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7WEB menor1137A pandemia explicitou dois problemas que afetam a Educação nos últimos anos: o ensino visto como um serviço e a aplicação de pacotes vendidos por grandes corporações tecnológicas. A afirmação foi feita pelo professor português António Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa, historiador da Educação e embaixador da Unesco, em uma das mesas mais aguardadas do Festival do Conhecimento, na manhã do dia 16.
A primeira dificuldade, Nóvoa argumenta, é que os pais enxergam a educação como um bem privado e com ela estabelecem uma relação de consumo. “É como se a educação fosse um serviço, e apenas um serviço, que se presta a um conjunto de crianças no plano individual”, explicou.
O segundo obstáculo ocorre com a entrada de empresas de tecnologia na educação, oferecendo soluções prontas. “Os professores não têm que exercer um trabalho de conhecimento próprio, mas há apenas a aplicação de um trabalho”, criticou Nóvoa.
Articuladas, as duas tendências pareciam estar prontas para resolver a crise causada pela pandemia, mas fracassaram. “Todos esses movimentos que vinham se infiltrando no debate sobre a educação tornaram-se claros durante a pandemia”, disse.
Ao mesmo tempo, esclareceu o professor, o cenário trouxe boas notícias. “A primeira foi a capacidade de resposta de muitos professores, que, em colaboração, conseguiram criar soluções, manter vínculos pedagógicos, para que a ideia de educação pública se mantenha presente”, contou — o discurso no festival era um reflexo da frase anotada em um quadro atrás do intelectual: “O que conta mesmo é a força dos professores”.
“A segunda boa notícia é um novo reconhecimento, por parte das famílias, da complexidade e da importância do trabalho e da ação dos professores”. Para Nóvoa, a situação representa uma oportunidade para universidades, professores e agentes interessados na defesa da educação pública.
A proposta de reformulação da educação básica de António Nóvoa parte do princípio de que as coisas não vão voltar ao normal durante a pandemia, o que é bom. “A escola que tínhamos antes da pandemia era uma escola não inclusiva, onde os professores não eram valorizados e não tinham a autonomia respeitada. Uma escola com muitas dificuldades de enfrentar o século XXI”, explicou.
Mas, para o processo que vai envolver muita disputa política, o ex-reitor destacou a necessidade de existência de instituições especiais, que respeitem quatro eixos: formação, não só no sentido da elaboração dos programas de licenciatura, mas também nas políticas públicas de recrutamento e preparação dos professores; práticas, que estão diretamente ligadas ao cotidiano de trabalho dos professores; pesquisa, que é a reflexão sobre as práticas, a produção do conhecimento, inovação e as proposições de mudanças; e políticas públicas que coloquem os professores como peças centrais.
Nóvoa fez uma reverência à UFRJ. “Hoje, essas quatro coisas estão fragmentadas, e essa fragmentação torna muito difícil um combate pela educação pública e pela valorização dos professores, que são os dois combates da minha vida”, afirmou. “E a UFRJ é, talvez, umas das poucas instituições que já concebeu este lugar, o Complexo de Formação de Professores”, completou.

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