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Foto: Isabella de Oliveira
Promover intercâmbio entre alunos de várias universidades e institutos. Este é um dos objetivos da Semana de Física da UFRJ, de 17 a 21 de julho, promovida por estudantes da graduação e da pós. “Nossa proposta é pluralizar o que a gente aprende, trazendo coisas diferentes para o estudante”, diz Lucas Torres Santana, doutorando em Física e coordenador do projeto. Outro desafio da Semana é envolver jovens do ensino médio no ensino de ciências exatas. “Existe uma cultura de negligenciar essa parte da ciência que é superimportante”, pontua Lucas. “No ensino médio, o aluno já tem o hábito de não gostar de Física e perdemos muita gente por isso”, completa. Para o estudante, uma das alternativas seria repensar a abordagem pedagógica: “Talvez mostrar o papel do cientista desde o início da produção de tecnologia, e não somente o produto final, na indústria”. Professor do Instituto de Física, Miguel Quartin elogia a iniciativa. “É muito bom porque os estudantes buscam o que os motiva, especialmente em um curso com uma alta taxa de evasão”, opina. Miguel também concorda que a forma como se apresenta o conteúdo da Física no ensino médio é um problema. “Nosso ensino de Física no ensino médio não permite que as pessoas entendam os conceitos da disciplina”, pontua. Programação variada A programação da III Semana de Física traz palestras, apresentações de trabalhos e minicursos. Participam do encontro estudantes da UERJ, da UFF, da PUC e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.

Campus da UFMG, em Belo Horizonte, recebeu segundo contador eletrônico da iniciativa que denuncia os cortes nos orçamentos da educação e da ciência desde 2015
Foto: tesourômetro na entrada da UFMG - Crédito: Silvana Sá
O “tesourômetro” da UFRJ não está mais sozinho. Desde o dia 18 de julho, um grande painel eletrônico instalado na entrada principal do campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais também denuncia a penúria que passam a educação e a ciência no Brasil. Por hora, quase R$ 500 mil são retirados das áreas. O valor ultrapassa os R$ 11 bilhões, desde 2015. [caption id="attachment_8034" align="alignleft" width="300"] Mesa “As universidades e os professores diante da crise brasileira” antecedeu a inauguração do tesourômetro[/caption] A inauguração do equipamento de Belo Horizonte foi mais um passo da Campanha Conhecimento sem Cortes, que congrega professores, pesquisadores, estudantes e técnicos de diversas universidades e institutos. “O objetivo é sensibilizar a sociedade para os danos que os cortes no orçamento têm causado às nossas atividades cotidianas”, disse Tatiana Roque, presidente da Adufrj, no debate “As universidades e os professores diante da crise brasileira”. A atividade, que antecedeu o início de funcionamento do “tesourômetro” mineiro, ocorreu durante a 69º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Tatiana explicou que, além dos contadores digitais, a campanha apresenta ainda uma petição virtual contra os cortes no orçamento que será entregue na Câmara dos Deputados, em setembro. Para assinar o documento, basta acessar www.conhecimentosemcortes.org.br. No debate, as exposições se completaram a respeito das drásticas reduções orçamentárias.  De cada setor, partiu um sonoro “não” à política de austeridade que sacrifica o futuro do desenvolvimento do Brasil. A presidente da SPBC, professora Helena Nader, salientou que os prejuízos no campo da pesquisa e da ciência são irreparáveis, pois não é possível paralisá-las e retomar o mesmo patamar de desenvolvimento. “Se nós não revertermos esse quadro, não vai ter futuro para o Brasil. Foi a Ciência que colocou esse país no rumo certo do desenvolvimento”, afirmou. Giovane Azevedo falou pelo sindicato de docentes das universidades federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Preto (Apubh), uma das entidades envolvidas na criação da campanha Conhecimento sem Cortes. “Essa emenda de contingenciamento nos deixa numa situação realmente dramática. Fizemos muitas mobilizações para tentar reverter essa realidade”, disse. Ele também destacou o impacto na convivência dos estudantes e nas condições de trabalho docente. “Meu diretor contou que precisará dispensar terceirizados de limpeza e segurança, por falta de verbas. São áreas primordiais para o funcionamento das instituições de ensino”, observou. Clelio Campolina, ex-reitor da UFMG, foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação no governo Dilma Rousseff. Ele ficou no cargo até janeiro de 2015 e apresentou uma visão de quem já precisou decidir sobre as verbas públicas. “Não podemos ser absolutamente radicais e dizer que, em momento de crise, não se deva cortar despesas. Há que se ter controle, sim, mas não pode ser um controle cego”, disse. “Mas passar a régua de forma linear é de uma burrice e de uma irresponsabilidade incalculáveis. É preciso ter critério e definir o que é prioridade”, completou. Luciano Mendes, também professor da UFMG, falou do ponto de vista das ciências humanas. A área, que já perde recursos sistematicamente, segundo sua visão, fica ainda mais prejudicada com o teto de gastos públicos, via Emenda Constitucional 95. “O impacto dos cortes será brutal para o sistema de pós-graduação, sobretudo para as humanidades. Já viemos abrindo mão dos anéis para não perdermos os dedos”, disse. “Não se trata de garantir as pesquisas em curso. Trata-se de garantir que toda a estrutura, que não se constrói do dia para a noite, não seja desmantelada”. Em defesa dos estudantes, a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Tamara Naiz, expôs os dramas aos quais estão submetidos mestrandos e doutorandos no país. “A gente vive num clima de desconstrução do futuro. Estamos em um momento de estrangulamento. O Brasil está indo no rumo errado”, disse. Os movimentos em defesa das cotas e da diversidade na pós-graduação estão ameaçados, segundo Tamara, por conta das ações do governo federal. “A Emenda Constitucional 95 precisa ser combatida. Nós acreditamos que esse governo é ilegítimo. Assumiu um país em crise e está deixando-o ainda pior. A ciência tem que ter lado e o lado certo é o do povo”. O reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramírez, afirmou que as universidades correm perigo. Segundo ele, é preciso unir todos para combater a Emenda 95. “Há algo que une a todos nós. O nosso foco é o de derrubar a ‘PEC do Fim do Mundo’. Aqui na UFMG, essa é a nossa tônica. Essa emenda é um grande retrocesso à Constituição Cidadã de 88 e fará um grande mal à sociedade”, disse. Para Ildeu Moreira, professor do Instituto de Física da UFRJ e presidente eleito da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, além de mobilizar a sociedade, é preciso chamar atenção da comunidade científica: “São 200 mil pesquisadores em todo o Brasil e milhares de estudantes. Cada um aqui tem a responsabilidade de se engajar nessa luta contra os cortes no orçamento”. Como resultado do encontro, os participantes aprovaram uma moção pela anulação da Emenda Constitucional 95, do teto de gastos públicos.

Conad termina em Niterói destacando ações contra as reformas do governo e em defesa de eleições diretas e gerais já
Foto: Plenária do Conad no Teatro Popular Oscar Niemeyer - Crédito: Andes-SN
Fora, Temer, e eleições diretas e gerais já, com novas regras. Assim o movimento docente nacional reunido no 62º Conad do Andes, em Niterói, entre os dias 13 e 16, definiu como vai enfrentar a crise política do país. “Para nós, é necessário discutir eleições para presidente e para o Congresso Nacional imediatamente, mas também é necessário discutir novas regras”, disse Eblin Farage, presidente do Andes. “Porque, com as atuais regras, a gente vai conseguir mudar muito pouco nesse cenário, já que os grandes empresários determinam os candidatos que vão ser eleitos”, completou. O Sindicato defende a utilização de mecanismos que reduzam a influência do poder econômico nas votações. O Conad também decidiu condenar a política de conciliação de classes, que a direção atribui aos governos petistas. Não houve unanimidade. Integrante do grupo Renova Andes, de oposição, o professor Fábio Venturini observou que as palavras de ordem representam “um slogan, mas não diz que vai fazer”. Para ele, o Sindicato continua com um problema sério de democracia interna. “Criou-se um ambiente discursivo maniqueísta. Quem não segue o modelo da diretoria está contra a diretoria”, criticou. “Foi dito que os governos do PT conciliaram com a burguesia. Isso nunca foi debatido”, afirmou, ainda. Fábio, porém, considera que as decisões do Conad, a partir do tensionamento criado pelo Renova Andes, aperfeiçoaram as diretrizes do Sindicato. “Pelo menos saiu uma moção repudiando a atuação seletiva da Justiça”, completou. Outras deliberações Para barrar e revogar as contrarreformas do governo, os professores aprovaram a realização de uma reunião de entidades classistas e movimentos sociais e estudantis às vésperas de um Seminário Internacional do Andes, em novembro. O objetivo é avançar no processo de unificação de todas as forças políticas contra as reformas trabalhista e previdenciária. Será proposta à CSP-Conlutas uma nova greve geral, no Fórum das Centrais Sindicais. Setor das Federais Quanto ao Setor das Instituições Federais de Ensino (Setor das Ifes), o 62º Conad deliberou que a pauta específica no segundo semestre será a defesa da Previdência Pública e a luta pela manutenção e ampliação da preferência pelo regime de dedicação exclusiva, como forma de defesa do caráter público da educação e da carreira docente. Foi definido, ainda, um calendário de ações para o segundo semestre: em agosto, a luta pelos direitos de aposentadoria e vagas docentes; em setembro, a luta por orçamento e contra a terceirização; em outubro, a luta pela carreira docente; e, em novembro, a luta contra a precarização. A construção do dia 11 de agosto como Dia Nacional de Lutas em Defesa da Educação Pública e Gratuita também foi aprovada. Nova seção sindical O encontro também marcou a homologação da Associação dos Docentes da Educação Superior da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro) – Adesfaetec SSind, aprovada por unanimidade, aos gritos de “Fora, Pezão”. Foi anunciada também a sede do próximo Conad, que será realizado em Fortaleza.  (com informações do Andes)  

Abílio Baeta Neves disse que o sistema sofre uma distorção, durante conferência na 69ª Reunião da SBPC
Foto: Abílio Baeta Neves (presidente da Capes); Jaime Ramírez (reitor da UFMG) e Helena Nader (presidente da SBPC) - Crédito: Silvana Sá
Abílio Baeta Neves, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, afirmou que “está na hora de as universidades avaliarem o processo de avaliação da Capes, à luz de suas pretensões e perfil”. A conclusão do professor é de que os critérios precisam ser revistos. “Há uma distorção no sistema que precisa ser reconhecida e discutida. As humanidades estão a reboque, de novo, das ciências exatas”, disse ele, durante a conferência “Os desafios da pós-graduação no Brasil”. A mesa fez parte da programação da 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na segunda-feira, dia 17. Para o dirigente da Capes, a pós-graduação no Brasil cresce num ritmo “pouco virtuoso”, com ações muito individualizadas e que pouco refletem o comprometimento com as instituições aos quais os novos cursos são vinculados. “Há uma fragmentação, inclusive de cursos pré-existentes. Estamos simplesmente transformando linhas de pesquisa em novos cursos”, disse. “A Capes vai precisar não apenas exigir que uma proposta de curso novo tenha toda as aprovações formais, mas será preciso que esses cursos respondam a um projeto institucional do desenvolvimento da pós-graduação”, concluiu. Segundo Abílio Neves, sem esses cuidados, o desenvolvimento da pós no Brasil ficará insustentável. Hoje, 4.200 programas estão em avaliação pela Capes e outros 300 estão sendo acompanhados. A mesa também contou com Helena Nader, presidente da SBPC: “A avaliação foi importante, fez com que conseguíssemos publicar teses e trabalhos que ficavam esquecidos na estante, mas, na minha visão particular, esse modelo está esgotado”. Num momento de cortes nos recursos orçamentários e possível redução do ritmo de desenvolvimento da pós e das próprias universidades, a “qualidade não pode ser avaliada por critérios numéricos”, considerou. “As universidades vão perder recursos e vão perder o protagonismo”. Professor de Antropologia da UFRJ, Otávio Velho participou do debate, na plateia: “A própria noção da avaliação criada entre nós é que precisa ser repensada. Nós naturalizamos tanto esses instrumentos, que eu mesmo não sei qual é a alternativa”, disse. O docente também questionou a valorização das titulações, a ponto de serem desconsideradas outras formas de pesquisa que não estejam necessariamente atreladas à pós-graduação. “Precisamos criar outras alternativas em que o trabalho de pesquisadores sem titulação seja efetivamente reconhecido”. Financiamento Abílio Neves analisou, ainda, o orçamento da pesquisa no país.  Para ele, o momento mais dramático para a Capes foi em 2015, quando foram retiradas 3.800 bolsas do sistema e houve cortes de até 70% nos recursos Proap (Programa de Apoio à Pós-graduação) e Proex (programa de Excelência Acadêmica). “Quando assumimos a Capes, no ano passado, nosso objetivo era recuperar esses números. Conseguimos devolver pouco mais de duas mil bolsas”, disse. Este ano, um contingenciamento de R$ 500 milhões no orçamento da Capes impactou especialmente o programa Pró-equipamentos. Mas, segundo ele, ainda é possível recuperar parte ou a totalidade dos R$ 5 bilhões do orçamento deste ano, já que os créditos não foram cancelados. “Para o ano que vem, o cenário é pior. O limite dado para a Capes é de R$ 4,2 bilhões. Aí, sim, o impacto no sistema nacional de pós-graduação será direto”. O dirigente fez dura crítica ao tratamento secundário dado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações: “O limite orçamentário do MCTIC corresponde a pouco mais da metade do orçamento da Capes. Isso não é possível. Não existe formação de recursos humanos sem investimento em ciência e tecnologia”, disse. “É fundamental que a pesquisa no Brasil fique ativa e se desenvolva. O orçamento do ministério é uma tragédia”.

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