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WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.11.05 7Foto: NADEJDA COSTARenan Fernandes

O ano chegou em ritmo de festa na Escola de Música. A mais antiga orquestra sinfônica do Rio de Janeiro completa o centenário no segundo semestre, mas o calendário de festejos já começou. O primeiro capítulo das comemorações foi um inspirado encontro entre os últimos três maestros. O regente atual, o professor André Cardoso, recebeu os professores aposentados Ernani Aguiar e Roberto Duarte para uma sessão de fotos e uma conversa sobre as mais de cinco décadas que juntos acumulam à frente da orquestra. O evento ocorreu no belíssimo Salão Leopoldo Miguez, na Lapa, sede da Escola de Música da UFRJ.
Criada oficialmente em 25 de setembro de 1924, a centenária Orquestra Sinfônica estará no epicentro de uma movimentada programação nos próximos meses. Haverá o lançamento de um livro, um programa na Rádio MEC e uma exposição. O ponto alto será um concerto no Theatro Municipal já agendado para 2 de setembro, com a estreia de uma sinfonia composta pelo maestro Ernani Aguiar e uma peça premiada no concurso do centenário da UFRJ em 2020. A produção de um documentário também está no horizonte.

AULAS INSPIRADAS
A Orquestra é composta por 43 músicos profissionais e um contingente de alunos dos cursos de bacharelado em instrumentos. No formato sinfônico, mais de cem instrumentistas compõem o grupo. Os músicos profissionais são técnicos concursados, servidores da UFRJ. O maestro André Cardoso destaca a importância do convívio dos estudantes com os músicos. “Meus colegas profissionais que trabalham comigo são tão professores quanto eu. A interação dos alunos com os profissionais abre caminhos no mercado para os estudantes”, apontou.
A relação entre alunos e músicos profissionais também reforça o impacto social que a Orquestra exerce. O perfil do estudante da Escola de Música está em transformação. Alunos egressos de projetos sociais encontram na Orquestra a porta para novos caminhos profissionais.
O maestro Roberto Duarte ressaltou a Orquestra da UFRJ como um celeiro de músicos para outras orquestras pelo Brasil. “Aqui se produz muito músico. Estava em um concerto no interior do Rio Grande do Sul e tinha 12 ex-alunos meus. Isso acontece em vários lugares do país”, recordou Duarte.
A temporada de concertos do Rio de Janeiro tem a Orquestra da UFRJ em destaque. A sinfônica faz concertos na Sala Cecília Meireles, no Theatro Municipal, participa do Festival Villa-Lobos e das Bienais de Música Brasileira Contemporânea. “A dedicação à música brasileira e à música contemporânea é uma característica da Orquestra desde sua fundação. São mais de 200 obras brasileiras inéditas que foram tocadas primeiro aqui”, destacou Cardoso.

LEGADO DE MAESTRIA
As trajetórias dos três maestros se cruzaram como um legado de mestres. Duarte foi professor de Cardoso. Aguiar foi assistente de Duarte. Cardoso dividiu a regência com Aguiar. Mais que uma relação profissional, os três desenvolveram uma ligação recíproca de amizade. “Veja o orgulho que tenho de ter trazido o Ernani para a Escola e ter sido professor do André. Sinto que minha missão foi cumprida”, disse emocionado o maestro Duarte.
Roberto Duarte começou como estudante da Escola de Música em 1960. Em 1966, já era professor da unidade, a convite de Francisco Mignone. Foi assistente de Mignone, Eleazar de Carvalho, José Siqueira e Raphael Baptista. Deu aula de Regência e Prática de Orquestra. Duarte assumiu como regente titular da orquestra em 1979, cargo que ocupou até a sua aposentadoria em 1995, mas na condição de assistente esteve à frente da sinfônica desde seus primeiros anos como professor.
O maestro lembrou uma passagem curiosa. Durante a montagem da ópera “Fosca”, de Carlos Gomes, Duarte teve dengue e, contrariando recomendações médicas, regeu a Orquestra com 41°C de febre. As memórias daquele dia ficaram pela metade nas lembranças do maestro. “Lembro do começo, mas não consigo me lembrar do final. Apagou completamente. Foi o único concerto aqui no Salão Leopoldo Miguez que não transpirei, porque eu estava mais quente que o Salão”, recordou com bom humor.
Ernani Aguiar já possuía vasta experiência musical quando ingressou como aluno na Escola de Música em 1977. Estudou violino com Paulina D’Ambrósio — professora da UFRJ por 42 anos —, composição com Guerra Peixe e regência com o maestro Pinto Fonseca em Belo Horizonte. Depois passou um tempo no Conservatório Cherubini, na Itália. Quando completou a graduação em violino na UFRJ, recebeu a distinção “summa cum laude” por seu rendimento acadêmico.

SUMMA CUM LAUDE
Aguiar foi maestro da Rádio MEC, trabalhou na Funarte, até que recebeu o convite de Roberto Duarte para lecionar na Escola de Música em 1992. “Considero o maestro Duarte meu irmão mais velho. Aprendi muito com ele, mais que nos cursos regulares”, destacou. Após a saída de Duarte, Ernani Aguiar assumiu a regência da Orquestra — em conjunto com André Cardoso — até sua aposentadoria em 2023.
Quando ainda era corista do Colégio Marista, André Cardoso conheceu o maestro Ernani Aguiar. Entrou no curso de Composição da Escola de Música da UFRJ em 1985, mas trocou para Regência, graduando-se em 1991. Em 1994, ganhou o concurso de regência da Orquestra da UFF e começou sua carreira profissional, que o levou ao Theatro Municipal como maestro assistente e, depois, diretor artístico. Ingressou como professor substituto de História da Música até chegar à cadeira de Prática de Orquestra. Em 1998, já como professor efetivo, passou a dividir a regência com Aguiar.

Ernani Aguiar celebra ter sido o primeiro a colocar uma batuta na mão de Cardoso. “Eu estava ministrando um curso de verão dos Canarinhos de Petrópolis, onde André tocava viola. Certa hora, me chamaram ao telefone e, enquanto fui atender, ele regeu no meu lugar", recordou o maestro. A experiência aconteceu novamente tempos depois. “Estava como assistente na Sinfônica Jovem, estávamos ensaiando o Choros Nº 10, de Heitor Villa-Lobos. Havia alunos de Regência, perguntei se alguém queria reger e ninguém quis. O André, que ainda não estudava, assumiu”, completou.

NEM TUDO SÃO FLORES

O Salão Leopoldo Miguez é conhecido por ter a melhor acústica do Rio de Janeiro. Mas a estrutura da Escola de Música clama por reformas. O Salão não é refrigerado o que limita o seu funcionamento durante os meses mais quentes. Ensaios e apresentações são encurtados para que os músicos e a plateia não sofram com o calor. A estrutura de ar-condicionado já existe, mas o prédio não possui rede elétrica capaz de suportar a demanda dos aparelhos.
Além dos problemas estruturais, existem os de custeio. A Orquestra Sinfônica da UFRJ não possui qualquer orçamento da UFRJ para financiar suas temporadas artísticas. “Não temos um centavo que seja para contratar um solista, um maestro convidado, ou contratar um caminhão para levar o equipamento da Orquestra para o local dos concertos”, lamentou Cardoso. Muitas apresentações acontecem apenas pelo esforço do corpo docente e técnico da Orquestra. “O transporte dos equipamentos é pago do meu próprio bolso ou por instituições parceiras”, completou o maestro.
Em 2019, os músicos profissionais da Orquestra pagaram um projeto de reforma acústica e elétrica — para a instalação de ar-condicionado — da sala de ensaio. O projeto está no Escritório Técnico da Universidade (ETU) aguardando a liberação de recursos para as obras.

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