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WhatsApp Image 2022 07 18 at 00.18.57Isadora Camargo

Ao cair da noite, em 28 de junho, o estudante de arquitetura Pedro Negromonte, 25 anos, e duas amigas estavam passando pelo estacionamento do Centro de Tecnologia, bloco G, quando foram cercados por seis cães. Um dos membros da matilha avançou na perna de Pedro, e o mordeu atrás do joelho. “Como estava de calça, foi mais superficial, de bermuda teria cravado”, conta. “Só espero não encontrá-los nunca mais”.
O ocorrido não é um caso isolado. Desde o retorno das aulas presenciais, em abril, já foram pelo menos 13 casos parecidos. No dia 5 de julho, à noite, no mesmo estacionamento do bloco G do CT, Júlia Pancini, 30 anos, doutoranda na Escola de Química, caminhava na direção de seu carro quando começou a ouvir latidos. “Eram cinco ou seis cachorros, não lembro direito, foi tudo muito rápido. Gritei e usei a bolsa para empurrar o que parecia ser o líder. Ele saiu e os outros foram atrás.”

Amanda Sampaio (foto), 20 anos, graduanda na EQ e amiga de Júlia, também foi atacadaWhatsApp Image 2022 07 18 at 00.20.44 no mesmo lugar, na semana anterior ao sufoco sofrido por Júlia, mas com um detalhe delicado: Amanda estava alimentando um dos cachorros. “Fui dar comida. Quando cheguei perto, um se assustou e latiu pra mim. O outro me deu uma mordida na panturrilha. Fui ao hospital por precaução e tomei as vacinas.”
Amanda é aluna do professor emérito Ricardo Medronho, de 70 anos, que, em maio, também foi cercado por seis cães. “No estacionamento, era meia dúzia num semicírculo na minha frente, rosnando, latindo e mostrando os dentes. Eu ameaçava ir pra cima deles e depois dava uns passos pra trás, até que consegui chegar no carro.” Desde o susto, o diretor da AdUFRJ clama por alguma providência. “Eu temo que, eventualmente, possa acontecer um acidente mais grave. Alguma solução tem que ser dada”, critica. Os ataques, antes esporádicos, tornaram-se cotidianos no pós-pandemia, e decorrem do aumento de cães que são abandonados no campus. Os abrigos provisórios da UFRJ estão mais lotados do que nunca. O Serviço de Monitoramento Animal e Ambiental (SEMA), da Prefeitura da Cidade Universitária, calcula que existam hoje cerca de 85 cães abandonados no Fundão. Mais da metade estão acolhidos nos abrigos: 12 na Prefeitura e 45 na Vila Residencial. A outra parte está solta e divide-se entre o corpo de bombeiros, o alojamento e o CT, formando a matilha descrita nos relatos.

A Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais (SMPDA), que também costumava acolhê-los, não tem mais essa condição. “Na pandemia, as pessoas adotaram, agora estão abandonando, também por conta da crise. Não há campanha de adoção que adiante para esvaziar”, relata Jack Calderini, chefe de fiscalização contra maus tratos da SMPDA.
Uma vez abandonados, os vira-latas podem ficar agressivos. “São animais territorialistas, em locais abertos eles resselvagerizam: formam grupos e abandonam o comportamento doméstico. Podem avançar quando se sentirem ameaçados, ou quando estiverem em grande maioria.” explica o professor Antonio Solé, do Instituto de Biologia da UFRJ, que também teve uma aluna atacada.
Na semana passada, a Prefeitura Universitária realizou uma primeira tentativa de capturar a matilha do CT. A intenção é levá-los para castração e vacinação, e acolhê-los em um novo abrigo provisório (que está sendo estruturado no Polo de Biotecnologia), até que sejam adotados. No entanto, a ação não deu certo. “Já sabem que a gente vem pra pegar eles, fogem e se escondem.” comenta Antonio Avelino, responsável pelo SEMA. Nos próximos dias, ocorrerá uma segunda tentativa, com ajuda da Secretaria Municipal. A estratégia agora será diluir um sedativo na água dos cães.
O abandono de animais domésticos no Fundão é um problema há mais de uma década. Em 2012, a UFRJ criou um grupo de trabalho para mapear a questão e propor soluções. Como encaminhamento, foi criado o SEMA, em 2015, que atua, em conjunto com voluntários e doadores, na proteção dos bichinhos — com vacinação, castração e alimentação dos soltos e abrigados. São todos destinados às campanhas de adoção, e dezenas já encontraram um lar. Além disso, o SEMA realiza campanhas de conscientização, como os diversos cartazes “Abandono de animais é crime federal (lei 9605/98)”, espalhados pelos campi.

PREFEITO RESPONDE
A Prefeitura do campus teme que aumente o número de casos de abandono de animais no Fundão. Em resposta, criou campanhas de adoção e propagandas alertando que abandonar é crime. “Aqui é um perímetro aberto, e o monitoramento não dá conta de todos os cantos. Nunca conseguimos um flagrante. Não podemos virar um centro de referência para abandono. Apesar dos cuidados, o Fundão não é um bom local para animais domésticos”, conclui Marcos Maldonado, prefeito da Cidade Universitária.

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