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WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.11.05A mais nova crise da infraestrutura da UFRJ atinge um ícone da Escola de Belas Artes. O ateliê de pintura Cândido Portinari, conhecido como Pamplonão, no térreo do antigo prédio da reitoria, está interditado desde o dia 29. A medida da direção da unidade acompanha recomendação do Escritório Técnico da Universidade (ETU) que aponta risco de queda do teto. Não há previsão para a reabertura do espaço de 1.500m², que atende pelo menos 31 professores e 650 estudantes, de acordo com os departamentos afetados.
Com constantes infiltrações desde 2017 — e sem a devida manutenção, por falta de orçamento —, a estrutura parece ter chegado ao limite. O laudo do ETU é demolidor. Há vazamentos por toda a extensão da cobertura, que causam poças e danos nos revestimentos do piso; descolamento de partes da camada do concreto da laje e oxidação da estrutura de apoio das luminárias, entre outros problemas.
“São muitos anos de falta de investimento na conservação dos edifícios. Isso acarreta situações como esta”, afirma a diretora da EBA, professora Madalena Grimaldi. “A gente sempre reclamou que estávamos com problema de infiltração. Tem goteira em tudo que é lugar; tem balde em tudo que é lugar”, completa.
Faltando um mês e meio para o início do ano letivo, a direção corre contra o tempo para acomodar professores e alunos em outros locais. “Agora estamos em um processo, com apoio muito importante da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), para tentar deslocar as muitas aulas para outros espaços”.WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.11.29
Para estas disciplinas, a situação é mais complexa do que a vivida após o incêndio no oitavo andar do edifício, em outubro de 2016. As chamas atingiram outro bloco e, por um bom tempo, foi o Pamplonão que acolheu outras turmas. “São aulas de pintura com cavalete. Os cavaletes ocupam uma área grande. Não é a mesma coisa que uma mesa”, explica Madalena.
E não é só a questão da área ocupada. O professor Pedro Meyer Barreto, chefe do Departamento de Artes Base, diz que o Pamplonão nunca apresentou ventilação e iluminação adequadas, mas a interdição vai dificultar ainda mais o trabalho.“Com certeza, isso é uma precarização muito grande. No momento que a Escola é jogada na Faculdade de Arquitetura, existe toda uma adaptação ao prédio. O Pamplonão foi uma conquista dentro desse processo”, relata, em referência à saída forçada da EBA do centro para o Fundão, durante a ditadura militar, em 1975. A Escola funcionava onde hoje está localizado o Museu Nacional de Belas Artes.
As dificuldades extras da mudança têm relação com os materiais utilizados no dia a dia. “Nos cursos de pintura e gravura, mexemos com solvente, ácido, vernizes, produtos de limpeza muito fortes. A pintura a óleo e a gravura em metal envolvem substâncias muito tóxicas”, esclarece Pedro.
O fechamento do Pamplonão interrompe ações acadêmicas rotineiras, como a exposição de trabalhos dos estudantes na Galeria Macunaíma, dentro do atelier. “Havia um acordo de intercâmbio de exposições com USP, UFES, Uerj e UFF que será cancelado. Não tem mais como a gente receber este projeto”.
Pedro lembra ainda que o Pamplonão, com o pé direito muito alto, recebia a pintura dos cenários das óperas da UFRJ. “Estamos numa situação precária, mas isso é horrível. É a paralisação de uma série de atividades”.
A interdição do atelier também trava iniciativas novas. O Departamento de Arte e Preservação estava com tudo pronto para inaugurar a sala do Núcleo de Pesquisa e Estudo em Conservação, na área do mezanino. “O espaço conta com computadores, mobiliários e publicações específicas da área de conservação e restauração de bens culturais”, explica a professora Benvinda Ribeiro, chefe do departamento. “Levei quase dois anos para organizar. WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.11.30 3Portão do Pamplonão fechado - Fotos: Kelvin MeloAgora vai fechar e não consegui inaugurar”, lamenta.
Apesar de todos os problemas do lugar, o clima já é de saudade com a notícia da interdição por prazo indefinido. Com 33 anos na universidade desde aluna e docente desde 2013, Benvinda fica sem uma referência do cotidiano. “A gente fica com um sentimento de perda. Não tem jeito. Eu ia às vezes sábado e domingo trabalhar lá. É quase minha casa. Agora não vou mais poder. Ali é um espaço muito agradável apesar das goteiras. Se estivesse arrumadinho, seria perfeito”.
“O Pamplonão é um dos únicos espaços que a gente tem lá dentro com características mesmo de atelier”, reforça a professora Luciana Maia Coutinho, chefe do Departamento de Análise e Representação da Forma. “Não é uma maravilha. No verão, é um calor insuportável. Mas marca uma situação de estar respirando arte, onde alunos de diferentes períodos se encontram. A chance de dar aula aberta para arte e desenho é incrível”.

REITORIA RESPONDE
Além da impermeabilização do bloco, o laudo do Escritório Técnico indica a realização de serviços estruturais para “identificar as áreas em que o cobrimento do concreto está desprendido”, remover o material solto e fazer recuperações pontuais. “Em 2018, já existia processo para a impermeabilização dos blocos C e D do edifício. Temos agora a opção de fazer um aditivo ao processo existente ou abrir um novo processo para recuperar o atelier. Mas ainda não temos uma estimativa do custo total”, explica a reitora em exercício, professora Cássia Turci.
A dirigente observa que a UFRJ enfrenta uma série de emergências, como a queda da cobertura da Escola de Educação Física, em função da falta de investimentos nos últimos anos. Para superar a crise de infraestrutura, uma alternativa é conseguir a plena utilização das receitas próprias da instituição.
“Ano passado, nós arrecadamos R$ 69 milhões de receitas próprias. Destes, recebemos a autorização para utilizar R$ 63 milhões. O MEC recolheu R$ 6 milhões”, informa a reitora em exercício. “Na reunião da Andifes, que aconteceu nos dias 24 e 25 de janeiro, discutimos isso: que todos os recursos captados possam ser utilizados plenamente pelas universidades para usar no que acharem mais importante. Se tivermos essa garantia, poderemos contar com esses recursos para algumas obras emergenciais”.

POR QUE
PAMPLONÃO?WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.29.21FOTO: INTERNET

Conhecido pela aproximação entre Academia e o mundo do samba, o professor Fernando Pamplona (1926-2013) dirigiu a EBA entre 1986 e 1990. Durante a gestão, o docente instalou o atelier de pintura onde antes existia um ginásio poliesportivo e, desde então, o espaço ganhou o apelido carinhoso em homenagem ao mestre.

 

Goteira do CCS cresce e tem página no Instagram

WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.11.05 6Goteiras não são exclusividade do Pamplonão. As fortes chuvas que atingiram a cidade na noite de quarta-feira (31) castigaram as instalações da UFRJ no campus Fundão. Poças nas vias, falta de luz nos postes, queda da internet e pelo menos uma “cachoeira” foi registrada nas dependências do Centro de Ciências da Saúde, próxima ao restaurante Fundão Grill.
A infiltração, infelizmente, não é incomum no Centro. Tanto não é que existe até uma página do Instagram (@goteiraccs) que registra episódios semelhantes desde junho de 2021. O perfil tem 104 publicações e 452 seguidores. “Vamos ver quanto tempo eu levo para sumir?”, ironiza o autor da brincadeira, na descrição do Insta.

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