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WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.08 1Esqueçam as fotos de formatura dos primeiros anos da centenária UFRJ. Aquelas imagens de turmas compostas apenas por homens brancos, filhos da elite, já não fazem mais parte do cotidiano da maior universidade federal do país. As políticas afirmativas transformaram o perfil do alunado. Dos quase 60 mil estudantes da graduação, 36,9% se declaram como pretos, pardos, indígenas ou amarelos, além de 22,2% que não informaram a etnia. Mais da metade são mulheres. Muitos precisam de apoio para completar os estudos. Nem todos conseguem.

"Não sou contemplado com nenhum auxílio, por mais que seja cotista negro, de escola pública e de baixa renda. Tentei duas vezes. Vou tentar mais uma vez", afirma Richardison Barros, do sexto período de Jornalismo. Morador de Magé, na Baixada, o aluno precisa de apoio para morar mais perto da faculdade. Todos os dias, ele gasta pelo menos quatro horas no deslocamento entre sua casa e o campus da Praia Vermelha. "Só estou faculdade até hoje porque eu tenho passe livre universitário da minha cidade".

O drama de Richardison e de outros milhares de estudantes reflete as limitações financeiras da instituição, mesmo após a recente reabertura de 252 vagas do alojamento. Nem o último edital de auxílio-moradia, que ajuda estudantes a custear despesas com habitação, foi suficiente para resolver o problema. Houve 1.073 inscritos para 292 vagas, informa a Pró-reitoria de Políticas Estudantis (PR-7). Sobrou uma demanda reprimida de 72,79% dos interessados.WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.08 2Alojamento da UFRJ - Foto: Arquivo AdUFRJ

A maioria dos auxílios requer como critério básico a renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo. O auxílio para a compra de material didático, com 390 vagas, apresentou uma "fila" de 2.090 pessoas: 81,34% não puderam ser atendidos. Para a isenção da taxa de R$ 2 nos bandejões, 1.692 se inscreveram e apenas 610 foram contemplados.

A administração superior faz o que pode, com os recursos de que dispõe. Hoje, 5.977 alunos são beneficiados por 12.755 auxílios — alguns podem ser acumulados, respeitados alguns critérios. No segundo semestre de 2019, eram 4.531 auxílios para 4.495 estudantes. "Reajustamos todos os auxílios em 20%.

O auxílio-permanência, para estudantes com renda familiar per capita de até 0,5 salário mínimo, ingressantes pelas cotas de renda, foi reajustado em 52%, de R$ 460 para R$ 700", afirma o pro-reitor de assuntos estudantis, Roberto Vieira.

PÓS-GRADUAÇÃO
A inclusão na pós-graduação também é um desafio. Dos 6.364 doutorandos, apenas 633 (menos de 10%) são pretos, PCDs ou indígenas — a pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa não tem os números separadamente. Entre os 5.672 mestrandos, são 717. Já entre os 1.587 matriculados em mestrados profissionais, são 241. “A inclusão só será satisfatória quando uma dívida histórica for reparada e toda a população se enxergar representada e pertencente à UFRJ”, afirma o superintendente da PR-2, professor Bruno Diaz. O dirigente observa que a pró-reitoria tem estimulado a criação de Comissões de Diversidade no âmbito dos programas para acolher todos os estudantes.

Em 2023, pela primeira vez, a UFRJ vai destinar R$ 1 milhão para apoiar os pós-graduandos mais vulneráveis com recursos próprios. “Infelizmente, ainda não atenderá a toda a demanda, mas esta solução mais ampla passará pelo estabelecimento de um programa do tipo do PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil) ou ampliação do próprio PNAES para os discentes de pós-graduação”, diz Bruno. A UFRJ vai discutir o tema com a Diretoria de Políticas e Programas de Educação Superior do MEC, ainda este mês.

NECESSIDADES ESPECIAIS
A lei das cotas, de 2012, ganhou uma atualização em 2016 para contemplar a reserva de vagas para pessoas com deficiência (PCD). Mas, passados sete anos, a UFRJ está longe de receber bem este público, que soma mil pessoas, somente entre os estudantes. “Trabalho com um quantitativo aproximado de 1.100 alunos, pois muitos entram pela ampla concorrência e só venho a saber quando os professores ou os alunos procuram a Dirac (Diretoria de Acessibilidade)”, afirma Amélia Rosauro, responsável pelo setor.

A Dirac conta com poucos servidores e um orçamento diminuto para todas as ações. Ano passado, foram apenas R$ 509,8 mil usados inteiramente para o pagamento dos auxílios dos facilitadores de aprendizagem — estudantes que ajudam os colegas PCDs no cotidiano acadêmico — e para parte do pagamento dos intérpretes de Libras. Outras iniciativas só vão adiante graças a parcerias.

Mas nem sempre o problema é de falta de recursos ou pessoal. Resoluções pouco acolhedoras para a realidade dos PCDs também comprometem a inclusão. Às vezes, até mesmo outras legislações jogam contra. “Na Praia Vermelha, no Palácio, não pode construir uma rampa, porque o prédio é tombado. Não pode nem uma rampa móvel”, critica Amélia. “A questão da acessibilidade na universidade avançou um pouco, mas precisa melhorar muito”, completa.

GÊNERO
Já a representatividade feminina ganhou terreno, mas ainda não chegou ao ideal. As mulheres são maioria em quase todos os segmentos da UFRJ: 55% dos estudantes de graduação; 46% dos pós-graduandos; 48% dos professores e 52% dos técnicos. Quando se trata de cargos de direção, os números não batem: 43,1%.

A maior federal do país também enfrenta problemas com a identidade de gênero. Travestis e transexuais ainda não se sentem acolhidos no ambiente universitário. A não utilização dos nomes sociais nos processos eleitorais institucionais tem sido recorrente, relatam estudantes ouvidos pelo Jornal da AdUFRJ.

Não há dúvida de que as atuais turmas de formatura são bem mais diversas que aquelas do começo do século XX. Mas é preciso investir mais para que ninguém deixe de aparecer nas fotos. (colaborou Francisco Procópio)

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