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WhatsApp Image 2023 09 22 at 20.17.43 6Desabamento do dia 6 levou à interdição do prédio e à suspensão das aulas. Comunidade aguarda escoramento emergencial - Foto: Ana Lúcia FernandesA Escola de Educação Física já sofria com a deterioração das instalações antes do desabamento de parte da cobertura que interditou a unidade desde o dia 6. Cursos sem o prometido prédio próprio, quadras e campos externos abandonados, estacionamento parcialmente fechado, tampas quebradas de bueiros e fossas, iluminação deficiente e pessoas em situação de rua circulando nos arredores. Não por acaso, a EEFD foi escolhida para iniciar esta nova série do Jornal da AdUFRJ sobre as precárias condições de trabalho e ensino na universidade. Confira a seguir.

"Um pedaço da gente que desabou”. O depoimento do professor Frank Wilson, chefe do Departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), diz bastante sobre o desmoronamento do beiral do telhado da unidade, pouco depois das duas da tarde do dia 6. As salas 318/320 e 322/324 (geminadas) haviam sido adaptadas — com muito esforço, ao longo de anos — para atividades práticas dos cursos de Dança e foram as mais atingidas pela queda dos destroços. Desde então, o prédio ficou interditado e as aulas, suspensas.
A Dança já havia enfrentado uma série de adversidades no primeiro semestre deste ano, quando a mesma ala afetada pelo desabamento ficou sem luz em 18 de abril. O cabo de energia da subestação que alimenta aquela parte do prédio precisou ser trocado. Até a conclusão de todos os procedimentos burocráticos da compra, metade do período transcorreu com ajuda de geradores. E, de início, o equipamento só funcionava de 17h às 22h. “Que era o horário dos cursos noturnos, mas a Escola funciona o dia todo. Tivemos que fazer uma gambiarra bem feita para poder ter o mínimo: ligar uma caixa de som ou um projetor”, relata Frank, docente da casa há 25 anos.WhatsApp Image 2023 09 22 at 20.19.14OLHO NO CHÃO buraco no passeio que leva à portaria principal
Nada disso estaria ocorrendo, provavelmente, se os cursos da Dança estivessem abrigados em prédio próprio, prometido durante a época do programa de expansão das universidades federais (Reuni), nos anos 2000. “A verba do Reuni que veio para a universidade não chegou para a Dança”, lamenta. “Não é falta de ação nossa. Não é por falta de ideias. Para a gente, é sempre uma luta muito grande”.

SEM DINHEIRO
O professor Waldyr Ramos tinha acabado de dar aula de natação e saído do prédio quando o desabamento aconteceu. “Eu estava muito próximo. É um dos pontos de entrada na piscina olímpica”.
Há 46 anos na EEFD e diretor em quatro oportunidades, Waldyr atribui a atual crise às oscilações dos governos. “Não existem planos perenes para a educação. E os quatro anos do governo Bolsonaro foram terríveis para a universidade, além da pandemia”, afirma. “Não tem dinheiro para nada”, completa. O orçamento participativo da unidade — verba recebida para despesas do dia a dia — é de apenas R$ 280 mil para todo o ano. Muito pouco para um gigante de mais de 18 mil m² de área construída e 51 anos — a Educação Física existe desde 1939, mas o prédio da Cidade Universitária foi inaugurado em 1972.
WhatsApp Image 2023 09 22 at 20.22.43Nem algumas reposições, aparentemente simples, podem ser realizadas. Antes do coronavírus, os aparelhos de ar-condicionado das salas de departamento foram roubados. “Até hoje não foram repostos”, afirma o ex-diretor. “A sala de musculação carece de obras. Nossa pista de atletismo nunca foi remodelada”, acrescenta.
WhatsApp Image 2023 09 22 at 20.19.12 2ZERO PONTO quadras externas estão deterioradasO ex-diretor lembra com saudade da beleza — hoje perdida — das quadras localizadas ao lado da Escola, a caminho do alojamento, nos anos 70. “Aquela área foi construída para receber as aulas da educação física obrigatória de todos os cursos. Nós atendíamos todos os calouros que entravam na universidade, por dois períodos. Recebíamos 5 mil, 6 mil alunos no Fundão e na Praia Vermelha”. Waldyr diz que elas se deterioram com o crescimento da violência na cidade. “Começaram a ficar pouco frequentadas”. As tabelas das quadras de basquete, sem as cestas, estão enferrujadas. As marcações do chão estão apagadas em muitos lugares.
Apesar de reconhecer os problemas da unidade, Waldyr considera que não existe uma situação catastrófica. Cita a reforma da piscina por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016, quando a Escola virou local de treinamento para algumas delegações. “Houve melhorias grandes nos vestiários. E as salas estão com um bom mobiliário. O que falta, em geral, é equipamento multimídia que está sendo adquirido aos poucos”, explica. “A Escola também está bem cuidada pela equipe de terceirizados que está conosco há muito tempo. Mas não existe equipe de manutenção”.

“NEGADO OLÍMPICO”
Com a falta de manutenção, os estudantes concordam. E não é preciso nem entrar no prédio para perceber as falhas. Além da reforma da piscina olímpica e dos vestiários, nos Jogos de 2016, a UFRJ ganhou dois campos de hóquei sobre a grama e um de rúgbi, depois do Restaurante Universitário Central. O “legado olímpico” externo está abandonado. Henrique Auxêncio, que completou o curso de licenciatura em Educação Física e hoje está no terceiro período do bacharelado não economiza na crítica. “Chamamos de negado olímpico”.
O integrante do centro acadêmico também aponta um problema difícil de ser identificado por quem não conhece a Escola. No estacionamento emWhatsApp Image 2023 09 22 at 20.19.14 1MENOS VAGAS parte da frente do estacionamento está fechada. Há risco de afundamento frente à portaria principal, a parte final está interditada desde 2019 por risco de afundamento. “Se desabar, desaba em cima do ponto de ônibus”, afirma.
A iluminação também é precária neste mesmo estacionamento e inexiste nas quadras laterais — a reportagem foi avisada pelo próprio vigilante da portaria principal para ter cuidado com o celular. É fácil observar pessoas em situação de rua nos arredores. “Não tem segurança”, resume Henrique.

RESPOSTAS
O Escritório Técnico da Universidade ainda busca respostas para o desabamento do beiral, mas depende de uma obra de segurança para aprofundar a investigação. “Só depois do escoramento preliminar poderemos fazer inspeções mais minuciosas diretamente sobre o trecho desmoronado”, afirma o diretor do ETU, professor Roberto Machado.
Questionado se o desmoronamento não poderia ter sido previsto e evitado, o ETU informou que “o prédio da EEFD tem histórico de intervenções de recuperação extensa em 2011-2013, e não apresentava qualquer indício visual de um acidente dessas proporções”.
Sobre o estacionamento na frente do prédio, o ETU confirmou o problema. “O muro é estrutural de concreto armado, como se fosse uma enorme caixa de “areia”, que está sofrendo recalque de seu piso de estacionamento. O isolamento é para evitar o afundamento desse piso”. O Escritório afirma que só é possível fazer uma previsão de reparo quando houver recursos disponíveis.
A universidade corre contra o tempo para realizar o escoramento tão aguardado pela comunidade da Educação Física (leia na matéria abaixo). Pró-reitor de Finanças, o professor Helios Malebranche informa que não há, ainda, garantia de repasse do MEC para a obra. “Situações emergenciais estão sendo resolvidas com o exaurido orçamento próprio”, afirma.
Sobre segurança, o prefeito universitário Marcos Maldonado ressalta que a Cidade Universitária é um perímetro aberto. “Circulam aqui, diariamente, 120 mil pessoas. Temos vários prédios inacabados e com pessoas em situação de rua. O que a gente vem fazendo é tirando todas elas. Mas a gente não tem como controlar quem circula na Cidade Universitária o dia todo”, afirma.
“Mesmo assim, a Diseg (Divisão de Segurança da UFRJ), o Rio + Seguro Fundão, o 17º Batalhão da PM e a 37ª DP (Ilha) vêm fazendo ações coordenadas, junto da Prefeitura Universitária, na questão da segurança”. Maldonado observa que, segundo o Instituto de Segurança Pública, a Cidade Universitária é um dos locais mais seguros do Rio de Janeiro.
Diretora da EEFD, a professora Katya Gualter disse que não poderia conceder uma entrevista ao Jornal da AdUFRJ esta semana por falta de tempo. “Esta semana não tem condição”, disse.

Retorno só após obra emergencial, decide Congregação

WhatsApp Image 2023 09 22 at 20.19.12LAUDO Escritório Técnico libera utilização da área em verdeA Escola de Educação Física e Desportos só irá retomar as atividades no prédio após o escoramento da estrutura. Foi o que decidiu a Congregação extraordinária realizada, excepcionalmente, no auditório do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, dia 20.

Representantes dos professores, técnicos e estudantes avaliaram um laudo do Escritório Técnico da Universidade (ETU) que apontou blocos e acessos seguros para as aulas dentro da edificação, antes mesmo do escoramento, mas a maioria (11 a 7) preferiu esperar a obra.

Havia a possibilidade de ocupação parcial do prédio já a partir de segunda-feira. “A direção solicitou a todas as coordenações das graduações a demanda por salas de aula”, disse a diretora, professora Katya Gualter. O objetivo seria a alocação emergencial das turmas nos espaços disponíveis, com todos os cuidados. A proposta não descartaria, por exemplo, uma subdivisão dos ginásios grandes para aulas teóricas, uma de cada lado.

“Projetos de extensão que ocorrem na EEFD ainda estarão suspensos, porque eles trazem um aumento de pessoas em circulação no prédio”, afirmou a professora Francine Nogueira, coordenadora da licenciatura em Educação Física, que apresentou o estudo.

LAUDO TÉCNICO
O documento do ETU esclarece que os blocos A e B (em vermelho, na imagem acima) “têm o mesmo sistema estrutural do elemento que entrou em colapso” e devem continuar isolados até análise mais aprofundada. Já a marcação em verde corresponde aos demais blocos (ginásios) e pátios não afetados pelo sinistro do último dia 6.

Para chegar aos ginásios, o Escritório sugere a abertura do portão do Bloco E, perto do Restaurante Universitário Central. A piscina olímpica poderia ser acessada pela portaria principal, mas as raias próximas à parede devem permanecer fechadas.

NOVA CONGREGAÇÃO
NO DIA 25
O processo da obra emergencial está sendo formulado pelo ETU em conjunto com a decania do Centro de Ciências da Saúde — ao qual a EEFD é vinculada. Se tudo correr bem, a parte contratual deve ser resolvida até a próxima semana. “Mas escorar é uma coisa; recuperar é outra. São processos diferenciados. A emergência é exclusivamente com relação ao escoramento”, explica a superintendente do CCS, professora Anaize Borges.

O Centro também estuda o empréstimo de salas do prédio para ajudar os cursos da Educação Física. “Para o noturno. No diurno, infelizmente, não cabe mais uma mosca no CCS”, diz Anaize.

Uma nova congregação da Escola ocorre segunda-feira, dia 25, das 13h às 15h30, no auditório Hélio Fraga do CCS, para decidir os próximos passos.

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