Accessibility Tools

facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2025 12 03 at 19.13.14 5Foto: Alessandro CostaNa mesma semana que um adolescente foi baleado dentro de uma escola na Maré e duas servidoras foram assassinadas no Cefet-RJ, pesquisadores realizaram um debate integrado sobre políticas de saúde, educação e segurança pública. O encontro fez parte do seminário “Pensando o território fluminense”, organizado pelo Fórum de Reitores das Instituições Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Friperj).
O cenário é ruim em cada uma dessas áreas, o que provoca efeitos negativos em cadeia. “Somente em 2025, 1.146 escolas da Região Metropolitana do Rio foram afetadas por tiroteios em dias letivos, além de 1.050 unidades de saúde”, informou Terine Coelho, gerente de pesquisa do Instituto Fogo Cruzado, que mapeia conflitos armados. De 2016 a 20 de novembro, 185 crianças e 566 adolescentes haviam sido baleados (veja no infográfico os dados atualizados até o fim do mês passado, incluindo os assassinatos no Cefet-RJ, onde o seminário foi realizado dois dias antes).
Os dados do instituto levam a outros questionamentos. “Quantos alunos não tiveram aula? Qual o impacto na aprendizagem das crianças? Na saúde, a mesma coisa: quantos não conseguiram chegar para os exames? Quantos exames foram remarcados? A política de segurança precisa conversar com as outras políticas”, afirmou Terine.
Claro que é preciso acabar com os grupos armados no Rio. No entanto, a política de segurança do governador Cláudio Castro se resume praticamente a operações e chacinas — a última delas, no fim de outubro, foi a maior da história do país, com 126 mortos. “A gente faz operação desde sempre. E não recuperamos nenhum território até hoje”, disse a gerente do Fogo Cruzado. Na região metropolitana, 18% dos territórios — onde vivem 35% da população — estão dominados pelo crime organizado.WhatsApp Image 2025 12 03 at 19.47.17

PENÚLTIMO NA EDUCAÇÃO
“Em 2024, 20% dos dias letivos nas 49 escolas da Maré foram comprometidos pela violência. Esse é um indicador muito forte do desafio que nós temos”, reforçou o ex-deputado estadual e professor da Faculdade de Educação da UFF, Waldeck Carneiro.
A violência é um dos fatores que ajudam a explicar por que o Rio de Janeiro ocupa o penúltimo lugar no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), entre todos os estados e o Distrito Federal.
A descontinuidade das políticas é outro obstáculo. Desde as primeiras eleições para governador, em 1982, são 43 anos e 41 secretários de educação, informou o ex-deputado. “Essa descontinuidade produziu um efeito muito ruim”.
Só que, em vez de enfrentar os graves problemas estruturais fluminenses, o governo decidiu contorná-los com a aprovação automática dos estudantes, mesmo que reprovados em seis disciplinas ao ano — o IDEB é formado por duas variáveis principais: um exame e o fluxo escolar, que é medido por aprovação/evasão/reprovação. “O estado tenta, com isso, melhorar seus números”, completa Waldeck.

FOCO EM 2026
Presidenta da AdUFRJ, a professora Ligia Bahia elogiou a proposta de discussão conjunta das três áreas. “Essa mesa aqui nunca mais deveria se separar”, brincou. “Como pesquisadores, nosso papel é recusar essa setorização de saúde é saúde, educação é educação. Se a gente puder pensar políticas públicas que não sejam fragmentadas, seria um avanço muito grande”, disse.
Na saúde, isso representaria recuperar um papel de vanguarda para o estado. “Nós sempre fomos a vanguarda. O Rio de Janeiro é o estado que formulou o SUS e a reforma sanitária”, afirmou Ligia.
A docente não tem dúvidas de que a denúncia dos problemas do Rio é importante, mas, para mudar esta situação, cobrou foco do campo progressista para as eleições do ano que vem. “É um desafio para todos nós. Precisamos nos preparar para isso. A tarefa do Friperj, a partir de agora, são as eleições de 2026”, disse.

Topo