facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2023 10 20 at 19.47.07 1Professora Nedir entrega carta da AdUFRJ ao reitorProfessores, estudantes, técnicos e terceirizados da UFRJ viveram dias de incerteza e medo. A Maré – complexo de favelas vizinho ao campus do Fundão – sofreu seis dias de intensos conflitos armados em megaoperações policiais. O complexo da Penha e a Cidade de Deus foram outras regiões que enfrentaram operações simultâneas com o objetivo de enfraquecer o poderio da segunda maior facção criminosa do país. No meio do fogo cruzado, moradores sitiados, muitos dos quais estudantes e trabalhadores da universidade.
Os conflitos aconteceram exatamente na semana de provas da UFRJ. Diante do apelo daqueles que não conseguiram chegar ao campus para realizar as avaliações, a reitoria da universidade liberou comunicados informais – em geral no início de cada manhã – com recomendações às unidades para que os professores não aplicassem provas e abonassem eventuais faltas. O problema é que essas notas só foram divulgadas quando muitos alunos e professores já estavam em sala de aula. Outra dificuldade foi a falta de clareza sobre como proceder preventivamente nos dias que seguiram com conflitos.
Diante de tantas incertezas, a diretoria da AdUFRJ entregou uma carta ao reitor cobrando posição assertiva e protocolos em dias de operação policial. No texto, a diretoria aponta a preocupação dos professores que, nos últimos dias, não contaram com orientações claras sobre como proceder durante as operações policiais (veja abaixo).
O documento foi entregue no dia 19 pela vice-presidenta da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo, ao reitor Roberto Medronho. Ele se comprometeu a instalar um grupo de trabalho para tratar do tema. As representações estudantis, AdUFRJ e Sintufrj terão assento. “Quero acionar este GT já na próxima semana, com a participação de especialistas em segurança pública de nossa universidade”, garantiu Medronho.
Nedir considerou positiva a resposta da reitoria. “Vai ao encontro de nossas preocupações”, avaliou. “O reitor foi bastante receptivo às reivindicações dos professores”, afirmou a dirigente. “Ao longo do Consuni, outras falas reforçaram a importância do que destacamos no nosso documento”, observou a professora. “Os professores não podem tomar decisões sem o respaldo da administração central”.

SEM DIREITOSWhatsApp Image 2023 10 20 at 19.47.07 2
“Foram seis dias muito tensos, de muito medo e crises de ansiedade”, revela Raniery Soares, estudante do oitavo período de Letras. “Há um prejuízo acadêmico inegável”, conta o estudante, morador do Parque Maré. “É bastante cansativo lidar com todo esse contexto social e ainda ter que se desgastar para explicar o óbvio”, lamenta. “Já troquei oito vezes os vidros das janelas aqui de casa, por conta de balas perdidas. Todo mundo tem direito à vida, ao menos deveria ter”.
Além dos estudantes que não puderam chegar à universidade, os serviços na Maré também fecharam as portas. Escolas e postos não funcionaram. “Meus afilhados e seus amiguinhos não tiveram o dia do cabelo maluco, nem a festa de dia das crianças. Nossas crianças não puderam celebrar sua própria infância. Isso é muito cruel”.
O movimento estudantil reivindicou abono de faltas, adiamento das avaliações e garantia de segunda chamada para todos os estudantes. Na página oficial, o DCE informou que, em conversa prévia com a administração central, a reitoria se comprometeu a atender às reivindicações estudantis. A nota oficial da reitoria foi emitida na tarde de 18 de outubro.
Professores do departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras também se manifestaram solicitando uma orientação clara sobre os procedimentos em dias de operações policiais.

TEMA NO CONSUNI
A ocupação da Maré dominou a primeira etapa da reunião do Consuni. O professor Afrânio Barbosa, decano do Centro de Letras e Artes, leu documento emitido pelo seu conselho de Centro. “Trago relato sobre preocupação com a falta de um protocolo de ação unificado sobre o ensino remoto no contexto de operação policial. Para o aluno, não adianta um professor decidir pelo remoto e o colega vizinho de horário decidir pelo presencial”, pontuou. “Há dúvidas, ainda, se será garantida às unidades a mudança do calendário, caso queiram suspender as atividades até a normalização da situação”, disse.
O grupo estudantil “A UFRJ é nossa”, de oposição ao DCE, entregou carta aos conselheiros e pressionou a reitoria para a criação de um protocolo de segurança. “Sabemos que esta não é uma situação isolada. Quase diariamente acontecem operações na Maré ou em outras comunidades”, apontou a estudante Sofia Salinos, representante estudantil no Consuni. O grupo reivindicou a instalação de um GT para elaborar um protocolo de segurança. O manifesto foi assinado por 570 estudantes da graduação e da pós-graduação.

NOTA ADUFRJ

Ao Magnífico Reitor
Professor Roberto de
Andrade Medronho

Ao cumprimentarmos respeitosamente Vossa Magnificência, gostaríamos de informar que inúmeros docentes de nossa instituição procuraram nossa representação sindical nos últimos dias com relatos de prejuízos nas suas atividades de ensino, tendo em vista informes liberados de última hora recomendando a não realização de avaliações em dias previamente programados.
Compreendemos toda complexidade dos episódios de violência no Complexo da Maré e em outras comunidades do Rio de Janeiro e sinalizamos nossa preocupação com a vida de alunos, professores e servidores que vivem nessas regiões ou atravessam áreas de conflito no deslocamento para o campus da Cidade Universitária. Igualmente assinalamos nosso compromisso com o processo de ensino-aprendizagem na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entretanto, consideramos injusto e juridicamente complexo transferir a decisão sobre a execução ou não de atividades didáticas para as mãos dos docentes, através de mensagens que apenas recomendam que atividades devem ser mantidas, ao invés de deliberar, explicitamente, o que deve ser feito. Se a reitoria, baseada nas informações de que dispõe, decide que é inseguro que tenhamos atividades acadêmicas, que tome a decisão de suspendê-las, prorrogando o término do período letivo para não prejudicar o semestre. Se decide que as condições são suficientes para o aumento da segurança, mas não para paralisar as atividades, que também se pronuncie. O que não podemos admitir é que mensagens ambíguas resultem em insegurança jurídica e em um estresse adicional aos nossos docentes e estudantes.
Assim, a AdUFRJ solicita que a reitoria da UFRJ se posicione explicitamente e com antecedência mínima sobre estes acontecimentos e proveja aos docentes instruções administrativas assertivas e necessárias para minimizar o prejuízo aos docentes e alunos de nossa instituição.

Atenciosamente,
Professora Nedir do
Espirito Santo
Vice-Presidente
Biênio 2023-2025

Topo