual. É um problema estrutural, virou um mercado, uma indústria muito lucrativa para as big techs. E a gente só vai resolver esse problema se regulamentar a atuação comercial dessas empresas no mundo. A desinformação climática circula principalmente nas plataformas digitais, por meio de anúncios, engajamentos e recomendações, utilizando todas as ferramentas comerciais dessas big techs para amplificar o alcance dessa desinformação”.
Para a jornalista Fernanda da Escóssia (foto à dir.), professora da Uerj, é fundamental observar que a desinformação é hoje uma indústria. “A desinformação não é nada inocente. Ela é parte de um ecossistema, de uma indústria de produção de conteúdos falsos, descontextualizados ou que usam, o que é pior, a roupa da verdade sendo uma mentira. Nesse ano de COP é muito importante que a gente esteja atento à desinformação na área climática. Esses conteúdos têm uma intencionalidade, são voltados para obter dinheiro, influência política ou influência nas redes. E são estimulados e monetizados”, explicou Fernanda.
O Jornal da AdUFRJ fez três perguntas às chapas que disputam a diretoria da seção sindical. Os grupos enviaram suas respostas por escrito, que foram publicadas na íntegra, na edição do último dia 12 de agosto. Divulgamos a apresentação da Chapa 1 "UFRJ na luta por Democracia e Conhecimento", obedecendo à ordem de inscrição de chapas. Nas próximas semanas, as ordens de divulgação dos textos das chapas serão intercaladas para garantir isonomia aos dois grupos que concorrem à gestão 2025-2027.
1) O que caracteriza sua chapa?
Nossa chapa se caracteriza pelo compromisso com a UFRJ, seu passado, mas principalmente a perspectiva de mudanças no presente e no futuro nos processos e práticas do nosso trabalho docente que permitam que a instituição ocupe e alargue sua presença no ensino, extensão e pesquisa, bem como amplie a influência na conformação de uma cidadania efetivamente democrática. Os professores que integram a Chapa 1 atuam em diferentes campos do conhecimento, são diversos sob o enfoque identitário e plurais em termos de suas concepções religiosas, filosóficas e políticas. O que nos une são princípios e valores de defesa da universidade pública, inclusiva e de qualidade, especialmente no contexto dos intensos ataques ao fazer acadêmico por governos de extrema-direita.
2) Qual sua expectativa sobre a campanha eleitoral?
Pretendemos que a campanha eleitoral revitalize o debate simultâneo sobre nossas condições de vida e trabalho e as repercussões das práticas docentes em âmbito local, nacional e internacional na formação profissional, pesquisa e atividades de extensão de alunos, movimentos sociais e pesquisadores. Temos responsabilidade pelo futuro, desde a formação de alunos do ensino fundamental até a formulação de alternativas científicas, tecnológicas e de políticas públicas para o desenvolvimento social sustentável. Nossa intenção é promover um diálogo maduro e sensível às possíveis convergências com os eleitores. Queremos uma diretoria próxima, representativa e capaz de compreender as necessidades e os potenciais de participação dos docentes.
3) Qual o principal desafio da futura gestão?
O principal desafio da próxima gestão será a luta pela UNIVERSIDADE pública, gratuita e de qualidade aberta, de pé, cumprindo seu papel de apresentar perspectivas para o País. Não estamos destinados a ser um país pobre, violento e desigual. Cortes para o ensino superior são inaceitáveis. Nos somaremos a sociedades científicas como a SBPC, ABC, entre outras, para lutar por orçamentos para as universidades e pesquisas adequados e estáveis. Estaremos juntos com entidades da sociedade civil na defesa da paz, dos direitos das mulheres, da população negra, da preservação ambiental. Nenhum direito a menos, ninguém fica para trás.
O Jornal da AdUFRJ fez três perguntas às chapas que disputam a diretoria da seção sindical. Os grupos enviaram suas respostas por escrito, que foram publicadas na íntegra, na edição do último dia 12 de agosto. Divulgamos a apresentação da Chapa 2 "ADUFRJ de luta: dignidade nas condições de trabalho e defesa da universidade pública", obedecendo à ordem de inscrição de chapas. Nas próximas semanas, as ordens de divulgação dos textos das chapas serão intercaladas para garantir isonomia aos dois grupos que concorrem à gestão 2025-2027.
1) O que caracteriza sua chapa?
A Chapa 2 ADUFRJ de LUTA é constituída por jovens docentes que ingressaram na universidade na última década e por docentes com décadas de experiência e dedicação à UFRJ, à Educação Pública e à defesa da democracia. No compromisso com o florescimento de uma comunidade acadêmica diversa, somos antirracistas, anticapacitistas, feministas e incansáveis na defesa da democracia no país e na universidade. Representamos professoras e professores que buscam caminhos de luta por melhores condições de trabalho por meio de um sindicato autônomo do Estado, a partidos e reitorias.
2) Qual sua expectativa sobre a campanha eleitoral?
A campanha será o momento de debater concepções diversas de sindicato e universidade. Integradas às condições de trabalho em uma universidade em ruínas, precisamos urgentemente abordar as dificuldades adicionais enfrentadas por um corpo docente formado por mães, negra/os e idosos, docentes adoecida/os e endividada/os. Discutir também as conquistas coletivas arrancadas pela greve de 2024 e, ao mesmo tempo problematizar o inédito não cumprimento do acordo para o fim do movimento paredista – em pontos que sequer envolvem aportes orçamentários. Ademais, e crucialmente, a omissão da AdUFRJ nesse movimento. Para as aposentadorias, reafirmamos que o caminho não pode ser o das escolhas arriscadas e individuais no mercado de capitais e nos mobilizaremos pelo fim da contribuição de docentes já aposentadas/os. A democracia na Adufrj-SSind ganhará centralidade para superarmos os simulacros de assembleias, nesta última década, destinadas apenas a referendar as posições prévias da Diretoria. Por fim, será o momento de debater que tipo de sindicato queremos para o próximo biênio: um sindicato domesticado, incapaz de propor soluções concretas e que aposta no lobby como único caminho da ação política ou um sindicato aguerrido, intransigente na defesa dos docentes e da democracia.
3) Qual o principal desafio da futura gestão?
Nossos desafios são múltiplos: restabelecer a luta por condições de trabalho dignas para os docentes da UFRJ; resgatar o debate democrático dos caminhos do sindicato autônomo, da universidade e do país; contribuir para o combate contra a extrema-direita e para a proteção da democracia.
Foto: Alessandro CostaApós o incêndio do edifício Jorge Machado Moreira (JMM), em 2016, a Escola de Belas Artes ainda tenta voltar aos melhores dias. O grande problema é a falta de espaço para as atividades acadêmicas, lamenta o professor Daniel Aguiar, Diretor Adjunto de Graduação da unidade.
A situação piorou quando, em janeiro de 2024, o Escritório Técnico da Universidade (ETU) recomendou a interdição do Pamplonão – ateliê que abrigava a maior parte das disciplinas práticas do curso de pintura, além das aulas de modelo vivo — por risco de desabamento do teto.
Até um auditório vem sendo aproveitado como sala de aulas. “Mas, por exemplo, quando chega a época de defesa dos trabalhos de conclusão de curso, também não temos sala”, diz o dirigente da EBA. A galeria Macunaíma, na entrada do Pamplonão, também será improvisada como sala — embaixo de uma marquise, o espaço não oferece risco aos usuários.
Desde o semestre passado, a EBA conseguiu ocupar o oitavo andar do JMM, onde ficavam as pró-reitorias da universidade. Parte dele, no caso. Houve dinheiro para fazer a reforma somente da metade do pavimento. “Se tivéssemos reformado o andar inteiro, talvez a questão de falta de espaço da EBA fosse resolvida”, afirma Daniel. “A ocupação da metade do oitavo andar é uma vitória para a EBA, mas o espaço ainda precisa de adequação para ser melhor aproveitado”, completa.
As salas voltadas para a avenida Pedro Calmon são invadidas pelo sol da tarde. Professores e alunos só conseguem ocupar metade delas. “E nenhuma das nossas salas tem refrigeração. Já tivemos aulas suspensas em ondas de calor. E isso muito me preocupa, sobretudo no final deste semestre, quando vamos entrar no verão”, esclarece o dirigente.
Para chegar lá, outro percalço. Os elevadores vivem quebrados. “A gente já chegou a ter nenhum elevador funcionando, mas estamos longe do que deveria ser o ideal”.
IMPERMEABILIZAÇÃO
DO BLOCO D
Responsável pela Coordenação de Preservação em Imóveis Tombados (Coprit), Leonardo Rodrigues Santos respondeu que o edifício JMM nunca possuiu instalações de climatização adequadas. “O projeto original da década de 1950 não previa esse sistema, que foi sendo executado de modo gradual e adaptado pelas unidades”, explica. “A drenagem inadequada danificava as fachadas e gerava riscos de incêndio, pois foram ligados em instalações elétricas que não previam esta carga”, disse.
A revisão das instalações vem ocorrendo desde 2016. No caso da EBA, os Laboratórios de Restauração (térreo do bloco D) foram climatizados. Já outra contratação possibilitou a energização dos quadros dedicados à climatização dos 6º e 7º andares. “Essas instalações ainda não são as mais adequadas. É necessário que se realize um plano de implementação para o sistema de refrigeração para todo o edifício”, completa Leonardo.
Sobre o Pamplonão, a Coprit esclarece que está em processo para contratação da impermeabilização do bloco D (onde se localiza o ateliê) junto da recuperação estrutural do espaço. “Contudo, não há indicação orçamentária para contratação”.
Em relação aos elevadores, o Escritório Técnico da Universidade responde que três estão em funcionamento. “Estamos realizando o treinamento de fiscais para qualificar o acompanhamento da execução do serviço de manutenção”, explica Rodrigo Bogado, coordenador geral dos Escritórios de Planejamento do ETU.