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WhatsApp Image 2024 02 07 at 18.35.48 5Renan Fernandes

Há mais de um século, o pernambucano Amaro Amaral plantou uma semente que mudou a folia para sempre. Diretor artístico do rancho carnavalesco Ameno Resedá, que desfilava no bairro do Catete, o então ilustrador de jornais e revistas da época inovou nos enredos e nas fantasias como nunca havia sido feito. E entrou para a história.
“O primeiro desfile competitivo das escolas de samba foi em 1932. Elas seguiram muito do que já havia no cortejo do rancho. A porta-estandarte, os instrumentos musicais, o coro feminino”, destacou o professor Madson Oliveira, da Escola de Belas Artes, que escreveu o livro “A Folia Carnavalesca de 1913 e o rancho Ameno Resedá”, publicado em 2022 com apoio da Faperj.
Amaro rompeu com os temas pastoris, africanos e portugueses típicos dos blocos, cordões e ranchos. Fundado em 1907, o Ameno Resedá desfilou pela primeira vez em 1908 com o enredo “A Corte Egipciana”. Em 1911, o desfile “A Corte Satânica” encantou o presidente Hermes da Fonseca, que convidou o rancho para os jardins do Palácio do Catete, então sede da Presidência da República.
Em 1913, o destaque foi para “A Confraternização da Paz Universal”. As fantasias luxuosas dos foliões faziam referência aos países que haviam participado da Conferência de Haia em 1907.WhatsApp Image 2024 02 07 at 18.36.58
Em pesquisa na Hemeroteca Digital, o professor encontrou relatos de jornais descrevendo os 79 componentes do cortejo. Junto com os 27 desenhos aos quais o professor teve acesso, foi possível reconstruir parte do desfile. “Tinha gente vestida de Argentina, de França, de Portugal. Minha análise foi a partir da simbologia utilizada por Amaro para construir as fantasias”, falou Oliveira.
O professor compara o impacto de Amaro Amaral no carnaval do início do século XX com a trajetória de grandes carnavalescos das escolas de samba, como Fernando Pamplona e Paulo Barros. “Lá em 1913, já havia o temor de desconfiguração do que era o carnaval. Amaro começou a romper com o costume da época e nossa cultura hoje vive entre a tradição e a inovação” defendeu Madson. “Se todos os anos as escolas de samba apresentassem a mesma coisa, para que iríamos ao Sambódromo assistir? É a inovação que mantém a tradição viva”, conclui.WhatsApp Image 2024 02 07 at 18.35.48 6Madson e Amaro

CARNAVAL E ACADEMIA
A relação do docente com o carnaval é antiga. Em 2000, Madson saiu do Ceará, onde estudava Moda, para fazer um estágio na Estação Primeira de Mangueira, a partir de contato com o professor Samuel Abrantes, também da EBA. “O carnaval é uma excelente escola para quem quer trabalhar com figurino porque trabalha com símbolos. A fantasia não tem legenda, mas deve ser de fácil entendimento”, disse Oliveira.
Hoje, Madson orienta pesquisas acadêmicas que têm o carnaval das escolas de samba como objeto de estudo. O professor também participou de três experiências entre a EBA e a Liga Independente das Escolas de Samba fornecendo estagiários para os barracões da Cidade do Samba. “Essa relação rompe com a verticalização dos saberes. É um intercâmbio de conhecimento entre o ensino acadêmico de artes e a escola de samba. A gente leva e também traz conhecimento para a universidade”, afirma.
Um exemplo é Erica Huebra, formada em Comunicação Visual e mestranda do Programa de Pós-graduação em Design. A estudante pesquisa o uso de estamparia nos figurinos do desfile de 2022 da Acadêmicos do Grande Rio. “Estar dentro da EBA escancara a troca entre a universidade e as escolas de samba. Desde os primeiros períodos, os alunos trabalham nos barracões”, celebra. “Há um equilíbrio entre o acadêmico e o popular”.

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