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amorimDeputado Rodrigo Amorim (PTB) - Crédito: Twitter de Elika TakimotoMenos de uma semana após o assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), pelo policial penal federal bolsonarista Jorge Guaranho, no domingo retrasado (10), a violência política voltou a ditar o tom da campanha eleitoral. No sábado (16), uma caminhada pacífica do deputado federal Marcelo Freixo, pré-candidato a governador do Rio pelo PSB, junto a aliados e militantes, foi perseguida e encurralada por um grupo liderado pelos irmãos bolsonaristas Rodrigo e Rogério Amorim — respectivamente deputado estadual e vereador pelo PTB — na Praça Saens Peña, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Segundo relatos colhidos pelo Jornal da AdUFRJ, os bolsonaristas estavam armados e ameaçaram a comitiva de Freixo.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) estava na caminhada e tem convicção de que o grupo dos irmãos Amorim queria intimidar. “O que aconteceu foi um comando por parte do deputado bolsonarista Rodrigo Amorim e seu irmão, com quinze homens armados, para nos intimidar. Eles partiram para quebrar e rasgar bandeiras, empurrando as pessoas. Teve agressão moral, verbal, física, com palavras de baixo calão, desqualificando as pessoas”, conta Jandira.
Para a parlamentar, o episódio faz parte de uma escalada de violência que é estimulada principalmente pelo discurso de ódio de Jair Bolsonaro. “Ele é o principal incitador dessa violência. Bolsonaro só fala de incitação ao ódio, em aniquilamento do adversário, em agressão a quem pensa diferente”, avalia. Jandira acha que a resposta deve ser dada nos campos jurídico e político: “Fizemos o boletim de ocorrência na 19ª DP (Tijuca), demos entrada no TSE e no TRE-RJ. Vamos também apresentar uma representação contra o mandato do deputado Rodrigo Amorim, além de acionar o Ministério Público. Ao mesmo tempo, temos que dar a resposta política. E a primeira resposta é não sair das ruas. A rua é da festa cívica que é o processo eleitoral”.
Pré-candidata a deputada federal pelo PSB, a professora Tatiana Roque, do Instituto de Matemática e ex-presidente da AdUFRJ, estava na caminhada e diz que não houve confronto, mas sim uma agressão. “A gente estava fazendo uma manifestação política pacífica na Praça Saens Peña, e eles chegaram armados, truculentos, em bando para nos intimidar. Eles nos cercaram no meio da praça. Não foi um confronto, como alguns veículos de imprensa chegaram a dizer, como se fosse uma briga de rua. Não foi. Foi realmente um movimento de intimidação e de tentar cercear a nossa liberdade de manifestação. Eles fizeram questão de mostrar que estavam armados, vieram pra cima, quebraram bandeiras, foram muito violentos”.
Para Tatiana, cuja pré-candidatura foi lançada oficialmente na quinta-feira (21), a esquerda tem que se preparar para o recrudescimento da violência política. “Acho que a esquerda deve enfrentar isso sem violência, mostrando nossa diferença em relação a eles, mas ao mesmo tempo sem nos deixar intimidar. A gente não deve sair da rua porque o que eles querem é impedir a gente de fazer campanha, de nos manifestarmos politicamente, principalmente agora que eles estão perdendo e estão desesperados”.

DA PAZ AO TUMULTO
O vereador Reimont (PT), pré-candidato a deputado federal, saiu da praça poucos minutos antes da confusão e disse que, até então, o clima era de paz. “Nós temos uma banquinha permanente ali aos sábados no calçadão do Banco do Brasil desde 2009. Era um dia de festa, de caminhar e conversar com as pessoas, prestar contas do que temos feito e apresentar o nosso pré-candidato a governador a quem ainda não o conhecia. Tudo estava em paz”, descreve o vereador.
Para Reimont, o momento é muito difícil e a esquerda tem que estar preparada. “O que ocorreu foi uma mostra da continuidade daquilo que aconteceu com nosso tesoureiro em Foz do Iguaçu, que é o que tem sido proposto pelo atual governo, esse discurso de ódio que sempre termina com morte. Na campanha, temos nos orientado a caminhar sempre em grupos para ter mais segurança. Não permitiremos que nos oprimam, seremos firmes, sem jamais sermos violentos. A truculência virá para as ruas e nós temos que ter sabedoria para enfrentá-la”.
O músico e jornalista Tiago Prata, o Pratinha, pré-candidato a deputado estadual pelo PSB, viu a agressão dos bolsonaristas na Praça Saens Peña como mais um ato contra a democracia. “Foi muito sério, é a democracia em risco. Uma série de capangas de um deputado e de um vereador, que foram lá para isso, para gravar vídeos para as redes sociais deles dizendo que expulsaram Freixo e seus apoiadores da praça, como se o lugar fosse deles. É um fascismo tupiniquim. Marcelo não reagiu às provocações, ficou sereno e sorrindo, para não causar tumulto. Ficaram mostrando as armas na cintura. Foi revoltante”, lembra Pratinha.
O pré-candidato avalia que os bolsonaristas têm duas estratégias muito claras nesta campanha. “Elas se complementam. Uma é amedrontar. Outra, que foi até mais usada nesse episódio da Saens Peña, é fazer vídeos para as redes sociais usando uma narrativa falsa. A gente tem que ter as instituições funcionando, o TRE, o TSE, a Polícia, a Justiça para punir e até cassar candidaturas. Você impedir qualquer pessoa de fazer campanha na rua, provocar briga e morte, é uma tática para amedrontar. Isso não faz parte do jogo democrático. A esquerda tem que agir com sabedoria, ser firme, sem se acovardar”.

COMBUSTÍVEL DA VIOLÊNCIA
Para o cientista político Paulo Baía, professor do IFCS/UFRJ, a tendência é que a violência se acentue. “Essa eleição tem uma característica diferente. O presidente da República é uma pessoa avessa à democracia e faz tudo para diluir os mecanismos democráticos. Essa é uma intenção sempre clara do governo Bolsonaro em suas portarias, seus decretos e suas falas. Nós temos uma campanha que está efetivamente polarizada, e ela será violenta a cada momento porque interessa a Bolsonaro a tensão e a beligerância”, analisa Baía.
O professor crê que a escalada de violência amedronte parte do eleitorado. “Estamos no momento das convenções que vão definir os candidatos. O tom das campanhas para governador, para senador e para deputados federal e estadual será alimentado pelo combustível da violência. A disputas territoriais locais também ganham um tempero forte de violência. Os casos de Foz do Iguaçu e da Praça Saens Peña se inserem nesse contexto político local e nacional. Acredito que de agosto em diante, e sobretudo a partir de 10 de setembro, teremos atos muito contundentes de violência, no intuito de que as pessoas tenham medo de ir votar. Nos grupos qualitativos de pesquisa, já há indícios disso. Tem gente com medo de ir às ruas no dia da eleição”.
Em entrevista ao canal UOL News na segunda-feira (18), o deputado Rodrigo Amorim negou as acusações. “Naquele sábado, havia um encontro do meu partido, o PTB, em São Cristóvão. Eu moro a 300 metros da Praça Saens Peña, marquei na praça com apoiadores para que seguíssemos até São Cristóvão. Quando lá cheguei, havia um grupo de apoiadores do pré-candidato Marcelo Freixo e, assim que saí do carro, esse grupo começou a proferir xingamentos contra a minha pessoa, a minha família e contra o presidente Bolsonaro, de quem sou apoiador. As pessoas que estavam comigo também responderam a esses xingamentos, mas verbalmente. Não houve nenhuma agressão física”.
Mais conhecido pela quebra da placa de Marielle Franco, na campanha de 2018, do que por sua atuação parlamentar, Amorim também negou que ele e seus apoiadores estivessem armados. Ele registrou queixa na 19ª DP por injúria e difamação.
Na terça-feira (19), no lançamento da pré-candidatura de Pratinha, Marcelo Freixo falou sobre a agressão. “Não vai ser fácil governar esse país depois do bolsonarismo. Não podemos deixar o Rio de Janeiro ser um lugar de resistência do bolsonarismo. O Rio tem que ser o lugar da derrota do bolsonarismo. O que aconteceu na Saens Peña foi muito grave. Mas nós saímos da praça por uma razão: a gente não divide palco com a estupidez”, disse ele, sob aplausos.
Freixo reafirmou que a violência política será também derrotada nessa campanha. “A gente sabe que se vence o medo com o riso. O riso é um instrumento potente para vencer o medo. Quanto riso, quanta alegria. É com arte, com música, com união, com diálogo, com alegria que a gente vai fazer política e derrotar o ódio, o medo, o atraso. O Rio de Janeiro vai ser um dos lugares mais importantes para o governo Lula”, garantiu.

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