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JoaoLaet 010922 MulheresnaPolitica 10Fotos: João LaetAs eleições de outubro elegerão os ocupantes de 513 vagas na Câmara dos Deputados, 27 no Senado Federal e mais de mil nas assembleias estaduais, além dos governos estaduais. A ocasião é propícia, portanto, para uma discussão sobre a presença feminina na política institucional. Esse foi o tema da I Jornada Mulheres Eleitas, seminário do coletivo de pesquisadoras Mulheres Eleitas, que faz parte do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM) do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRJ. O encontro aconteceu no IFCS na última quinta-feira (1) e reuniu pesquisadoras de diversas universidades para debater a participação feminina a partir de dois eixos principais: os desafios institucionais e as violências de gênero na política, e a maré feminista e representação política.

A primeira mesa, com o tema “Eleitas, mas a que custo? Desafios institucionais e violência política de gênero” contou com a participação das professoras Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, Felícia Picanço, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, e Hildete Pereira de Melo, da UFF. Hildete começou sua fala lembrando que o número de mulheres eleitas em 2018 para a Câmara Federal foi o maior da história, mas o perfil das mulheres era diferente do tradicional. “Pela primeira vez na história do Brasil, temos uma representação política de mulheres deputadas que se posicionam contra a questão das mulheres”, disse a professora, mencionando a onda bolsonarista que elegeu mulheres conservadoras para o Congresso.

Hildete retomou a história do Brasil para mostrar como a participação de mulheres na política foi cerceada ou, quando mulheres tiveram protagonismo em momentos políticos, pouco referenciada nos registros históricos. “A história oficial não tem mulheres, elas são silenciadas e esquecidas”, argumentou a professora. “Fomos as feministas que trouxemos Leopoldina para o pódio da Independência, porque senão seria aquela espadinha de Pedro I nas margens do Ipiranga”, acrescentou.

A professora da UFF também defendeu a importância da presença de mulheres na política para que as pautas femininas possam avançar. “Não existe uma lei sobre mulheres, no Brasil, que não tenha sido uma proposição feminina. Quem está no poder não divide ele, e quando uma mulher entra em um espaço de poder, sai um homem”, explicou.

A professora Mayra Goulart retomou a questão das mulheres conservadoras, apresentando um dado importante: da legislatura de 2014 para a de 2018, a representação feminina aumentou de 10% de mulheres para 15%. “Essa expansão se dá no contexto de um recrudescimento conservador. A maioria dessas mulheres, diferente do que acontecia antes, não está identificada com a pauta feminista”, explicou a professora do IFCS, dizendo que entender esse fenômeno é o principal desafio do coletivo Mulheres Eleitas.

Mayra disse ainda que existem dois tipos de representação, a dos corpos e a de ideias, e a representação de ideias agora impõe um dilema à sociedade. “Até então, as mulheres eleitas representavam ideias que tinham a ver com a agenda feminista, que é muito estruturada em dinâmicas reflexivas sobre o papel da mulher, dos gêneros e da sociedade de maneira geral. Porém as mulheres que são eleitas em 2018 reivindicam símbolos conservadores, e nesse conservadorismo há uma estruturação patriarcal”, ponderou.

A segunda mesa teve como tema “Maré feminista e representação política” e contou com a participação das professoras e pesquisadoras Adriana Valobra, da Universidad Nacional de La Plata, da Argentina, Alessandra Maia, da PUC-Rio, Veronica Daflon, da UFF, e Vanilda Chaves, da USP. Vanilda tratou principalmente das dificuldades das mulheres para conseguirem se eleger. “As mulheres são 52% da população, 54% do eleitorado e 50% das filiadas a partidos, mas, este ano, apenas 30% das candidaturas são de mulheres”, contou a pesquisadora, que questionou como pode uma democracia ter uma disparidade tão grande entre as representações na sociedade e na política de um grupo tão numeroso.WhatsApp Image 2022 09 11 at 14.14.13 3

Vanilda explicou que há um subfinanciamento das campanhas eleitorais das mulheres. “Os partidos privilegiam os homens, que recebem maior financiamento, porque eles já dispõem de uma atuação política prévia, ou de capital político de diversos tipos. São candidaturas mais viáveis para o partido”, exemplificou a pesquisadora, para quem essa decisão sobre o financiamento, tomada por homens na maioria dos casos, cria uma barreira de entrada para mulheres na política.

Para a professora Mayra Goulart, o evento foi um sucesso. “É interessante que as mulheres tenham consciência de que somos um grupo sub-representado, mas também que nós, enquanto intelectuais, saibamos lidar com essa grande novidade que temos no front, que é a ascensão deste grupo de mulheres conservadores”, explicou Mayra. O que está em jogo é a disputa pela pauta de mulheres, que antes era assumida basicamente por movimentos progressistas. “Com a ascensão desse movimento das conservadoras, é importante a gente entender o que essas mulheres conservadoras desejam, como elas se entendem como mulheres, qual é a luta delas. Essa disputa com as mulheres conservadoras vai ser uma das questões centrais destas eleições”, avaliou.

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