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WhatsApp Image 2020 11 10 at 20.55.42A vitória de Joe Biden na eleição presidencial norte-americana, confirmada pelos institutos de pesquisa e pelas agências de notícias no sábado (7/11), pode trazer novos ares às áreas de Ciência e Inovação nos Estados Unidos e em boa parte do mundo, com reflexo direto nas universidades, como produtoras e difusoras de conhecimento. Em discurso feito na segunda-feira (9/11) de seu gabinete de presidente eleito, em Wilmington, estado de Delaware, o democrata anunciou medidas radicamente opostas à prática de seu antecessor na Casa Branca, o republicano Donald Trump. Nomeou uma equipe de especialistas para combater a pandemia de covid-19 nos EUA, entre eles a pesquisadora brasileira Luciana Borio, garantiu que a vacina será gratuita, e reiterou a necessidade do uso de máscara, item ignorado por Trump. “Uma máscara não é uma declaração política, mas uma boa forma de unir o país”, disse Biden.
A disputa acirrada entre o democrata e o republicano deixou evidentes as severas diferenças entre dois campos. Enquanto Trump desacreditou a Ciência, promoveu aglomerações, não usou máscara publicamente e prometeu reconduzir o país ao “normal” em 2021, Biden se comprometeu desde o início da campanha a restaurar a confiança e a transparência do governo na Ciência, incluindo a recomendação para o uso da máscara em todo o país.
Para Luis Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da UFRJ e da PUC-Rio, a atuação geral dos governos democratas nos Estados Unidos é sempre mais aberta para acordos de cooperação científica e tecnológica. “Desde que essas tecnologias não sejam identificadas como tecnologias críticas ao interesse estratégico dos Estados Unidos”, pontuou.  Por exemplo, existe um embate na área de C&T sobre o desenvolvimento da fronteira entre Tecnologias de Informação e Comunicação que é o 5G. “Eu acho que o futuro governo Biden, assim como o governo Trump, insistirá muito para que o Brasil não adote tecnologia da Huawei para o 5G”, opinou o cientista político.
Luis acredita que o alinhamento automático da política externa brasileira com Biden será menor do que com o governo Trump. “Isso talvez crie mais margem de manobra para o governo brasileiro, para exercer mais amplamente a sua autonomia nessas negociações”, diz. O governo Bolsonaro cometeu um erro de alinhamento automático e de subordinação na sua política externa, afirma o professor. “Não digo a agenda externa dos Estados Unidos, mas a agenda político-ideológica do governo Trump”, explica. “Evidentemente esse contexto cria embaraços e dificuldades para que o governo atual lide com o governo Biden”, afirma.
Nos últimos anos, o orçamento enviado pelo Poder Executivo dos EUA ao Congresso Nacional sofreu cortes severos nas áreas de Ciência e Inovação. “O Congresso tem resistido. Ele rejeitou a proposta de Trump e aumentou o orçamento em relação ao ano anterior. A posição do Congresso norte-americano é de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, e essa não era a mesma posição do presidente Trump”, explica o presidente da Academia Brasileira de Ciências e professor do Instituto de Física da UFRJ, Luiz Davidovich. Ele acredita que a vitória de Biden vai aumentar as possibilidades de envolvimento científico e tecnológico nos Estados Unidos, mas isso não necessariamente se refletirá no Brasil. “O orçamento para Ciência e Tecnologia no Brasil tem sido fortemente cortado. Então vai depender do que o nosso Congresso vai conseguir estruturar”, afirma.
Joe Biden prometeu levar os Estados Unidos de volta ao Acordo Climático de Paris, do qual o país se retirou sob o comando de Trump, que usou dados inconclusivos como justificativa. “Isso é uma questão que tem a ver com a civilização humana”, opina Davidovich. “A questão do clima é essencial, as mudanças climáticas vão afetar todo mundo. Acho importante que não só o Biden, mas que as lideranças dos principais países poderosos tenham uma atitude que vá além das fronteiras do país, no sentido de pensar na sobrevivência da humanidade”.
Já para Fernando Brancoli, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ, as universidades norte-americanas, principalmente as públicas, viraram bastiões de resistência contra o governo federal: “Principalmente porque as principais estão em estados tradicionalmente democratas, de oposição ao Trump”, conta . Ele realizou seu doutorado em Santa Bárbara, na Califórnia, onde ainda mantém vínculos institucionais e é pesquisador, por isso está por dentro das estratégias de enfrentamento criadas por algumas universidades .
“Foram desenvolvidas tecnologias para tentar lidar com as fake news, por exemplo”, diz Fernando. Durante a eleição, algumas atitudes nefastas foram tomadas para tentar impedir que as pessoas votassem. “A mais explícita e mais bizarra foi com eleitores em Flint, no estado de Michigan, que tradicionalmente vota para os democratas. Os eleitores receberam ligações automáticas dizendo que havia muitas filas nos espaços de eleição e que era para ficar em casa e votar no dia seguinte, pois esses espaços seriam abertos novamente para eles votaram. Era mentira”, explica o professor. “Era basicamente alguém não querendo que os democratas votassem. Quem identificou isso mais rápido foi, basicamente, um software desenvolvido pela Universidade da Califórnia, que conseguiu lançar mensagens e encontrar as pessoas”, diz. “Esses espaços institucionais servem para que as pessoas sejam mais críticas e, em alguma medida, não acreditem tanto em baboseiras”, opina Brancoli.
Até o fechamento desta edição, Donald Trump ainda não havia reconhecido a vitória de Joe Biden, insistindo na tese de fraudes na eleição. Sem qualquer comprovação.

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