Foto: Alessandro CostaCarioca, professora Titular da Faculdade de Letras, especialista em Lima Barreto e, agora, Emérita da universidade. Beatriz Resende — Beá, para os íntimos — recebeu o título no dia 25, no Salão Nobre da Faculdade Nacional de Direito, cercada do carinho dos amigos e familiares. A solenidade celebrou a trajetória de uma docente apaixonada pelos livros, pela educação pública e pela democracia.
Em 21 minutos, Beatriz repassou capítulos de sua vida, em um discurso recheado de bom humor e de gratidão. Destacou a influência do mentor Eduardo Portella (ex-diretor da Faculdade de Letras e ex-ministro do MEC) e da amiga e mestra, Heloísa Teixeira (antes, Heloísa Buarque de Holanda): “Com um olhar feminista que me marcou”. Citou, ainda, Aloisio Teixeira (ex-reitor da UFRJ): “O primo que me levou ao primeiro baile de carnaval, à primeira ópera e à militância política”.
O perfil democrático começou a ser construído na infância, na escola pública Pedro Ernesto, na Lagoa. O colégio abrigava alunos das favelas que existiam na orla da Lagoa, à época, antes de serem removidas no governo de Carlos Lacerda. “Penso que foi nesta primeira escola pública que se formou minha maneira de ser, minha sociabilidade”, disse.
Beatriz relembrou sua passagem pela Faculdade Nacional de Filosofia da então Universidade do Brasil (hoje, UFRJ) — onde viveu a resistência à ditadura —, a graduação e o magistério na Faculdade de Letras, a saída para as Artes Cênicas na UniRio e o retorno à Letras, então como Titular.
“O curso de Letras me deu tudo que eu desejava”, agradeceu Beá. Aqui, a professora fez questão de citar o trecho de uma crônica de Lima Barreto: “Queimei meus navios; deixei tudo, tudo, por essas coisas de Letras”.
Perto de concluir, a mais nova emérita da instituição ainda traçou uma analogia entre sua escola da infância e a UFRJ atual. “Nossa UFRJ é hoje maior e mais inclusiva de quando eu entrei. Possui carências, como baixos salários e falta de verbas, mas está mais parecida com aquela escola pública que tanto me marcou. Com cores e vozes múltiplas”, completou.
Beatriz também saudou colegas de curso, alunos de ontem e de hoje, técnicos-administrativos e o apoio dos familiares. “Não cheguei aqui sozinha. Mas com muita ajuda”, disse. Emocionada, dirigindo a palavra aos netos, encerrou seu discurso: “Que os ventos da democracia e da liberdade os levem em direção a um país mais justo e igualitário. Muito obrigada!”.
DNA DA MINERVA
O reitor Roberto Medronho reverenciou a trajetória da homenageada e sua estreita ligação com a UFRJ desde o início de sua formação, na Faculdade Nacional de Filosofia da então Universidade do Brasil. “A professora Beatriz é, literalmente, o que chamamos de cria da casa, uma filha da Minerva. A Minerva está no seu DNA”, afirmou.
Presidenta da AdUFRJ, a professora Ligia Bahia prestigiou a cerimônia e reforçou as homenagens: “A Beatriz já entra na universidade como emérita. Hoje estamos comemorando um ponto de chegada, mas ela sempre foi essa professora completa”, disse.
NO CORAÇÃO DA LETRAS
Os colegas da Faculdade de Letras eram só elogios para a mais nova emérita da UFRJ. “A faculdade tem muito orgulho de ter Beatriz Resende em seu quadro e em seu coração. Ela é um exemplo”, afirmou a então diretora da unidade, professora Sônia Reis.
“Beatriz Resende é hoje uma intelectual reconhecida e admirada não só na cidade à qual dedicou seu afeto e grande parte de suas investigações, o seu Rio de Janeiro. Mas também no Brasil como um todo e no exterior”, disse o também professor emérito Eduardo Coutinho, pela comissão que conduziu a homenagem.
Já o decano do Centro de Letras e Artes, professor Afrânio Barbosa, contou que ter assistido às aulas da professora Beatriz ainda no segundo período de sua graduação foi decisivo para seguir carreira na Letras. “Tenho sorte de ver meus mestres chegando à emerência. Sou muito grato”, afirmou.
Ex-diretora da Letras e ex-presidenta da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller destacou o compromisso da homenageada por uma universidade de fato aberta e interdisciplinar. “Quando fiz a prova para o mestrado em Literatura Comparada, eu estava trabalhando na área da saúde há dez anos. Não ficou uma prova ‘pura’ de literatura. Ela me disse depois que foi disso que ela mais gostou, pois, se queremos uma pós-graduação interdisciplinar, temos que ser coerentes”, relatou. “Esse é um problema da Academia. Todo mundo fala de interdisciplinaridade, mas, na hora H, todo mundo se fecha nas suas caixinhas. Ela, não”, completou.





