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Uma plateia atenta de 250 estudantes do ensino médio acompanhou a palestra da professora Eleonora Ziller, presidente da Adufrj, sobre o livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. Outras 1.500 pessoas acompanharam de forma on line a apresentação. A obra literária faz parte da lista de livros divulgada pela Uerj para seu Exame de Qualificação. A atividade fez parte de um ciclo de palestras voltado aos candidatos ao vestibular da instituição com objetivo de ajudar nos estudos para a prova de redação e de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
“Estou muito honrada de estar aqui. A Universidade pública brasileira ainda é o melhor lugar onde a nossa juventude deve estar", afirmou Eleonora. Para ela, uma ação desta natureza demonstra uma das mais nobres vocações da universidade: transformar o ensino no país. “Esta atividade não só prepara para o vestibular, como incide no ensino médio e resgata o ensino de Literatura nas escolas”, observou.
O coordenador do projeto é o professor Gustavo Bernardo, especialista em educação. É dele também o comando do Departamento de Seleção Acadêmica da Uerj, responsável pelo vestibular. “Este é o terceiro ano que realizamos o ciclo de palestras. Estamos gerando material para estudo, criando conhecimento que não se encerra na palestra. Ele fica disponível on line para que outras pessoas tenham acesso. É muito gratificante ver a participação e a atenção dos candidatos”, afirmou.
A estudante Mariana Martins, de 17 anos, não perde um encontro. “Todos são muito produtivos! O que eles falam abre o nosso olhar sobre os livros, os autores”, disse. “Também vi as palestras dos anos anteriores e fiz as provas correspondentes. É impressionante como o que é debatido ‘casa’ com os conteúdos”, analisou.
A obra
Em “Vidas Secas”, Fabiano e sua família são expulsos de sua terra na medida em que a seca e a fome se agudizam na região. O livro, escrito em 1938, traz uma reflexão ainda atual, para Eleonora. “O livro traz uma crítica à estrutura social que reifica o ser humano, que o transforma em coisa, em objeto que serve para gerar riqueza para outro”.
Outros paralelos traçados entre o livro e a sociedade contemporânea, levantados pelos estudantes e comentados por Eleonora, dizem respeito aos abusos de autoridade e à invisibilidade social dos mais pobres. “Nosso processo de redemocratização não acabou com os porões da ditadura. E o que temos hoje é que o Estado e uma parte de nossa sociedade admitem que outra parcela da sociedade – muito maior – seja alvo de tiros ‘na cabecinha’”.
Todas as palestras do projeto estão disponíveis no canal da TV Uerj, do Youtube, e no site do projeto: http://ciclodepalestras.dsea.uerj.br/.
Foto: Alessandro CostaQuarta-feira, 10 de outubro, duas e quarenta da tarde. As luzes se apagam no lotado Salão Leopoldo Miguez. Os músicos começam a melodia e o silêncio toma conta da plateia infantojuvenil. São alunos de diversas idades e escolas da cidade que estão prestes a conhecer a magia de mais uma ópera produzida pela Escola de Música.
A ação ocorre todo ano, há mais de uma década, na semana do Dia das Crianças e faz parte do projeto “A escola vai à ópera”. Com participação do coral infantil da UFRJ, o evento busca ampliar o universo cultural das crianças no palco e na audiência. “Nos dedicamos a introduzir principalmente crianças de redes públicas nessa linguagem, de forma lúdica e com histórias que tenham a ver com o universo delas”, explicou a ex-diretora da Escola de Música e diretora-geral do projeto, professora Maria José Chevitarese.
Na história deste ano, “A roupa nova do imperador”, o personagem central, viciado em novos trajes, cai na lábia de dois falsos artesãos que prometem uma roupa invisível aos olhos de quem fosse tolo ou que ocupassem posições não merecidas. Com medo de serem julgados e expulsos de seus cargos, os ministros da Economia e da Justiça, e até mesmo o imperador, fingem enxergar o tecido inexistente.
O tema surgiu de uma parceria com a Academia de Música de Malmö, na Universidade de Lund, Suécia. O professor Sven Kristersson, encantado com o projeto realizado pela Escola, se dispôs a participar e compôs a música do evento. A escolha do conto de Christian Anderson também partiu do compositor, que queria juntar a cultura das duas regiões. “Embora seja uma história antiga, o assunto é muito atual. Fala da necessidade de as pessoas serem aceitas e de se importarem o que os outros pensam”, avaliou aprofessora Chevitarese.
ESFORÇO COLETIVO
A ópera é construída pela colaboração entre diversos cursos da UFRJ. A atividade congrega alunos da Escola de Belas Artes, para cenografia e e indumentária. A Escola de Comunicação entra para fazer a iluminação e a direção teatral. Além de alunos da própria Escola de Música, que compõem a parte instrumental e vocal. “É muito importante para quebrar essa organização tão encastelada da instituição. É o que dá sentido à ideia de universidade”, afirmou o professor José Henrique Moreira, professor de Direção Teatral e responsável pela direção cênica do espetáculo.
Sarah Salotto, aluna de bacharelado em canto e solista do evento afirma que o projeto é muito importante. “Durante a minha infância, nunca tive contato com ópera. Então, para mim, é um prazer imenso estar aqui no palco apresentando isso para as crianças”.
A cada ano, um edital diferente é procurado para a continuidade do projeto. Desta vez, o auxílio financeiro veio de um programa de apoio às artes, uma parceria entre o Fórum de Ciência e Cultura e a Fundação Universitária José Bonifácio. O prêmio PROART/UFRJ é concedido a grupos artísticos de representação institucional.
Segundo a professora Maria José Chevitarese, quando o projeto se iniciou, as pessoas ficaram espantadas por acharem o gênero artístico inacessível aos mais jovens.
“Diziam: ‘Mas crianças em óperas? E elas gostam?’ E o que eu via era uma alegria imensa”, brinca Chevitarese.
CORAL FAZ 30 ANOS O coral infantil da UFRJ completa 30 anos em 2019. Criado pela professora Maria José Chevitarese, tem como proposta ser um coro inclusivo, com cerca de 70% dos alunos de escolas públicas. “O que mais me dá alegria é ver como esse projeto já transformou a vida de muitas dessas crianças”.
Foto: Arthur BomfimUm protesto contra a censura promovida pelo governo federal em ações culturais mobilizou professores, políticos, artistas e intelectuais, no dia 11. Eles se reuniram em frente ao Centro Cultural do Banco do Brasil, no ato “Escolha Cultura”.
Uma das participantes, a professora Tatiana Roque, do Instituto de Matemática, ex-presidente da AdUFRJ, e coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, teve sua palestra “Por que acreditar na Ciência?” suspensa na Caixa Cultural, espaço da Caixa Econômica Federal, conforme divulgado na edição anterior do Jornal da AdUFRJ.
“Esse ato está sendo muito importante para juntar o pessoal da cultura e da universidade, para mostrar que esse movimento de censura e de perseguição ao pensamento, à liberdade, é muito mais amplo”, disse. Para a professora, o ataque à liberdade de expressão é uma das agendas centrais do governo.
O deputado federal David Miranda, do PSOL do Rio de Janeiro, destacou que atos semelhantes devem ser multiplicados por todo o país. “Nós estamos vivendo, sim, a censura com o governo Bolsonaro. Editais LGBTs, sobre quilombolas, peças sobre a ditadura estão sendo censurados. É importante que a população entenda que o livre discurso e a livre expressão da arte têm que ser mantidos dentro de uma democracia”, declarou.
Marieta Severo, umas das artistas convidadas para o evento, fez um discurso ao público durante o ato e manifestou-se contra o retrocesso evidenciado nas ações do governo em relação à liberdade de expressão. “Esse ato é importante para que o governo sinta o quanto estamos atentos e o quanto vamos resistir a qualquer possibilidade de censura”, disse.
Protesto em Brasília - Foto: SINDGCTServidores e pesquisadores do CNPq fizeram um abraço simbólico no prédio da agência de financiamento à pesquisa na quarta-feira, em Brasília, contra a fusão do CNPq com a Capes. A junção dos dois principais órgãos de fomento à pesquisa do país está nos planos do governo Jair Bolsonaro.
A proposta de um texto de medida provisória que transforma as duas agências na Fundação Brasil de Ciência e Tecnologia, vinculada ao Ministério da Educação, está para ser assinada na Casa Civil.
O texto foi encaminhado pela equipe do ministro Abraham Weintraub. A proposta já havia sido enviada ao Ministério da Ciência, pasta que responde pelo CNPq.
Mais de 70 entidades científicas do Brasil endossaram um manifesto contra a fusão e ainda contra a transferência do FNDCT para o Ministério da Economia e da Finep para o BNDES.
Entre os signatários do documento estão a SBPC e a Academia Brasileira de Ciências. O manifesto foi encaminhado aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, e aos ministros da Secretaria de Governo da Presidência, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira; da Casa Civil, Onyx Lorenzoni; da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes; da Economia, Paulo Guedes, e da Educação, Abraham Weintraub.
Para as entidades científicas, a proposta de fusão do CNPq e Capes pode comprometer o sistema de ensino brasileiro e o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI).
“A coexistência da Capes e do CNPq é fundamental para o nosso desenvolvimento econômico, social, cultural e ambiental. Alterar essas estruturas é fragilizar um dos alicerces – talvez o mais importante deles – de sustentação do Brasil contemporâneo que mira um futuro promissor para todos os brasileiros”, diz um trecho do documento.
Sobre a Finep, o manifesto destaca a importância para o SNCTI. “Seu impacto é extenso em todas as áreas, da agricultura à aeronáutica, à indústria de medicamentos e equipamentos médicos, entre tantos outros.”
Emendas
Na quarta-feira, a Comissão de Educação da Câmara aprovou duas emendas que somam R$ 600 milhões para o orçamento da Capes em 2020.
Segundo a agência de financiamento, a verba será destinada a 135 mil vagas em programas de formação de professores e à criação de 6 mil bolsas de pós-graduação e pesquisa. Serão mais 2 mil bolsas de mestrado, 3,5 mil de doutorado e 500 de pós-doutorado.
A distribuição das bolsas levará em conta novos critérios, como o IDH dos municípios. A Capes, no entanto, ainda não esclareceu à comunidade acadêmica como funcionará de fato o novo modelo de divisão dos recursos.
Outra emenda também aprovada na quarta-feira beneficiou o CNPq. De autoria da deputada Margarida Salomão (PT-MG), destina R$ 300 milhões para o pagamento de bolsas de pesquisas do CNPq no ano que vem e foi aprovada na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática.
“Fizemos essa emenda parlamentar em função da crise que vivemos nas áreas da ciência, tecnologia, pesquisa, e da asfixia financeira imposta pelo governo a esses setores”, disse a deputada.
Segundo Margarida Salomão, foi uma aprovação importante para a defesa dos institutos de fomento à pesquisa. “Foi uma sinalização fundamental em prol do desenvolvimento científico e tecnológico do país. Uma vitória importante na luta e na resistência contra os cortes orçamentários no CNPq”.
No dia 16, o Secretário de Educação Superior do MEC, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, apresentou aos reitores uma nova versão do Future-se O texto final do projeto de lei será apresentado em 8 de novembro. Uma das mudanças é a inclusão das fundações como intermediárias dos contratos de desempenho das universidades - na proposta inicial esse papel era exclusivo das Organizações Sociais. O Consuni da UFRJ rejeitou a adesão ao Future-se.