Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
No dia 17 de agosto, na segunda etapa do curso de formação sindical promovido pelo Andes-SN, na UFF, em Niterói (RJ), o professor Antônio Libério (do Cefet-MG) relacionou uma série de desafios para o movimento docente. De acordo com Libério, que é o 2º vice-presidente da Regional Leste do Sindicato Nacional, o primeiro deles é fazer a base da categoria se reconhecer como classe trabalhadora: “Nosso ‘chão de fábrica’ não é o tradicional. Pelo fato de não fazer um serviço braçal, parte de nossa categoria não se reconhece trabalhadora. Somos um sindicato de intelectuais”, apontou.
O segundo problema se refere aos novos professores que chegam à universidade sem vivência sindical e acabam por aceitar mais facilmente o produtivismo acadêmico: “O produtivismo ‘casa’ com esses docentes que não se colocam na discussão da classe. É um desafio para o Sindicato trazer esses novos professores”, afirmou.
Como a base do Andes-SN abrange professores do ensino básico, técnico e tecnológico (EBTT) e do magistério superior (MS), existe mais um complicador: “Não é à toa que defendemos uma carreira única. Isso nos fortalece enquanto categoria e enquanto sindicato. E justamente por isso o governo mantém essa fragmentação”, explicou o palestrante.
As especificidades dos setores das federais, estaduais/municipais e particulares formam outra dificuldade para a organização das lutas do Sindicato Nacional: “Até mesmo dentro dos setores já há diferenciações entre estados, entre municípios, de realidade. Quando juntamos os três setores, então, essas diferenças tendem a se acentuar. O Sindicato é para todos e unir todos em objetivos comuns é um grande desafio”. Mais recentemente, a criação do Proifes – braço sindical do governo dentro do movimento das federais – constitui-se como mais um obstáculo a ser enfrentado pelo Andes-SN.
Libério citou, ainda, a ampliação da base do Andes-SN, com a transformação de Cefets em Ifets, que possuem ensino superior. “Muitos nos procuram querendo se filiar ao Sindicato Nacional, mas são filiados ao Sinasefe, que luta em parceria com o Andes-SN, inclusive no interior da própria central. A base é livre para decidir a quem ela quer se filiar, mas percebem que não é uma situação simples de ser administrada?”, questionou.
Por último, o docente tratou da organização por local de trabalho na atual conjuntura de expansão do sistema de universidades: “Há uma grande dificuldade porque muitos dos problemas de assédio moral, de condições de trabalho, acontecem no campus descentralizado. É preciso reconhecer que temos essa dificuldade em acompanhar esses campi longe da sede. Muitas vezes não temos condições de estar lá, especialmente com uma diretoria pequena”, observou.
As lutas do sindicalismo nacional
Para Atnágoras Lopes, integrante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, o abandono da trajetória socialista, pelo PT, e a completa ausência de embate da CUT são elementos que somam forças no processo de reorganização da classe trabalhadora. “O próprio dirigente do Partido dos Trabalhadores afirma que a carta assinada do PT ao povo brasileiro, após os dez anos no poder, não expressou ruptura, mas mudanças programáticas que se iniciaram em 1995, durante o governo FHC. A CUT que surge das lutas, nos anos 90, passou a ser a CUT da colaboração. Hoje, a central é declaradamente chapa branca”.
O representante da CSP-Conlutas citou como exemplo a luta contra o PL 4330, das terceirizações. “A preocupação da CUT é dizer que vai negociar até o fim com os setores patronais. A nossa necessidade é o sindicalismo que mantenha a mobilização permanente da classe trabalhadora. Eles negociam pra evitar a mobilização. Além disso, seus grandes dirigentes estão no governo. Houve cooptação”, afirmou. Para Atnágoras Lopes, interessam à CSP-Conlutas as lutas unitárias, com as demais centrais sindicais. “Isto ajudará no processo de fortalecimento da nossa central, mas não abrimos mão do embate e da mobilização”.
As recentes manifestações que reuniram milhares de pessoas (a do dia 20 de junho, no Rio, reuniu um milhão) foram analisadas pelo palestrante. De acordo com Atnágoras, a rejeição a partidos e movimentos organizados naquele primeiro momento fez sentido, porque se tratava de uma juventude que vivenciou apenas o governo do PT no país e viu o partido trair seus ideais. “A única experiência consciente de governo que eles vivenciaram foi o do PT. Ao olhar para o todo, eles nos enfiam no bolo”, justificou. Em um segundo momento, passou a ocorrer a participação organizada dos trabalhadores. “Era preciso parar a produção, golpear o capitalismo. Por isso decidimos construir o ato do dia 27 de junho. E, depois, a paralisação nacional de 11 de julho, com outras centrais sindicais. Isso ameaça muito mais o capital no aspecto estrutural. Parar uma agência bancária para o atendimento é mais forte do que dez agências apedrejadas”.
Paralisação nacional em 30 de agosto
Nesse contexto, Atnágoras reforça que o dia 30 de agosto possui uma importância ímpar. A aposta é que a paralisação seja superior à do dia 11 de julho. Colocar a classe trabalhadora em movimento torna-se tarefa primeira da CSP-Conlutas e de seus sindicatos filiados.