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WhatsApp Image 2023 09 28 at 20.34.35Uma onda de desinformação ocupa os corredores da UFRJ desde o começo de setembro, quando o Conselho de Ensino de Graduação (CEG) aprovou o semestre de verão, oficialmente chamado de Período Letivo Especial, ou PLE, de 2023. Um dos burburinhos é que o período será compulsório para os docentes. Não é verdade.
Nenhum professor será obrigado a dar aula nesse período, garantiu a PR-1, na última quinta-feira, no Conselho Universitário, onde o curso de verão foi aprovado. O semestre terá ritmo intensivo e ocorrerá entre 8 de janeiro e 24 de fevereiro de 2024.
Mas atenção: os professores que derem aula no semestre de verão não estão desobrigados a oferecer disciplinas nos semestres regulares. Em caso de afastamento do docente por razões acadêmicas, os cursos de verão podem servir de compensação para repor a carga horária em sala de aula.
“Quando você se ausenta para fazer uma pesquisa ou para escrever um livro, você deixa de contabilizar carga horária de aula e isso pode implicar num atraso na sua progressão. Com o período especial, esse professor pode se organizar para, nas férias, recompor esse tempo de sala de aula”, exemplifica Ricardo Medronho, diretor da AdUFRJ

HISTÓRIA
A universidade tem período especial desde 1972 e só deixou de oferecê-lo nos anos letivos de 2020, 2021 e 2022, por conta da pandemia de covid-19 e sua repercussão no calendário acadêmico.
O semestre de verão retoma uma tradição inaugurada ainda na década de 1970, muito demandada pelos alunos. “Nós reivindicamos esse período especial porque minimiza os impactos da retenção. Há cursos com matérias muito difíceis, como Cálculo I, Latim Genérico I, cujas taxas de reprovação são muito altas”, justifica Alexandre Borges, representante discente do CEG. “Quando o estudante está desperiodizado, há muita dificuldade para se inscrever em disciplinas”, afirma. “Inclusive, antes da pandemia, os professores conseguiam se organizar por rodízio nas ofertas dos períodos especiais”, relembra.

Trauma da pandemia
Para o professor Luciano Prado, da Faculdade de Educação, muitos colegas tiveram receio sobre o semestre de verão pelo trauma gerado com o Período Letivo Excepcional, o PLE, que vigorou em parte da pandemia e que gerou um enorme cansaço na comunidade acadêmica.
“Aquele PLE — infelizmente, a sigla é a mesma — começou como opcional, depois integrou o semestre regular e isso deixou as pessoas muito inseguras. Então, é compreensível a preocupação desses nossos colegas. Acredito que essa memória acabe sendo resgatada nesse momento”, pondera Luciano Prado.
O docente, no entanto, reafirma que o PLE atual não tem nada a ver com o período excepcional da pandemia. “Aquele PLE existiu para lidar com uma situação de catástrofe. O de agora é um período especial que está previsto há décadas em resolução da universidade. Cada unidade tem autonomia para definir critérios, a partir das demandas estudantis e em comum acordo com os professores”, sublinha.
Sobre a aprovação do período especial no CEG, o professor Luciano, que é representante do CFCH no colegiado, afirma que houve debate e muita escuta. “Não foi uma decisão tomada ‘do nada’”, afirma. “Ninguém vai perder férias, nem vai ser obrigado a aderir”, destaca o professor. “Por não ser obrigatório, o período também não conta para a integralização de curso, mas permite que o estudante não perca sua periodização”, finaliza.
Maria Fernanda Quintela, pró-reitora de Graduação, concorda com o docente. “Só consigo ver esse temor como reflexo dos sofrimentos da pandemia. O período especial ficou contaminado pelo que vivemos”, diz. “Nós temos alunos presos com pouquíssimos créditos na universidade. Vamos facilitar a vida dos estudantes e de vários professores”, afirma.

INFRAESTRUTURA
Durante o Consuni, o professor Guilherme Lassance, que é diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, afirmou que o período especial é uma reivindicação em sua unidade. Apesar de declarar apoio à medida, ele expôs preocupações para a oferta dessas aulas. “Quais serão as condições de infraestrutura, segurança e permanência que a UFRJ vai oferecer para essas disciplinas acontecerem no recesso? Qual a viabilidade física, para além do mérito da iniciativa?”, questionou.
A estudante Camile Paiva pediu estrutura para que o período especial aconteça nas férias. “Vivemos uma onda de calor. Seria importante se as aulas fossem alocadas em unidades com melhor condição de infraestrutura”, sugeriu.
Reitora em exercício, a professora Cássia Turci afirmou que a administração central tomará medidas para garantir a segurança de alunos, professores e técnicos. “Vamos pedir ajuda aos nossos decanos para que a gente consiga alocar essas aulas em salas com mais estrutura e segurança no período do recesso. Com certeza este é um ponto muito importante do qual nós vamos cuidar”, garantiu.

DEMANDA DOS ALUNOS
O temor sobre a obrigatoriedade de adesão ao período surgiu no Conselho de Representantes e na assembleia organizada pela AdUFRJ, na terça-feira, 26. “Nossos colegas substitutos não se sentirão seguros de dizer não a esse terceiro período”, criticou a conselheira Fernanda Vieira, do NEPP-DH. A professora Leda Castilho, da Coppe, rebateu. “Quando eu era graduanda, a gente sempre pedia que fossem ofertadas disciplinas eletivas nas férias ou aquelas com muitas reprovações”, contou. “Entre 2015 e 2020, ofereci várias disciplinas intensivas nas férias. É uma demanda dos estudantes e, como professores, nós temos que ouvi-los”.
Superintendente geral de Graduação, a professora Geórgia Atella afirma que a demanda surgiu também dos cursos que têm disciplinas de campo. “É uma realidade que sempre existiu na UFRJ, foi interrompida na pandemia e agora está sendo retomada. Em Biologia, por exemplo, há ecossistemas que só alcançam sua plenitude no verão. Há espécies que só se reproduzem nessa época específica, cuja observação só é possível nesse momento do ano. Então, para cursos com esse caráter, ter aulas no verão é essencial”, revela a bióloga de formação.

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