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WhatsApp Image 2023 08 11 at 14.19.30 3O trabalho do professor não se resume à sala de aula. A afirmação, embora óbvia, precisa ser reforçada em tempos de sobrecarga laboral. Sobretudo quando não sobra tempo para o básico: o descanso. Exaustos com um primeiro semestre intenso, os docentes não tiveram tempo para recarregar as energias no recesso de julho.
“Muitas pessoas acham que dar aula oito horas por semana se resume ao trabalho didático do professor. E não é assim”, adverte o professor Antonio Mateo Solé Cava, do Instituto de Biologia. “Especialmente no início do período, quando a gente tem que preparar todo o curso, todo o material de produção, fazer a distribuição de aulas e tudo mais; e no fim, quando a gente tem que corrigir trabalhos, lançar notas. Então, esse intervalo entre o fim do curso e o início do período não pode ser curto”, argumenta. “São justamente os dois momentos mais trabalhosos, mais estressantes na vida de um professor”.
O ideal, de acordo com o docente, é uma janela de três a quatro semanas de recesso para que os professores consigam dar conta de todas as atividades acadêmicas e descansar. No entanto, Antonio Sole reconhece que a universidade tem tido dificuldades desde a pandemia para ajustar o calendário. “A gente está até hoje tentando recuperar o período atropelado pela pandemia, então não sei dizer se o atual calendário poderia ter sido construído de outra forma”, pondera. “Mas é importante deixar claro que o recesso não pode ser curto porque, de fato, pode trazer muito estresse para os professores”.
Estressante e exaustivo, na opinião da professora Nedir do Espirito Santo. “Conheço muitos colegas que só conseguiram terminar de lançar nota no último dia 5 e na quinta-feira (10) já estavam em sala de aula novamente”, revela a docente do Instituto de Matemática e presidente da AdUFRJ.
Como dirigente sindical, a professora vê com preocupação um período tão curto de intervalo entre os semestres letivos. Em que pese a tentativa de ajustar o calendário ainda em desalinho desde a pandemia, ela considera penosa a escolha de sacrificar o recesso acadêmico. “As aulas retornaram num piscar de olhos”.
O primeiro período letivo de 2023, para a maioria dos cursos de graduação, iniciou em 3 de abril e se encerrou 22 de julho. “Foram 16 semanas, incluindo a SIAC e, para os calouros, inclui também a semana de acolhimento”, lembra.
Ela explica que o prazo inicial para lançamento de notas de 2023/1 precisou ser revisto porque os docentes não tiveram tempo de realizar todas as avaliações até a data estipulada. “Foi aberta nova janela no SIGA, até 5 de agosto, pois houve avaliações após 22 de julho e, consequentemente, necessidade de lançamento de notas após essa data”, conta. “Foi um período intenso e exaustivo para o corpo docente, especialmente para os que atuam na pós-graduação ou em ações de extensão”, diz a professora.
A dirigente pontua, ainda, que a aprovação do calendário nos colegiados da universidade aconteceu após consulta aos estudantes. “O elemento determinante foi a consulta realizada ao corpo discente. Havia duas possibilidades: final de 2023/2, antes do Natal, ou em janeiro de 2024. Ganhou a primeira opção”, diz. “Acho que esqueceram de comunicar, no entanto, que a diminuição do recesso de meio de ano poderia resultar no cansaço dos próprios alunos. E o corpo docente não foi consultado. Será que valeu a pena?”, questiona.
Aparentemente não.
A professora Danielle Corpas, de Teoria Literária, da Faculdade de Letras, é uma das que atuam na graduação e na pós-graduação. Para ela, o descompasso entre os calendários dos dois segmentos é um agravante para a sobrecarga de trabalho. “A pós começou muito antes, então, embora a graduação estivesse de férias, nós já estávamos trabalhando há muito tempo”.
Em 2023/2, a professora trabalha com dois monitores e destaca a preocupação com a saúde de seus colegas e dos estudantes. “Os alunos ficam muito exauridos também. Se o recesso for muito curto, como este que acabou de terminar, ninguém consegue descansar”.
Ela sugere mais atenção com a elaboração dos próximos calendários. “Sem dúvidas, é preciso ter cuidado, porque a sobrecarga pode repercutir na saúde física e mental de professores e estudantes. Pode impactar, inclusive, na construção do conhecimento”.
O professor Eduardo Bastian, do Instituto de Economia, concorda. “O intervalo curto é muito complicado. Nosso trabalho acadêmico acontece muito além da sala de aula: bancas, correções, apresentações. A gente não para quando o semestre termina”, reforça. “No momento em que a gente consegue fechar as nossas atividades, já está na hora de voltar”, constata o professor.
Além de todas as atividades diretamente relacionadas à graduação e à pós-graduação, o professor participou de dois eventos internacionais no recesso. “Certamente no final do ano estarei ainda mais cansado e obviamente existe o risco dessa exaustão impactar na minha saúde física e dos meus colegas”.

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