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A rotina do Centro de Tecnologia da UFRJ foi alterada por um ato de solidariedade à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na tarde de hoje. Professores, alunos e técnicos reuniram-se no bloco A do prédio, ao meio-dia, para dizer não à destruição de uma das mais tradicionais instituições de ensino superior do país. O mote da iniciativa, reproduzido em faixa e cartazes, foi “UERJ #TAMOJUNTO”.
“É fundamental a gente pensar a situação da UERJ porque ela está sendo um laboratório para uma política de desmonte que parece ir muito além daquela instituição e vai afetar toda Universidade Pública”, avaliou a presidente da Adufrj, Tatiana Roque. “É uma questão urgentíssima porque nossos colegas estão sem salário e a universidade não está podendo funcionar”, completou.
O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu Moreira, reforçou a importância de fazer a defesa das universidades do estado: “Isso é uma situação trágica para a Ciência e Educação do Rio de Janeiro”, advertiu. “E está conectada com toda uma política mais ampla do país de reduzir drasticamente os recursos para Ciência e Tecnologia, como estamos vendo este ano”.
Laços pessoais e acadêmicos com a universidade estadual também impulsionaram a manifestação no CT. Leandro Pimentel, professor do Instituto de Matemática, conhece de perto o impacto da crise na vida dos servidores. “Minha irmã é professora da UERJ”, contou. “E ela está grávida no momento. O que deixa a situação pessoal dela um pouco mais tranquila é que podemos dar um apoio familiar”, disse. “Tenho colegas professores da UERJ. Não tem sentido o estado quebrar a universidade. Sabemos que dinheiro há. São escolhas políticas”, criticou Luciane Conte, também da Matemática.
“O mínimo que a gente pode fazer é prestar solidariedade”, avaliou Rebeca Steiman, da Geografia. “Nosso departamento trabalha em colaboração direta com o da UERJ. É uma questão que não termina na universidade, nem mesmo no Rio de Janeiro. O que afeta a UERJ atinge toda a educação pública do país”.
O técnico-administrativo Moisés Mata contou ter feito graduação na UERJ. “Vim atraído pela divulgação dos cartazes. Fiz História lá; não tem como não se incorporar a este movimento de solidariedade”, disse o servidor.
Professores da UERJ compareceram à manifestação: “Soube da atividade pela rede da Marcha pela Ciência. Vim porque é muito importante receber apoio de outras universidades nesse momento”, declarou Luiz da Mota, da Física da UERJ.
“Esta é a segunda vez que participamos de um ato dentro de UFRJ de apoio”, destacou Maria Luiza Tambellini, da Associação dos Docentes da UERJ (Asduerj), em referência ao abraço às universidades estaduais Uerj, Uenf e Uezo promovido por professores da UFRJ no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, em 18 de abril. “A unificação em torno da campanha UERJ Resiste e das lutas da educação pública em todos os níveis é muito importante para nos fortalecer. Estar nas ruas com muita gente travando o diálogo com a sociedade pela educação será fundamental”.
Para ajudar os docentes das estaduais, que estão com os salários atrasados há meses, o Andes montou um fundo de solidariedade. Todos podem contribuir. As doações podem ser feitas no Banco do Brasil, conta corrente 403727-8, Agência Postalis (2883-5). A Adufrj repassou R$ 10 mil.
Criado há dois meses, o fundo efetuou uma primeira distribuição para 64 professores. Cada um recebeu R$ 600. O balanço do segundo mês seria fechado no dia do fechamento desta edição. Até a véspera, a conta tinha aproximadamente R$ 60 mil.
O “tesourômetro” da UFRJ não está mais sozinho.Desde o dia 18 de julho, um grande painel eletrônico instalado na entrada principal do campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais também denuncia a penúria que passam a educação e a ciência no Brasil. Por hora, quase R$ 500 mil são retirados das áreas. O valor ultrapassa os R$ 11 bilhões, desde 2015.
A inauguração do equipamento de Belo Horizonte foi mais um passo da Campanha Conhecimento sem Cortes, que congrega professores, pesquisadores, estudantes e técnicos de diversas universidades e institutos. “O objetivo é sensibilizar a sociedade para os danos que os cortes no orçamento têm causado às nossas atividades cotidianas”, disse Tatiana Roque, presidente da Adufrj, no debate “As universidades e os professores diante da crise brasileira”.
A atividade, que antecedeu o início de funcionamento do “tesourômetro” mineiro, ocorreu durante a 69º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Tatiana explicou que, além dos contadores digitais, a campanha apresenta ainda uma petição virtual contra os cortes no orçamento que será entregue na Câmara dos Deputados, em setembro. Para assinar o documento, basta acessar www.conhecimentosemcortes.org.br.
No debate, as exposições se completaram a respeito das drásticas reduções orçamentárias. De cada setor, partiu um sonoro “não” à política de austeridade que sacrifica o futuro do desenvolvimento do Brasil.
A presidente da SPBC, professora Helena Nader, salientou que os prejuízos no campo da pesquisa e da ciência são irreparáveis, pois não é possível paralisá-las e retomar o mesmo patamar de desenvolvimento. “Se nós não revertermos esse quadro, não vai ter futuro para o Brasil. Foi a Ciência que colocou esse país no rumo certo do desenvolvimento”, afirmou.
Giovane Azevedo falou pelo sindicato de docentes das universidades federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Preto (Apubh), uma das entidades envolvidas na criação da campanha Conhecimento sem Cortes. “Essa emenda de contingenciamento nos deixa numa situação realmente dramática. Fizemos muitas mobilizações para tentar reverter essa realidade”, disse. Ele também destacou o impacto na convivência dos estudantes e nas condições de trabalho docente. “Meu diretor contou que precisará dispensar terceirizados de limpeza e segurança, por falta de verbas. São áreas primordiais para o funcionamento das instituições de ensino”, observou.
Clelio Campolina, ex-reitor da UFMG, foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação no governo Dilma Rousseff. Ele ficou no cargo até janeiro de 2015 e apresentou uma visão de quem já precisou decidir sobre as verbas públicas. “Não podemos ser absolutamente radicais e dizer que, em momento de crise, não se deva cortar despesas. Há que se ter controle, sim, mas não pode ser um controle cego”, disse. “Mas passar a régua de forma linear é de uma burrice e de uma irresponsabilidade incalculáveis. É preciso ter critério e definir o que é prioridade”, completou.
Luciano Mendes, também professor da UFMG, falou do ponto de vista das ciências humanas. A área, que já perde recursos sistematicamente, segundo sua visão, fica ainda mais prejudicada com o teto de gastos públicos, via Emenda Constitucional 95. “O impacto dos cortes será brutal para o sistema de pós-graduação, sobretudo para as humanidades. Já viemos abrindo mão dos anéis para não perdermos os dedos”, disse. “Não se trata de garantir as pesquisas em curso. Trata-se de garantir que toda a estrutura, que não se constrói do dia para a noite, não seja desmantelada”.
Em defesa dos estudantes, a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, expôs os dramas aos quais estão submetidos mestrandos e doutorandos no país. “A gente vive num clima de desconstrução do futuro. Estamos em um momento de estrangulamento. O Brasil está indo no rumo errado”, disse. Os movimentos em defesa das cotas e da diversidade na pós-graduação estão ameaçados, segundo Tamara, por conta das ações do governo federal. “A Emenda Constitucional 95 precisa ser combatida. Nós acreditamos que esse governo é ilegítimo. Assumiu um país em crise e está deixando-o ainda pior. A ciência tem que ter lado e o lado certo é o do povo”.
O reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramírez, afirmou que as universidades correm perigo. Segundo ele, é preciso unir todos para combater a Emenda 95. “Há algo que une a todos nós. O nosso foco é o de derrubar a ‘PEC do Fim do Mundo’. Aqui na UFMG, essa é a nossa tônica. Essa emenda é um grande retrocesso à Constituição Cidadã de 88 e fará um grande mal à sociedade”, disse.
Para Ildeu Moreira, professor do Instituto de Física da UFRJ e presidente eleito da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, além de mobilizar a sociedade, é preciso chamar atenção da comunidade científica: “São 200 mil pesquisadores em todo o Brasil e milhares de estudantes. Cada um aqui tem a responsabilidade de se engajar nessa luta contra os cortes no orçamento”.
Como resultado do encontro, os participantes aprovaram uma moção pela anulação da Emenda Constitucional 95, do teto de gastos públicos.
Na próxima quinta-feira, dia 22 de junho, a partir das 18h, cientistas, estudantes, professores, pesquisadores e técnicos têm um encontro marcado na Casa da Ciência para o lançamento da iniciativa de mobilização social Conhecimento Sem Cortes. O objetivo da campanha é denunciar o desmonte das universidades e instituições de pesquisa que vem sendo promovido com as drásticas reduções no orçamento das áreas de ciência, tecnologia e humanidades.
“Vamos realizar várias atividades de engajamento e discussão dentro e fora dos muros das universidades para mostrar como os cortes de investimentos afetam de forma negativa os mais diversos setores da sociedade”, diz Tatiana Roque, presidente da Adufrj. A campanha vai dialogar e buscar apoio da população para pressionar o governo federal a garantir condições plenas de funcionamento das instituições de ensino e pesquisa. “Queremos valorizar os frutos dos investimentos em pesquisa, nas suas diversas áreas, e destacar como são essenciais no dia a dia das pessoas, mesmo que muita gente não se dê conta”, completa Tatiana.
Os cortes da ordem de 40% anunciados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia afetam diretamente o volume e a qualidade das pesquisas brasileiras. O impacto é ainda maior quando a redução de investimentos em outras pastas ligadas à ciência, como, por exemplo, os cortes na Capes, vinculada ao MEC, é incluída nessa conta.
Durante o evento de lançamento da campanha Conhecimento Sem Cortes, representantes de diferentes instituições farão apresentações sobre os impactos já sentidos na rotina das estruturas de produção de conhecimento. Participarão da mesa: Tatiana Roque, presidente da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj-SSind); Helena Nader, presidente da SBPC; Roberto Leher, reitor da UFRJ; Nísia Trindade, presidente da Fiocruz e Jerson Lima Silva, diretor científico da Faperj.
Além do Rio de Janeiro, já estão previstas mobilizações da campanha Conhecimento Sem Cortes em Minas Gerais e Brasília e a expectativa é que outros estados sejam envolvidos. Uma das ferramentas de participação é uma petição digital e impressa direcionada ao governo federal, cujo texto exige o pleno funcionamento das universidades, entre outras demandas; a peti- ção será entregue às autoridades, em audiência pública, no mês de setembro, em Brasília. Ajude a reunir milhares de assinaturas, colhendo adesões e divulgando a petição. As folhas assinadas devem ser entregues na sala da Adufrj no prédio do CT, no Fundão.
A campanha é realizada pela Adufrj, o Sindicato dos Institutos Federais do Rio de Janeiro (Sintifrj), a Associação dos Professores da UFMG (Apubh) e a Associação dos Docentes da UnB (ADUnB) em parceria com várias organizações que representam pesquisadores, técnicos e estudantes.
Adufrj lança programa “UFRJ é 100” às vésperas do centenário da universidade (Epitácio Pessoa assinou o decreto nº 14.343 criando a Universidade do Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1920)
Inscreva-se no canal do Youtube para acompanhar o conteúdo do programa no curso das próximas semanas.
UFRJ doa aulas para as escolas“A ideia do site foi simplesmente criar um canal, um link entre a universidade e as escolas”, afirma Gyselle Holanda (Farmácia), outra coordenadora da iniciativa, ao lado de Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica. “Percebemos que todo mundo com a mesma vontade de aproximar as pesquisas da universidade do ensino básico reclamava da mesma coisa: a burocracia”, completa Gyselle. Professora Gyselle Holanda
A estratégia adotada foi deixar a cargo das escolas e dos próprios docentes o agendamento. E deu resultado. Atualmente, a rede dispõe de 85 professores cadastrados. Ao todo, são 106 atividades nas diferentes áreas de saúde, humanas e tecnológicas. Quando a plataforma foi ao ar, em outubro de 2016, eram apenas as três professoras com 22 aulas. Segundo Viviane Lione, estão previstas atividades até novembro.

A Adufrj abraçou imediatamente a iniciativa e ajudou a construir o site. Quatro dos diretores fazem parte da grade de aulas. Antonio Mateo Solé-Cava, do Instituto de Biologia, por exemplo, oferece quatro aulas. Duas delas, de ciência mais aplicada, com foco em DNA. E outra duas, discutindo a relação entre natureza e sociedade, abordando os limites do consumismo. Três aulas com o docente já estão agendadas para julho. Todas elas em colégios estaduais de São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
“Muitos professores já realizam aulas na rede básica em função de exigência de determinados editais de pesquisa. Mas o bacana do site é que torna possíveis quantas aulas o professor quiser doar”, observa. Em sua visão, a plataforma dará um novo salto de qualidade quando desenvolver mecanismos de avaliação das escolas, já previstos pelo projeto .
As aulas relacionadas à saúde e à informática são as mais solicitadas pelo site. E também são as mais ofertadas. Porém, a campeã de pedidos é a aula “Juventude e transição para o ensino superior: sonhos e projetos de vida”, de Rodrigo Rosistolato, da Faculdade de Educação.
O docente se diz surpreendido com a receptividade. “Assim que colocamos no ar, recebi oito convites, três deles de fora do município do Rio”, conta. Na universidade, Rosistolato pesquisa o que acontece com a juventude na transição da escola ao mercado de trabalho, no Brasil de hoje. Até então, o estudo era dirigido a movimentos sociais.
Rodrigo Rosistolato: “Vai ser bastante interessante essa experiência com o ensino médio”
“Vai ser bastante interessante essa experiência com o ensino médio”, avalia. A proposta é de oficina para quebrar a rotina das tradicionais aulas expositivas. “Vamos discutir o campo de possibilidades do projeto de vida, com foco na universidade”, conta. “A ideia é que reflitam sobre projeto de vida individual, mas também se percebam enquanto categoria”.
A maratona de oficinas do professor começa no dia 6 de junho, em Caxias. O calendário se estende até o fim do mês.

Para Rodrigo Capaz, do Instituto de Física, o site veio ao encontro dos docentes que já realizam atividades em escolas. “É difícil, você sozinho, correr atrás de escolas que possam se interessar pela aula”, disse. “A plataforma ajudou muito”, conta.
A palestra sobre Nanotecnologia, adaptada ao 2º e 3º anos, está marcada para agosto. A aula atenderá ao pedido do Colégio Estadual Francisco Campos, no bairro do Grajaú. O docente diz que já teve experiência com escolas em função da exigência do programa Cientista do nosso Estado. “A receptividade dos alunos, em geral, é positiva”.