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Os protestos contra o racismo nos Estados Unidos potencializaram ações antifascistas e antigoverno nas redes sociais no Brasil nos últimos dez dias. Manifestos de intelectuais, artistas, empresários e políticos de múltiplas cores mobilizaram milhares de brasileiros em defesa da democracia e contra a barbárie de Jair Bolsonaro e seus apoiadores.


“Esses manifestos não podem ser chamados exatamente de antifascistas. São manifestos pela democracia”, analisa o professor Josué Medeiros, do Departamento de Ciência Política da UFRJ. “Não há dúvida, no entanto, de que a resistência de esquerda ganhou corpo recentemente com pautas antirracistas e antifascistas, mas não foi essa agenda que juntou os signatários dos manifestos. Eles são muito mais contra Bolsonaro do que a favor de uma determinada agenda concreta. Se apresentarmos uma pauta econômica ou de direitos civis, esse grupo se esfacela”, completa o docente, especializado em estudos sobre a política brasileira contemporânea.


   Na avaliação do professor Ivo Coser, também da Ciência Política, o respeito ao Estado de Direito é o ponto de intersecção entre os signatários dos manifestos. “Não sabemos ainda o significado desses movimentos. Há dúvidas sobre o que pode ser acordado. Mas a plataforma principal são as garantias da Constituição de 1988”, avalia. “De alguma forma, são todos setores que foram beneficiados pelo estado democrático de direito. E que agora receiam ver sucumbir a um processo autoritário”.


Lançado no sábado, 30, o manifesto #EstamosJuntos” cobrou de líderes “afinco e dignidade” diante da “devastadora crise sanitária, política e econômica que atravessa o país”. As assinaturas digitais alcançaram 280 mil adesões em poucos dias. Entre os apoiadores, um amplo espectro, desde o ex-presidenciável petista Fernando Haddad até a atriz Fernanda Montenegro, o youtuber Felipe Neto, a ex-deputada Manuela D’ávila, a acionista do Itaú Maria Alice Setúbal, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).


“A questão democrática é vital, uma premissa para a manutenção das lutas e novas conquistas. É fundamental que, com todas as divergências políticas, esse seja um ponto de interseção e convergência nesse momento. E que fique claro que somos a maioria”, justificou Flávio Dino, em entrevista exclusiva ao Jornal da AdUFRJ.  “Com todas as imperfeições, a democracia é a forma superior que permite seu próprio aprimoramento e a liberdade”.


Governador, ex-juiz e docente da Universidade Federal do Maranhão, Dino defendeu a aliança entre “o máximo possível de forças políticas, econômicas e sociais frente ao risco agudo à democracia”. O governador ressaltou que “o estado de direito, previsto pela Constituição de 1988, é a melhor forma institucional de vivência para uma sociedade plural como a brasileira”.


Além do #EstamosJuntos, outro manifesto mobilizou uma multidão. O #Somos70porcento foi lançado pelo economista Eduardo Moreira. O movimento se amparou em pesquisa do Datafolha, publicada dia 28, que indicou que praticamente 70% da população consideram o governo Bolsonaro ruim, péssimo ou regular. Nomes como o do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), da deputada Jadira Feghali (PCdoB-RJ) e da apresentadora Xuxa assinam o documento.


Para o historiador Michel Gherman, são positivas as manifestações da sociedade civil contra o autoritarismo. Ele critica a posição do ex-presidente Lula que, em reunião do Diretório Nacional do PT, ponderou e pediu que os petistas refletissem antes de assinar manifestos que não explicitam o resgate dos direitos perdidos dos trabalhadores. Lula também criticou a aliança com lideranças que, direta ou indiretamente, colaboraram para a eleição de Bolsonaro, reforçando o antipetismo e ou mesmo apoiando o golpe contra a ex-presidente Dilma.


“A esquerda brasileira tem uma dificuldade histórica com a frente ampla desde o apoio de Prestes a Vargas, apesar do envio de Olga (Benário) aos nazistas. O próprio PT demorou o processo da Constituição de 1988. Falta a Lula um pouco mais de Prestes”, analisou Gherman.


Já a professora de Ciência Política, Mayra Goulart, é mais cética em relação às movimentações. “Bolsonaro adota uma linguagem intransigente do livre mercado, assim ele encontra uma blindagem contra instabilidades políticas. Principalmente, do mercado financeiro”, argumenta a pesquisadora do IFCS.

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