‘Quarenta anos depois da chegada de Colombo a Santo Domingo, na República Dominicana, em 1492, foi criada uma universidade. Aqui, a primeira universidade de verdade desse país foi criada em 1920 (a UFRJ), 420 anos depois da chegada de Cabral. Essa é a demonstração do atraso educacional do Brasil”, disse o presidente Lula durante a cerimônia de comemoração ao dia do professor, no Parque Olímpico, na última quarta-feira. Durante o evento, Lula realizou um antigo pleito dos professores e professoras brasileiros. A criação de uma carteira nacional docente, válida em todo território nacional e com função de documento de identidade oficial.
A cerimônia foi grandiosa, com mais de 3 mil pessoas. Entre eles, 100 docentes da UFRJ que receberam o documento – confira depoimentos AQUI).
A carteira possibilita benefícios exclusivos: meia-entrada em eventos culturais, cartões de crédito com condições diferenciadas, descontos em hotéis e em lojas parceiras. Mas seu valor simbólico, de identificação oficial e valorização do magistério, representa muito mais para os docentes.
“Ter o presidente da República valorizando o professor e entregando as carteirinhas me orgulha muito. Disseram que vamos ter descontos com a carteira, mas não sobre isso, é sobre o orgulho de mostrar essa carteira linda quando nos pedirem a identificação de docente”, disse o reitor Roberto Medronho, personagem central de um vídeo apresentado no começo do evento.
Em seu discurso, Lula ressaltou que foi o presidente que mais implantou universidades e institutos federais, apesar de jamair ter cursado uma universidade. “Desse público aqui, sou o único sem diploma universitário. Tenho o primário e um diploma do SENAI. Por isso, minha obsessão pela educação. Quero garantir que todos tenham a mesma oportunidade”, afirmou.
O presidente anunciou que o governo criará, ainda este ano, uma Universidade Federal Indígena e a Universidade do Esporte. “Quero que esse país tenha muitos diplomas universitários, mas com conhecimento a serviço do povo. Não a serviço pessoal”, observou. “Nós precisamos formar mais engenheiros, mais matemáticos. Esse país não pode continuar sendo exportador de soja e de milho. Precisamos exportar inteligência, conhecimento, tecnologia”.
Na gestão Bolsonaro, os educadores não tinham vez com o governo. Mas Lula assegurou que, com ele, a história é diferente: “Vocês têm que tirar proveito disso e pedir mais coisas. Peçam!”, afirmou, arrancando aplausos e gritos de apoio da plateia.
RECONHECIMENTO
A ideia da carteirinha surgiu a partir de pedidos dos docentes de diferentes partes do país, relatou o ministro da Educação, Camilo Santana. “Eles diziam: ministro, às vezes, a gente vai ao cinema e, para provar que sou professor, tenho que imprimir meu contracheque. Isso é uma humilhação”, disse. “Por que o advogado tem a carteirinha dele? Por que o médico tem a carteira dele? Por que a gente não pode criar a carteirinha da mais importante profissão deste país, que é a do professor?”, questionou.
Camilo informou que, nesta primeira etapa, as carteirinhas poderão ser solicitadas pelos docentes com vínculo ativo. “Estamos entregando 1,5 mil carteiras para os professores daqui no Rio de Janeiro como início da entrega de 2,7 milhões que poderão ser emitidas no Brasil. Mas vamos emitir também para os professores aposentados deste país”.
COMO PEDIR
A solicitação da carteira pode ser feita no site do programa Mais Professores (https://maisprofessores.mec.gov.br), fazendo login com a conta SouGov. É preciso que o professor tenha CPF em situação regular na Receita Federal e esteja em exercício da atividade docente em instituição de ensino.
TODOS OS RECADOS DO PRESIDENTE
A cerimônia de emissão das carteiras nacionais docentes não foi só celebração. De olho nas eleições do ano que vem, Lula usou boa parte do evento para enviar algumas mensagens políticas.
A primeira é que Eduardo Paes (PSD) será o candidato de Lula ao governo do Rio. Independentemente de qualquer composição de chapa com a esquerda fluminense ou das vaias que o prefeito e seu secretário Renan Ferreirinha receberam dos educadores municipais no dia 15.
Olhando diretamente para Paes, que lidera as pesquisas de intenção de voto para governador, Lula disparou: “Não consigo entender, Eduardo Paes, como é que esse estado altamente politizado elege um cara para governador que era um juiz picareta, que se meteu em corrupção”, em referência a Wilson Witzel, eleito contra o próprio Paes em 2018. Witzel, que sofreu impeachment em 2021, já manifestou em entrevistas o desejo de voltar a disputar o cargo no ano que vem.
Também em 2026 estarão em disputa duas vagas ao Senado em cada estado. A deputada federal Benedita da Silva (PT) é a aposta do presidente para ocupar uma delas. No evento do Dia do Professor, Bené ganhou um lugar de destaque na primeira fila de autoridades, em cima do palco, e foi bastante aplaudida. Ela e o senador Flávio Bolsonaro (PL), que buscará a reeleição, estão à frente da disputa, nas pesquisas mais recentes.
Lula não perdeu a oportunidade de alfinetar o adversário da petista: “Pedi pro Camilo ler tudo que a gente fez na educação. Se a gente não disser, os adversários vão dizer tudo ao contrário. Ano que vem é o da verdade. Quem quiser mentir vá para a casa do chapéu”, afirmou. “Porque a gente não vai permitir a volta de mentiroso nesse país. Chega de cidadão ir para os EUA e ficar inflando os americanos contra nós. E tem alguém da família que é candidato a senador aqui (no Rio)”, completou.
Para derrotar a extrema direita, é preciso fazer alianças ao centro e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), integra esta articulação. Quando Motta foi chamado a discursar, ouviu vaias e gritos contra a anistia dos golpistas de 8 de janeiro. Lula rapidamente se levantou, ficou ao seu lado até o fim da fala e puxou aplausos para o deputado.
“Hugo é presidente deste Congresso. Ele sabe que este Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora”, disse Lula. “Aquela extrema direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior. A gente não pode ter um presidente que nega Covid, que nega vacina, que tinha um ministro da Saúde que não entendia porra nenhuma de saúde”, criticou.
“Vai ser decidido por vocês. Não é por mim. Vocês que vão ter que saber qual o senador que vão eleger, qual o deputado federal, qual o deputado estadual. Depois, não adianta reclamar”, concluiu Lula. “Eu ‘tô’ nessa. Vou lutar até o fim da minha vida para que o meu neto, os netos de vocês tenham aquilo que têm direito. Soberania é qualidade de vida do nosso povo”.