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WhatsApp Image 2022 10 14 at 22.00.13Júlia Fernandes

A hashtag #OrgulhoDeSerUFRJ, que encabeça cada página do Jornal da AdUFRJ, não poderia ser mais apropriada para esta notícia. Apesar de todos os obstáculos à ciência produzida no Brasil, um projeto do Instituto de Física ganhou um prêmio da prestigiada revista britânica Nature, dia 11. O “Tem Menina no Circuito” foi o vencedor da edição 2022 do Nature Awards For Inspiring Women in Science, em Science Outreach. A categoria engloba iniciativas que apoiem jovens a estudar ciências naturais, tecnologia, engenharia, matemática e medicina, ou que aumentem a quantidade de mulheres nessas carreiras.
“Ganhar o prêmio nesse momento em que estão tentando desacreditar a ciência, e em que as universidades estão sendo atacadas e sofrendo cortes, é motivo de muito orgulho, e um incentivo para a gente continuar resistindo”, relata a professora Elis Sinnecker, uma das coordenadoras do projeto. “Mais que incentivar essas meninas para a carreira das ciências exatas, o que a gente acaba fazendo é a inclusão social pela ciência”, completa.
Desde o início, em 2013, o projeto atua em escolas públicas situadas em regiões periféricas do Rio de Janeiro. “Nessas escolas, é comum a gente encontrar meninas que nunca saíram do entorno de onde moram. Muitas não sabem que as universidades federais têm excelência no ensino, e que são públicas. Elas desconhecem o programa de cotas e de assistência estudantil”, afirma.
“O Tem Menina no Circuito está direcionado a lugares da cidade e do Estado do Rio em que há pouca oferta de atividades culturais e científicas. São locais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, reforça Tatiana Rappoport, também integrante da coordenação. Além do local, também se destaca a importância de incluir essas meninas na área das ciências. “Estamos muito preocupadas com a inclusão. É preciso mostrar que elas podem fazer o que quiserem, inclusive seguir uma carreira de exatas em uma universidade pública”, acrescenta.
“Acho que a conquista em si é importante para o projeto e para a extensão da UFRJ em qualquer momento que viesse. É um reconhecimento internacional da qualidade do que estamos fazendo. Claro que, em um momento onde a universidade e a ciência são ameaçadas, onde também está em jogo o papel da mulher na sociedade, o prêmio é ainda mais importante”, explica Rappoport.WhatsApp Image 2022 10 14 at 22.00.131

FINANCIAMENTO INSTÁVEL
A falta de estabilidade no financiamento é um dos problemas. Hoje, o projeto recebe verbas da FAPERJ e do Instituto Reditus — uma associação privada, sem fins lucrativos, formada principalmente por alunos e ex-alunos da UFRJ. Porém, de 2017 até o ano passado, quase não houve recursos. Foi o momento mais difícil do “Tem Menina no Circuito”. “Na ocasião, tivemos um apoio importante da pró-reitoria de Extensão, com algumas bolsas para as nossas monitoras, que são as meninas que vão às escolas semanalmente fazer as atividades com as alunas”, diz Elis.
Segundo ela, os editais governamentais não atendem às necessidades exigidas por este tipo de projeto. “A gente traz as estudantes para fazer atividades dentro da universidade, para que elas conheçam e sintam a sensação de pertencimento ao local, o que é muito importante. Mas é essencial, também, alimentar essas meninas, e nenhum edital do governo contempla lanche, que é algo superbásico”, explica.
Na cerimônia de premiação realizada em Londres, a professora Thereza Paiva, outra coordenadora, fez questão de dedicar o resultado às participantes e ex-participantes do projeto. Muitas delas ingressaram nas universidades. “A gente tem meninas que frequentaram o curso de Física, Engenharia Química, mas também outras que fizeram Letras, Arquitetura, Odontologia, e vários outros cursos”, informa Elisa. “No nosso projeto, a gente não trabalha só com quem gosta de exatas, mas com qualquer uma que queira participar. Com isso, a gente acaba trabalhando com meninas que têm diferentes habilidades e que acabam indo para a universidade em diversas carreiras”, afirma a docente. Uma formanda da primeira turma, no entanto, seguiu a área de exatas, e fez licenciatura em Física. “Hoje, ela é professora em uma escola no ensino médio”, acrescenta Thereza.
O investimento está diretamente relacionado ao sucesso do projeto. “Ao longo dos anos, observamos que a motivação das meninas para a ciência e a busca pelo ensino superior são maiores em época de maior financiamento. É quando conseguimos trazê-las com mais frequência para a UFRJ e proporcionar atividades fora da escola”, conta Thereza. “Essa conquista mostra a resiliência da comunidade universitária”, completa.
A docente espera que iniciativas como o “Tem Menina no Circuito” se multipliquem pelo país. “É muito importante que mais cientistas se engajem em atividades de divulgação científica de qualidade. O movimento antivacina e o retorno de doenças praticamente erradicadas, como a poliomielite, nos mostram os enormes e graves riscos da falta de letramento científico da sociedade”, conclui.

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