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WhatsApp Image 2023 10 12 at 00.08.39 9Os problemas estruturais do histórico prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco, no Centro do Rio, podem levar à paralisação das aulas nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais em menos de um mês. O triste cenário foi revelado por uma carta conjunta apresentada na reunião da Congregação do IFCS no último dia 4 e enviada à direção da unidade pelos departamentos de Antropologia Cultural, Ciência Política e Sociologia e pelo Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS). Professores e alunos se uniram para fazer um levantamento sala a sala dos problemas e formaram um dossiê que sustenta a denúncia.
“Consideramos que as atuais condições do prédio se encontram inadequadas, perigosas e arriscadas para a continuidade das atividades de ensino”, alerta o documento, que solicita à direção do IFCS providências “no prazo de até 30 dias corridos” e informa que, caso as demandas não sejam atendidas, “o corpo docente de Ciências Sociais se verá compelido a realizar uma paralisação das atividades”. Na quarta-feira (11), o colegiado do Departamento de Filosofia se reuniu e definiu apoio ao movimento, endossando as denúncias reunidas na carta assinada pelos outros três departamentos do IFCS e pelo CACS. Além disso, o colegiado aprovou por maioria o indicativo de paralisação para 8 de novembro.
Em assembleias realizadas na terça-feira (10), os estudantes também apontaram o dia 8 de novembro como data de início da paralisação. Eles marcaram um ato pela melhoria da infraestrutura do IFCS e pelo pagamento do salário dos terceirizados —que está atrasado — no Conselho Universitário do próximo dia 19.
Conviver com riscos de incêndios, alagamentos e calor insuportável nas salas de aula faz parte da rotina de professores, estudantes e técnicos do IFCS há muito tempo. A carta, contudo, traz um levantamento minucioso dos problemas e destaca que o quadro chegou ao limite do suportável. Segundo o documento, a precariedade das instalações “compromete gravemente a qualidade da prática pedagógica e coloca em risco a permanência das/os professoras/es, técnicos e estudantes no ambiente acadêmico”.WhatsApp Image 2023 10 12 at 00.08.39 10

AMBIENTE INSALUBRE
A professora Roberta Guimarães, chefe do Departamento de Antropologia Cutural, espera providências que mudem esse quadro desalentador. “Nós demos 30 dias para a direção do IFCS responder às questões que a gente coloca. E esperamos alguma ação concreta nesse prazo. Há uma insalubridade geral no ambiente. É um processo de exaustão que chega ao ápice com o calor insuportável nas salas sem ar-condicionado. Salas com 50, 70 alunos. As pessoas passam mal, é impraticável. Se liga o ventilador, ninguém consegue escutar o que a gente fala, porque é muito ruidoso. Isso nas salas em que há ventilador. Como a fiação é muito antiga, mesmo nas salas onde há ar-condicionado não podemos ligar porque pode haver um curto-circuito, o que pode levar a um incêndio. Já vimos várias unidades da UFRJ passando por momentos trágicos com incêndios. E não queremos que o IFCS seja mais uma”, diz a docente.
A carta enviada à direção reforça o depoimento da professora. “Há relatos de acidentes com escadas, princípios de incêndio, choques elétricos, perda de matérias de trabalho e pesquisa por conta de alagamentos e infiltrações, entre outras situações inadmissíveis para o pleno exercício das atividades. Há também inúmeros casos de pessoas que têm passado mal devido ao calor intenso das salas, que não possuem sistema de ventilação e refrigeração adequado”.
Vítima do mais recente alagamento provocado pelas falhas no telhado do prédio, a professora Karina Kurchnir, do Departamento de Antropologia Cultural, perdeu a conta de quantas vezes teve de recomeçar trabalhos já adiantados por ter perdido material com as infilrações. “O último alagamento foi agora em setembro. No momento, na sala em que trabalho, estou sem nenhuma ventilação, com as janelas quebradas, parcialmente sem luz e sem equipamentos. Perdi impressora, computador e material de pesquisa nos últimos dois alagamentos. Minha sala foi apontada como sem saída em caso de incêndio”, relata a professora, cuja sala fica no quarto andar, apontado na carta como o que concentra a maioria dos problemas.
O dossiê traz ainda alguns pequenos relatos que traçam um retrato fiel — e triste — dos problemas do IFCS. São depoimentos de professores (não identificados). Alguns deles:
“Estou impossibilitado de usar minha sala há mais de oito meses devido a vazamentos de água provenientes do telhado. Quando ocorrem vazamentos, a água escorre diretamente pelo ponto de iluminação, representando um sério risco de choque elétrico. Devido a essa situação, perdi meu computador desktop, bem como vários documentos importantes”.
“Na última aula uma aluna quase desmaiou de calor. Para evitar que fique abafado, a gente tem mantido a porta aberta, o que é problemático por conta do barulho, já que a sala fica em frente ao elevador”.
“Infiltrações e alagamentos em diversos pontos devido a consequências de problemas no telhado do prédio. Pelo menos três vezes desde 2022 salas e corredores foram afetados durante dias de chuva. Os incidentes não apenas causam transtorno para docentes e discentes que utilizam o espaço, mas acarretam perda de materiais e, o que é mais preocupante, trazem risco para a estrutura do prédio e seus frequentadores. Não sabemos o estado do teto das salas com a água acumulada, além dos riscos para a rede elétrica”.
Presidente eleita da AdUFRJ, a cientista política Mayra Goulart conhece bem a realidade descrita na carta. “Como professora do IFCS, tenho no meu cotidiano a lida com essa precariedade, principalmente as questões elétricas, que impedem que a gente climatize salas que são muito prejudicadas em termos de janelas e de ventilação. No verão é muito difícil dar aulas, chega a ser dramático. Essa iniciativa dos departamentos e dos alunos do IFCS é muito legítima e a AdUFRJ está empenhada em contribuir para a resolução desses problemas. O novo sindicalismo que defendemos se estrutura a partir de frentes como o advocacy e a mobilização da sociedade civil. Vamos colocar essas práticas a serviço dessa causa”.

RESPOSTA DA DIREÇÃO
O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, disse ao Jornal da AdUFRJ que a posição da direção é a de “acolher a lista de demandas”. “São demandas dos professores, dos alunos e dos técnicos sentidas cotidianamente. É um prédio antigo, histórico, que precisa de cuidados especiais. E por conta disso também, infelizmente, tem uma burocracia adicional das instâncias que deveriam zelar pela sua integridade física. Essa burocracia por vezes aumenta o tempo para resolver as nossas dificuldades estruturais. Vamos acolher as demandas, ver o que pode ser resolvido internamente e imediatamente”, disse o professor.
Santoro lembrou que há demandas mais simples, que podem ser equacionadas com orientações internas, mas há outras mais complexas que dependem de instâncias externas, de processos de licitação: “O que implica em demora no Serviço Público. O que podemos fazer é encaminhar a cada instância competente as nossas demandas para que esses processos sejam acelerados. Nós temos urgência em resolver os problemas. Desde o ano passado nós temos um projeto de prevenção de incêndios aprovado, o primeiro da história do IFCS, e nós precisamos completar sua implementação. Temos brigada civil de bombeiros, mas precisamos da sinalização, das fitas antiderrapantes. Temos em curso também outra reforma urgentíssima que é a reforma elétrica. Infelizmente a primeira empresa que ganhou a licitação abandonou o serviço. A licitação teve que ser refeita e está em curso”.
O diretor do IFCS espera ter apoio para dar respostas à comunidade acadêmica. “Nós não queremos deixar que aconteça no prédio do IFCS, que é o mais antigo da universidade, o que aconteceu com o Museu Nacional. Essas duas frentes, a prevenção de incêndios e a reforma elétrica, são essenciais. E esperamos que as instâncias superiores, especialmente a reitoria, também unam seus esforços para conseguir em Brasília os recursos suplementares que nos foram tolhidos nos últimos seis ou sete anos de redução orçamentária”, concluiu.

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