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WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.07 2Fotos: Alessandro CostaPrevidência, autonomia sindical, formas de mobilização da categoria e estruturação da carreira docente foram alguns dos temas abordados no primeiro debate regional entre as chapas concorrentes à diretoria do Andes para o biênio 2023- 2025, nesta quarta-feira (12), no auditório Moniz Aragão, no campus da Praia Vermelha da UFRJ. Com mediação do professor João Torres, presidente da AdUFRJ, os candidatos a presidente das chapas 1 e 2, Gustavo Seferian (UFMG) e André Guimarães (Unifap), respectivamente, e a candidata à secretária-geral da chapa 3, Eleonora Ziller (UFRJ), defenderam suas plataformas de campanha durante três horas de conversa. O debate foi transmitido pelo canal da AdUFRJ no YouTube.

André Guimarães usou boa parte de suas falas para tentar mostrar o que diferencia a chapa 2 da chapa 1, já que os dois grupos, hoje separados, estavam unidos até esta eleição, inclusive apoiando a atual direção do Andes. Gustavo Seferian, que é diretor do sindicato nacional, defendeu e prometeu dar continuidade ao trabalho do grupo que está no comando da entidade. Representante do Renova Andes, maior coletivo de oposição à atual diretoria do sindicato, a professora Eleonora Ziller fez duras críticas às duas chapas oponentes que defendem, segundo ela, um modelo de política sindical que tem levado o sindicato a se afastar dos docentes. As eleições acontecem nos dias 10 e 11 de maio. Veja a seguir alguns temas que movimentaram o debate.

GREVES DE 2012 E 2015

WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.07 3Eleonora Ziller: “São anos cruciais para nós entendermos a fratura e o enfraquecimento do nosso sindicato nacional. Quando um grande discurso contra um projeto de governo é o que move a luta sindical, se a gente não se conecta com a base, se o sindicato não fala com a maioria dos professores, ele fica apenas numa retórica vazia. Nos últimos cinco anos, nós estamos perdendo três sindicalizados por dia no Andes. O Renova vai transformar essa realidade. Aqui na UFRJ, a entrada da chapa Renova Andes nas disputas eleitorais vem agregando mais professores. Sindicato a gente constrói para unificar a categoria. Quando estamos divididos, não podemos ir para a greve porque isso vai trazer uma fratura. Foi isso que aconteceu na UFRJ em 2012 e 2015”.

WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.07 4Gustavo Seferian: “O nome da nossa chapa, Andes pela base, coloca a nossa principal premissa. Não há qualquer espécie de luta que se construa sem a base. E essa interlocução com a base passa pela escuta, pela atenção e pela valorização da sua dinâmica de enfrentamento e combate. A construção de um sindicato que seja efetivamente autônomo e independente de partidos, governos e gestores é o que vai afirmar não só aquilo que se colocou como acúmulo histórico do sindicato nacional, mas também os nossos princípios, os nossos horizontes para a carreira. E isso não tem nada a ver com um tipo de sindicalismo que se diz renovado, mas que não tem nada de renovado. Inclusive tem muito de antiquado, tem muito de atrofiado. Que não respeita a dinâmica, a mobilização”.

WhatsApp Image 2023 04 14 at 14.13.07 1André Guimarães: “Quem desestruturou nossa carreira foi o governo de frente popular em 2012, com a assinatura do seu braço sindical. Quem investiu inicialmente no projeto desse braço sindical pode até desistir no meio do caminho e vir fortalecer o Andes, mas a gente não pode responsabilizar o Andes pela desestruturação da nossa carreira. A greve de 2012 teve como foco central a estruturação da carreira, o Andes apresentou um projeto ao governo que teria o mesmo impacto orçamentário do acordo que depois foi assinado. E o governo fez a opção, a partir de consultorias com seu braço sindical, de desestruturar a carreira. Isso precisa ser dito claramente. O governo, o patrão e o capital já criminalizam muito a nossa luta. Não podemos aceitar dentro do sindicato quem nos criminalize também”.

 VIVA UFRJ
André: “Esse projeto, que eu chamo de Priva UFRJ, é muito triste. É inimaginável pensar que o patrimônio público vá a leilão. E quer dizer que isso não é privatização, grupos empresariais tomarem conta de uma área pública, uma área do povo? Esse debate está expresso em nosso programa: combater todas as formas de privatização, inclusive com destaque ao que foi feito na UFRJ. Os fins não justificam os meios. É preciso defender a universidade pública”.

Eleonora: “Esse processo teve início na gestão do professor Roberto Leher, sob a argumentação de que é possível fazer uma concessão privada, por período determinado, de uma parte do patrimônio que não está sendo utilizada pela universidade. E ter como contrapartida a construção e o fortalecimento da universidade em situações muito localizadas. Isso não é um cheque em branco dado a ninguém. Não há ilusão de que essa concessão possa responder aos desafios da recomposição orçamentária. A Chapa 3 não comunga dessa ilusão”.

Gustavo: “A Chapa 1 tem o compromisso de combater qualquer forma de privatismo. Se é por tempo determinado ou indeterminado, se é por 30 anos ou por 15 dias, não importa, isso é privatização. E não há como ser condescendente com essa prática. Se é essa prática que é tolerada para a gestão da miséria, isso não é tolerável. Não cabe a nós a gestão da barbárie. É esse o modo Renova de governar? Não é isso que eu anseio para o nosso sindicato nacional”.

DIFERENÇAS
Gustavo: “Há diferenças de concepção com a Chapa 2 no que se refere à autonomia e à independência. É fundamental que tenhamos articulações, elas são legítimas e não ferem em nada a nossa independência. A Chapa 2 confunde essas articulações com dependência. Com a Chapa 3 temos diferenças de prática e visão. É triste a gente perceber que segmentos de nossa categoria afrontam e negam os modos de enfrentamento que nossa classe construiu ao longo de sua história. Acham que greve é coisa do passado, que é coisa de peão. Inclusive nos distinguindo enquanto trabalhadores intelectuais como se não fôssemos também proletarizados. É fundamental a gente ser reconhecido como classe e não um estrato distinto da sociedade”.

Eleonora: “Nossa visão de prática sindical é oposta às das outras duas chapas. Sindicato forte é agregar, trazer para o conjunto da luta a totalidade dos professores que estão interessados na luta pelo salário. Um docente não pode ser criminalizado por apresentar na assembleia uma posição diferente daquela que é defendida pela direção do sindicato. É preciso que o sindicato seja um lugar de acolhimento da diversidade, de reconhecimento da complexidade das nossas diferenças. Temos que organizar todos os professores, sejam eles contra ou a favor do Viva UFRJ, ou desse ou daquele partido político”.

André: “Hoje nós não temos unidade programática, são três programas diferentes. Somos contra o Viva UFRJ, gostaríamos que a Chapa 3 fosse também. Não criminalizamos a greve, como parte da categoria docente fez com a greve de 2012. Esse discurso de novas formas de mobilização, de participação virtual da base, é na verdade um processo de despolitização da nossa luta, de criminalização do nosso sindicato. Essa não é a prática que defendemos. Não podemos abdicar de um instrumento de luta como a greve. A greve é para garantir direitos”.

LUTA SINDICAL
Eleonora: “A gente observa na prática da atual diretoria do Andes, aqui representada pelas chapas 1 e 2, contradições muito marcantes, sobretudo de 2016 para cá. Por exemplo, a violência com que se trata a ex-reitora da UFRJ (Denise Pires de Carvalho) em relação ao Viva UFRJ, em comparação ao reitor anterior (Roberto Leher), que criou o projeto, e que abrangia mais áreas. E o nome dele sequer é citado nessa discussão. Há um nítido desequilíbrio aí: ou são dois privatistas que não valem nada, ou são dois gestores que, de forma responsável, buscaram soluções concretas para problemas de moradia e alimentação de nossos estudantes. Tratar os dois de forma diferente é desonestidade política”.

Gustavo: “A necessidade de afirmação de um sindicato que é autônomo e independente para com os gestores, inclusive, é algo fundamental para nós. Assim como a construção coletiva. A Chapa 1 abriga dezenas de organizações e forças políticas que, de forma articulada, constroem estrategicamente esse coletivo. Não é uma unidade de ocasião, é uma unidade estratégica. Isso é fundamental numa perspectiva aglutinadora, potente. E só longe do sectarismo, abraçando o conjunto das nossas demandas, e longe da prática que prefere fazer advocacy e lobby ao invés de fazer a luta de classes, é que a gente vai conseguir imprimir o nosso programa.

André: “A nossa luta é muito mais ampla do que aqui expressam as três chapas. A nossa luta é em defesa da nossa categoria, da nossa classe. Para nós, a luta contra o conservadorismo e contra o fascismo não pode significar dar aval a um governo de frente ampla. Essa luta para nós não é indissociável. Caso contrário nós vamos, com um governo de frente ampla, continuar a ter retrocessos na nossa pauta previdenciária, na nossa pauta da carreira, na nossa pauta salarial e na defesa da universidade e da educação pública”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Eleonora: “Para renovar o movimento é preciso que ele tenha a capacidade de incorporar um maior número de professores, essa é a nossa batalha. É organizar uma prática, um modo de funcionamento que faça do sindicato uma coisa muito maior do que a incorporação exclusiva de uma militância. A gente precisa condensar mais nossas atividades, ter horários mais humanos, não há saúde que resista a um modelo de militância que é, por si só, excludente. O que o Renova vai perseguir obsessivamente na construção de um novo movimento docente é a ideia de reencontrar a categoria no seu conjunto. Só trazendo todos poderemos dar resposta ao que é fundamental para nós: a defesa da democracia, da universidade e da educação públicas, do nosso direito de estar nas salas de aula com segurança, com liberdade de cátedra e combatendo a extrema-direita”.

André: “Queria fazer um chamado à militância do nosso sindicato nacional para que analise os três programas. E que faça uma escolha daquele projeto com o qual cada um e cada uma se identifiquem. Eventualmente pode ser que a gente não ache um programa que dialogue integralmente com a nossa base em nenhuma das três chapas. E vamos ter que fazer escolhas. Acredito que nessa escolha deve prevalecer a decisão pela chapa que melhor representa aquilo que a nossa categoria pensa. Nós da Chapa 2 fazemos um chamado especial a todos aqueles que se identificam com nosso programa, que estão nessa construção coletiva, para que possam ir em busca de ampliação da participação da nossa base nas eleições. A nossa vitória depende da nossa capacidade de trazer a base para a luta do nosso sindicato. Vamos eleger uma chapa classista e de luta nos dias 10 e 11 de maio”.

Gustavo: “Acho que esse debate revelou muito sobre nossas diferenças, posições e programas. Há quem seja tolerante com o privatismo, há quem não seja. Há quem seja condescendente com a confusão entre a direção sindical e a gestão universitária, há quem não seja. Há quem seja atentatório ao que são os instrumentos e ferramentas que a nossa classe construiu para a proteção de seus interesses, e há quem reivindique a melhor tradição desses instrumentos para a promoção dos nossos direitos. Há quem reivindique a unidade na circunstância, e há quem reivindique a unidade estratégica. Conclamo cada companheiro e cada companheira que acompanhe a nossa campanha e possam nos dias 10 e 11 de maio votar para que a gente siga revolucionando o nosso sindicato”.

PRIMEIRO DEBATE NACIONAL

Com 300 participantes conectados, em média, ao longo de mais de três horas e meia, o primeiro debate entre as chapas concorrentes à diretoria do Andes foi realizado na noite da última terça-feira (11), com transmissão pelo canal do sindicato nacional no Youtube. Mediado pela presidente do Andes, a professora Rivânia Moura, o encontro reuniu os candidatos a presidente Gustavo Seferian (UFMG), pela Chapa 1, André Guimarães (Unifap), pela Chapa 2, e Luis Antônio Pasquetti (UnB), pela Chapa 3, e debateu temas como autonomia universitária, liberdade de cátedra, conjuntura política e questões trabalhistas e salariais dos docentes.

As diferenças se delinearam logo nas falas iniciais dos candidatos, e foram acentuadas durante todo o debate. Um dos temas mais polêmicos foi o golpe que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016. Pasquetti questionou os candidatos das chapas 1 e 2 sobre o isso — as duas correntes estavam juntas na ocasião na defesa do “Fora Todos”. Gustavo Seferian, apoiado pela atual diretoria do Andes, fez uma defesa da posição tomada à época: “Em 2016, houve um golpe de Estado. Se as bases do Andes não tiveram essa leitura, isso não pode recair sobre a diretoria”, ponderou.

Pasquetti, que representa o movimento Renova Andes, principal grupo de oposição ao atual comando do sindicato nacional, também criticou o isolamento da entidade em relação a outros articuladores do movimento social, além da “queda crescente da taxa de sindicalização”. “As chapas 1 e 2 são mais do mesmo, são do grupo que controla o Andes há 24 anos. Nós somos a renovação”, disse o professor da UnB. Os candidatos das chapas 1 e 2, por sua vez, criticaram o movimento Renova Andes pelo que chamaram de “criminalização” das greves de 2012 e 2015.

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