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WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.26.21 4Renan Fernandes

> A UFRJ preta tem voz e vontade. Quer mais espaço nas salas de aulas, nas pesquisas, na docência. Em depoimentos corajosos e emocionantes, professores, estudantes e técnicos, todos negros, todos comprometidos com a universidade pública, traçaram um painel do que é ser preto numa instituição ainda castigada pelo elitismo branco — segundo dados da PR-4, 80% dos cargos de direção são ocupados por brancos. Para mudar esse injusta proporção, cotas e consciência são ferramentas essenciais

Com as políticas públicas de inclusão, a UFRJ ficou mais aberta, diversa e menos desigual. A fisionomia da universidade mudou e é menos branca. No entanto, há um longo caminho a ser percorrido para eliminar as disparidades raciais. Derrubar as barreiras da estrutura racista da sociedade brasileira demanda tempo e luta organizada.
Durante o mês da Consciência Negra, a reportagem da AdUFRJ percorreu os campi da universidade para ouvir professores, técnicos e estudantes. Todos negros e comprometidos com o combate ao racismo. Nos depoimentos, palavras de esperança na construção de um futuro mais justo, com pretas e pretos em posições de poder para tomar decisões que ditam os rumos da própria história.
Representatividade foi o tema mais citado pelos entrevistados. Todos lamentam a escassez de espelhos de inspiração. A falta de docentes negros nos quadros da universidade é motivo de preocupação. Quem chega nessa posição de prestígio na academia vira exemplo, inspira os jovens que iniciam a trajetória acadêmica.
A AdUFRJ quer ouvir e amplificar a voz da comunidade negra. A seguir, docentes, servirdores e alunos contam seus dias, histórias e desafios na maior universidade federal do país.

WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.33Foto: Acervo Pessoal“O racismo atravessa toda a minha formação, desde a escola. Em todos os espaços educacionais a gente se defronta de alguma maneira com o racismo, seja a partir do currículo, seja a partir das relações interpessoais, acadêmicas e institucionais. Em dez anos como professor da UFRJ, ainda me deparo com casos tenebrosos de racismo e é muito difícil convencer grande parte da comunidade acadêmica de que isso acontece e é mais naturalizado do que se imagina. Contudo, acho importante pontuar que esses episódios não estão passando em branco, eles estão gerando mobilização por toda a comunidade, principalmente entre os estudantes. Os casos de racismo proliferam no Brasil contemporâneo e cada vez mais vemos pessoas respondendo no rigor da lei por suas atitudes e na UFRJ não deveria ser diferente.”

Bernardo Oliveira
Chefe do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação

 

 

WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.34Foto: Renan Fernandes“Não tive aula com nenhum professor negro. Normalmente, há poucos negros nas minhas turmas, só eu e mais um aluno. Às vezes tem outra menina, mas é muito pouco. Ver que estou neste lugar e posso ser inspiração para outros me deixa feliz, mas, ao mesmo tempo, me entristece que sejamos tão poucos e isso pode acabar desmotivando quem queira chegar até aqui”.

Sarah Luiza Porto
Estudante de Arquitetura

 

 

WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.34 1Foto: Fernando Souza“O momento em que uma aluna disse que me via como uma possibilidade de ingressar na universidade foi quando coloquei o pé no chão e pensei sobre representatividade. Até então, me via apenas como uma professora da UFRJ e queria produzir. Comecei a entender a minha responsabilidade. Percebi que vários alunos negros puxavam matéria comigo porque sou uma mulher negra — uma estudante até fez um TCC sobre mim. Durante muito tempo, fui a única professora negra no Instituto de Matemática. Isso só vai mudar com um grande trabalho para fomentar o ingresso e a formação de alunos negros na pós-graduação”.

Nedir do Espirito Santo
Professora do Instituto de Matemática e
Vice-presidente da AdUFRJ

 

“Estou há um ano nessa experiência de docência na UFRJ e é bastante comum ver nos alunos o estranhamento ao encontrar nesse lugar deWhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.34 2Foto: Renan Fernandes intelectualidade uma professora preta. Estar aqui na universidade já é um ato de resistência muito grande e tenho muito orgulho dessa caminhada. O mais gratificante é a troca com os alunos, que podem estabelecer uma conexão e perceber que também podem seguir uma carreira acadêmica. A questão da representatividade é fundamental. Essa é uma experiência de muita resistência, muito árdua, mas também de muita força que a gente vai construindo na luta coletiva com os nossos, com a comunidade de professores pretos da UFRJ. Existe uma mobilização expressiva aqui na Casa e essa acolhida contribui para a gente perceber que a caminhada nunca é solitária. Os nossos estão aqui demarcando espaço”.

Juliana Barbosa
Professora substituta da Faculdade de Educação

 

 

WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.34 5Foto: Acervo PessoalAs relações étnico-raciais na UFRJ sempre foram reflexos do racismo estrutural da sociedade brasileira e do racismo institucional. Exemplo forte se dá na ínfima representação de negras e negros nos cargos de direção/poder.
Segundo dados da PR-4, 80% são brancos e 20% são negros. A trajetória acadêmica sempre foi impregnada de uma hegemonia que tem alicerces no colonialismo. Os técnicos-administrativos, por meio da luta pelo reconhecimento de seu papel na produção de conhecimento e da máquina da instituição, vêm ocupando cargos importantes dentro da estrutura, mas ainda insuficientes pelo seu peso e representação.
A garantia de vagas para servidores nos processos seletivos de mestrado e doutorado foi mais uma bandeira de luta e vem produzindo aumento significativo de mestres e doutores negros e de dissertações e teses com a temática racial e de gênero. Isso acontece como consequência de uma trajetória de organização e de ocupação de espaços políticos que levam negras e negros ao protagonismo. A campanha antirracista ‘Nem um passo atrás: a universidade está mudando’, lançada na universidade no dia 27 de outubro, é um movimento crescente e potente, que busca reordenar as relações e as denúncias são necessárias para a construção de um espaço diverso e plural”.

Denise Góes
Técnica em Educação e Superintendente-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade

 

 

“A profissão de enfermagem é majoritariamente feminina e negra, mas não em suas instâncias de poder e liderança. Nos quadros da universidade,WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.34 4Foto: Acervo Pessoal temos poucos professores negros. Comecei a trabalhar com pessoas com doença falciforme, mais comum em negros, em 2008, quando passei a discutir de maneira mais frontal o racismo. Por conta deste trabalho, em 2018 passei a integrar a Comissão de Heteroidentificação da UFRJ, para evitar fraudes no ingresso por cotas.
Me agregar aos servidores e estudantes dos coletivos mudou a minha vida, que foi redirecionada para atuar na linha de frente pelo acesso por ações afirmativas. Hoje, estou ligada à ligada à Escola de Enfermagem pela força da Liga de Saúde da População Negra, de disciplinas e projetos de extensão voltados à negritude, todos frutos do encontro afrodiaspórico com os colegas da UFRJ que estão na luta antirracista”.

Cecília Izidoro
Professora da Escola de Enfermagem Anna Nery

 

WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.27.34 3Foto: Renan Fernandes“As pessoas mudam de calçada quando me veem. Não sei se é porque sou negro, se tenho cara de ladrão, ou somente porque o Rio de Janeiro é uma cidade perigosa. Sou do Gabão, um país da África Central. Estou no Brasil há sete meses. Estou na UFRJ para estudar português antes de começar um curso de Engenharia da Computação na UFTM. Isso também acontece no Gabão, mas aqui no Brasil é muito frequente, acontece muito”.

Toby Bongotha
Estudante de intercâmbio

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