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WhatsApp Image 2022 09 19 at 10.11.08 4Fotos: Fernando SouzaA UFRJ promove até o dia 21 um ciclo de reflexões à altura das comemorações pela independência nacional. O evento é promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura da universidade. A abertura aconteceu no dia 15, com a participação da reitora, professora Denise Pires de Carvalho. “É assim que devemos brindar o bicentenário da independência. Com alegria, com arte, de forma crítica”, disse a reitora, numa referência indireta às comemorações oficiais do governo brasileiro, que se tornaram palanque eleitoral e cenário de grosserias proferidas pelo mandatário do país no dia 7 de setembro.
Um dos convidados da mesa de abertura foi o professor Renato Janine Ribeiro, atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O dirigente criticou o governo Bolsonaro pelas drásticas reduções orçamentárias em áreas fundamentais para a soberania nacional, como Educação, Ciência, Tecnologia, Saúde e Cultura. “O Brasil foi trilhando o caminho da exclusão. Todos os presidentes que tentaram modificar essa realidade foram perseguidos”, disse, citando João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, de quem foi ministro da Educação.
Janine Ribeiro também destacou a importância das universidades públicas que, apesar de asfixiadas financeiramente, responderam à altura dos dilemas impostos pela pandemia de covid-19. “Para cada desafio significativo da sociedade, a resposta está na Ciência. A resposta está na Universidade”.
O docente não se furtou a fazer um chamado eleitoral à sua audiência. Embora não tenha citado nomes de candidatos, ele afirmou a necessidade de todos se unirem na reconstrução nacional. “Peço que a gente esteja muito forte na defesa do nosso país nessas eleições”.
A professora Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), pontuou a destruição dos sistemas de Educação, Ciência e Tecnologia no atual governo. “Como podemos ter avanços na Educação sem uma política de Estado? Os cortes são dramáticos. Não vai ser em quatro anos que vamos conseguir resolver todos os problemas. Destruíram tudo em três anos. Essa reconstrução levará muito mais tempo”, afirmou.
A docente aproveitou o momento para questionar que Ciência o país precisa. “Não adianta reconstruirmos instituições como se estivéssemos em 1951 (ano de criação da Capes e CNPq). Quais os desafios do atual mundo globalizado? Como nos tornar competitivos? Quase um quarto do novo século já passou”, refletiu.
Helena Nader também analisou o papel dos professores, formadores de gerações de alunos e futuros dirigentes do país. “O que estamos entregando para a juventude? O que a juventude quer?”, questionou. “Precisamos fazer um diagnóstico porque, se não, vamos continuar fazendo uma ciência maravilhosa e formando líderes que nos odeiam”.
Presidente da Faperj, o professor Jerson Lima Silva, do Instituto de Bioquímica Médica, destacou a ciência de ponta realizada no Brasil, mas apontou para o necessário aumento de verbas para a área. “As Faps (fundações de amparo à pesquisa estaduais) executaram na ordem de R$ 4,5 bilhões no ano, o que ainda é muito pouco, se compararmos com os Estados Unidos. O total investido no ano, lá, foi algo em torno de US$ 120 bilhões”, informou.
Um dos desafios para o desenvolvimento do país, justamente por conta da falta de investimentos em C&T, é a fuga de cérebros. “Temos uma diáspora silenciosa, seletiva. A gente perde os melhores pesquisadores”, lamentou.
Primeira reitora negra de uma universidade federal, a professora Joana Angélica Guimarães chamou atenção para a parcela mais empobrecida da população. “Passamos muitos séculos divididos entre os que tinham direitos e os escravizados, que não tinham direito a nada”, disse. “Hoje, no segundo centenário, estamos divididos entre pessoas privilegiadas e os descententes daqueles que não tinham direito a nada. Só tivemos uma lei de cotas dez anos antes do bicentenário e a grande discussão era se essas pessoas pobres, pretas, estariam à altura do que a universidade brasileira precisava”, criticou.
Joana Angélica relacionou a independência, a soberania e a democracia ao acesso de todas as pessoas ao ensino superior. “Temos vários talentos invisibilizados nas favelas e periferias brasileiras. As pessoas mais pobres não veem a universidade como perspectiva”, disse. “Essa sociedade, com a qual precisamos dialogar e com ela aprender, não conhece a universidade e nós, a classe média, também não sabemos o que essas pessoas pensam, o que querem, o que podem nos ensinar”, considerou a reitora. “Precisamos pensar numa Ciência para todos, com novas tecnologias e metodologias de ensino que deem conta dessa diversidade”.
Denise Pires de Carvalho, última a falar na mesa de abertura, afirmou que a sociedade brasileira está polarizada “entre aqueles que querem um país desenvolvido e os que querem manter o Brasil colonizado”. “O Brasil só perde para a Indonésia e México em percentual de doutores em suas populações. As universidades são a única chance de nossos jovens poderem obter a almejada mobilidade social e reduzir as desigualdades desse país”, disse. “Somos a única saída para nosso país ser independente. Nenhuma nação conseguiu se desenvolver sem investimento em Ciência e Tecnologia”.
Coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, a professora Christine Ruta, ex-diretora da AdUFRJ, fez uma avaliação emocionada da atividade. “É, realmente, um momento de reflexão e por isso propomos uma série de debates sobre segurança alimentar, saúde, ciência. Temas fundamentais para o avanço da soberania nacional”, explicou a docente. “Será que são temas independentes? Será que houve melhorias ou retrocessos nessas áreas?”, exemplificou. “Precisamos saber que rumos o país tomará”.
Ela aproveitou para saudar o número de mulheres na mesa de abertura. “Tivemos a primeira reitora da maior universidade federal do Brasil, a primeira reitora negra de uma universidade federal, a primeira presidenta da ABC. Então, avançamos no debate de igualdade de gênero, mas regredimos em outros: a violência, as diferenças salariais”, relacionou. “Tudo isso será tema de reflexão nesses dias”.

ABERTURA COM ARTE. O público foi brindado pela apresentação de chorinho do Grupo Sôdade Brasilis, projeto de extensão coordenado peloWhatsApp Image 2022 09 19 at 10.11.08 5 professor Sergio Alvares, da Escola de Música da UFRJ. O grupo também executou o instrumental do Hino Nacional Brasileiro. A letra foi cantada pelo tenor Saulo Lucas, egresso da Escola de Música. A Cia Folcórica do Rio de Janeiro, mais um projeto de extensão da UFRJ, animou a plateia com uma apresentação de maxixe.

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