Renan Fernandes
O brilho do olhar de jovens estudantes da Escola Municipal Olga Benário Prestes, de Macaé, iluminou o Salão Nobre do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ na manhã de sexta-feira (20). O evento de lançamento do livro “A evolução é fato”, publicado pela Academia Brasileira de Ciências, reuniu o trabalho de pesquisadores renomados de todo o Brasil com a curiosidade e a sede de saber dos alunos da educação básica.
O tema encantou desde principiantes até autoridades no assunto. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, fez uma breve participação no evento e ressaltou a relação do Ministério com o conhecimento produzido nas universidades. “Há um tempo não pensávamos que precisaríamos escrever um livro sobre evolução. É muito importante e atual pensar a evolução na relação entre os seres vivos”, explicou.
O professor Sérgio Danilo Pena, da UFMG, é autor de três capítulos do livro. O geneticista destacou em sua apresentação um dado alarmante de uma pesquisa realizada em 2010 no Brasil. “59% dos entrevistados acreditavam na evolução guiada por Deus e apenas 8% na evolução sem intervenção divina. 25% eram criacionistas e a negavam”, apontou.
Os alunos de Macaé que vieram para o lançamento aprenderam os males do negacinismo. “Estou amando essa experiência. Meu caderno está todo riscado, estou anotando tudo”, disse eufórica a jovem Manuella Gomes, aluna do sétimo ano e uma das estudantes mais interessadas.
Manuella fez perguntas aos cientistas após as apresentações, tirou fotos e pediu autógrafos no livro que ganhou. O aquecimento global foi a principal preocupação de Manuella e foi o tema da pergunta que direcionou à professora Marina Bento Soares, do Museu Nacional. “O humano destroi muito o planeta. O desmatamento que acontece hoje, especialmente, agora na Amazônia e no Pantanal é preocupante. Será que o aquecimento global pode provocar destruição como já aconteceu no passado com os dinossauros?”.
Paleontóloga, a professora Marina Soares respondeu às dúvidas de Manuella e suas colegas. “A extinção dos dinossauros foi apenas um dos cinco grandes eventos que acabaram com ao menos 75% da vida na Terra”, afirmou. A docente alertou para uma questão preocupante no futuro. “As previsões de aquecimento global são alarmantes para uma sexta extinção em massa na Terra”.
VIAGEM
Os estudantes acordaram antes do nascer do sol para encarar as três horas de viagem entre Macaé e o Rio de Janeiro. A visita dos alunos da escola pública foi organizada pelo professor Rodrigo Nunes da Fonseca, diretor da AdUFRJ e autor de um dos capítulos do livro. “Essa é uma escola muito especial para nós do NUPEM. Já são dez anos de parceria. Por isso, fiz questão de organizar essa vinda dos alunos”.
A escola está localizada a poucos metros do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da UFRJ (NUPEM) no Norte Fluminense. A proximidade ajudou na parceria com o Instituto para o desenvolvimento de projetos de extensão universitária, cursos de capacitação e bolsas de estímulo à pesquisa para estudantes e professores. O acordo resultou ainda na construção de um laboratório de ciências com recursos da Faperj.
A professora Patrícia Coutinho exaltou os frutos da parceria entre a escola e o NUPEM. “As portas abertas da universidade possibilitam uma sensação de pertencimento para nossos alunos”, afirmou. “O NUPEM tornou-se uma segunda escola, onde fazer e viver a ciência é algo prazeroso e cheio de boas descobertas”, concluiu.
Para o professor Gedmar Carvalho, a aproximação entre a universidade e o ensino básico é importante para transformar o futuro dos estudantes. “Essa relação abre portas nas aspirações de crianças que estão na periferia de Macaé e, muitas vezes, não vislumbram a universidade como uma possibilidade”.
O LIVRO
O livro defende a evolução como o princípio fundamental da ciência moderna e reforça o combate ao negacionismo científico. Ao todo, 28 pesquisadores de diversas áreas da academia foram convidados para escrever os capítulos abordando aspectos de seus trabalhos que comprovam a evolução como um fato científico.
“Certa vez, ouvi um professor dizer que nada foi feito de novo depois de Darwin. O livro prova que ele está errado”, declarou o professor Carlos Frederico Martins Menck, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, responsável pela organização da publicação.
“O nome do livro seria ‘A evolução da vida na Terra’, mas terminou sendo ‘A evolução é fato’. Porque é um livro que tenta falar de forma simples para a população com base em fatos científicos, muitos deles produzidos no nosso país”, concluiu Menck.