Accessibility Tools

facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2023 07 20 at 20.16.45 1Foto: Divulgação/AndesO fórum Renova Andes, principal coletivo de oposição à atual diretoria do sindicato nacional dos docentes, divulgou uma carta no início dos trabalhos do 66º Conad em que denuncia “um processo eleitoral marcado pelo casuísmo e pela falta de democracia que compromete gravemente a legitimidade da nova direção” da entidade. Além da carta, o coletivo tomou a iniciativa de não participar da posse da nova diretoria — a cerimônia ocorreu na plenária de abertura do encontro. A nova diretoria é encabeçada pelo professor Gustavo Seferian (UFMG), como presidente, e pelas professoras Francieli Rebelatto (UNILA) e Jennifer Webb (UFPA), respectivamente secretária-geral e 1ª tesoureira. Na carta, o Renova Andes pondera que as chapas concorrentes ao sindicato no último pleito foram anunciadas em fevereiro e homologadas no início de março, “mas apenas depois disso a Comissão Eleitoral Central (CEC) arbitrou quem compunha o eleitorado”. A carta reforça outra irregularidade: a inclusão de professores de instituições onde não há seções do Andes, como UFRN, UFG e UFBA, e seções que se encontram inadimplentes, como a UFPE, em contraponto à exclusão de UFMG e UFSCAR, nas quais as diretorias das associações docentes iniciaram processo de refiliação ao sindicato nacional. “O resultado esdrúxulo desse arranjo antidemocrático é o candidato a presidente pela chapa 1, docente da UFMG, não ter direito a voto, nem ter sido votado por seus colegas de universidade, pois a CEC considerou que o sindicato não existe na UFMG, sem explicar por que ele existiria na UFRN, UFG, UFBA!”, relata a carta, distribuída em plenário. Diz ainda o documento: “Isto foi possível porque o Andes-SN deve ser o único sindicato em que a fixação do universo de eleitores ocorre depois do processo se iniciar, com as chapas já em campanha e ao sabor dos interesses das correntes que detêm a maioria da Comissão Eleitoral”. A chapa 1, de situação, foi eleita com 7.056 votos, 30 a menos que nas eleições de 2020. A chapa 3, do Renova Andes, obteve 6.763 votos, 1.105 a mais do que no pleito anterior. A chapa 2, que até a eleição compunha com a situação, teve 2.253 votos. De acordo com a professora Eleonora Ziller, da Faculdade de Letras da UFRJ, que foi candidata a secretária-geral da chapa 3, o boicote foi uma forma de expressar a insatisfação pela forma como foi conduzida a eleição pela CEC. “Assim como a metodologia dos encontros, o Regimento Eleitoral é estruturado para que a direção mantenha o controle sobre o processo do início ao fim. O colégio eleitoral ser decidido com a eleição em curso, como foi, é um absurdo, uma excrescência”, pontuou Eleonora. O presidente do Andes, professor Gustavo Seferian (UFMG), encarou o protesto com naturalidade. “Em relação ao processo eleitoral, é natural que se retomem algumas questões, o que é legítimo e esperado num momento como esse. Vamos avançar na construção de um processo cada vez melhor, em busca de um sindicato para todos os professores e professoras, independentemente de suas posições políticas”.

Enquete levanta condições de saúde de docentes

WhatsApp Image 2023 07 20 at 20.19.59Foto: Divulgação/AndesO Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) do Andes apresentou no 66º Conad o relatório preliminar de uma enquete sobre as condições de saúde dos docentes das instituições federais de ensino. O levantamento teve como foco apurar o quadro de saúde dos docentes a partir das modificações impostas pela pandemia de covid-19 e do desenvolvimento de atividades remotas de trabalho.
Ao comparar o último semestre trabalhado com o segundo de 2019 (o último pré-pandemia), 65% dos docentes avaliaram que a carga de trabalho aumentou; 26% avaliaram que permaneceu a mesma e 3,5% que diminuiu (outros 5,8% não responderam). Perguntados sobre a frequência com que se sentem sobrecarregados no trabalho profissional, 42% responderam que sempre, 33% consideraram que frequentemente, 21% responderam que algumas vezes, 3,5% disseram que raramente e 1,2%, que nunca.
O documento revela que a maioria dos docentes (58%) possui dívidas, financiamentos ou empréstimos, o que pode expressar os ataques contra a carreira e as perdas salariais.
A primeira etapa da enquete contou com a participação de 1.874 docentes, sindicalizados ou não, de 11 instituições, por meio da aplicação de um questionário online entre os dias 22 de maio e 22 de junho. A próxima etapa da enquete contemplará todas as outras instituições que compõem a base do sindicato nacional, com previsão de início para o segundo semestre deste ano. O relatório preliminar está disponível no site do Andes.
As 11 instituições participantes da primeira etapa foram Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Universidade Estadual do Ceará (Uece); Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste); Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT); Universidade Federal do Tocantins (UFT); Universidade Federal Fluminense (UFF); Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS); Universidade de Brasília (UnB); Universidade de Gurupi (UnirG) e Universidade de São Paulo (USP).

CENTRÃO FRITA CIÊNCIA

As diretorias da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da Academia Brasileira de Ciências divulgaram uma nota em defesa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, no dia 19. A preocupação dos cientistas é com uma possível substituição da ministra Luciana Santos (foto) por um nome do centrão, que cobiça o cargo. “O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a conquista histórica da comunidade acadêmica, estaria sendo cobiçado por aqueles que não têm compromisso com as causas do conhecimento científico e do progresso econômico e social”, diz o texto. “O futuro do Brasil não pode estar atrelado a visões do passado”.

WhatsApp Image 2023 07 20 at 20.16.45Foto: Alexandre MedeirosCom poucas polêmicas temáticas e novas críticas à metodologia do encontro, o 66º Conselho do Andes (Conad), realizado de 14 a 16 de julho em Campina Grande (PB), atualizou o Plano de Lutas do sindicato nacional para os próximos meses. Entre os destaques estão a luta contra o arcabouço fiscal, o fim da lista triplice para reitores, o combate à violência nas instituições de ensino e à ofensiva da extrema-direita contra a liberdade de ensinar e aprender, e a realização de uma campanha de valorização dos trabalhadores da Educação. O Conad também aprovou a intensificação da luta pelo reenquadramento de docentes aposentados, com paridade e integralidade remuneratória em relação aos servidores na ativa.
Em sua plenária de abertura, o 66º Conad empossou a nova diretoria do Andes para o biênio 2023-2025, com boicote do fórum Renova Andes (veja matéria na página 5). O encontro contou com 335 docentes credenciados, sendo 64 delegados e 226 observadores, de 69 seções sindicais — além de diretores e convidados. Por aclamação, a cidade de Belo Horizonte foi escolhida como sede do 67º Conad, que acontecerá em 2024.

CONJUNTURA POLÍTICA
Delegada da AdUFRJ no início do 66º Conad (foi substituída pela professora Eleonora Ziller no decorrer do encontro), a professora Mayra Goulart mostrou preocupação com algumas posições da diretoria do Andes em relação ao governo Lula. “A leitura de conjuntura que a direção do sindicato tem feito me lembra muito aquela que levou o Andes a fazer parte do “Fora, Dilma”. O que fizemos em 2015 e 2016 foi dar palco para a direita dançar. E não podemos fazer isso agora. Temos que apoiar esse governo que ajudamos a eleger”, ponderou Mayra.
A professora criticou também a dinâmica do sindicato nacional que, segundo ela, tem afastado a direção da base: “Nós temos uma diretoria que controla a máquina sindical por muito tempo. E, com esse controle, tem operado um afastamento do professor do sindicato. Isso torna difícil para nós, que estamos tentando construir uma oposição, chamar um professor para votar. Porque quando a gente fala que a eleição é do Andes, ele não demonstra o menor interesse. Esse é um reflexo desse processo deliberado de afastamento desse professor comum, que está lá em sala de aula, ou no seu laboratório, que quer saber do seu salário, e não da guerra da Ucrânia. Temos que conversar não só com esse professor, mas com os diferentes segmentos da sociedade, como está fazendo o governo Lula. Não temos que dialogar só com quem é de esquerda”.
Integrante da delegação da AdUFRJ, a professora Ana Lúcia Fernandes foi na mesma linha de Mayra. “Acho que a diretoria que assume agora tem a enorme responsabilidade de interromper um longo ciclo de políticas de guetos, de descolamento e de falta de diálogo com a sociedade, sobretudo com os professores da base. Há pouco espaço para quem não é militante raiz nas esferas de decisão do Andes. O sindicato deve se voltar mais para a realidade das universidades, para as condições de trabalho dos professores, sobretudo daqueles mais jovens, que entram com salários baixos e poucas perspectivas de progressão na carreira”, argumentou Ana Lucia.

DELIBERAÇÕES
O fim da lista tríplice para a escolha de reitores, o combate ao arcabouço fiscal, o fortalecimento da Campanha Salarial de 2024 e a Auditoria Cidadã da Dívida foram alguns dos temas debatidos e deliberados na atualização do Plano de Lutas do Setor das Ifes do Andes. “Depois das intervenções do governo Bolsonaro na escolha de dirigentes universitários, o fim da lista tríplice é um ponto central de nossa luta. O foco, orientado pelo princípio da gestão democrática do Caderno 2 do Andes, é para que os processos de escolha dos dirigentes universitários se iniciem, transcorram e terminem nas próprias instituições”, defendeu o presidente do Andes, professor Gustavo Seferian (UFMG).
Em relação à Campanha Salarial de 2024, o Conad definiu intensificar a construção da campanha em conjunto com as demais categorias do funcionalismo público e garantir a recomposição salarial de todas as perdas históricas de servidoras e servidores públicos, no âmbito dos coletivos Fonasefe e Fonacate.
Os delegados aprovaram por unanimidade um texto de resolução condenando o ataque do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a professores e professoras, durante um evento pró-armas em Brasília (DF), no dia 9 de julho deste ano, comparando-os a traficantes de drogas. Nesta quinta-feira (20), a Polícia Federal pediu a abertura de inquérito contra o deputado para apurar a possível prática de incitação ao crime.

METODOLOGIA ARCAICA
As críticas à metodologia do sindicato nacional na condução dos trabalhos se avolumaram durante o 66º Conad. Um exemplo foi simbólico. Durante a plenária de avaliação do Plano Geral de Lutas, um dos pontos sugeria que o Andes organizasse um número especial da sua revista “Universidade e Sociedade” sobre a temática ambiental. Um dirigente do Andes ponderou, ao microfone, que a revista que trata dessa questão já estava disponível no site do sindicato e que a discussão estava, portanto, superada. Mesmo assim, a mesa que dirigia os trabalhos colocou em votação a sugestão, levando boa parte da plateia a um rumoroso murmúrio de desaprovação.
Segundo a professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ e delegada do sindicato em boa parte do encontro, exemplos como esse mostram que a metodologia do Andes na condução de conselhos e congressos é um entrave à participação da base. “Essa metodologia vem sendo desenvolvida ao longo de duas décadas, segundo eles para atender a base, para que todos possam participar. Entretanto, essa tese não se sustenta, pois essa metodologia funciona para garantir que a diretoria do Andes tenha controle sobre todas as decisões”, sustenta Eleonora.
A professora explica como o método funciona: “Todos podem mandar o que quiser para os encontros, os textos de referência. Aparentemente isso é democrático, mas pulveriza e sobrecarrega a discussão, fazendo com que a gente perca o foco das lutas essenciais para os docentes. Essas lutas essenciais ficam diluídas num mar de questões que vão da Ucrânia ao apoio a um evento de artes na Região Norte. São coisas que poderiam ser resolvidas em âmbito de GTs do Andes, que não precisam ser levadas ao Conad. A subordinação a essa metodologia é um modo de mascarar o controle que a diretoria tem, já que ela tem indicados em todos os grupos de discussão. Só a direção do Andes está em todos os grupos, conduzindo as reuniões. E há outro método bem conhecido, que é estender a discussão ao máximo, nos detalhes, de forma que a participação fique restrita à militância, já que, pelo cansaço, os demais participantes vão desistindo e esvaziando o plenário. E se afastando do movimento. Essa é a farsa da metodologia do Andes que temos que insistir em desmascarar”.
O presidente do sindicato nacional, Gustavo Seferian, defende a metodologia, sem deixar de perceber que mereça ajustes com vistas a torná-la mais atrativa e dinâmica. “É importante perceber a pluralidade da composição do nosso sindicato, como temos vários pontos de vista, leituras diferentes da realidade. Isso é muito rico e é fundamental que tenhamos a capacidade de dialogar, sempre com respeito. O Conad é nosso conselho fiscal e atualiza os planos de lutas definidos em congresso. Foi isso que fizemos em Campina Grande, com avanços significativos. Foi importante atualizar nossos planos de lutas, com calibragens importantes não só em relação à lida com problemas importantes como a lista tríplice e a campanha salarial dos servidores federais, como ao aprofundamento dos debates sobre o Novo Ensino Médio, já que o atual governo vem esboçando poucas iniciativas de sua revogação. O Andes é um instrumento de unidade de ação, e para isso contamos com a participação de todos os professores e professoras, que são indispensáveis para o fortalecimento de nosso sindicato”.

WhatsApp Image 2023 07 12 at 18.19.44 5Fotos: Fernando SouzaIgor Vieira

Olhares deslumbrados, sorrisos aos montes e memórias revisitadas. O segundo passeio da AdUFRJ ao Real Gabinete Português de Leitura cumpriu com louvor a missão de entreter com beleza e cultura mais um grupo de professores e seus acompanhantes, no último dia 7.
Silvana Allodi, do Instituto de Biofísica, se transportou no tempo. “Adorei ver a sala de Camilo Castelo Branco. O livro dele, ‘Amor de Perdição’, marcou minha adolescência. Lembro bem da história”.
A professora parabenizou o sindicato pela iniciativa e elogiou a colega Gilda Santos, aposentada da Faculdade de Letras e vice-presidente cultural do espaço, que guiou a visita. “Foi ótimo ter o acesso exclusivo com a professora Gilda, que explicou tudo muito bem”, disse. “É um aprendizado muito importante, para professores e alunos de todas as áreas, não só de história ou letras”, completou.
Para o professor Elson Cormack, da Faculdade de Odontologia, a visita foi mais do que um passeio. “Foi uma aula histórica e cultural. Nós tivemos a oportunidade de visitar áreas que não são abertas ao público em geral. Fomos às ‘entranhas’ do prédio, com a professora Gilda sendo mais que um guia”.
O professor era só agradecimento por ter percorrido o Real Gabinete, uma das 10 bibliotecas mais lindas do mundo. “Eu já visitei umas três bibliotecas dessa lista, mas nunca tinha vindo ao Gabinete, na minha cidade. Agradeço à AdUFRJ pela oportunidade de mais do que conhecer esse monumento importante da nossa história”. WhatsApp Image 2023 07 12 at 18.19.45 1
Coberta de elogios por todos, a professora Gilda retribuiu. “Para mim, é sempre prazeroso compartilhar sobre o Gabinete com quem está interessado em saber”.
Dentro da biblioteca, Luís de Camões é o grande destaque, ao lado de Camilo Castelo Branco e Padre Antônio Vieira. Mas se engana quem pensa que o prédio é exclusivo para obras de portugueses. “Além da primeira edição de ‘Os Lusíadas’, o primeiro título cadastrado, em 1837, foi ‘Obras Completas de Voltaire’”, disse Gilda.
“Não temos só livros portugueses. Na verdade, temos livros de qualquer tema, antigo ou atual. Quero dar visibilidade a nossa ‘Brasiliana’, com obras de autores brasileiros e documentos ligados à história do Brasil”, afirmou.

NOVOS PASSEIOS
Idealizadora do passeio, a professora Mayra Goulart estava contente com a repercussão. “No aniversário de uma amiga, conheci a professora Gilda, que se disponibilizou a realizar a visita”, disse a vice-presidente da AdUFRJ. “Gosto de lembrar que o sindicato é um espaço de luta, mas também de socialização”.
Diante do sucesso dos quatro passeios feitos até agora — dois à Pequena África e dois ao Real Gabinete, a AdUFRJ estuda ampliar o projeto. Datas e locais das próximas visitas serão divulgados oportunamente em nossos veículos de comunicação.

WhatsApp Image 2023 07 12 at 18.19.44 1Foto: Meriane PaulaO Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ recebeu, dia 6, uma reunião do Observatório do Conhecimento — rede de associações e sindicatos docentes que defendem a universidade pública, gratuita e de qualidade, além da liberdade acadêmica. A AdUFRJ, hoje na coordenação do Observatório, foi a anfitriã do encontro. “O evento foi muito bem-sucedido. Conseguimos atrair a maioria das associações docentes que fazem parte do Observatório”, afirmou a professora Mayra Goulart, vice-presidente do sindicato. “Discutimos a pauta do segundo semestre e pensamos nossas estratégias”.
“Estamos nos preparando para a semana de mobilização, de 15 a 17 de agosto, para trabalharmos alguns encaminhamentos em Brasília”, reforçou Francielle Simch, diretora da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (Apufpr). Acabar com a eventual interferência dos governos no processo de escolha dos reitores das federais e transformar o decreto do Programa Nacional de Assistência Estudantil em lei estão entre as metas do Observatório. “Ou seja, queremos transformar essas discussões em ações como parte da defesa da universidade pública”, completou.
Ajudar a desenvolver políticas de saúde mental para a comunidade acadêmica também está no radar do Observatório. A iniciativa seria resultado de uma parceria com grupos de pesquisa liderados pela UFRGS, UFF e USP. O primeiro passo é conferir como as universidades públicas federais e estaduais vêm tratando o tema, obtendo dados quantitativos e qualitativos. Mas a ideia não é parar por aí. “Nosso Observatório esteve em reunião com a Secretaria Nacional de Juventude, no dia 4 de julho, com o intuito de aprofundar laços e ampliar o alcance dessa pesquisa”, afirmou o professor Silvio Ricardo, dirigente da Associação de Docentes da Universidade Federal do ABC.
Ainda como resultado da parceria com os grupos de pesquisa, o Observatório foi convidado a participar do curso “Psicanálise e saúde mental na Universidade: políticas de vida, escuta e sobrevivência psíquica em tempos sombrios”, que será realizado na USP em setembro e outubro.

WhatsApp Image 2023 07 12 at 18.19.44 4Foto: Fernando SouzaPor Alexandre Medeiros, Ana Beatriz Magno, Kelvin Melo e Silvana Sá

Dois anos de pandemia, quatro de cortes orçamentários e um governo federal que tinha aversão às universidades públicas e desapreço à Ciência. Foi sob essa conjuntura desfavorável, para dizer o mínimo, que a gestão da reitora Denise Pires de Carvalho — hoje secretária de Educação Superior do MEC — e do vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha conseguiu superar uma das mais duras fases da história centenária da UFRJ. Leão Rocha assumiu a reitoria após a saída de Denise, em fevereiro, e concluiu um trabalho que, diante de tantos percalços, é por ele considerado como vitorioso. “Entregamos uma universidade melhor do que nós pegamos. Melhor equipada, tanto sob o ponto de vista administrativo quanto do acadêmico”, considera o professor, que passou o bastão há duas semanas para seu sucessor, o professor Roberto Medronho.
Nesta entrevista, Leão Rocha fala de erros e acertos de sua gestão, sem medir as palavras. Entre os acertos, o ex-reitor destaca a condução da universidade durante a pandemia e depois. “Acho que a atuação da UFRJ na pandemia foi exemplar. E conseguimos levar essa universidade para o remoto superando grandes dificuldades, sem nenhuma experiência anterior desse tipo”, lembra ele. Um dos erros apontados pelo professor foi o tratamento dado ao pagamento dos adicionais de insalubridade. “Nisso a gente falhou na gestão. E tivemos dificuldades de falar isso adequadamente aos sindicatos. Houve um erro de comunicação sério da nossa gestão”, reconhece o ex-reitor.
Professor do Instituto de Economia, Leão Rocha quer agora “voltar para casa”, dar aulas de Microeconomia e iniciar uma linha de pesquisa em descarbonização. “Tem uma hora que você sente falta daquele cafezinho debaixo da árvore, que você tomava com seus colegas”, diz o professor, que nos concedeu esta entrevista em seu último dia no gabinete de reitor.

Jornal da Adufrj - No dia 26 de junho houve a sua última reunião com a equipe do gabinete da reitoria. Como foi essa reunião?
Carlos Frederico Leão Rocha
- Convoquei a reunião, em primeiro lugar, para agradecer a todos e todas que participaram da gestão pelo apoio durante esse período. E também para fazer um balanço dos desafios que enfrentamos e superamos. Foi uma despedida, um encerramento de ciclo.

E quais foram esses desafios? No último Consuni do qual participou como reitor o senhor falou que sentia orgulho dessa gestão. Por que motivo?
Nossa gestão teve duas características chocantes. A primeira foi a pandemia por dois anos. A segunda foi que pegamos os piores orçamentos da história recente da universidade. E superamos boa parte desses problemas. Acho que a atuação da UFRJ na pandemia foi exemplar. E boa parte desse crédito se deve ao papel que a Denise (a ex-reitora Denise Pires de Carvalho, hoje à frente da SESu do MEC) desempenhou. Ela formou um grupo de trabalho específico para o enfrentamento à pandemia, uma iniciativa fundamental. E conseguimos levar essa universidade para o remoto superando grandes dificuldades, sem nenhuma experiência anterior desse tipo.

E depois trazer de volta a universidade ao modo presencial...
Sim, e tinha muita gente contrária ao retorno. Algumas pessoas da nossa própria equipe se posicionaram assim, e nós bancamos a volta ao presencial.

Não lhe parece que a universidade ainda não voltou ao normal, está bem mais vazia do que estava antes?
Acho que isso não é exclusivo da UFRJ, todas estão assim. Acho que as pessoas descobriram formas alternativas de participação. E principalmente na área de pesquisa houve essa mudança, o local de trabalho de muitos pesquisadores mudou.

Em uma apresentação recente, o professor Marcelo de Pádula (pró-reitor de Graduação) falou sobre o aumento no número dos estudantes de graduação, de 45 mil para 56 mil, por causa dos trancamentos especiais Na pandemia. Onde estão esses alunos?
Há que se observar que estamos pela primeira vez em um semestre em que não há trancamento especial. Isso tem que ser considerado quando analisarmos os números dessa apresentação. Eu queria falar de um aspecto paralelo. Nós pegamos a universidade após três grandes incêndios. E tivemos um quarto durante a nossa gestão. Com um orçamento pequeno, nós estamos entregando as obras do Museu Nacional com tudo encaminhado para a sua conclusão em 2026. Arrecadamos cerca de R$ 250 milhões e há uma promessa do MEC de direcionar mais R$ 180 milhões para a finalização dessas obras.

Esse prazo será cumprido?
Sim, o cronograma vem sendo cumprido. O bloco principal tem previsão de entrega em abril de 2026.

E os outros incêndios?
Tivemos o incêndio do JMM (Edifício Jorge Machado Moreira) em 2016. Dos quatro andares que foram afetados, nós entregamos três. O terceiro incêndio foi no alojamento dos estudantes, em 2017, que nós acabamos de entregar recuperado. E o incêndio em nossa gestão, o do NPD (Núcleo de Pesquisa e Documentação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, em 2021), estamos entregando toda a estrutura de volta também. Isso é um exemplo. Com poucos recursos disponíveis, nós mantivemos a qualidade.

Desde a gestão do professor Aloísio (Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ entre 2003 e 2011), nenhum reitor foi reeleito. Por que, desde lá, nenhum reitor é candidato à reeleição?
Não sei quanto aos outros. No meu caso, eu não fui candidato à reeleição porque as articulações políticas não permitiram. Terminei a última reunião com a equipe dizendo que essa equipe mereceria um segundo mandato. É legítimo o próximo reitor escolher sua equipe, o mandato é dele, jamais cobraria isso do Medronho (Roberto Medronho, reitor eleito e nomeado na semana passada pelo presidente Lula). É uma nova articulação política.

Uma articulação diferente daquela que lhe trouxe até aqui?
Sim. São outros atores. Não é a mesma correlação de forças. Há uma mudança substantiva das pessoas que são chave no núcleo político que pensa a universidade. A decisão de que eu participasse da chapa com a Denise foi tomada em uma reunião na casa do professor Pinguelli (Luiz Pinguelli Rosa, falecido em 2022) e sob uma forte influência da forma como nós organizamos a AdUFRJ em 2015. E dessa vez essa composição foi feita de forma diferente. O professor Medronho partiu de uma articulação muito forte no CCS e partiu para uma discussão com cada um dos centros sobre a sua candidatura. Acho que é um movimento menos de base do que o que nos trouxe até aqui. Nós tínhamos uma discussão mais de base.

O projeto do novo Canecão talvez tenha sido o grande desgaste político da gestão. Mas vocês não perderam nenhuma votação no Consuni. Ou seja, o desgaste não os levou a derrotas, nem nesse ou em qualquer outro projeto mais polêmico, como o da Ebserh. Em contrapartida, todo esse potencial não fez do senhor candidato a reitor. Por quê?
Há atores que preferiram que eu não fosse candidato. Nós tivemos várias reuniões. Eu só poderia ser candidato se fosse candidato da situação. E eu não encontrei apoio na situação. Isso inicialmente me deixou bastante frustrado.

Você se sentiu traído?
Acho que eu não tive o apoio que eu pensava, que eu achava necessário. Eu só poderia ser candidato se fosse candidato de dentro da reitoria, e não encontrei condições para que isso acontecesse.

Há algo que seja a marca de sua gestão, depois da saída da professora Denise?
A minha gestão foi muito curta, são seis meses. Acho que eu e Denise tivemos uma gestão conjunta, e me orgulho da maneira como me inseri como vice-reitor. Não me lembro de outro vice-reitor que tenha sido tão efetivo quanto eu fui. Alguns projetos eu me orgulho de ter estado à frente, como o do Canecão, a mudança do prédio da reitoria para o Parque Tecnológico é outro. O uso dos recursos da CIP (Custos Indiretos dos Projetos) é um projeto meu. É uma norma da ANP (Agência Nacional do Petróleo) que permite o uso de recursos advindos de exploração de campos de alta produtividade para P&D em universidades e centros de pesquisa. A UFRJ é a principal destinatária desses recursos das petroleiras, usados na infraestrutura de laboratórios, em projetos da Coppe, da Escola de Química e de outras unidades. Esses recursos também permitiram a criação de nossas brigadas de incêndio.

O senhor não acha que a reitoria aqui no Parque Tecnológico fica encastelada, longe do cotidiano da universidade?
Eu não tenho medo disso. Eu mandei instalar a placa da reitoria na entrada desse prédio, não acho que temos que esconder que estamos aqui, muito pelo contrário. Essa área do parque é da universidade e temos que habitá-la. Temos aqui um ambiente de trabalho adequado, espaço para as equipes. A área antes ocupada pela reitoria no JMM voltou para a FAU, que sempre teve o desejo de retornar à sua sede, e pode ser utilizada também pela Escola de Belas Artes.

O senhor acha que essa mania dos “puxadinhos” é cultural na UFRJ?
Acho que a UFRJ tem um problema clássico de subinvestimento. É mais ou menos assim: eu recebo um recurso, faço um prédio novo e esse prédio vai se deteriorando sem manutenção ao longo do tempo. Temos uma estimativa de que são precisos R$ 400 milhões para concluir nossas obras inacabadas. Não precisamos derrubar nenhum dos prédios inacabados. Temos estudos técnicos mostrando que todos são plenamente recuperáveis. Para o MEC, nem são obras inacabadas, pois os recursos liberados foram efetivamente gastos em etapas iniciais da construção.

Voltando às votações do Consuni sobre o Canecão...
Sim, logo depois de uma dessas votações, alguém me disse que o Canecão seria um tema da campanha. E eu respondi que se o Canecão fosse um tema da campanha nós ganharíamos a eleição. De fato, o Canecão foi tema da campanha. Você não perde eleição pelo que fez, perde pelo que não fez. E nós fizemos. O Canecão tem contrato assinado. Com a Ebserh, o Consuni aprovou o início das negociações, mas creio que o Roberto Medronho vai tocar isso, não tenho a mínima dúvida. Além do mais ele vindo da Faculdade de Medicina, que está empenhada nesse processo. A pressão que nós recebemos dos médicos para tocar a Ebserh foi muito grande.

No campo do quadro pessoal, sua gestão enfrentou alguns problemas, como os adicionais de insalubridade e as progressões. Houve algum erro de condução da reitoria em relação a esses problemas?
Acho que nós tínhamos que ter nos comunicado de maneira mais clara com os sindicatos, com a AdUFRJ e com o Sintufrj. Acho que temos limitações legais e uma equipe técnica na PR-4 que atende a manuais aos quais não temos acesso. A formação desses quadros é feita de uma maneira centralizada em Brasília e eles seguem orientações que não são dadas por nós. Os técnicos seguem as orientações emitidas pelo Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal (Sipec), com normativas bastante restritivas, por exemplo, no que se refere aos adicionais. Só eles podem ter acesso ao sistema, com o CPF deles. Isso é um lado. Outro lado é a falta de estrutura, por exemplo, a falta de aparatos de medição. E nisso a gente falhou na gestão. E tivemos dificuldades de falar isso adequadamente aos sindicatos. Houve um erro de comunicação sério da nossa gestão.

E sobre as progressões?
No caso das progressões múltiplas, eu tenho trabalhado para avançarmos. Estive com a ministra da Gestão recentemente para tratar desse assunto. Mas não é simples. A legislação impõe aos professores a avaliação, enquanto isso não é exigido de outras carreiras. Há unidades na UFRJ, por exemplo, que exigem que o docente apresente todas as suas publicações em papel ou em foto na sua avaliação. Não basta ter preenchido o Lattes. Há outras em que o professor tem que comprovar que deu aulas! Isso não é razoável.

O senhor considera que a gestão do professor Medronho é uma continuidade da sua?
Não, acho que a nossa gestão terminou. Entra uma nova gestão, com uma nova correlação de forças, novos atores centrais. Mas o professor Roberto Medronho é do nosso campo político. E se você entender a nossa gestão como um campo político, eu acho que sim, que há uma influência da nossa atuação.

O senhor entrega uma UFRJ melhor da que encontrou no início de sua gestão?
Sim, entregamos uma universidade melhor do que nós pegamos. Melhor equipada, tanto sob o ponto de vista administrativo quanto do acadêmico. Hoje eu tenha a oportunidade de saber onde está cada egresso da UFRJ desde que esteja formalmente empregado. Futuramente vamos conseguir saber quais empresas são de propriedade de egressos da UFRJ. Estamos substancialmente melhores, mas nós não tivemos orçamento. E a UFRJ tem uma estrutura muito lenta de decisão. Os equívocos de uma gestão muitas vezes só são percebidos na gestão seguinte. Eu participei do Plano Diretor 2010-2020, e os equívocos daquele plano eu só vi agora. Tivemos iniciativas muito boas, que vão ficar.

Uma delas foi a criação da Superintendência de Ações Afirmativas e Diversidade.
Um dos nomes mais citados no último Consuni que tratou desse tema foi o do professor Marcelo Paixão, que conheço desde os 18 anos, foi meu contemporâneo no Instituto de Economia. E ele tem uma tese brilhante sobre a questão negra no Brasil e de como a esquerda vê essa questão. Ele sempre pontuou a necessidade de políticas afirmativas, e ele foi ao Consuni em 2010 colocar esse ponto de vista ao tratar da questão das cotas. E essa questão foi derrotada no Conselho, a UFRJ votou contra aquela proposta de resolução do professor Marcelo Paixão. Tínhamos uma dívida, e ela veio sendo recuperada ao longo dos anos. Houve a criação (em 2021) do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi). E agora veio a criação dessa superintendência, foi uma reparação. Eu acho que a política de cotas chegou ao limite, e a gente tem que buscar outras formas de reparação e ações afirmativas na UFRJ.

E olhando para o futuro da universidade, qual a sua visão?
Eu acho que a gente vai ter um questionamento da universidade, sobre sua função. E principalmente da universidade de Humboldt (A Universidade Humboldt de Berlim, fundada em 1810 pelo linguista e educador liberal prussiano Wilhelm von Humboldt, influenciou com seu modelo outras universidades ocidentais), que é a universidade de pesquisa. Só no Rio de Janeiro, nós formamos dois mil doutores por ano, entre 40% e 50% deles colocados na praça pela UFRJ. E a UFRJ absorve cerca de 10% do que ela forma por ano. Os outros 90% não consegue absorver. Não há expansão possível das universidades para absorver, e nem o mercado está absorvendo. A política de inovação, que nós aprovamos em nossa gestão, pretende conectar o saber acumulado e produzido aqui dentro com a sociedade, tenta fazer essa aproximação. Porque, do contrário, daqui a pouco vão nos questionar qual a nossa função. Estamos fazendo a nossa parte, mas e daí? Se o mercado não absorve, para que serve fazer a nossa parte? Por que criamos um sem número de programas sem rever os existentes? Temos que pensar nisso.

Há algo que o senhor gostaria de ter feito e não fez?
Eu gostaria de ter concluído o projeto patrimonial. As obras paradas, ter a solução para elas. Gostaria de ter entregue um prédio de pesquisas em Macaé, que estava contratado, mas houve um problema e não consegui. Podíamos ter avançado na concepção de graduação. Cheguei a montar um grupo de estudos para rever os princípios da graduação pós-pandemia, mas não conseguimos inserir essa questão de forma mais concreta nos conselhos universitários. Acho que somos muito intensivos em carga horária e pouco intensivos em estudo, damos pouca liberdade para os alunos pensarem. Temos um excessivo direcionamento desses meninos. Qual a necessidade de se ter Economia fechada, Administração fechada? Quando esses alunos chegam aqui, com 16, 17, 18 anos, eles só sabem as notas de corte. Por que damos essa responsabilidade a eles, de escolher logo um caminho fechado tão cedo? Não sei se isso é consenso do ponto de vista acadêmico, creio que há uma resistência dos próprios professores, dos conselhos profissionais, mas sei que gostaria de ter avançado com essa discussão na UFRJ.

E qual será seu rumo a partir de agora?
Eu vou para o Instituto de Economia. Voltar a dar aulas de Microeconomia. Estou iniciando uma linha de pesquisa em descarbonização, e devo me dedicar a isso nos próximos anos. Vou voltar para minha casa, acho que está na hora de voltar para casa. Tem uma hora que você sente falta daquele cafezinho debaixo da árvore, que você tomava com seus colegas. Eu sou um professor, sou um pesquisador. Dei poucas aulas nesse período aqui na reitoria.

Mas isso quer dizer que sua carreira como gestor está encerrada?
Não. Apenas estou voltando para o Instituto de Economia nesse momento. Essa é uma decisão firme. Está na hora de reformatar a vida, voltar às origens.

Topo