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WhatsApp Image 2024 02 02 at 11.11.05 1Artigo

Mayra Goulart,
Presidenta da AdUFRJ e professora do IFCS/UFRJ


No momento em que os docentes das instituições federais de ensino superior estão empenhados em construir uma proposta de reajuste salarial em conjunto com o coletivo do funcionalismo público, a direção do nosso sindicato nacional parece mais preocupada em tecer manobras para se perpetuar no poder. Sob argumentos anacrônicos e burocráticos — e, mais uma vez, distante da realidade das bases que tanto apregoa representar —, a diretoria do Andes tem interferido nas escolhas das delegações de algumas seções sindicais e até de sindicatos autônomos ao 42º congresso da entidade, a ser realizado em Fortaleza, no fim de fevereiro.

Preso a um artigo do estatuto que restringe a escolha dos delegados a assembleias “presenciais”, o grupo que controla a direção do Andes negou a inscrição das delegações de seções sindicais — como a AdUFRJ e a APUFPR — e convocou até assembleia paralela em um sindicato autônomo, o APUBH, que representa os docentes da UFMG e tem registro sindical próprio. Em comum, as direções desses locais são de oposição à diretoria nacional.

É uma grave denúncia que tem que ser conhecida pelos docentes das federais de todo o país, pois essa prática os afasta das instâncias de decisão de nosso sindicato nacional e, por conseguinte, impede uma ampla e democrática participação nas lutas por melhores condições salariais e de trabalho da categoria. Achamos importante fortalecer o Andes, pois sabemos de sua importância na defesa de nossa categoria e na articulação com a luta coletiva dos servidores federais, mas não podemos aceitar que a direção nacional, para garantir maioria absoluta em suas instâncias decisórias, desrespeite a vontade das bases.

Não vamos admitir interferências em nossa autonomia sindical.

Uma tentativa de interferência foi ensaiada na última eleição da AdUFRJ. No mesmo dia 15 de setembro do ano passado, quando as urnas indicaram a vitória do nosso grupo político por 62% dos 1.499 votos, a diretoria do Andes enviou um comunicado indicando não reconhecer como legítima a nossa eleição e levantando a possibilidade de judicialização e até de anulação do pleito. Tudo porque não aceita o voto não presencial, como o virtual, nas eleições das seções sindicais.

Mas a perseguição continuou. Após dois anos de credenciamento de delegações escolhidas em processos virtuais, a direção do Andes rejeitou este ano a nossa delegação votada por 238 professores. O processo foi resultado de um diálogo com a nossa oposição, com base na proporção de votos de cada campo nas últimas eleições, e os delegados foram eleitos pelos docentes que estavam na assembleia presencialmente e online.

Optamos por uma construção com nossa oposição justamente por entender a importância do pluralismo e da representatividade dos diferentes grupos que compõem o movimento docente. É esse entendimento não majoritário e pluralista de democracia que nos difere da atual diretoria do Andes. Esse grupo almeja, por meio de manobras regimentais, garantir sua maioria absoluta, suprimindo e calando toda e qualquer oposição.

Integro, com orgulho, um projeto político escolhido pelos professores da UFRJ, desde 2015, que acredita na diversificação das formas de luta e mobilização para ampliar a participação dos docentes. Não só dos militantes, mas também dos professores que fazem o dia a dia de nossas universidades, nas salas de aula, nos laboratórios, nos grupos de pesquisa. E temos avançado. Se no passado uma assembleia presencial com apenas 11 pessoas (sendo cinco da própria diretoria) era capaz de eleger uma delegação que supostamente representaria mais de 3 mil professores sindicalizados, hoje, por meio de assembleias híbridas e voto virtual, podemos contar com mais de 230 colegas das mais variadas unidades e centros participando da decisão sobre a delegação que irá representá-los no congresso.

Não há como negar que essa ampliação é um ganho para a democracia, fortalece as nossas posições e decisões, envolve a categoria nos assuntos sindicais e oxigena nosso movimento. Quanto mais pessoas pudermos trazer para junto de nós, mesmo que pensem diferente, mais forte será a nossa atuação. A mobilização dos nossos colegas passa, portanto, por novas formas de participação. O contrário é apostar no imobilismo e no esvaziamento dos espaços sindicais.

Também por isso reafirmamos a importância da possibilidade de participação e voto virtuais, como forma de incluir os docentes dos mais diversos campi universitários, além de cuidadores de idosos, mães e pais que em alguns horários do dia ou épocas do ano não teriam como participar presencialmente de uma assembleia.

Parece, no entanto, que a diretoria nacional não é sensível a nenhum desses casos e ignora a realidade, reivindicando um estatuto arcaico, elitista e desconectado da vida concreta dos professores universitários. Vale destacar que o método que o Andes apresenta hoje como solução para a multicampia foi implementado inicialmente pela AdUFRJ em 2015 e foi rechaçado por anos pelo grupo que hegemoniza a direção nacional. Assim como a AG multicampi se impôs como realidade concreta, as votações eletrônicas e assembleias híbridas também estão se impondo, apesar da visão arcaica da direção nacional.

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