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Silvana Sá
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Abrir turmas, receber os inscritos, preparar e dar aulas, seminários, estar atento aos estudantes, responder dúvidas, corrigir trabalhos, provas, exercícios, lançar nota, orientar… tarefas comuns à rotina dos professores, mas que foram dificultadas na pandemia. As relações entre docentes e alunos da UFRJ passaram a ser mediadas, desde agosto, por uma tela. Se, por um lado, não havia mais como permanecer com aulas suspensas, por outro, o retorno presencial continua impensável.

Uma das razões é o gigantismo da universidade. Não é exagero considerar que a UFRJ é uma cidade. São 4.218 docentes e cerca de 65 mil estudantes de graduação e de pós-graduação. Além de 9.153 técnicos-administrativos. Para efeitos de comparação, dos 92 municípios do Rio, 59 têm populações menores do que o somatório de alunos, docentes e técnicos da instituição. “O ensino remoto foi o jeito possível de retomar as aulas”, defende o professor Jorge Moraes, do curso de Farmácia de Macaé. “Mas não há como comparar com o presencial. A gente sabe pelo olhar do aluno quando ele está entendendo, quando não está entendendo, quando está disperso. A gente não tem esse feedback na aula virtual”, avalia o professor.

Para ele, um dos grandes impactos das aulas on line é a perda da interação social. “Nós estamos acostumados a lidar com gente, não com tela. É muito cansativo. Eu considero importante respirar o ar acadêmico”, destaca o professor. Dar aulas em casa, com dois filhos, é outro desafio. “Tem variáveis que são impossíveis de controlar”.

O ensino remoto pode ser desafiador até para quem pesquisa o tema. “Não teria como pensar que, neste contexto que estamos vivendo, esta seria uma experiência tranquila”, revela Miriam Struchiner, professora Titular do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde. Coordenadora do Laboratório de Tecnologias Cognitivas, ela trabalha há 30 anos com tecnologias educacionais e foi grande defensora do retorno das aulas em meio remoto. “Era mais que uma questão curricular, era uma preocupação humana. A gente nunca iria saber como estavam nossos alunos sem realizar atividades didáticas com eles”, acredita a docente.

Durante o PLE, ela atuou na graduação. “Fiquei muito surpreendida com a adesão dos alunos. Acho que eles estavam precisando desse contato. Foi um acolhimento mútuo muito importante para nossas relações e para a aprendizagem”, avalia. Em paralelo, também dava aulas na pós. “Tive que me repensar toda, de forma que os alunos fossem protagonistas”, afirma. O aprendizado foi positivo. “Quero levar essas experiências para repensar a prática no ensino presencial”.

Além das aulas da graduação, da pós-graduação, da coordenação do laboratório, das pesquisas em andamento, a docente passou a ser convidada para lives e palestras sobre sua área de estudo: as tecnologias associadas ao ensino. “Foi muito gratificante acompanhar esse processo. Mas, ao mesmo tempo, trabalhar on line cansa muito mais. Falar com a tela do computador é muito mais desgastante. A extensão do horário de trabalho ao longo de um dia aumentou muito com a pandemia, não só pelas aulas, mas porque houve muito mais demandas”.

Se o ensino remoto já traz desafios para quem atua com jovens adultos, para professores da educação básica, as dificuldades são ainda maiores. “O primeiro sentimento foi um certo desespero”, relembra a professora Caroline Trapp de Queiroz, que dá aulas para o 5º ano do Colégio de Aplicação. “Uma série de dúvidas passou pela nossa cabeça. Desde as questões mais operacionais, até dúvidas conceituais. Como trabalhar a materialidade das coisas? Antes pegávamos, víamos as coisas, montávamos. E agora vemos tudo chapado no 2D da tela”, observa a professora.

Suas turmas são compostas por crianças de dez anos – que ilustram as páginas desta edição – e dar aulas sem ver o que elas estão fazendo é uma limitação. “Não temos como saber como a criança está escrevendo, nem conseguimos acompanhar como a criança está montando uma conta. Muita coisa do processo de aprendizagem fica pelo caminho”, lamenta. “Ainda assim, manter as aulas remotas é a decisão mais acertada”.

Caroline é substituta do CAp. Seu contrato se encerra em abril, no final do ano letivo de 2020. Ela concilia dois trabalhos. Em outra escola, atua de forma presencial. “O medo é uma constante”, lamenta. A escola onde trabalha é de elite e tem rígidos protocolos de segurança. “Ainda assim, é muito difícil controlar as crianças. Nossa cultura é a do toque, do afeto”. Para chegar ao trabalho, ela usa transporte coletivo. “A gente não tem um governo que entende que precisa auxiliar as pessoas num momento em que a taxa de desemprego está enorme e o custo de vida está caríssimo. Você se arrisca porque precisa”.

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