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WhatsApp Image 2021 03 26 at 20.25.40A grandeza da UFRJ extrapola seus muros e pode ser dimensionada não só pelo número de integrantes de sua comunidade universitária, pelos metros quadrados de seus campi, mas, sobretudo, pela qualidade e quantidade de sua produção acadêmica. Grande parte do que professores, estudantes e técnicos realizaram neste último ano foi celebrado na Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural (JICTAC). O evento de cinco dias – de 22 a 26 de março – teve 18 mil pessoas inscritas, 4.340 trabalhos apresentados, 13.716 participantes e dez mil autores. Além disso, 2.348 professores da UFRJ atuaram como avaliadores e orientadores.

O professor titular Carlos Farina de Souza, do Instituto de Física (IF), ressalta o papel da JIC na formação dos estudantes. “O aluno é assistido pelos pares. É o momento de contar o que ele fez, de compartilhar o que aprendeu”, afirma. A iniciação científica, de acordo com o professor, precisa ser mais valorizada. “É o berçário de novos pesquisadores. É bacana ver os olhinhos ali, fascinados, apreciando a discussão em um seminário. E o aluno vai se ambientando à vida acadêmica”, defende. “O filósofo Plutarco já dizia: ‘A mente do aluno não é um vaso que se deve encher, mas uma lareira que se deve acender’. E o papel do professor é acender essa chama”, acredita.

Este ano, o formato remoto trouxe novos desafios. A falta de um sistema próprio da universidade, que desse conta das demandas da JIC, levou a UFRJ a contratar uma ferramenta para a realização do evento. “Essa plataforma foi ruim. Ela não é óbvia. E eu já recebi uns 40 e-mails das pessoas que organizam. Se tem necessidade de tantos e-mails, é porque alguma coisa não está funcionando bem”, considera Farina. “Mas isso não vai tirar o brilhantismo da JIC. Seria muito pior não realizar a jornada”, afirma.

Parte dos problemas se dá também pelas dimensões da JIC. “Tem sido um desafio fazer tudo isso em meio remoto”, desabafa o professor Benjamin Rache Salles, também do IF. “Tivemos dificuldades técnicas ao longo do evento. Vimos uma certa sobrecarga no sistema, com problemas como avaliador não conseguir entrar na sala, por exemplo”, relata. “E isso é muito relacionado também ao prazo mais curto que tivemos para organizar”, avalia. A submissão de trabalhos desta edição aconteceu em novembro. Comumente, as inscrições acontecem entre abril e maio, com apresentações em outubro.

O professor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), concorda.  “A pressa, sem muita justificativa, trouxe consequências. A primeira delas foi a eliminação dos nossos recessos”. Os principais prazos da JIC coincidiram ou com recessos, ou com inícios de período. “Nem professores nem estudantes conseguiram descansar”, observa. Ele também critica a adoção da nova plataforma. “Passamos a lidar com algo que não estávamos acostumados. A cada novo procedimento, havia muitos e-mails e trocas de informações”.

Para ele, não realizar a JIC “era uma possibilidade”, pelo medo da pandemia. Mas tentar realizar o evento “foi muito significativo”. “É dos momentos mais importantes que temos, de formação de base de futuros pesquisadores e pesquisadoras”. Para ele, a organização deixou a desejar. “Considero um recuo a exclusão da extensão. Outra questão foi a exigência de um número maior de resumos. A JIC passou a assumir um papel de prestação de contas de bolsistas”, pontua.

Todo esse conjunto de desafios, para a professora Thaís Aguiar, do IFCS, torna a realização da jornada uma vitória. “Temos que louvar esse esforço da universidade de realizar a JICTAC. Reflete o desejo da UFRJ de manter suas atividades, seus alunos, os professores engajados na formação de jovens pesquisadores”, considera. “É claro que um evento dessa magnitude traz muitos desafios. Tive problemas para acessar o sistema, a lista dos trabalhos, a programação. A ferramenta escolhida não é muito intuitiva”, critica.

Já a professora Gisela de Figueiredo, do Instituto de Biologia, destaca a força da UFRJ na pesquisa brasileira. “Estudantes de outras instituições, inclusive  privadas, vêm nos procurar para tentarem fazer pesquisa na iniciação científica. Algo que valoriza ainda mais a nossa instituição”, diz. “Ter contato com laboratórios é fundamental na formação. A pesquisa desperta o caráter investigativo nos estudantes”, avalia.

PESQUISAS DE VALOR

Chuveiros de raios cósmicos
Beatriz de Errico é aluna de graduação em Física da UFMG e orientanda de iniciação científica do professor João Torres, do IF. Seu trabalho apresentado na JIC discutiu o uso de métodos de deep learning (aprendizagem profunda em inteligência artificial) para analisar chuveiros de raios cósmicos. Ela explica. “Há alguma fonte astronômica que gera partículas cósmicas e essas partículas são lançadas em velocidade altíssima e interagem com outras particulas. O choque gera outras particulas que novamente seguem o movimento de choque, interação e produção de outras. A esse fenômeno damos o nome de chuveiro cósmico”, diz a aluna, aprovada no mestrado da UFRJ. “Queremos obter a informação do raio cósmico. Mas não conseguimos medi-lo diretamente. Então o fazemos por meio dos chuveiros, que são detectados pelas radiações que eles geram. É uma forma de entendermos nosso universo e tentar descobrir de onde vêm essas partículas que chegam até nós desde que o mundo é mundo”.

Microplásticos em mariscos
A estudante Izabela Maria Ramirez, graduanda em Biologia da PUC-Rio e orientanda de iniciação científica da professora Gisela de Figueiredo, investiga se ostras e mexilhões da Baía de Guanabara estão contaminados por microplásticos. “Fizemos todos os experimentos de digestão do tecido deles. De fato, encontramos microplásticos em todos. Isso mostra o nível da poluição no espelho d’água, mas também aponta para a insegurança alimentar de seres humanos”, considera a aluna. As consequências para os animais já são conhecidas. “Lesão nos órgãos, diminuição no crescimento, falsa sensação de saciedade, baixo nível de nutrientes. É bem grave”, diz a estudante que apresentou seu trabalho no dia 24.

Planta amazônica para câncer de pulmão
Isabel Oliveira da Paixão, Jesiel Cardoso, Mara Silvia Pinheiro Arruda, Alberto Cardoso Arruda e Ivoneide Maria Menezes Barra, orientados pelas professoras Morgana Castelo Branco e Janaina Fernandes, do Campus Caxias, investigam plantas medicinais como fontes de novas substâncias antitumorais. Isto porque os fármacos mais comuns para tratamento do câncer de pulmão geram fortes efeitos colaterais. Por isso, eles estudam a Apuleia leiocarpa, uma planta amazônica conhecida como garapa, para saber se a espécie possui efeitos na redução ou controle de tumores. Eles descobriram que os extratos da casca e do caule da planta foram capazes de combater células de câncer de pulmão. Os resultados foram apresentados na JIC.

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