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WhatsApp Image 2023 07 20 at 20.16.45Foto: Alexandre MedeirosCom poucas polêmicas temáticas e novas críticas à metodologia do encontro, o 66º Conselho do Andes (Conad), realizado de 14 a 16 de julho em Campina Grande (PB), atualizou o Plano de Lutas do sindicato nacional para os próximos meses. Entre os destaques estão a luta contra o arcabouço fiscal, o fim da lista triplice para reitores, o combate à violência nas instituições de ensino e à ofensiva da extrema-direita contra a liberdade de ensinar e aprender, e a realização de uma campanha de valorização dos trabalhadores da Educação. O Conad também aprovou a intensificação da luta pelo reenquadramento de docentes aposentados, com paridade e integralidade remuneratória em relação aos servidores na ativa.
Em sua plenária de abertura, o 66º Conad empossou a nova diretoria do Andes para o biênio 2023-2025, com boicote do fórum Renova Andes (veja matéria na página 5). O encontro contou com 335 docentes credenciados, sendo 64 delegados e 226 observadores, de 69 seções sindicais — além de diretores e convidados. Por aclamação, a cidade de Belo Horizonte foi escolhida como sede do 67º Conad, que acontecerá em 2024.

CONJUNTURA POLÍTICA
Delegada da AdUFRJ no início do 66º Conad (foi substituída pela professora Eleonora Ziller no decorrer do encontro), a professora Mayra Goulart mostrou preocupação com algumas posições da diretoria do Andes em relação ao governo Lula. “A leitura de conjuntura que a direção do sindicato tem feito me lembra muito aquela que levou o Andes a fazer parte do “Fora, Dilma”. O que fizemos em 2015 e 2016 foi dar palco para a direita dançar. E não podemos fazer isso agora. Temos que apoiar esse governo que ajudamos a eleger”, ponderou Mayra.
A professora criticou também a dinâmica do sindicato nacional que, segundo ela, tem afastado a direção da base: “Nós temos uma diretoria que controla a máquina sindical por muito tempo. E, com esse controle, tem operado um afastamento do professor do sindicato. Isso torna difícil para nós, que estamos tentando construir uma oposição, chamar um professor para votar. Porque quando a gente fala que a eleição é do Andes, ele não demonstra o menor interesse. Esse é um reflexo desse processo deliberado de afastamento desse professor comum, que está lá em sala de aula, ou no seu laboratório, que quer saber do seu salário, e não da guerra da Ucrânia. Temos que conversar não só com esse professor, mas com os diferentes segmentos da sociedade, como está fazendo o governo Lula. Não temos que dialogar só com quem é de esquerda”.
Integrante da delegação da AdUFRJ, a professora Ana Lúcia Fernandes foi na mesma linha de Mayra. “Acho que a diretoria que assume agora tem a enorme responsabilidade de interromper um longo ciclo de políticas de guetos, de descolamento e de falta de diálogo com a sociedade, sobretudo com os professores da base. Há pouco espaço para quem não é militante raiz nas esferas de decisão do Andes. O sindicato deve se voltar mais para a realidade das universidades, para as condições de trabalho dos professores, sobretudo daqueles mais jovens, que entram com salários baixos e poucas perspectivas de progressão na carreira”, argumentou Ana Lucia.

DELIBERAÇÕES
O fim da lista tríplice para a escolha de reitores, o combate ao arcabouço fiscal, o fortalecimento da Campanha Salarial de 2024 e a Auditoria Cidadã da Dívida foram alguns dos temas debatidos e deliberados na atualização do Plano de Lutas do Setor das Ifes do Andes. “Depois das intervenções do governo Bolsonaro na escolha de dirigentes universitários, o fim da lista tríplice é um ponto central de nossa luta. O foco, orientado pelo princípio da gestão democrática do Caderno 2 do Andes, é para que os processos de escolha dos dirigentes universitários se iniciem, transcorram e terminem nas próprias instituições”, defendeu o presidente do Andes, professor Gustavo Seferian (UFMG).
Em relação à Campanha Salarial de 2024, o Conad definiu intensificar a construção da campanha em conjunto com as demais categorias do funcionalismo público e garantir a recomposição salarial de todas as perdas históricas de servidoras e servidores públicos, no âmbito dos coletivos Fonasefe e Fonacate.
Os delegados aprovaram por unanimidade um texto de resolução condenando o ataque do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a professores e professoras, durante um evento pró-armas em Brasília (DF), no dia 9 de julho deste ano, comparando-os a traficantes de drogas. Nesta quinta-feira (20), a Polícia Federal pediu a abertura de inquérito contra o deputado para apurar a possível prática de incitação ao crime.

METODOLOGIA ARCAICA
As críticas à metodologia do sindicato nacional na condução dos trabalhos se avolumaram durante o 66º Conad. Um exemplo foi simbólico. Durante a plenária de avaliação do Plano Geral de Lutas, um dos pontos sugeria que o Andes organizasse um número especial da sua revista “Universidade e Sociedade” sobre a temática ambiental. Um dirigente do Andes ponderou, ao microfone, que a revista que trata dessa questão já estava disponível no site do sindicato e que a discussão estava, portanto, superada. Mesmo assim, a mesa que dirigia os trabalhos colocou em votação a sugestão, levando boa parte da plateia a um rumoroso murmúrio de desaprovação.
Segundo a professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ e delegada do sindicato em boa parte do encontro, exemplos como esse mostram que a metodologia do Andes na condução de conselhos e congressos é um entrave à participação da base. “Essa metodologia vem sendo desenvolvida ao longo de duas décadas, segundo eles para atender a base, para que todos possam participar. Entretanto, essa tese não se sustenta, pois essa metodologia funciona para garantir que a diretoria do Andes tenha controle sobre todas as decisões”, sustenta Eleonora.
A professora explica como o método funciona: “Todos podem mandar o que quiser para os encontros, os textos de referência. Aparentemente isso é democrático, mas pulveriza e sobrecarrega a discussão, fazendo com que a gente perca o foco das lutas essenciais para os docentes. Essas lutas essenciais ficam diluídas num mar de questões que vão da Ucrânia ao apoio a um evento de artes na Região Norte. São coisas que poderiam ser resolvidas em âmbito de GTs do Andes, que não precisam ser levadas ao Conad. A subordinação a essa metodologia é um modo de mascarar o controle que a diretoria tem, já que ela tem indicados em todos os grupos de discussão. Só a direção do Andes está em todos os grupos, conduzindo as reuniões. E há outro método bem conhecido, que é estender a discussão ao máximo, nos detalhes, de forma que a participação fique restrita à militância, já que, pelo cansaço, os demais participantes vão desistindo e esvaziando o plenário. E se afastando do movimento. Essa é a farsa da metodologia do Andes que temos que insistir em desmascarar”.
O presidente do sindicato nacional, Gustavo Seferian, defende a metodologia, sem deixar de perceber que mereça ajustes com vistas a torná-la mais atrativa e dinâmica. “É importante perceber a pluralidade da composição do nosso sindicato, como temos vários pontos de vista, leituras diferentes da realidade. Isso é muito rico e é fundamental que tenhamos a capacidade de dialogar, sempre com respeito. O Conad é nosso conselho fiscal e atualiza os planos de lutas definidos em congresso. Foi isso que fizemos em Campina Grande, com avanços significativos. Foi importante atualizar nossos planos de lutas, com calibragens importantes não só em relação à lida com problemas importantes como a lista tríplice e a campanha salarial dos servidores federais, como ao aprofundamento dos debates sobre o Novo Ensino Médio, já que o atual governo vem esboçando poucas iniciativas de sua revogação. O Andes é um instrumento de unidade de ação, e para isso contamos com a participação de todos os professores e professoras, que são indispensáveis para o fortalecimento de nosso sindicato”.

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