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WhatsApp Image 2023 07 05 at 19.59.52 3Fotos: Alessandro CostaCom o auxílio de uma máquina fotográfica de brinquedo, dessas que atira água em vez de bater fotos, o professor Paulo Alcantara Gomes conseguiu rechaçar um indesejável convênio entre a UFRJ e a Escola Superior de Guerra em plena ditadura militar. Quem lembrou a história foi o ex-reitor Nelson Maculan (1990-1994), na sessão solene do Conselho Universitário, sexta-feira passada (30), que outorgou o título de professor emérito a Paulo Alcantara Gomes. “O Paulo era diretor da Coppe (1978-1982) e não queria fazer o convênio. Então pegou aquela máquina e começou a atirar água na gente. O general deve ter nos achado um bando de loucos e nunca mais voltou ao Fundão”, recordou Maculan, arrancando risadas da plateia e um leve sorriso do homenageado.
A capacidade de negociar e dialogar foi enaltecida como uma das muitas qualidades de Paulo Alcantara Gomes na sessão solene realizada no Salão Nobre do Centro de Tecnologia. Na mesa e na plateia, professores, pesquisadores, funcionários e cinco ex-reitores prestigiaram a homenagem. Foi o último ato oficial do então reitor Carlos Frederico Leão Rocha, que se disse emocionado ao entregar a medalha ao homenageado. “Temos aqui o peso institucional da UFRJ, com a presença dos ex-reitores, ao conceder esse título ao professor Paulo, aprovado por unanimidade pelo Consuni”, disse Leão Rocha. O reitor nomeado Roberto Medronho, e sua vice Cássia Turci, também estavam na plateia.

EXEMPLO
Paulo Alcantara Gomes foi reitor da UFRJ de 1994 a 1998, sucedendo a Nelson Maculan, de quem foi vice-reitor. Em seu discurso, Maculan destacou a capacidade de negociação do amigo, ilustrada com o episódio da máquina fotográfica de brinquedo. “Paulo é meu amigo desde 1978, quando cheguei à UFRJ, e ele já estava aqui. É um exemplo de vida dedicada à educação brasileira. É impressionante a capacidade dele de agrupar as pessoas, de negociar. É um grande gestor. Como professor, deu aulas na graduação e na pós, orientou teses, fez pesquisa, se articulou internacionalmente. Ele é importante por toda a sua carreira”, disse Maculan.WhatsApp Image 2023 07 05 at 20.02.26
O ex-reitor lembrou um fato marcante na carreira de Paulo: a contratação de pesquisadores demitidos da Finep pelo regime militar. “Ele foi diretor da Coppe na época da ditadura, e teve a coragem de contratar aqueles pesquisadores. Não é qualquer um que faz isso, não”, relembrou Maculan, muito aplaudido.
Reitor da UFRJ de 1981 a 1985, Adolpho Polillo foi professor de Paulo e falou sobre o ex-aluno. “Em todos os lugares em que eu encontro o Paulo ele sempre tem o cuidado de dizer a todos: ‘Foi meu professor’. Fico honrado com isso. Em todos os instantes em que eu acompanhei a vida do Paulo, inclusive durante minha passagem como reitor, nunca encontrei algo de que pudesse discordar. Eu me sinto agraciado pela sorte de ter conhecido Paulo Alcantara Gomes”, disse Polillo.
O médico e professor Alexandre Pinto Cardoso, reitor da UFRJ de 1989 a 1990, arrancou risadas da plateia ao elogiar a elegância do homenageado. “Muitas coisas já foram ditas aqui sobre o Paulo, o nosso Paulinho. Mas quero dizer mais. O Paulo é um conciliador por excelência, uma pessoa de grande empatia. Escuta a todos, e é capaz de docemente dizer ‘não’. E as pessoas saem agradecidas pelo fato de terem sido ouvidas e receber um ‘não’ com tamanha elegância”, descreveu Pinto Cardoso. “É um batalhador incansável pela universidade, com seu carisma e com seu cuidado no trato com as diferenças”, completou.
A diretora da Escola Politécnica, professora Cláudia Morgado, já conta com o trabalho do novo professor emérito na congregação da unidade: “A UFRJ hoje está resgatando uma dívida com ela mesma. Essa emerência já deveria ter sido outorgada há muito tempo. É uma honra ter o professor Paulo agora na nossa congregação, e ele já aceitou fazer parte de uma comissão que vai reestruturar as diretrizes pedagógicas dos cursos da Escola Politécnica”.

INVESTIMENTOS
WhatsApp Image 2023 07 05 at 20.02.10Ao receber a medalha das mãos do reitor Carlos Frederico Leão Rocha, Paulo lembrou de sua trajetória na UFRJ. “Quero dizer o quanto me sensibiliza e enobrece esse título de professor emérito. A UFRJ foi o berço de minha formação intelectual. Recebo esse título 60 anos depois de ter iniciado meu curso de Engenharia Civil na então Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, hoje Escola Politécnica”.
Paulo se disse “em casa” no CT, por suas passagens pela Coppe e pela Escola Politécnica. “Fico feliz de voltar ao Centro de Tecnologia, onde passei muitos momentos importantes de minha vida. Minha turma foi a última do Largo de São Francisco e a segunda da Ilha do Fundão. Depois ingressei na Coppe e fiz meu mestrado orientado por Luiz Bevilacqua, meu doutorado com o professor Sidney Santos. A Coppe é uma referência. E uma de minhas maiores realizações foi a de ter sido professor dos cursos de graduação da Escola Politécnica. Aqui apreendi a dar valor à formação científica dos engenheiros e tive a chance de contribuir para a reforma dos cursos de Engenharia”.
O emérito falou também da falta de investimentos nas universidades e instituições de pesquisa. “Decorridos mais de 20 anos de meu mandato como reitor, é possível constatar grandes mudanças no cenário, mas ainda persistem muitos desafios. Os investimentos em educação, ciência e tecnologia são um problema sério e dependem essencialmente do setor público. Em 2020, para se ter uma ideia, foram investidos em ciência, tecnologia e inovação apenas 16% dos R$ 8,6 bilhões aplicados em 2014, o que equivale a 0,8% do PIB. A média mundial anda na faixa de 1,8% do PIB”.
Paulo falou sobre alguns reflexos dessa falta de investimentos. “Apenas 11,4% dos doutores formados vão para a indústria no Brasil, enquanto nos Estados Unidos esse percentual chega a 42%. Estamos perdendo profissionais e pesquisadores altamente qualificados para outros países. Há dias, a professora Cláudia Morgado me relatou que, só na Escola Politécnica, foram sete nos últimos anos”, lamentou.
Mas o mestre vê bons sinais no horizonte. “Há perspectivas melhores agora que o governo está tentando recuperar os investimentos em ciência, tecnologia e inovação, e ainda recompor o orçamento de custeio das universidades federais. Todos nós estamos vendo com esperança uma nova fase das agências públicas de fomento à pesquisa”, concluiu.

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